“GOLPE DE AGOSTO” NA URSS: TROTSKISTAS EM DEFESA DO ESTADO OPERÁRIO CONTRA A RESTAURAÇÃO CAPITALISTA... REVISIONISTAS DO TROTSKISMO JUNTO COM
YELTSIN E O IMPERIALISMO IANQUE
Entre os dias 19 e 20 de agosto de 1991, há exatamente 28
anos atrás, um golpe militar dirigido por generais stalinistas e setores da KGB
tentou barrar a divisão da URSS um dia antes da celebração do chamado
"Tratado da União" que criava uma Federação de Repúblicas
Independentes, com ampla autonomia para seus presidentes levarem a cabo a
restauração capitalista. Sob o comando do então vice-presidente da União
Soviética, Gennady Yanaiev, esta ala da burocracia prendeu Gorbachev com o
objetivo de retomar o controle do aparelho central do então Estado operário
soviético. O golpe foi derrotado militarmente e de seu fracasso surgiu como
novo ícone da restauração capitalista o "herói" Boris Yeltsin, então
presidente da Federação Russa, que tratou de dar curso ao processo de
liquidação contrarrevolucionária da URSS. Yeltsin comandou um setor
restauracionista que havia rompido com o aparato estatal do PCUS, se alçou à
condição de representante direto do “mercado” e venceu, com a ajuda da
burguesia mundial, o golpe de estado liderado pelos burocratas stalinistas do
Comitê de Emergência. Os restauracionistas tomaram o poder de estado,
instaurando um governo capitalista na Rússia, disposto a destruir as antigas
bases sociais do Estado operário através da autonomia total das então
repúblicas soviéticas, privatizar a economia estatizada e a restaurar o
capitalismo na região, transformando a antiga URSS numa semicolônia
capitalista, condição na qual atualmente se encontra a Rússia, apesar de uma
certa recuperação econômica.
Diante deste acontecimento, a grande maioria da esquerda mundial, incluindo os revisionistas (PSTU, PO, PTS, PCO, TPOR, OT etc...) saudaram a contrarrevolução de Yeltsin como uma “revolução democrática” ou um “acontecimento revolucionário”, engrossando as fileiras do imperialismo e da social-democracia em suas comemorações do “fim da ditadura stalinista”. Ironicamente, há pouco tempo atrás, na Ucrânia, novamente a estátua de Lênin foi derrubada em praça pública, bandeiras vermelhas com o símbolo da foice e martelo pisoteadas por grupos fascistas e manifestações exigindo a “unificação” com a Europa. Estas cenas em muito se pareceram com o que ocorreu em 1991 com o fim da URSS, mas se passaram na Ucrânia, mais particularmente na capital do país, Kiev. Quando houve a restauração capitalista da União Soviética e do Leste Europeu, há mais de 26 anos (89-91) ocorrendo exatamente as cenas que se passaram há pouco tempo na Ucrânia, as correntes revisionistas do trotskismo, como PSTU e PCO, apresentaram estes acontecimentos como uma “vitória revolucionária das massas”. Os morenistas seguem até hoje com esta caracterização e inclusive apresentam as manifestações pró-imperialistas e o golpe fascista que ocorreram na Ucrânia como parte da “revolução” que derrotou o stalinismo no passado, já que a ligação entre o presidente ucraniano que acabou deposto, Viktor Yanukovich com Putin representaria a manutenção dos laços políticos e econômicos com a Rússia, que ainda influencia parte das antigas repúblicas soviéticas. O PTS (MRT no Brasil, antiga LER-QI) que celebrou a queda da URSS agora diz “lamentar” os efeitos da restauração capitalista e cinicamente saúdam o grupo Resistência-PSOL (racha do PSTU) por supostamente fazer uma autocrítica das posições da LIT, quando na verdade ambos agrupamentos continuam a comemorar a fim do “aparato stalinista mundial” pelas mãos do imperialismo como uma grande vitória. Mais oportunista ainda é a posição do PCO, que hoje critica as “teses” pró-imperialistas da LIT, “finge” ser defensista e contrária à restauração capitalista, quando era uma das correntes mais fervorosas na defesa da suposta “revolução política” na RDA e na URSS, posição contrarrevolucionária que inclusive levou a nossa ruptura programática com esta seita revisionista e a fundação da LBI.
