sexta-feira, 10 de maio de 2019

DO MAIO FRANCÊS AOS “COLETES AMARELOS”: 51 ANOS DEPOIS DA ECLOSÃO DO LEVANTE REVOLUCIONÁRIO EM 1968, UM MOVIMENTO REACIONÁRIO CANALIZA A CRISE DA “V REPÚBLICA” BURGUESA  


51 anos após o "Maio Francês", há um profundo abismo político-ideológico entre a situação atual na França assim como em todo o planeta e o ímpeto revolucionário da juventude em 68, que esteve intimamente conectado com a ascensão do movimento operário que, desde o ano anterior, vinha produzindo uma intensa onda de greves por toda a França, refletindo a resistência da classe operária às medidas que atacavam os salários, geravam desemprego e atentavam contra as conquistas sociais do proletariado, tais como a previdência social e o direito de greve, política adotada pelo governo do general Charles De Gaulle diante da crise decorrente do esgotamento da relativa prosperidade econômica do breve período do pós-guerra, caracterizado pela reorganização da indústria francesa destruída durante a guerra. A fusão das lutas estudantis com as greves espontâneas, com piquetes e ocupações de fábricas, transformou a revolta estudantil numa insurreição de massas, levando 10 milhões de trabalhadores a se colocarem em greve em todo o país, rompendo com a política de colaboração de classes das direções sindicais controladas pelo stalinismo. As principais fábricas e os setores estratégicos da economia foram colocados sob o controle operário através dos Comitês de Greve, que organizavam a autodefesa dos manifestantes, controlavam a produção, preparavam as barricadas e abasteciam de alimentos os operários das fábricas em greve. Estabeleceu-se uma dualidade de poderes que colocou em xeque o domínio da burguesia. Hoje, é o movimento reacionário dos “Coletes Amarelos” que canaliza a crise da V República”. Amplos setores das bases operárias dos sindicatos e centrais sindicais franceses além do grosso dos imigrantes mantêm distância dos “indignados” de classe média urbana e rural que reclamam da elevação do custo de vida mas não exigem aumento salarial para os trabalhadores, a eliminação das regras discriminatórias contra os estrangeiros ou o fim dos lucros da burguesia e suas empresas...Pedem a “transparência das contas do Estado” e a renúncia de Macron. Também pudera, hinos nacionais, pautas racistas e xenófobas campeiam as marchas que até receberam apoio de alguns sindicatos de policiais franceses, tanto que pelotões se negam a seguir as ordens do desgastado Macron de reprimir os protestos. Quem também prestou total apoio as marchas foi Marine Le Pen, líder da extrema-direita, ela deu sua receita para resolver a crise: antecipar as eleições legislativas e aprovar uma reforma constitucional para abreviar o mandato do atual presidente, que é de cinco anos. Fica evidente que o governo encontra-se encurralado pela extrema-direita, que usa o movimento para desgastar ao máximo Macron, tendo nessa manobra o apoio do conjunto da esquerda reformista, completamente incapaz de levantar um programa operário e anticapitalista para derrubar o governo a partir da mobilização direta dos trabalhadores e imigrantes. A intransigente oposição proletária que os Marxistas Leninistas estabelecem em relação ao governo neoliberal de Emmanuel Macron, não pode ser confundida com as investidas da extrema direita (maqueadas de espontaneidade das massas), contra a subida dos combustíveis exigimos uma plataforma de estatização (sem indenizações) das grandes transportadoras comerciais, além da expropriação das petrolíferas imperialistas francesas (grupo Total). Estas reivindicações transitórias, que não passam pelas “cabeças” dos dirigentes da esquerda revisionista, devem ser acompanhadas de uma estratégia de poder da classe operária francesa, na luta para impor um verdadeiro governo socialista e revolucionário! Ao contrário dessa política revolucionaria a esquerda revisionista é completamente refém da pauta dos “Coletes Amarelos”. Os Marxistas Revolucionárias da LBI alertam quando celebramos os 51 anos do Maio Francês que atualmente o movimento que declara não ter lideranças políticas assume uma posição “legalista e de ordem” contra o governo Macron (centro direita) que acusam de “esquerdista”, os “Coletes Amarelos” não cansam de declarar o seu nacionalismo xenófobo em ataques a “passividade” dos imigrantes, que por razões econômicas óbvias não possuem carros ou caminhões. O apoio aos “Coletes Amarelos” não se restringe a neofascista Frente Nacional de Le Pen, Laurent Wauquiez, líder da direita dos republicanos franceses, instou o governo de Macron a voltar atrás no aumento de imposto sobre combustíveis fósseis, como uma forma de reduzir os preços. De nossa parte, apontamos que os trabalhadores devem entrar em cena e convocar uma greve geral nacional com uma pauta própria operária e anticapitalista que chame a unidade com os imigrantes! Sigamos as tradições revolucionárias do Maio Francês! Cabe à vanguarda proletária intervir no processo com um eixo programático bem definido contra este regime bastardo, mas somente na perspectiva do socialismo revolucionário, sem fazer a mínima concessão a supostas alternativas de direita. Não devemos estabelecer o menor apoio político aos “Coletes Amarelos”.




