Após cinco dias de muita vacilação e medo, pressionado pelas
duas alas do seu governo diante da crise aberta (militares querendo a demissão e
a triunvirato neoliberal desejando a permanência), o presidente da trupe
fascista acabou por demitir o seu braço político mais próximo no interior do
PSL, o “bate pau” alçado à condição de Ministro da Secretaria Geral da
Presidência da República: Gustavo Bebianno Rocha. A crise teria tido início com
a divulgação pela Folha de São Paulo de um esquema de desvio do bilionário
Fundo Eleitoral para “candidaturas laranjas” por parte da cúpula do PSL. Este
fato da política burguesa, propriamente não é nenhuma “novidade” posto que
abrange “somente” todos os partidos institucionais, desde o PSDB até o
minúsculo PCO com candidaturas que receberam milhares de Reais do TSE e
obtiveram menos que uma dezena de votos. No próprio PSL, temos a denúncia do
então presidente do partido em Minas Gerais, agora ocupando o posto de Ministro
do Turismo, Marcelo Álvaro, repassando as verbas eleitorais para suas
“laranjas” sem que nada ocorra, então porque a denúncia midiática contra a
prática corrupta de Bebiano (ex-presidente nacional do PSL) acabou por resultar
em uma grande crise política de governo, forçando Bolsonaro a demiti-lo? O
imbróglio no governo começou não propriamente nas reportagens da Folha sobre os
vastos “laranjais” da política brasileira, mas sim quando o vereador carioca
Carlos, filho de Bolsonaro, anunciou um
suposto “desconforto” do presidente fascista com o então Ministro Bebiano, a
partir deste momento a “temperatura subiu” e pelo Twitter o Secretário-geral
foi chamado de “mentiroso” quando tentou contornar a situação criada pelo
“número 2” do reacionário clã. A razão apresentada publicamente para explicar o
“fogo amigo” do vereador contra o “braço direito” do seu pai, seriam atritos
pessoais ocorridos no passado entre Carlos e Bebiano, uma justificativa
“singela” e que só poderá convencer ingênuos “Homer Simpsons” ou então os tolos
que creem que Jair não tinha pleno conhecimento do esquema de desvio das verbas
do TSE operado pelos principais caciques do PSL. Para entender a fundo a razão
da crise é necessário começar por conhecer a história de vida de Gustavo
Bebiano, um advogado criminalista sem nenhum passado eleitoral, mas que ganhou
força e prestígio na “cidade maravilhosa” advogando para a milícia de bandidos
que hoje controlam o tráfico na periferia carioca. O truculento Bebiano logo
“cresceu” no esquema mafioso, chegando a ser considerado o “comandante civil”
das milícias cariocas e por esta via fez sua amizade com o então deputado Jair
Bolsonaro. Bebiano passou rapidamente a condição de principal assessor político
do candidato a presidente Bolsonaro, sendo indicado pelo capitão para comandar temporariamente o PSL, enquanto o presidente
nacional Luciano Bivar tirava licença para emplacar sua candidatura a deputado
federal por Pernambuco. Com a vitória de Bolsonaro ao Planalto e do parceiro
fascista Witzel para o governo do Rio, Bebiano atingiu um “ponto de força
máxima” no Rio de Janeiro, o que teria desagradado profundamente o vereador
Carlos, que nutre pretensões de ser candidato a prefeito da capital fluminense.
Outro aspecto ainda bem mais “obscuro” e pouco revelado entre as “rusgas” do
vereador Bolsonaro e o Ministro demitido, seria o controle das próprias
milícias cariocas, intimamente ligadas tanto ao clã fascista quanto a Bebiano.
Com um primeiro desfecho da “crise Bebiano”, ficou reforçada a caracterização
de que Jair Bolsonaro não preside mais seu próprio governo, rachado e
paralisado entre a guerra fratricida de suas duas alas, “militares versus
neoliberais”. O vacilo quase “mortal” da demissão de Bebiano é a expressão
maior da profunda crise instalada no âmago do governo fascista. Agora Bebiano
se junta ao grupo dos “inimigos” do governo, chefiado pela famiglia Marinho,
aguardando somente a aprovação (ou não) da reforma neoliberal da Previdência
para desfechar o golpe terminal contra Bolsonaro e seu clã fascista.
Desgraçadamente a chamada “oposição institucional” (PT, PSOL, PCdoB) permanece
na tática da presão parlamentar de colaboração de classes à espera da eleição
de 2022, enquanto a “oposição propositiva” (PDT, PSB e REDE) afunda junto no
naufrágio do governo fascista, já que não ocorreu a “onda Bolsonaro” onde oportunisticamente
esperavam “surfar”. Cabe a vanguarda revolucionária do proletariado, ainda que
extremamente minoritária, empunhar as bandeiras da ação direta das massas no
sentido da demolição completa deste regime bonapartista de exceção.