EM DEFESA DAS BASES SOCIAIS DA URSS
De um lado estava Yeltsin, cuja vitória significava de
imediato a dissolução da URSS nas mãos de uma camarilha restauracionista
diretamente vinculada ao imperialismo ávida por se apropriar dos recursos
herdados da economia soviética. De outro, os stalinistas do Comitê de
Emergência que defendiam a continuidade do Estado Operário degenerado temendo
perder seus privilégios de casta vinculados à manutenção da URSS. Diante de um
conflito entre restauracionistas e stalinistas, os revolucionários tomaram o
lugar na barricada dos últimos chamando a defesa incondicional da URSS e das
conquistas da revolução de Outubro. Nesta aliança momentânea com a burocracia,
os trotskistas estiveram na defesa não da camarilha bonapartista, mas das bases
sociais da URSS, da propriedade estatizada expropriada da burguesia, sem omitir
um só momento que tal política está a serviço de preparar a revolução política
e derrubar a burocracia termidoriana. Para o fundador da Quarta Internacional e
para os revolucionários “qualquer outro comportamento seria uma traição”
(Programa de Transição).
Combater Yeltsin significava retardar a contrarrevolução
burguesa na URSS e ganhar tempo para preparar a revolução política. E no
momento de desmoronamento do aparato stalinista e do Estado operário frente às
forças da restauração, o tempo é crucial para os revolucionários da Quarta
Internacional armarem seções soviéticas capazes de conter a restauração
capitalista e conduzir as massas para a revolução política, tarefa que só o
partido trotskista é capaz de realizar.
Desgraçadamente o golpe do comitê de Emergência foi
derrotado, antes de mais nada pelo modo torpe do stalisnismo defender a URSS,
sem chamar a classe operária a se mobilizar em defesa de suas conquistas
históricas. Gorbachev, então preso em uma dacha na Criméia, regressou a Moscou.
Demitiu-se das suas funções como Secretário-Geral do PCUS, mas continuou a ser
presidente da combalida União Soviética. Boris Yeltsin assumiu o controle da
empresa central de televisão e os ministérios e organismos econômicos. A
derrota do golpe e o caos político e econômico que se seguiram agravaram o
separatismo regional e acabou levando à fragmentação do país e ao colapso da
URSS. Em setembro as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) declaram
a independência em relação a Moscou. Em 1º de Dezembro, a Ucrânia proclamou sua
independência. E entre outubro e dezembro 11 (com as três repúblicas bálticas e
a Ucrânia) das 15 repúblicas soviéticas declaram independência. Em 21 de
dezembro líderes restauracionistas da Federação Russa, Ucrânia e Bielorússia
assinaram um documento no qual era declarada extinta formalmente a União
Soviética. E no seu lugar era criada a CEI (Comunidade dos Estados
Independentes). No dia 25 de dezembro de 1991, Gorbatchov declara oficialmente
o fim da URSS e renúncia à presidência do país. A bandeira com a foice e o
martelo é retirada do Kremlin e a bandeira russa é colocada em seu lugar.
O FIM DO ESTADO OPERÁRIO DEGENERADO E A ASCENSÃO DA NOVA
BURGUESIA
Desde a tomada do poder pelos restauracionistas, em 1991, já
não mais se podia falar de Estado operário degenerado. Mediante o
desenvolvimento desta nova burguesia, que se apropriou juridicamente de um amplo
setor dos meios de produção é imprescindível afirmar que estava colocada na
ordem do dia uma nova revolução socialista, pois tratava-se não “só” de
expulsar a camarilha governante do nascente Estado burguês como também
expropriar os restauracionistas que se apossaram dos meios de produção, ainda
que tenha havido anos depois do golpe de agosto de 1991 um conflito entre a
direção do Estado, cuja orientação era abertamente burguesa e a economia, que
herdava formas de propriedade coletivas e estatais. Ao longo dessas duas
décadas, essa contradição foi superada, sendo a Rússia e suas antigas
repúblicas soviéticas transformaram-se em países capitalistas, vários inclusive
sob a influência do imperialismo ianque.
