sexta-feira, 2 de agosto de 2019

FORO DE SÃO PAULO EM CARACAS: EVENTO QUE REÚNE A CENTRO ESQUERDA BURGUESA FOI ENCERRADO PEDINDO VOTOS PARA KIRCHNER NA ARGENTINA E A FRENTE AMPLA NO URUGUAI, COM A CHANCELA DO PCO...


O Foro de São Paulo (FSP) é uma evento latino-americano que reúne partidos políticos nacionalistas burgueses e organizações da esquerda reformista do continente, foi criado em 1990, a partir de um seminário internacional promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Este ano, em sua vigésima quarta edição, o FSP foi realizado em Caracas, capital venezuelana (entre  os dias 25 a 28 de julho) sob os auspícios políticos do governo Maduro, que além de Cuba foram os únicos regimes estatais da região que apoiaram oficialmente o encontro, já que nem mesmo o presidente Evo Morales da Bolívia, a FSLN da Nicarágua, ou mesmo AMLO (Obrador) do México aceitaram patrocinar o evento e sequer se fizeram presentes. A escassa participação atual do FSP contrasta com anos anteriores, onde os governos da centro esquerda hegemonizam politicamente o continente, transformando-o quase em um congresso internacional dos regimes nacionalistas burgueses, em Caracas nem mesmo a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffman, aceitou o convite para ir a Venezuela, alegando “problemas com sua agenda”... Mas se o FSP de Caracas foi marcado pelas ausências de seus fundadores históricos por razões evidentes de um esgotamento político do nacionalismo burguês em toda América Latina, nesta edição contou com a adesão do Partido da Causa Operária, que pela primeira vez  debutou no encontro esgrimindo suas “novas” posições em apoio a Frente Popular de colaboração de classes não só no Brasil, mas também em todo continente.

O FSP nunca pode representar uma alternativa revolucionária a brutal ofensiva do imperialismo ianque em toda a América Latina pela sua própria composição social de classe, mesmo organizações revisionistas que já participaram do encontro há décadas atrás, como o Partido Obrero (PO) da Argentina, aferiram a impossibilidade histórica daquele “Foro” se transformar em uma alavanca da luta direta das massas em defesa de suas conquistas ameaçadas pela ofensiva neoliberal do rentismo, acentuada após a derrubada contrarrevolucionária do Muro de Berlim no final da década de 90. Porém para o “neófito” PCO na arena do nacionalismo burguês, o FSP poderá cumprir o papel de substituir a reconstrução da Internacional Proletária (IV), já que abandonaram há alguns anos a própria articulação Internacional do PO, a CRCI, para ingressar no Foro do Castrismo. A reunião do FSP presidida pelo PSUV e o PC cubano, segundo o próprio PCO, foi encerrada com a aprovação consensual de um documento político, “O Manifesto de Caracas”: “O documento se posiciona em apoio, nas eleições que estão por se realizar, ainda neste ano, a Evo Morales na campanha pela reeleição, na Bolívia; à Frente Ampla, no Uruguay, com Daniel Martínez-Graciela Villar, e também à chapa Alberto Fernández-Cristina Fernández, na Argentina”. (site do PCO).

O chamado eleitoral do “Manifesto de Caracas” foi na verdade a principal deliberação política desta edição do FSM. Nela não há uma linha sequer de denúncia, mesmo que  “de forma crítica”, acerca das covardes posições assumidas pelos governos da Bolívia e Uruguai frente a tentativa de intervenção militar do imperialismo ianque na Venezuela. Para o FSP não importa que os governos do MAS e da Frente Ampla sigam a cartilha do neoliberalismo, descarregando nas massas proletárias de seus respectivos países a velha cartilha do FMI. Por sinal ao falar de FMI, seria bom ressaltar que na Argentina o recente acordo escorchante celebrado entre o governo Macri e o órgão financeiro do imperialismo, foi também apoiado pela coalizão eleitoral do “Peronismo de esquerda”, cuja chapa eleitoral é encabeçada por Alberto Fernández e Cristina Kirchner como vice. O PCO, recém “convidado” ao FSP, espertamente não faz uma única referência a estes fatos da luta de classes, apesar de tecer comentários genéricos sobre a “impotência do nacionalismo burguês”, enquanto descaradamente chama a votar em Evo Morales na Bolívia e Alberto Fernández na Argentina.


Para o PCO o único critério que poderia demarcar sua posição contrária a centro esquerda burguesa integrante do FSP, seria apoiar ou não o “Lula Livre”. Como a chapa do Kirchnerismo diz apoiar a libertação de Lula, inclusive com a presença de Alberto Fernández visitando a prisão do ex-presidente brasileiro em Curitiba, o PCO é a primeira organização revisionista internacional a não apoiar eleitoralmente a FIT-U (Frente de Esquerda dos trabalhadores, Unidade), rompendo desta forma com sua própria história ligada ao Partido Obrero. Não seria o primeiro caso de dissolução programática de uma organização revisionista no “caldo” do nacionalismo burguês, mas o que chama atenção no exemplo do PCO foi sua rápida cooptação material pela Frente Popular, utilizando o grupo de Rui Pimenta como segunda via de  “colaboração financeira” de empresas capitalistas que anteriormente financiavam as campanhas do Lulismo, posto que o PT já está muito visado para este tipo de “operação”. Como nos ensinou Trotsky a degeneração programática de uma organização que anteriormente se reivindicava revolucionária, também tem suas bases materiais, e este é o ponto central da própria origem histórica da política de colaboração de classes do stalinismo, que hoje é seguida não só pelo PCO mas por toda a “grande família” revisionista.