O estado do Ceará vivencia um processo muito particular e
até certo ponto "estranho" da política nacional. Trata-se do
governador Camilo Santana, reeleito em 2018 no primeiro turno com o maior
percentual de votos de todo o Brasil. O "fenômeno" político Camilo,
um jovem ex-deputado estadual que anteriormente sequer conseguiu ser eleito
prefeito de sua cidade no interior (Barbalha), se explica com uma só assinatura:
Ciro Ferreira Gomes. Em 2014 a oligarquia Ferreira Gomes, comandada pelo irmão
mais velho Ciro, estava sendo expulsa do PSB pelo então governador de
Pernambuco o falecido Eduardo Campos, o motivo do expurgo do "ninho
socialista" era a pretensão do ex-ministro da Integração Nacional do
governo Lula pretender para si a indicação do partido para disputar a
presidência da república. Com o controle pleno do PSB em nível nacional não foi
difícil para Eduardo Campos apontar a porta da rua do seu partido para os
Ferreira Gomes. Ciro então adota uma estratégia bem inteligente no complexo
xadrez da política nacional, sem chance de conseguir a indicação eleitoral de
algum partido da "esquerda" burguesa para o Planalto em 2014 (PT, PDT
e REDE já tinham fechado questão), os Ferreira Gomes decidem por se
"pulverizar" em vários partidos, no sentido de obter o controle
posterior das legendas. Ciro e o irmão Cid se abrigam no PROS, o prefeito de
Fortaleza, Roberto Claudio vai para o PDT e então deputado estadual Camilo
Santana se firma no PT disputando a eleição para o governo do estadual em 2014.
Dilma e Camilo fazem uma "dobradinha" no Ceará e ambos são bem
sucedidos eleitoralmente, é neste momento que Ciro e seu grupo prepara o
desembarque unificado no PT, saindo do PROS e do PDT. Porém no "meio do
caminho dos Ferreira Gomes havia uma pedra", já bem no início de 2015
estoura a crise da operação "Lava Jato", levando segmentos da
população para pedir o "Fora Dilma" nas ruas do país.. estava claro
que o governo central do PT não se sustentaria por muito tempo. Mesmo já tendo
o controle do PT cearense e o aval da presidente Dilma, Ciro decide recuar do
plano original e negocia sua entrada no PDT, sem resistência do venal Carlos
Lupi seu grupo oligárquico assume facilmente o comando nacional do partido
brizolista em meados de 2015, mas resolve ainda deixar uma "ponta" no
PT: o governador Camilo Santana e outras "lideranças" de menor porte.
Em 2016, um setor dos "Ciristas" se transfere regionalmente para o
PSB, PSD e PP, além de buscarem alianças com o PTB,DEM,PR, PROS, PCdoB e até o
PSDB, com o suporte financeiro do governo do Ceará e de grandes grupos
econômicos da região os Ferreira Gomes passaram a controlar 100% das legendas
do estado, um "trunfo peculiar" da política burguesa nacional. Apesar
de atualmente Ciro girar claramente sua rota eleitoral para ocupar o espectro da
"centro-direta", com o vazio político deixado pela crise do PSDB, a
oligarquia Gomes continua com o "pé atolado" no PT cearense, contando
com toda a cumplicidade dos petistas da cúpula nacional do partido. O
governador "petista" Camilo Santana não faz questão de esconder sua
profunda simpatia com o governo neofascista Bolsonaro, estabelecendo parcerias
em torno da aprovação da famigerada "reforma da previdência" e do
"pacote anticrime" do bonaparte Sergio Moro, tudo sob o silêncio sepulcral
da presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann. Nesta altura do texto alguém
poderia perguntar, onde entra o PSOL nesta conjuntura reacionária de total
"convergência estadual" com a oligarquia burguesa dos Gomes? O PSOL
cearense possui um deputado estadual, Renato Rosendo (ligado a tendência interna
"Insurgência"), reeleito em 2018 com o apoio político do presidente
da Assembleia Legislativa, o veterano Zezinho Albuquerque (filiado ao PDT, mas
que também controla o PP) que na tribuna do parlamento cearense declarou que o
psolista não era oposição ao governo Camilo e tampouco "criava
problemas" para o grupo "cirista" na Casa. Sem oposição
parlamentar, e com a valorosa "contribuição" do PT, PCdoB e PSOL, o fantoche Camilo
Santana "passeia" livremente da "direita até a esquerda"
para atacar as conquistas do funcionalismo do Estado e "facilitar" as
pretensões palacianas de seu "padrinho" político Ciro Gomes,
empenhado agora em colaborar com o presidente neofascista e suas reformas
neoliberais.