10 ANOS SEM O INCANSÁVEL COMPANHEIRO PADRE HAROLDO: UM
VIGOROSO COMBATENTE ANTIMPERIALISTA NOS ATUAIS TEMPOS DE REAÇÃO NEOLIBERAL!
No dia 11 de janeiro de 2013, há exatos 10 anos, nos deixava
o companheiro “Padre Haroldo”, como era conhecido pela militância de esquerda
no Ceará. Haroldo Coelho com sua larga trajetória de lutas ao lado dos
movimentos sociais cravou história na esquerda marxista ao abraçar
corajosamente sua opção de dirigente nacional do então PRC no início dos anos
80, mesmo na condição de sacerdote de uma instituição ultrarreacionária e
inimiga visceral dos povos. Ombro a ombro, a militância da LBI esteve ao lado
dele na luta política contra a intervenção imperialista a Líbia pela OTAN.
Tantas vezes nos reunimos, em sua casa ou realizamos atividades públicas para
denunciar a nefasta ação das potências capitalistas ao povo líbio, discutindo
como era possível que setores da “esquerda” apoiassem tal investida reacionária
que levou inclusive ao assassinato do coronel Kadaffi. Militante aguerrido,
“Padre Haroldo” escreveu vários artigos desmascarando a farsesca “revolução
árabe” e, por diversas vezes, contribuiu em nossa campanha para realizar atos
políticos contra a agressão aos países do Oriente Médio comandados por regimes
nacionalistas, como a Síria e o Irã. No final de 2012, em novembro, nos
encontramos em um debate sobre Marighella e conversamos sobre a investida que a
Casa Branca preparava contra o Irã e discutimos quais iniciativas tomar. Sempre
discutimos vivamente e, apesar das diferenças programáticas, ele dizia que
éramos os trotskistas mais coerentes que conhecia, defensores de Cuba e da
necessidade de construir um partido revolucionário internacionalista. A sua
crença em um Deus como porta-voz dos pobres e oprimidos, tantas vezes motivo de
calorosos debates conosco, que somos além de marxistas necessariamente ateus,
não reduzia o nosso respeito por sua conduta militante.
Há 10 anos este vigoroso
combatente anti-imperialista, que se notabilizou por defender a Nicarágua na
década de 80, não está mais entre nós. Fazemos questão de homenageá-lo e não
esquecê-lo, ele faleceu deixando fortes lembranças de sua determinação na luta
anti-imperialista e em defesa dos explorados, de sua fala cortante e sempre
presente na denúncia do capitalismo e de sua ação decidida pelos trabalhadores!
José Haroldo Bezerra Coelho, mais conhecido na esquerda como
“Padre Haroldo” nasceu em 24 de março de 1935 e ordenou-se padre no emblemático
ano de 1964, meses após o golpe militar contra João Goulart. Cursou Ciências
Sociais e fez pós-graduação na Universidade de Sorbonne, na França. Viveu
exilado durante oito anos na Europa na década de 1970 e voltou ao Brasil apenas
em 1979, depois da Anistia. Lecionou na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e
agora era professor aposentado. Aproximou-se da Ação Popular (AP), corrente
criada por atuação dos militantes estudantis da Juventude Universitária Católica
(JUC) e ingressou no PCdoB quando grande parte da AP aderiu a este partido.
Rompeu com o PCdoB como parte do movimento de cisão que deu origem ao Partido
Revolucionário Comunista (PRC). A formação do PRC resultou da aglutinação de
dissidentes conhecidos como a Esquerda do PCdoB. Desligados do partido no final
dos anos 1970 em função de divergências quanto ao balanço da experiência da
guerrilha do Araguaia e ao próprio stalinismo, atuavam desde o início dos anos
1980 tanto no PT quanto no PMDB. “Padre Haroldo” então se vinculou ao núcleo do
PRC no Ceará, dirigido por Jorge Paiva, Rosa Fonseca e a então deputada Maria
Luiza Fontenelle. Maria foi eleita prefeita de Fortaleza pelo PT em 1985, mas
acabou por romper com o PRC e ajudou a fundar o Partido da Revolução Operária
(PRO). “Padre Haroldo” seguiu as posições do PRO como um colaborador ativo e na
década de 80 também se dedicou a defender a Nicarágua. Antes fez ampla campanha
no Brasil em apoio da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional na Nicarágua
(FMLN). Em 1986 foi candidato ao governo estadual do Ceará pelo PT na sequência
do peso do PRO no interior do petismo, mas a campanha eleitoral do PT naquele
ano fora manchada pelo apoio financeiro recebido pelo PT (incluindo todas suas
tendências internas) por parte dos “coronéis” do PFL, interessados na derrota
de Tasso Jereissati. Neste período o PRO e uma ala da “Articulação”
(Gilvanistas) saíram do PT em função das denúncias realizadas pelo então
dirigente do PT Candido Alvarez, que quase isoladamente conseguiu reunir as
provas da corrupção praticada pelos integrantes do PRO ao aceitar a “ajuda”
econômica do PFL. Quando posteriormente o agrupamento liderado por Maria Luiza,
Rosa Fonseca e Jorge Paiva (PRO) rompeu abertamente com o marxismo em 2000, criando um movimento social-democrata “Crítica
Radical” que chegou inclusive a hostilizá-lo quando recebeu a filha de Che Guevara
no Ceará, o velho combatente afastou-se definitivamente destas posições
anticomunistas. Havia se filiado ao PSOL e, no interior deste partido, adotava
posições anti-imperialistas e críticas à política de sua direção nacional. Era
dirigente do Movimento Democracia Direta (MDD) e da Universidade de Políticas
do Movimento Popular (UNIPOP).
Em artigo escrito em seu blog em meados de 2011, Padre
Haroldo nos dizia “Não é segredo para ninguém que todas as tensões e tentativas
de desestabilização dos países do norte na África e do médio oriente são
provocadas pelas riquezas petrolíferas ou, também, pela conquista de
territórios estratégicos no jogo de influência das nações imperialistas. Os
acordos de Paz ente o Egito e o Estado sionista, só serviram aos interesses
imperialistas e em detrimento do povo palestino. Praticamente, o povo palestino
ficou sem defesa e entregue aos ataques de Israel”. Além de estarmos juntos no
combate contra a agressão a Líbia, desenvolvemos com ele em 2011 uma intensa
campanha nacional pela liberdade de Cesare Battisti, que hoje volta a ser
caçado pelo neofascista Bolsonaro e o aparato de repressão do Estado burguês.
Quando conquistamos a liberdade de Battisti, estivemos com o Padre Haroldo e o
ativista italiano em um debate em Fortaleza, onde reivindicamos juntos a
necessidade da defesa da revolução socialista, combate abandonado pelo próprio
Cesare. Essas fortes e vivas lembranças, de resistência em tempos de reação
ideológica e de adaptação da esquerda a democracia burguesa e ao imperialismo
nos faz reafirmar 10 anos após sua morte: Padre Haroldo, presente! Na luta
sempre!