quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

UMA REAL TENTATIVA FRACASSADA DE GOLPE DE ESTADO: GENERAL SYLVIO FROTA, EX-MINISTRO DO EXÉRCITO, MARCHA COM COMANDANTES MILITARES RUMO AO PLANALTO PARA DERRUBAR O PRESIDENTE GEISEL. SERÁ QUE OS BOLSONARISTAS LUMPENS DE BANDEIROLAS NAS MÃOS IRIAM DAR UM GOLPE NO GOVERNO DA FRENTE AMPLA? 

Em 1977, o então Ministro do Exército, Sylvio Frota, articulou um movimento golpista com outros comandantes militares pra impedir a candidatura de João Figueiredo ao Planalto e depor o presidente Ernesto Geisel, que iniciava o processo político junto com Golbery do Couto e Silva que ficou conhecido como o de uma “Abertura Lenta, Segura e Gradual” do regime militar. Frota, um assassino confesso e com muito prestígio na caserna, não aceitava que Geisel e Golbery iniciassem o projeto da Anistia, mesmo que restrita.

Em meados daquele 1977, as duas alas das Forças Armadas, as dos falecidos generais Cas­tel­lo Bran­co e Cos­ta e Sil­va, adversárias políticas “res­suscitaram” nas figuras do pre­si­den­te Er­nes­to Gei­sel e do Mi­nis­tro do Exér­ci­to, Sylvio Fro­ta, um enfrentamento parecia inevitável e iminente. Quan­do Frota per­ce­beu que o presidente Gei­sel ha­via es­co­lhi­do como seu su­ces­sor, Jo­ão Fi­guei­re­do, chefe do SNI (atual ABIN), com o ob­je­ti­vo de dar con­ti­nui­da­de ao processo de Aber­tu­ra e Anistia, o general “linha dura” decidiu deflagrar um golpe de Estado, com tanques e artilharia pesada contra o Palácio do Planalto.

Ao sa­ber do avanço da articulação golpista de Fro­ta, que já ha­via “de­cla­ra­do” guer­ra, Gei­sel con­ver­sou com Gol­bery no dia 7 de ou­tu­bro de 1977, e se­la­ram o ex­pur­go do mi­nis­tro do Exér­ci­to. “Fi­que qui­e­to. Até quar­ta-fei­ra o as­sun­to es­ta­rá li­qui­da­do”, se­gre­dou Gol­bery ao ali­a­do Hum­ber­to Bar­re­to. O se­gun­do a ser avi­sa­do por Gei­sel foi o general Hu­go Abreu: “Vou ti­rar o Fro­ta”, foi o estopim para a marcha acelerada da “ala dura” das FFAA para derrocar o presidente pela via da violência armada.

O di­á­lo­go en­tre Gei­sel e Fro­ta sobre a “degola” do general golpista foi ten­so, segundo o relato de um jornalista íntimo dos bastidores do Planalto:

— Fro­ta, nós não es­ta­mos mais nos en­ten­den­do. A sua ad­mi­nis­tra­ção no mi­nis­té­rio não es­tá se­guin­do o que com­bi­na­mos. Eu não acho is­so cer­to. Por is­so pre­ci­so que vo­cê pe­ça de­mis­são.

— Eu não pe­ço de­mis­são — res­pon­deu Fro­ta.

— Bem, en­tão vou de­mi­ti-lo. O car­go de mi­nis­tro é meu, e não de­po­si­to mais em vo­cê a con­fi­an­ça ne­ces­sá­ria pa­ra man­tê-lo. Se vo­cê não vai pe­dir de­mis­são, vou exo­ne­rá-lo.

Ao ato de “depuração” da extrema direita do Regime Militar realizado por Geisel e Golbery,  Fro­ta ten­tou le­van­tar-se ra­pi­da­men­te. Con­vo­cou uma re­u­ni­ão do Al­to-Co­man­do e ou­tros ge­ne­ra­is. Ali­a­do de Fro­ta, o te­nen­te-co­ro­nel Car­los Al­ber­to Bri­lhan­te Us­tra, o “Ma­jor Ti­bi­ri­çá” do DOI, re­ce­beu a in­cum­bên­cia de bus­car os ge­ne­ra­is no ae­ro­por­to de Bra­sí­lia. Ao seu la­do, também estava o ma­jor Se­bas­ti­ão Ro­dri­gues de Mou­ra, o “Cu­rió torturador” da Guer­ri­lha do Ara­gu­aia. A “linha Dura” esperava o importante apoio do general Bentes Monteiro, do Comando Militar da Amazônia, este por sinal acabou sendo o candidato a presidente da república pelo MDB no Colégio Eleitoral, contando com a simpatia política de toda a esquerda reformista, inclusive a Convergência Socialista, hoje PSTU.

Os mi­li­ta­res golpistas “mos­tra­ram mais de 300 co­que­té­is mo­lo­tov no chão e ex­pli­ca­ram a Fro­ta: ‘O se­nhor es­tá ven­do is­so aqui. Sa­be o que é? É pa­ra de­fen­dê-lo e ata­car o Pa­lá­cio do Pla­nal­to”, re­ve­lou posteriormente o general Enio Pi­nhei­ro.

