Em 14 de agosto de 1956 morria o comunista, poeta e dramaturgo Bertolt Brecht. Ele foi uma referência artística, teatral e literária da esquerda mundial por sua luta contra o nazismo em suas obras, a denúncia do capitalismo em seus textos e pelo seu não alinhamento automático ao Stalinismo, apesar de não travado nenhum combate político consequente contra a burocratização da URSS e da Alemanha Oriental, ainda que tenha sido instigado a fazê-lo por intelectuais simpáticos a luta de Trotsky. Algumas de suas principais obras são: Um Homem é um Homem, em que cresce a ideia do homem como um ser transformável, Mãe Coragem e Seus Filhos, sobre a Guerra dos Trinta Anos, escrita no exílio, no começo da Segunda Guerra Mundial, e A Vida de Galileu. Registra-se que em 1932 o Estado soviético declara o realismo socialista como cultura oficial. Essa prática restringia e perseguia qualquer tipo de arte que não reivindicasse o regime burocratizado da URSS. Breton, expoente do movimento surrealista e Leon Trotsky, dirigente da oposição de esquerda do PC e fundador da Quarta Internacional, escrevem o Manifesto por uma arte revolucionária independente em 1938. Bertolt Brecht nunca aderiu a esse Manifesto.
Vale ressaltar também que diante dos esforços dos trotskistas para organizar uma campanha em defesa de Trotsky, o Kremlin vai responder com um sem número de adesões a um manifesto assinado pelos mais prestigiados intelectuais “de esquerda”, aderindo ao boicote à Comissão de Inquérito presidida por Dewey, sob o pretexto de que a defesa de Trotsky “golpeava as forças do progresso”. Um grande número dos que assinaram e que depois estiveram na linha de frente da cruzada anticomunista nos anos de 1940 e 1950 nos Estados Unidos e na Europa. Outros tantos se recusaram a aderir à iniciativa da diplomacia soviética, sem, entretanto, atender ao chamado da Comissão de Inquérito de Dewey. Alguns alegaram a impertinência da iniciativa de Trotsky, que, segundo Bernard Shaw, por exemplo, esgrimia contra Stálin os mesmos inacreditáveis argumentos com que a Procuradoria do regime crivava em Trotsky. Outros, preferiram calar e argumentar com a própria obra a tese da impertinência, como foi o caso de Bertold Brecht em sua peça Galileu Galilei escrita na segunda metade dos anos 30. Foi através do prisma da experiência bolchevique que ele (Brecht) viu Galileu cair de joelhos ante a Inquisição e agir assim segundo uma “necessidade histórica”, devido à imaturidade espiritual e política de seu povo. O Galileu de seu drama é Zinoviev ou Bukharin ou Rakovski vestido de roupas históricas. Ele se vê perseguido pelo martírio “inútil” de Giordano Bruno. Esse exemplo terrível faz com que se renda à Inquisição. Brecht até sua morte manteve um teatro com sua esposa em Berlim Oriental ainda que tenha tidos alguns conflitos com o PC alemão stalinizado. Suas inovações teatrais seguem sendo fonte de inspiração para as novas gerações que não pensam a arte como uma mercadoria para ser vendida. Por essa razão é fundamental conhecer o legado desse dramaturgo, estudá-lo e avaliá-lo à luz dos acontecimentos históricos neste século XXI marcado pelo retrocesso histórico político, ideológico e cultural.