Dentro de poucos dias, mais uma vez, o povo brasileiro se
lança nos “festejos” do carnaval. Longe do espírito popular de sua origem, a
“festa da libertação”, eminentemente pagã, é hoje convertida na “festa” da
alienação montada a serviço da deculturação do país pelos grandes meios de
comunicação de massa, acompanhando o próprio processo de destruição da genuína
cultura popular pelos capitalistas. Neste começo de 2019 em particular, o
país foi sacudido por seguidas tragédias (Brumadinho, Ninho do Urubu), chacinas
no Rio de Janeiro pela PM e atos brutais de racismo. O fechamento da fábrica da
Ford com a demissão de 3,2 mil operários é outra desgraça na vida operária do país.
Por sua vez, o presidente da Câmara dos Deputados, o facínora Rodrigo Maia
(DEM) anunciou que logo após o Carnaval vai colocar o projeto de Reforma
Neoliberal da Previdência em votação na CCJ. Colado a “período momino” temos o 8
de março, dia internacional da mulher trabalhadora. Como se vê, estamos em meio
a um período que exige muita luta para que a burguesia não faça a “festa” na
liquidação de nossos direitos e conquistas. Preparemos desde já a resposta dos
trabalhadores aos ataques dos capitalistas e seus governos. Nesse contexto de
onda conservadora, o carnaval de rua vem sendo cada vez mais pasteurizado e
domesticado, por sua vez o carnaval “globeleza” promovido pela TV dos Marinhos,
cujos holofotes se concentram nos sambódromos do Rio e São Paulo, com milhares
de pessoas nas arquibancadas vendo os “vips” desfilarem, além dos “trios
elétricos” de “axé” em Salvador, com sua música bestializante é a melhor
expressão desse processo de contrarrevolução no terreno da cultura nacional. Em
nada tem a ver com o carnaval popular, de traço boêmio e contestador, próprio
dos blocos de rua do passado (os chamados “cordões” e “ranchos” nascidos no
final do século XIX).A burguesia controla o Carnaval de rua (transformado hoje em
sambódromos e trios elétricos milionários voltados unicamente para a
“espetacularização” do evento) nos grandes centros urbanos como São Paulo, Rio
de Janeiro, Salvador, Recife, Olinda e tem interferido não só na organização do
evento (algo perceptível, particularmente, nos elevados preços dos ingressos e
de tudo que está em torno da festa), como também, na transformação desta festa em
um espetáculo para a exibição de valores e comportamentos que não têm qualquer
correspondência com o espírito popular de sua origem chamado “entrudo”, ou
seja, a festa “de libertação” que antecede a quaresma, uma vez que o Carnaval
era sinônimo de subversão dos “bons costumes” da elite oligarca
ultrarreacionária. Hoje a “festa” que vemos na TV não representa mais o caráter
contestatório político-religioso presente até meados da década de 50 (a sátira
política como crítica ao regime político vigente). O Carnaval, para ser palatável aos “turistas” do mundo
inteiro e para os interesses comerciais da televisão, foi pari pasu
“embranquecido” e “filtrado” de seus autênticos elementos de samba feito no
morro, ou seja, foi instrumentalmente “desfavelizado”. Em decorrência da quebra
de seus elementos originais quase desapareceram no Rio de Janeiro temas
vinculados à cultura popular e às próprias raízes do Carnaval ou à história em
versos da formação do povo negro. Até nos locais onde as tradições sempre foram
mais preservadas, como em Olinda e, no ultrapopular “Galo da Madrugada”, no
Recife, as garras dos patrocinadores capitalistas já chegaram. Somam-se a isso
as festas e os camarotes exclusivos que, entupidos de celebridades descartáveis
e “saradas”, servem para rechear centenas de páginas de publicações e programas
globais que buscam entreter para alienar as massas.
De um lado, o pasteurizado carnaval “globeleza” e suas
escolas de samba, completamente adaptadas aos interesses capitalistas, com
músicas de letras vazias, vulgarizando e explorando o corpo das mulheres como
uma simples mercadoria a ser “exposta” na mídia e para ser “consumida”
virtualmente pelos telespectadores ou em carne e osso pelos “clientes” em seus
camarotes de celebridades. Tudo isso em carros alegóricos e trios elétricos
milionários bancados pelo Estado em associação com as grandes empresas,
privatizando espaços públicos em uma verdadeira política de pão e circo, com a
“diferença” de que neste show há que se pagar elevados preços dos ingressos, em
geral loteados entre os turistas e “populares” indicados pelas diretorias das
escolas de samba para fazer a “torcida organizada” nos desfiles. De outro lado,
como produto da barbárie cultural, aparecem os paredões com seus incansáveis
axés procurando alienar a população trabalhadora acerca de suas reais condições
(ritmos de trabalho alucinantes, arrocho salarial, desemprego...). Seja na
“luxúria” dos sambódromos, nos trios elétricos baianos com seu lixo cultural ou
ao som dos paredões, a manipulação do carnaval o transforma em cultura de massa
atrasada, completamente esvaziado de sentido. Desta forma os grandes meios de
comunicação com o auxílio dos governos burgueses, desde os de Frente Popular
petista até os da direita neoliberal, cumprem um papel nefasto de deculturação
e alienação, ou seja, destroem qualquer traço de cultura genuinamente popular
para melhor dominar o povo explorado, como os portugueses colonialistas fizeram
com os índios.
Como Marxistas Revolucionários dizemos que não há nada a “festejar” neste campo do lixo cultural, é preciso uma ruptura radical com o móvel cultural desse carnaval mercenário, vazio e banal imposto pela mídia “murdochiana”, a burguesia e seus agentes. Contra a “carnavalização” comercial empurrada acriticamente goela abaixo da população pela mídia, é preciso “brincar” o carnaval com o genuíno espírito de resistência como nos Blocos "Comuna que pariu" no RJ e o da "Revolução" em Olinda, lutando ideologicamente para dotar o movimento operário de uma clara conscientização programática acerca do que representa o carnaval no regime capitalista e o caráter nefasto da política de aprofundamento da submissão ao imperialismo e da deculturação do país patrocinada pelos grandes oligopólios de comunicação corporativos.