A destruição contrarrevolucionária dos Estados operários, e
mais particularmente da URSS, não significou “apenas” a perda de conquistas
sociais para o proletariado destes países, adquiridas a partir da revolução
socialista de 1917 na Rússia, como o pleno emprego, saúde, educação e habitação
gratuitas garantidas constitucionalmente; o monopólio do comércio exterior
etc., mas também para o proletariado mundial representou o aumento brutal dos
ritmos de produção, privatizações, aumento do desemprego etc. Foi a
consequência direta da hegemonia absoluta assumida pelo imperialismo no cenário
mundial. Apesar de toda a degeneração burocrática, promovida pelo stalinismo a
frente dos Estados operários, estes representavam um contraponto à dominação
imperialista e seus planos de expansão militar e econômica sobre todo o
planeta.
UMA DERROTA HISTÓRICA DO PROLETARIADO MUNDIAL
Neste marco, a anexação imperialista da Alemanha Oriental
ocorrida anos antes, em 1989, trouxe consigo desemprego para o proletariado
alemão oriental, perda de suas conquistas históricas, maior presença militar
ianque na região etc., em resumo: uma derrota histórica do proletariado
mundial. O Muro de Berlim significava militarmente a divisão entre as tropas
imperialistas da OTAN, que hoje bombardeiam impunemente os povos do Leste
europeu, e as tropas do Pacto de Varsóvia, representante militar dos Estados
operários burocráticos. Simbolicamente, era expressão da fronteira de dois
modos antagônicos de produção existentes até então.
De um lado, o “livre” comércio, o mercado “soberano”, a
exploração da força de trabalho, o desemprego, a fome e a prostituição; do
outro, o pleno emprego, o monopólio do comércio exterior, o direito à saúde e
educação estatizadas; em síntese, a socialização da economia, apesar do
planejamento autoritário imposto pela burocracia stalinista. Como nos ensinou
Trotsky, os revolucionários não poderiam hesitar, sob hipótese alguma, de que
lado lutariam no confronto entre o imperialismo e o Estado operário soviético.
Apesar do stalinismo, uma corrente contrarrevolucionária até a medula, estariam
na linha de frente defendendo as conquistas sociais do Estado operário contra o
imperialismo e, neste lado da trincheira, preparando as condições para a
derrubada revolucionária da casta stalinista que, com seus métodos burocráticos
de defesa do Estado operário não, faria outra coisa, senão preparar em última
instância a própria vitória do imperialismo. Como afirmou o velho bolchevique:
“Esta perspectiva torna bastante concreta a questão da defesa da URSS. Se
amanhã, o grupo burguês fascista ou, por assim dizer, a ‘Fração Butenko’ entrar
na luta para a conquista do poder, a ‘Fração Reiss’ tomará, inevitavelmente, o
seu lugar no lado oposto da barricada. Encontrando-se momentaneamente aliada a
Stalin, defenderá, é claro, não a camarilha bonapartista deste, mas as bases
sociais da URSS, isto é, a propriedade arrancada dos capitalistas e estatizada.
Se a ‘fração Butenko’ está aliada a Hitler, a ‘Fração Reiss’ defenderá a URSS
contra a intervenção militar, tanto no interior da URSS, como na arena mundial.
Qualquer outra conduta seria uma traição” (Programa de Transição).
Assim como os mencheviques e a social-democracia europeia, que deram o seu apoio à burguesia nacional durante a I Grande Guerra imperialista de rapina, uma ampla franja dos revisionistas do trotskismo cometeram uma traição histórica ao perfilar-se ao lado da “Fração Butenko”, ou seja, Yeltsin e seus asseclas, para liquidar as bases sociais do Estado operário soviético. Hoje, os efeitos da restauração capitalista na ex-URSS e em todo o Leste europeu são catastróficos para todos os povos do mundo e, em particular, para os da antiga pátria soviética. A Rússia teve sua economia arrasada (anteriormente, a segunda economia mundial), transformando-se em mais uma colônia do imperialismo. A fome, o desemprego, a prostituição infantil, o genocídio dos velhos que perderam até suas aposentadorias são efeitos da restauração contrarrevolucionária do capitalismo, ou seja, da vitória do “livre mercado” e da “democracia”!
