Liderando as pesquisas, a ex-presidente Cristina Kirchner,
franca favorita para a disputa presidencial da Casa Rosada em outubro próximo,
anunciou ontem (18/05) que abriu mão de encabeçar a fórmula eleitoral de sua
agremiação (FPV-Frente Para a Vitória), cedendo sua vaga para Alberto
Fernández, um neoliberal ortodoxo que tinha rompido com o Kirchnerismo há cerca
dez anos atrás para se agrupar com a direita Peronista. A senadora Cristina
Kirchner surpreendeu sua própria base militante (que não teve o menor poder de
decisão) ao indicar para chefiar a campanha eleitoral contra Macri um “traidor”,
segundo suas próprias palavras há menos de um ano. A tática política adotada
pelo Kirchnerismo foi obviamente copiada da Frente Popular brasileira, quando o
PT governou com um enorme arco de partidos corruptos de direita por mais de dez
anos, até ser golpeado pelos mesmos oligarcas burgueses que antes o apoiavam.
Porém Cristina com sua “manobra” covarde, pretendeu ir mais fundo até do que
Lula&Dilma, cedendo logo de cara para a direita neoliberal a cabeça de sua
ampla aliança para a disputar o governo central argentino. Alberto Fernández,
que comandou o gabinete da presidência de Nestor e Cristina Kirchner até 2008,
quando rompendo com a esquerda burguesa acabou por chefiar a campanha eleitoral
do conservador Sergio Massa, derrotado por Macri em 2015. Fernández é hoje um nome de confiança do rentismo
argentino e do próprio mercado financeiro internacional, sua indicação feita
pela ex-adversária Cristina, foi saudada por toda reacionária mídia
corporativa, da qual Alberto foi até sócio do tradicional jornal “Clarín”. Mas
não só o rentismo tradicional festejou a “tática” do Kirchnerismo, também a
esquerda reformista ficou eufórica com a vergonhosa política de colaboração de
classes de Cristina. No Brasil a blogosfera petista elogiou a covarde “manobra”
do Kirchnerismo como um sinal de “grande inteligência política”, como por
exemplo o Blog Tijolaço: “A reação ainda não está devidamente analisada, mas a
ex-presidente produziu um terremoto na cena política do país. Renuncia a uma
candidatura francamente favorita, mas onde seria alvejada todo o tempo e se
oferece como vice de Alberto Fernández, um jurista sem acusações”. A
similaridade entre as “táticas” do Kirchnerismo e do Lulismo é enorme, no
Brasil o PT também articula uma “Frente Ampla” para a disputa eleitoral de 2020
e 2022, com grande parte dos mesmos partidos “traidores” que promoveram o golpe
institucional de 2016. A crise econômica capitalista na Argentina é enorme, o
governo ultraneoliberal de Mauricio Macri arrastou o país para uma recessão
profunda e ainda se fez refém do FMI e do Banco Mundial. O Movimento de massas
argentino protagoniza inúmeras mobilizações e greves, mas todavia carece de uma
direção revolucionária consequente. A esquerda revisionista, que organiza a
FIT, não consegue ultrapassar o horizonte das eleições burguesas, focando seus
esforços militantes exclusivamente na obtenção de poucos parlamentares, que em
nada altera a correlação de forças entre as classes sociais. Se com a covarde
manobra eleitoral de colaboração de classes, o Kirchnerismo se coloca como a
melhor opção da burguesia para a crise capitalista, com a provável vitória de
Alberto Fernández em outubro, a classe operária argentina deve se preparar para
romper o “pacto social” que se desenha no horizonte, construindo sua própria
alternativa de poder revolucionário!