Produto do profundo retrocesso ideológico que domina o planeta desde a queda da URSS e do Muro de Berlim, aprofundado pelo apoio de grande parte da “esquerda” a mal chamada “Revolução Árabe” que intensificou o domínio do imperialismo no Oriente Médio, estamos vendo agora na França a expressão concreta da situação mundial maturada nos últimos 30 anos. Os Trotskistas da LBI não fazemos nenhum fetiche do “autonomismo e do espontaneismo” do movimento de massas, conhecemos o desfecho histórico de mobilizações que acabaram por servir aos interesses da contrarrevolução mundial, como os “massivos” protestos contra o muro de Berlim. Com a chamada “Primavera Árabe” a burguesia mundial ganhou um “Know-how” adicional em desviar grandes protestos populares para o campo político do imperialismo, no Brasil em 2013 e agora na França estamos vendo manobrarem da mesma maneira, contando com o elemento político da ausência de uma direção revolucionária.

Ao contrário dos “Coletes Amarelos” , desde o início, o movimento do "Maio Francês" assumiu uma clara perspectiva revolucionária, com manifestações que exigiam a derrubada do governo De Gaulle e questionavam os valores e a moral da sociedade burguesa. A consciência revolucionária, expressa nas manifestações da juventude francesa em 68, refletia uma etapa de ascenso revolucionário mundial, marcada pela vitória da Revolução Cubana em 1959, as greves operárias que sacudiam toda a Europa, a descolonização da África e a bem sucedida ofensiva norte-vietnamita do TET, prenúncio da derrota e expulsão do exército ianque do Vietnã.

O estado de espírito da juventude e dos trabalhadores no Maio Francês era também excitado pela existência da URSS e dos Estados operários do Leste europeu que, apesar da degeneração burocrática stalinista, exerciam uma forte referência ideológica sobre o proletariado mundial. A existência dos Estados operários significava que a burguesia havia sido expropriada em quase 1/3 do planeta e, em conseqüência, os trabalhadores nessa parte do mundo haviam realizado conquistas históricas jamais alcançadas pelo proletariado em qualquer país capitalista. As conquistas sociais do proletariado nos Estados operários (pleno emprego, habitação, saúde e educação gratuitas, erradicação do analfabetismo, elevação do nível cultural das massas) obrigavam a burguesia nos países capitalistas, temendo ser expropriada pela revolução proletária, a fazer significativas concessões aos trabalhadores.

Já as manifestações atuais e as greves defensivas contra o governo Macron ocorrem numa etapa de profundo retrocesso ideológico, aberta a partir da queda dos Estados operários do Leste e da URSS. Apesar da magnitude e radicalização das lutas, não há no horizonte ideológico dessa juventude nenhuma perspectiva revolucionária.

Com o fim dos Estados operários, a burguesia dos países imperialistas europeus sentiu as mãos livres para dar início ao desmonte do chamado “estado de bem-estar social”, rebaixando as condições de trabalho e padrão de vida da classe operária. Na França, esses ataques foram iniciados ainda no governo da “esquerda pluralista” do Partido Comunista Francês (PCF) e do Partido Socialista (PS), agora aprofundadas no governo de Macron.