A fração burguesa dominante hoje sob o comando de Putin e Mendelev, parida das próprias entranhas da burocracia stalinista, nas palavras de Trotsky, a “Fração Butenko”, comanda a acumulação primitiva de capital, através da rapinagem mafiosa das antigas empresas estatais. Mas a restauração capitalista, para os revisionistas, não passou de uma “revolução antiburocrática das massas”. O importante mesmo era liquidar o stalinismo, sendo apenas um “detalhe” de menor importância se, junto com o stalinismo, caísse também o Estado operário, afinal, a classe operária teria mais “liberdade” para lutar, sobre os escombros do Estado operário, pelo “verdadeiro” socialismo.
O próprio Trotsky procurava estabelecer o conteúdo de classe
das “movimentações antiburocráticas”, para determinar se eram progressivas, ou
seja, rumo à revolução política, ou reacionárias, em direção à restauração
capitalista, mesmo que inconscientemente. Ele mesmo à frente do Exército
Vermelho teve que reprimir um levante dos operários marinheiros de Kronstadt,
que naquele momento, apesar dos reclamos “antiburocráticos”, jogavam
objetivamente no campo do enfraquecimento do Estado operário soviético. Apoiar
incondicionalmente qualquer mobilização, levante, ou panacéias que tenham
slogans “antiburocráticos” contra a existência das bases sociais de um Estado
operário significa jogar objetivamente no campo da contrarrevolução
imperialista. Ao vestirem a camisa do time “antiburocrático” de Yeltsin e Cia.,
os revisionistas foram cúmplices e corresponsáveis políticos, na arena mundial,
pela tragédia social (restauração capitalista mafiosa) que ocorre hoje nos
antigos Estados operários do Leste europeu. Não é à toa que os operários de
vanguarda da URSS e da Alemanha Oriental, hoje se mobilizam justamente pelo
retorno de suas antigas conquistas.
EM NOME DAS “LIBERDADES DEMOCRÁTICAS” REVISIONISTAS DO
PSTU-LIT, PTS-MRT e PCO SE ALIARAM A YELTSIN
Esses mesmos revisionistas não se cansam até hoje de acusar
a LBI de stalinofilia por ter reivindicado como uma de sua base programática
fundacional a defesa da URSS da restauração capitalista enquanto estes
calhordas se aliavam a Yeltsin e seu bando mafioso para por fim ao Estado
operário em agosto de 1991 em nome das “liberdades democráticas”. Quando
Trotsky no interior da Quarta Internacional reivindicou a defesa incondicional
da URSS contra Hitler e o próprio imperialismo “democrático” no final dos anos
30 e início dos 40 em meio à célebre polêmica com Shachtman e Burnham,
dirigentes do SWP norte-americano, os dois também acusaram o velho de
“capitular ao stalinismo” por sua defesa da necessidade de fazer frente militar
com Stalin. Pouco tempo depois, rompidos com a Quarta, eram estes renegados que
estavam aliados com o “imperialismo democrático” contra o “totalitário” Estado
operário soviético! Para os que nos acusam agora de “capitular a Kafaffi” na
Líbia, gente da mesma cepa dos que caluniavam Trotsky de capitular a Stalin ou
Cárdenas, servindo desta forma descaradamente ao revisionismo mais febril,
respondemos com as sábias lições nos deixada pelo velho bolchevique, plenamente
válidas até nossos dias: “Stalin derrubado pelos trabalhadores: é um grande passo
para o socialismo. Stalin eliminado pelos imperialistas: é a contrarrevolução
que triunfa” (Em Defesa do marxismo).