Sob um clima de tensão em Bra­sí­lia, o co­man­dan­te mi­li­tar do Pla­nal­to, ge­ne­ral Hei­tor Fur­ta­do Ar­ni­zaut de Mat­tos, e o co­man­dan­te da 3ª Bri­ga­da de In­fan­ta­ria Mo­to­ri­za­da, ge­ne­ral Ro­ber­to Fran­ça Do­min­gues, ca­sa­do com uma fi­lha do ge­ne­ral Or­lan­do Gei­sel, ali­a­ram-se na defesa militar do pre­si­den­te Geisel, fechando as portas para a intentona da extrema direita. Contam até que apesar da idade, os generais Figueiredo e Leitão foram até o teto do Palácio com metralhadoras anti-aéreas para se precaver de um possível bombardeio de aviões pilotados por brigadeiros golpistas.

Entretanto o “assalto ao Planalto” estava fadado previamente ao fracasso, independente da correlação das forças militares internas. A linha política defendida por Geisel e Golbery, da “Abertura Lenta e Gradual” do regime gorila tinha sido traçada bem longe de Brasília, mais concretamente em Washington pelo presidente Carter, o Democrata que ocupava a Casa Branca desde 1976. Apesar do Alto Comando das Forças Armadas serem majoritariamente alinhados com Frota e seus generais de “linha dura”, chegavam ao ridículo de considerar Golbery como “representante da Internacional Comunista de Moscou”, a ordem de sustentar Geisel partiu do Pentágono e o grosso da oficialidade tupiniquim acatou disciplinadamente.

Desde o golpe militar de 1964, urdido diretamente pelo Departamento de Estado dos EUA, onde ouve uma depuração absoluta das Forças Armadas de qualquer vestígio de algum militar nacionalista (estes foram para a reserva ou saíram do país) o Alto Comando Militar brasileiro é treinado e subordinado linearmente aos generais do Pentágono, isso não mudou em nada com a ascensão da “Nova República“ ou mesmo com os governos petistas da Frente Popular. Falar hoje em golpe de militares Bolsonaristas da extrema direita sem o aval da Casa Branca, é quase uma anedota narrada para distrair crianças e tolos.

Diante desse relato histórico podemos ter uma mínima noção do que poderia ser realmente uma movimentação conspirativa na caserna, e que desembocaria na organização de um golpe militar, ou pelo menos na tentativa da “intentona” de um setor das FFAA contra um governo estabelecido institucionalmente.

Estabelecendo uma comparação histórica e conceitual com o “8 de Janeiro de 2023, a pergunta central que os Marxistas Revolucionários lançamos é a seguinte: Será que os Bolsonaristas Lumpens, com bandeirolas e bíblias nas mãos e completamente desarmados, iriam dar um golpe de Estado no governo da Frente Ampla?

A resposta é clara e evidente: não havia a menor possibilidade política e militar de tal fato ocorrer!!! Isto porque a Governança Global do Capital Financeiro, em particular o conjunto dos governos imperialistas, desde os Democratas nos EUA até a Social Democracia da União Europeia, jogaram todas suas fichas para derrotar Bolsonaro e eleger Lula, o representante programático perfeito para impulsionar a Nova Ordem Mundial no Brasil. Não seriam um bando de patetas de extrema direita, desarmados, sem apoio militar e carentes do aval de setores chaves da classe dominante e do imperialismo ianque, que iram derrubar o governo recém eleito ou mesmo ameaçá-lo seriamente.

Quem sustenta a tese estapafúrdia de que a CIA deu apoio operacional a manifestação Bolsonarista para derrubar o governo Lula, como levantou Pepe Escobar ou mesmo para “tentar desestabilizá-lo”, como afirma Rui Pimenta (PCO), busca encobrir que a manifestação Bolsonarista serviu de fato para em um momento inicial fortalecer politicamente o governo da Frente Ampla burguesa, e também em um sentido mais estratégico, deixar a gerência petucana completamente refém dos operadores centrais da Governança Global do Capital Financeiro no Brasil, a saber: STF, Rede Globo e o Alto-Comando das FFAA.

Os Marxistas Leninistas desmascaramos quase solitariamente esta farsa desde o início, refutando dia a dia, artigo atrás de artigo em nosso Blog, a tese fantasiosa do golpe militar Bolsonarista. Denunciamos que a Casa Branca desde a posse de Lula monitora diretamente as FFAA brasileiras no sentido de impor no Alto Comandante generais totalmente alinhados com a “Pauta Democrática” empunhada por Biden e que vem impondo seus gerentes da centro-esquerda na América Latina como elemento de contenção contra a profunda crise capitalista (Lula, Arce, Petro, Boric, Fernandez...). Não havia, portanto, a menor possibilidade de um golpe Bolsonarista derrubar o novo governo e, nem muito menos, o ocorrido em 8 de janeiro pode ser considerado seriamente como uma “tentativa” de fazê-lo! A cantilena distracionista de que os generais Bolsonaristas estavam preparando um golpe (inclusive com o apoio da CIA!) serve apenas para a esquerda corrompida, um arco que vai do PT ao PCO, passando pelo PSTU, PSOL e PCdoB, camuflar os ataques que o governo burguês da Frente Ampla já está perpetrando contra os trabalhadores e a população pobre, garantindo-lhe um importante fôlego político. Esse é o verdadeiro conteúdo do espantalho político e midiático alardeado em torno do inexistente “golpe” contra o governo Lula!