Como temos afirmado exaustivamente, o movimento francês
“Coletes Amarelos” festejado acriticamente pela esquerda mundial e os revisionistas do trotskismo em particular potencializa todo um espectro político pela direita, fato
plenamente confirmado pela vitória da neofascista Marine Le Pen, líder do
Rassemblement National (antiga Frente Nacional), nas últimas eleições para o
parlamento europeu. Le Pen defendeu neste domingo (26.06) a dissolução da
câmara baixa do Parlamento da França, após o seu partido de extrema-direita
conquistar a maioria dos votos. De acordo com o último
balanço, o RN estava vencendo o pleito com 24,2% dos votos, contra 22,4% do La
Republique En Marche! (LREM), do presidente neoliberal de centro-direita
Emmanuel Macron. Os Republicanos de centro ficaram com cerca de 8%, enquanto a
“França Insubmissa” (FI) de Jean-Luc Mélénchon e o Partido Socialista sofreram
séria derrota eleitoral, obtiveram respectivamente 6,3% a 6,1% de votos. O PCF teve
uma votação baixíssima (2%) tanto que em seu balanço declara “A extrema direita
na liderança em um cenário político devastado... Quanto à esquerda, ela está
mais fraca do que nunca. De acordo com as estimativas que temos neste momento,
as pontuações somadas a todas as formações de esquerda (PCF 2,6%, FI 6,4%, PS
6,4%, Geração 3,3%) dificilmente atingiriam os 32 %” (Le Humanité, 27.05)!
Desta forma, o PCF não terá pela primeira vez na história eurodeputados. Comemorando o feito, a fascista Marine Le Pen
declarou “O presidente da República deve tirar conclusões. Há pelo menos mais
uma coisa, em minha opinião: a dissolução da Assembleia Nacional, para tornar o
sistema eleitoral mais democrático e, finalmente, representar a real opinião do
país”. Por sua vez, as manifestações dos “Coletes Amarelos” na França no
sábado (25) registraram o menor número de participantes entre todos os 28 fins
de semana de protestos, iniciados em novembro. As passeatas esvaziadas
ocorreram na véspera do dia em que os franceses votaram nas eleições para o
Parlamento Europeu, demonstrando que seus apoiadores em massa decidiram
“castigar” o governo Macron e a esquerda nas urnas, votando na extrema-direita.
O PS teve baixíssima votação assim como o PCF e a chamada “extrema esquerda”, o
que somente reforça o que vimos denunciando: a tendência política reacionária
do movimento “espontâneo” dos “Coletes Amarelos”. Tanto que Marine Le Pen
afirmou que a votação para o Parlamento Europeu funcionou como um “referendo”
contra o presidente. O jovem direitista Jordan Bardella, de 24 anos, encabeça a
lista da antiga Frente Nacional como uma forma de ter um canal direto como os
“Coletes Amarelos”. Por seu turno, a coalizão “França Insubmissa” (FI) de
Jean-Luc Mélénchon sofreu um revés mesmo tentando se aproximar dos “Coletes
Amarelos”, submetendo-se ao seu programa reacionário. As declarações de Landry
Ngang, um jovem negro que puxou os votos da FI, não deixam dúvidas dessa
capitualação política “Os ‘coletes amarelos’ não são simplesmente golpistas, ou
pessoas que querem pagar menos impostos. São apenas cidadãos que pedem justiça
social e fiscal, dois dos principais combates de ‘A França Insubmissa’. Eu
admiro esse movimento, por isso manifesto com eles”. Não nos surpreende esse
resultado eleitoral! Os “indignados” de classe média urbana e rural que
reclamam da elevação do custo de vida mas não exigem aumento salarial para os
trabalhadores, a eliminação das regras discriminatórias contra os estrangeiros
ou o fim dos lucros da burguesia e suas empresas...Pedem a “transparência das
contas do Estado” e a renúncia de Macron. Também pudera, hinos nacionais,
pautas racistas e xenófobas campeiam as marchas que já vem recebendo apoio de
alguns sindicatos de policiais franceses, tanto que pelotões se negam a seguir
as ordens do desgastado Macron de reprimir os protestos. Ficou evidente desde o
início que o governo encontra-se encurralado pela extrema-direita, que usa o
movimento para desgastar ao máximo Macron, tendo nessa manobra o apoio do
conjunto da esquerda reformista, completamente incapaz de levantar um programa
operário e anticapitalista para derrubar o governo a partir da mobilização
direta dos trabalhadores e imigrantes.
Como a LBI declarou antes das eleições para o parlamento
europeu, a intransigente oposição proletária que os Marxistas Leninistas
estabelecem em relação ao governo neoliberal de Emmanuel Macron, não pode ser
confundida com as investidas da extrema direita (maqueadas de espontaneidade
das massas), contra a subida dos combustíveis exigimos uma plataforma de
estatização (sem indenizações) das grandes transportadoras comerciais, além da
expropriação das petrolíferas imperialistas francesas (grupo Total). Estas
reivindicações transitórias, que não passam pelas “cabeças” dos dirigentes da
esquerda revisionista, devem ser acompanhadas de uma estratégia de poder da
classe operária francesa, na luta para impor um verdadeiro governo socialista e
revolucionário! Ao contrário dessa política revolucionaria a esquerda
revisionista é completamente refém da pauta dos “Coletes Amarelos”. Os
Marxistas Revolucionárias alertam novamente que o movimento que declara não ter
lideranças políticas assume uma posição “legalista e de ordem” contra o governo
Macron (centro direita) que acusam de “esquerdista”, os “Coletes Amarelos” não
cansam de declarar o seu nacionalismo xenófobo em ataques a “passividade” dos
imigrantes, que por razões econômicas óbvias não possuem carros ou caminhões.
De nossa parte, apontamos que os trabalhadores devem entrar em cena e convocar
uma greve geral nacional com uma pauta própria operária e anticapitalista que
chame a unidade com os imigrantes! Cabe à vanguarda proletária intervir no
processo com um eixo programático bem definido contra este regime bastardo, mas
somente na perspectiva do socialismo revolucionário, sem fazer a mínima
concessão a supostas alternativas de direita. Não devemos estabelecer o menor
apoio político aos “Coletes Amarelos”. Produto do profundo retrocesso
ideológico que domina o planeta desde a queda da URSS e do Muro de Berlim,
aprofundado pelo apoio de grande parte da “esquerda” a mal chamada “Revolução
Árabe” que intensificou o domínio do imperialismo no Oriente Médio, estamos
vendo agora na França a expressão concreta da situação mundial maturada nos
últimos 30 anos. Os Trotskistas da LBI não fazemos nenhum fetiche do
“autonomismo e do espontaneismo” do movimento de massas, conhecemos o desfecho
histórico de mobilizações que acabaram por servir aos interesses da
contrarrevolução mundial, como os “massivos” protestos contra o muro de Berlim.
Com a chamada “Primavera Árabe” a burguesia mundial ganhou um “Know-how”
adicional em desviar grandes protestos populares para o campo político do
imperialismo, o que vem sendo classificado pela intelectualidade acadêmica como
“guerra híbrida”. No Brasil em 2013 e agora na França estamos vendo manobrarem
da mesma maneira, contando com o elemento político da ausência de uma direção
revolucionária.