A conquista das chamadas “liberdades democráticas”, que
facilitariam a luta pela “revolução” no interior dos Estados operários burocráticos,
é outro “eixo teórico” erguido pelos revisionistas do trotskismo. Segundo esta
lógica, a genial categoria teórica construída por Trotsky da “revolução
política” é apenas uma abstração, sem nenhuma utilidade prática, ou seja, esta
consigna nunca estaria colocada concretamente porque se “lutamos ao lado de
forças reacionárias e direitistas contra a burocracia”, evidentemente, esta
luta só poderá desembocar no surgimento não de Estados operários sãos, mas sim
de regimes burgueses “democráticos” (direito à propriedade privada, liberdade
de mercado etc.). Neste caso, então, estaria colocada a luta pela revolução
social, como de fato, assim ocorreu em todo o Leste europeu. O problema deste
engodo “teórico” é que a luta operária conspirativa pela revolução política é
absolutamente incompatível com o estabelecimento de “frentes únicas entre
revolucionários, direitistas e reacionários” pelo simples e óbvio motivo que a
luta pela revolução política pressupõe a manutenção das bases sociais do Estado
operário, exatamente o que mais objetivam destruir todos os setores
reacionários restauracionistas “antiburocráticos”. Trotsky é bem preciso nesta
questão: “Só o partido da Quarta Internacional é capaz de conduzir as massas
soviéticas à insurreição” (Programa de Transição).
A luta pela defesa das conquistas operárias e, portanto, a
manutenção das bases sociais do Estado operário, de forma nenhuma é
contraditória com a defesa da liquidação revolucionária da burocracia
stalinista (revolução política). Abdicar desta batalha, em nome do etapismo
contrarrevolucionário dos revisionistas, ou seja, primeiro as “liberdades
democráticas”, para depois lutar pela revolução socialista, já no marco da
restauração capitalista, é sinônimo da pior traição de classe, que qualquer corrente
que se reivindica revolucionária e trotskista pode cometer.
A LIT, por exemplo, afirmava na década de 90 e o faz até hoje que “A queda das burocracias, através da ação revolucionária das massas, foi um desenvolvimento altamente positivo porque destruiu o aparato central do stalinismo mundial, embora o processo não tenha se completado com a destruição total da burocracia e a tomada do poder pela classe operária através de seus organismos” (Correio Internacional, nº 67, pág, 54). Marx definia um processo revolucionário como sendo “um passo progressivo dado na roda da história”. Vejamos qual foi o grande “progresso” da classe operária na Alemanha ou na ex-URSS, onde suas conquistas históricas como pleno emprego, habitação gratuita, saúde etc. foram completamente dizimadas pela restauração capitalista. Os índices de desemprego e miséria social na URSS já se aproximam aos de países como a Índia! Mesmo na ex-Alemanha Oriental, apesar dos enormes subsídios estatais da RDA para amortizar o choque social produzido pela anexação, os níveis de desemprego superam em três vezes os níveis médios dos países capitalistas europeus. Mas naturalmente, os sábios da LIT nos dirão: sim, a classe operária da ex-URSS está na completa miséria e desagregação social, mas se livrou do seu pior inimigo, o stalinismo mundial e agora está em melhores condições de lutar! O que é afirmado em outras palavras: “a queda do stalinismo não é uma vitória do capitalismo” (Idem, pag, 52).
Já Causa Operária dizia a época que a “A crise no Leste
Europeu, na URSS, na China, em Cuba e nos demais estados operários é produto da
ação independente das massas, ou seja, da revolução política do proletariado
contra a burocracia, efetiva ou potencial”! Essa pérola foi publicada em 1995
em um documento intitulado “Uma ruptura sui generis” escrito pelo Sr. Rui Costa
Pimenta quando Causa Operária tentou responder as críticas que o núcleo
fundador da LBI fez à política pró-imperialista da então OQI, atual PCO. Não
satisfeito, o dirigente de Causa Operária deixou ainda mais claro no referido
texto a posição revisionista de sua corrente, cujo guia “teórico” era o PO
argentino de Jorge Altamira: “Estamos diante de um processo revolucionário
típico (ascenso e recomposição das organizações independentes da classe
operária, incapacidade da burocracia de manter a sua dominação de maneira
inalterada, dissolução do Estado), o qual, dialeticamente, somente pode existir
na forma da luta entre a revolução e a contra-revolução. Em todos os estados
operários abriu-se uma etapa de revolução e contra-revolução, isto é, um
período revolucionário. O fracasso da burocracia em levar adiante uma transição
controlada dá lugar a uma situação convulsiva na qual se inserem a queda do
Muro de Berlim e o golpe de agosto de 1991 na ex-URSS” (Idem). Como se pode ler
textualmente, Causa Operária saudou entusiasticamente a contrarrevolução na
URSS e na Alemanha Oriental (RDA), assim como estava salivando para que os
“ventos revolucionários” de então também chegassem com força a Cuba e China!