As constantes manifestações da revolta de jovens imigrantes demonstram que, carente de uma direção revolucionária, mais o movimento operário tende a retroceder em seus objetivos e em suas formas de luta. A ausência de uma referência ideológica revolucionária limita os objetivos da revolta à luta contra o racismo e a violência promovida pelas tropas anti-motins da polícia francesa.Também quanto aos métodos de luta fica claro o fosso entre as manifestações do Maio de 68 e as lutas populares da contemporaneidade , caracterizadas por ações extremamente radicalizadas, porém, sem expressar objetivos políticos claros. Esse é mais um reflexo do vazio ideológico que se abriu a partir da destruição dos Estados operários e do revisionismo da quase totalidade da esquerda mundial que se agarrou ferrenhamente à defesa da democracia burguesa, fazendo o movimento operário retroceder às formas de luta do princípio do capitalismo, como foi o movimento ludista do final do século XVIII na Inglaterra, onde os operários destruíam as máquinas e as propriedades dos capitalistas por não terem desenvolvido ainda organizações e formas de luta mais evoluídas como os sindicatos e as greves, nem vislumbrarem a perspectiva histórica da revolução proletária e do socialismo, que só surgiu com o desenvolvimento da luta de classes e do marxismo a partir do século XIX.

O retrocesso ideológico que se manifesta na consciência dos jovens insurretos na França, produto da completa rendição da esquerda revisionista do marxismo e da ausência de uma verdadeira organização revolucionária de combate, é um fenômeno equivalente ao crescimento da influência do fundamentalismo islâmico.

Apesar das limitações políticas dessas lutas, a tarefa dos revolucionários é solidarizar-se com os combatentes, lutando para ganhar a influência das massas e dirigi-las com um programa revolucionário. Entretanto, a “extrema” esquerda francesa, os pseudotrotskistas, assim como não se colocaram no campo militar das organizações fundamentalistas que patrocinaram o ataque de 11 de Setembro contra o Pentágono e os escritórios da CIA no WTC e se negaram a defender a vitória militar do Talebam diante das tropas de ocupação ianque no Afeganistão, também agora não se colocam ao lado dos jovens insurretos e imigrantes, mantendo-se inertes diante da crise, apenas lamentando os efeitos da política neoliberal, colaborando dessa forma para manter o atraso do nível de consciência das massas. Sua bandeira agora é a defesa da democracia burguesa diante do crescimento eleitoral da Frente Nacional de Le Pen.

Ao contrário dessas correntes revisionistas, que se ajoelham frente à propaganda da mídia imperialista da “guerra contra o terror”, colocamo-nos inteiramente no campo dos jovens insurretos, esclarecendo que a causa essencial da atual revolta dos jovens na França está na política de privatizações de Macron, cortes nos gastos públicos e de flexibilização do mercado de trabalho, promovendo o aumento do desemprego, que afeta principalmente os jovens trabalhadores descendentes de imigrantes, majoritariamente de origem árabe e que as provocações e o ódio racista destilado pela direita xenófoba (Le Pen, Sarkozy) contra os imigrantes tem como objetivo envenenar o proletariado francês de preconceitos para impedir sua unidade de classe na luta contra a exploração capitalista.

É necessário, portanto, unificar a revoltas dos jovens insurretos com as greves operárias, preparando uma poderosa greve geral do proletariado francês para derrotar a política de arrocho do governo Macron. É preciso fazer com que a radicalização das formas de luta reflita o vigor de um programa revolucionário que aponte a destruição do capitalismo e a construção do socialismo como único caminho para superar a crise. Se a intensa onda revolucionária que sacudiu a França em Maio de 68 não pôde conduzir à vitória da revolução proletária, abortada pela política de traição das direções stalinistas, diante da ausência do partido da vanguarda do proletariado, isso significa que hoje, 51 anos depois do “Maio Francês”, numa etapa histórica de reação e retrocesso ideológico, é necessário mais do que nunca que a vanguarda consciente do proletariado redobre seus esforços para construir um autêntico partido revolucionário internacionalista no país, único instrumento capaz de levar a classe operária a desfechar um golpe mortal contra os capitalistas, com a destruição do Estado burguês imperialista!