Passados 25 anos do golpe de agosto, o PCO (espertamente valendo-se do
esquecimento de setores de vanguarda) publicou recentemente um artigo
intitulado “Ucrânia: Qual a diferença com a queda do Muro de Berlim?” (sítio
PCO, 04/02/2014), onde promete uma “crítica a matéria da LBI que afirma que a
queda do Muro, o golpe de agosto de 1991 e as manifestações fascistas na
Ucrânia são expressão do mesmo processo”. O texto afirma que “Segundo a LBI, o
PCO teria mudado as posições na avaliação da Ucrânia em relação às posições
defendidas sobre a Queda do Muro de Berlin e o fim da União Soviética, quando
supostamente o PCO teria apoiado a restauração capitalista. Na Ucrânia, hoje,
estaria ocorrendo um aprofundamento do processo de restauração capitalista
contra a burocracia estalinista” (Idem), dando a entender que Causa Operária
nunca havia apoiado as “mobilizações” direitistas e pró-imperialistas que
levaram ao fim dos Estados operários e do stalinismo, impondo em seu lugar a
contrarrevolução capitalista e governos burgueses títeres da Casa Branca, como
foi Yeltsin na própria Rússia. Em um passe de mágica, o PCO parece ter se
“esquecido” que entre 1989 e 1991, como ocorre agora em Kiev, também estátuas
de Lênin foram derrubadas em praça pública, bandeiras vermelhas com o símbolo
da foice e martelo foram pisoteadas e queimadas por grupos fascistas e
manifestações de massas que exigiam a “unificação” com a Europa acabaram por
derrubar o Muro de Berlim. Na época Causa Operária se integrou a esta horda
reacionária em nome da “revolução”! Atualmente, quando os fascistas e
neonazistas na Ucrânia apoiados pela CIA conseguiram através de “manifestações
de massa” derrubar o governo pró-russo na Ucrânia para aprofundar a espoliação
do país pelo capital financeiro e as transnacionais, o PCO quer nos convencer
que estes acontecimentos não são expressão do mesmo processo
contrarrevolucionário? Temos uma explicação marxista para tamanha cara de pau:
Rui Pimenta deseja fugir da responsabilidade política e histórica de ter apoiado
a contrarrevolução na URSS e no Leste Europeu, buscando se limpar de sua
política podre ao vender gato por lebre, afirmando ser “invenção” da LBI a
denúncia de que Causa Operária apoiou a restauração capitalista!
O PTS argentino (MRT no Brasil, ex-LER-QI) dizia que a queda
da URSS e do Muro de Berlim era um “triunfo contra o imperialismo e o
stalinismo”. Diante da ruptura do então MAIS, atual Resistência (PSOL) com o PSTU
afirmou: “A propósito da situação internacional, os companheiros fazem em seu
manifesto um esclarecimento sobre os efeitos negativos da restauração
capitalista... O que não deixa de ser positivo, apesar de que o façam em 2016,
quase 30 anos depois que esses fenômenos ocorreram. Daí que o documento soe um
tanto anacrônico, apesar de ser um passo à sensatez frente à absurda posição do
PSTU e da LIT, que contra toda evidência insistem ainda em dizer que tudo
seriam “triunfos” e a esquerda avançaria inexoravelmente, enquanto a ofensiva
neoliberal e a restauração dos ex-estados operários criavam um cenário de
retrocesso, sofrido por todos e compreendido por qualquer trabalhador ou
estudante politizado”. Estes foi um dos temas que o grupo Resistência (PSOL) citou em seu
manifesto de ruptura com o PSTU quando ainda se intulava MAIS, cinicamente “lamentando” a restauração capitalista:
“Acreditamos que as dificuldades enfrentadas pelos revolucionários neste início
de século 21 encontram sua explicação mais profunda no impacto reacionário da
restauração capitalista na URSS, leste europeu, sudeste asiático e Cuba. A
ofensiva política, econômica, social, militar e ideológica do imperialismo, os
discursos sobre ‘o fim da história’ e a adaptação da esquerda reformista à
ordem burguesa não passaram sem consequências. O movimento de massas retrocedeu
em sua consciência e organização. E os revolucionários sofreram os efeitos
desses anos de confusão e crise”. Entretanto esse novo agrupamento de fato
adere ao conceito de lutar pela democracia como um valor universal, para eles
um bem superior politicamente a qualquer regime dos Estados Operários,
considerados como o foco da falta de liberdades e irradiador do pensamento
dogmático, centro irradiador do “autoritarismo estalinista”, assumindo para si
o discurso próprio da pequena-burguesia democrática.
Trotsky definiu o stalinismo como um fenômeno diretamente
ligado à degeneração do Estado Operário soviético, uma casta que parasitava as
enormes conquistas da revolução de Outubro como a estatização e a planificação
da economia. Neste sentido, o combate mortal dos revolucionários ao stalinismo
se desenvolveria nos marcos da defesa incondicional do Estado operário, ou
seja, eliminar o câncer que o acometeu preservando a vida do paciente, no caso,
a própria URSS. A tarefa central do proletariado era o de restabelecer seu
poder através de uma revolução política que de forma alguma alteraria as bases
econômicas do Estado soviético conforme afirmou Trotsky da seguinte forma:
“Frente à URSS, um operário tem o direito de dizer que os bandidos da
burocracia transformaram o Estado operário em algo que só o diabo saberá dizer
o que é isso! Porém, quando passa a sua reação explosiva para a solução do
problema político, vê-se obrigado a reconhecer que tem diante de si um Estado
operário estropiado, cujo motor econômico está danificado, mas ainda continua
funcionando e que pode ser completamente recondicionado com a substituição de
algumas peças” (Em defesa do Marxismo, Léon Trotsky). Para os autênticos
trotskistas a liquidação da burocracia stalinista levada a cabo não pela classe
operária e seu partido revolucionário, mas sim por um setor da própria
burocracia, apoiada diretamente pelo imperialismo, que se lança como classe
capitalista para apropriar de forma privada os meios de produção, destruindo
assim o Estado operário e todas as conquistas da Revolução de Outubro jamais
poderá ser qualificada como uma “revolução operária democrática” ou qualquer
outro termo inventado pelos revisionistas.
Quanto à tentativa nada original de identificar, como fazem atualmente em Cuba em nome do combate à suposta “ditadura de Fidel”, o stalinismo como pior inimigo da classe operária, acima inclusive, do imperialismo, justificando dessa forma, como progressista ou revolucionária sua destruição, mesmo que em sua morte levasse consigo o fruto da Revolução de Outubro, o Estado operário soviético, Trotsky a rechaça categoricamente em seu combate a posições pequeno-burguesas no interior do SWP norte-americano: “uma coisa é solidarizar-se com Stalin, defender sua política e outra é explicar à classe trabalhadora mundial que apesar dos crimes de Stálin não podemos permitir que o imperialismo mundial esmague a União Soviética, restabeleça o capitalismo e converta a terra da Revolução de Outubro em uma colônia. É por isso que é preciso derrubar a camarilha stalinista, mas é o proletariado que deve derrubá-la. Não pode confiar essa tarefa aos imperialistas” (Idem).
O Programa de Transição da Quarta Internacional encerra esta
questão de forma cabal, determinando as duas possibilidades para a URSS,
revolução política, ou contrarrevolução social: “O prognóstico político tem um
caráter alternativo: ou a burocracia, tornando-se cada vez mais o órgão da
burguesia mundial no Estado operário, derrubará as novas formas de propriedade
e lançará o país de volta ao capitalismo, ou a classe operária destruirá a
burocracia e abrirá uma saída em direção ao socialismo” (Programa de Transição,
Leon Trotsky). A apresentação de uma “revolução democrática das massas”,
dirigida pelo bloco mafioso de Yeltsin que, longe de reconduzir a classe
operária ao poder, na rota do socialismo, a mergulhou no desemprego, na fome e
na desagregação social, através da privatização massiva dos meios de produção,
por meio da pilhagem e banditismo (cerca de 70% da economia russa hoje é
privada), foi prognosticado por Trotsky como a variante oposta à revolução
política. O que vemos hoje é o que o fundador da Quarta Internacional definiu
como o “caos capitalista”.
CONSTRUIR O PARTIDO REVOLUCIONÁRIO PARA DERROTAR O
IMPERIALISMO E O CAPITALISMO RESTAURADO NA ANTIGA UNIÃO SOVIÉTICA!
A fragilidade das posições deformadas pela LIT não resistem
a uma análise mais rigorosa, através de suas próprias contradições. Os
morenistas até hoje afirmam que “as revoluções de 89 e o colapso da burocracia
stalinista... constituem um processo complexo e sem precedentes...” e que “hoje
é absolutamente necessária uma campanha poderosa em defesa do socialismo,
contra a ofensiva ideológica do capitalismo” (Correio Internacional nº 67,
p.54). Pela primeira vez, na história da luta de classes, assistimos, seguindo
a linha de raciocínio dos sábios dirigentes da LIT, a uma “ação revolucionária”
das massas seguida de uma “derrota do capitalismo mundial” que estranhamente dá
origem a uma estrondosa “ofensiva ideológica do imperialismo”. Para nós,
trotskistas, as ofensivas ideológicas do inimigo de classe são resultado de
etapas permeadas por derrotas da classe operária. Foi assim no esmagamento da
Comuna de Paris, na deflagração da I Guerra Mundial, na derrota da revolução
alemã e espanhola, dando origem ao nazi-fascismo etc. É assim hoje com os
efeitos do crash capitalista que engendra o fortalecimento da extrema-direita
na Europa.
Quando, ao contrário, é o capitalismo mundial que é
derrotado, segue-se um período de ofensiva ideológica da classe operária, como
na Revolução de Outubro, na queda do nazi-fascismo, na derrota do imperialismo
no Vietnã, só para citar alguns exemplos. Mas a atual etapa, marcada, isto sim,
pela derrota da principal conquista da classe operária na fase superior do
capitalismo, os Estados operários, apesar do stalinismo, não se resume apenas
em ofensiva ideológica do imperialismo, sua ofensiva é muito mais ampla,
estende-se no campo econômico e militar em todo o planeta. Desde o fim da URSS
em 1991, os ritmos de produtividade industrial elevaram-se em cerca de 30%,
significando um aumento brutal na extração da mais-alia absoluta da força de
trabalho operária, além do aumento vertiginoso dos níveis de desemprego, os
processos de privatização massiva não só ocorrem nos antigos Estados operários,
como também nos próprios países imperialistas e imperializados. No campo
militar, o imperialismo ianque hoje tem as mãos livres para intervir
militarmente em qualquer parte do globo: Iraque, Afeganistão, Líbia, no Mali e
na própria Ucrânia, via a aproximação da ex-república soviética com a OTAN, o
que seria impensável no período de existência da URSS.
O que afirmamos hoje, 28 anos após o "Golpe de Agosto", é que a tentativa de passar a ideia de uma “vitória
revolucionária” da classe operária nos processos do Leste europeu e da
liquidação da URSS, longe de ser uma afirmação na firmeza da convicção do
socialismo, é uma fonte de desmoralização da vanguarda revolucionária, o que
vem produzindo crises permanentes em organizações que sustentam tais posições.
“Olhar a realidade de frente, chamar as coisas pelo seu nome, dizer a verdade
às massas por mais amarga que seja”, este é o verdadeiro método dos
trotskistas. Converter derrotas em vitórias, como forma de “euforizar”
artificialmente a classe operária, é próprio dos stalinistas e seus similares
centristas. Reconhecer uma derrota não significa, de forma nenhuma, a defesa da
prostração política, mas sim, a necessidade de preparar a classe operária para
novos embates. Os que se alinharam com Yeltsin e o imperialismo para festejar a
destruição dos Estados operários, em nome do fim do stalinismo, não souberam
honrar o legado de Trotsky, tampouco estão aptos a credenciarem-se junto à
classe operária soviética e internacional como sua “nova” direção
revolucionária, já que não postularam a mais elementar condição de um
revolucionário, a defesa das conquistas históricas da Revolução de Outubro!