O Foro de São Paulo (FSP) é uma evento latino-americano que
reúne partidos políticos nacionalistas burgueses e organizações da esquerda
reformista do continente, foi criado em 1990, a partir de um seminário
internacional promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Este ano, em sua
vigésima quarta edição, o FSP foi realizado em Caracas, capital
venezuelana (entre os dias 25 a 28 de
julho) sob os auspícios políticos do governo Maduro, que além de Cuba foram os
únicos regimes estatais da região que apoiaram oficialmente o encontro, já que
nem mesmo o presidente Evo Morales da Bolívia, a FSLN da Nicarágua, ou mesmo
AMLO (Obrador) do México aceitaram patrocinar o evento e sequer se fizeram
presentes. A escassa participação atual do FSP contrasta com anos anteriores,
onde os governos da centro esquerda hegemonizam politicamente o continente,
transformando-o quase em um congresso internacional dos regimes nacionalistas
burgueses, em Caracas nem mesmo a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffman,
aceitou o convite para ir a Venezuela, alegando “problemas com sua
agenda”... Mas se o FSP de Caracas foi marcado pelas ausências de seus
fundadores históricos por razões evidentes de um esgotamento político do
nacionalismo burguês em toda América Latina, nesta edição contou com a adesão
do Partido da Causa Operária, que pela primeira vez debutou no encontro esgrimindo suas “novas”
posições em apoio a Frente Popular de colaboração de classes não só no Brasil,
mas também em todo continente.
O FSP nunca pode representar uma alternativa revolucionária
a brutal ofensiva do imperialismo ianque em toda a América Latina pela sua
própria composição social de classe, mesmo organizações revisionistas que já
participaram do encontro há décadas atrás, como o Partido Obrero (PO) da
Argentina, aferiram a impossibilidade histórica daquele “Foro” se transformar
em uma alavanca da luta direta das massas em defesa de suas conquistas
ameaçadas pela ofensiva neoliberal do rentismo, acentuada após a derrubada contrarrevolucionária
do Muro de Berlim no final da década de 90. Porém para o “neófito” PCO na arena
do nacionalismo burguês, o FSP poderá cumprir o papel de substituir a
reconstrução da Internacional Proletária (IV), já que abandonaram há alguns anos
a própria articulação Internacional do PO, a CRCI, para ingressar no Foro do
Castrismo. A reunião do FSP presidida pelo PSUV e o PC cubano, segundo o
próprio PCO, foi encerrada com a aprovação consensual de um documento político,
“O Manifesto de Caracas”: “O documento se posiciona em apoio, nas eleições que
estão por se realizar, ainda neste ano, a Evo Morales na campanha pela
reeleição, na Bolívia; à Frente Ampla, no Uruguay, com Daniel Martínez-Graciela
Villar, e também à chapa Alberto Fernández-Cristina Fernández, na
Argentina”. (site do PCO).
O chamado eleitoral do “Manifesto de Caracas” foi na verdade
a principal deliberação política desta edição do FSM. Nela não há uma linha
sequer de denúncia, mesmo que “de forma
crítica”, acerca das covardes posições assumidas pelos governos da Bolívia e Uruguai
frente a tentativa de intervenção militar do imperialismo ianque na Venezuela.
Para o FSP não importa que os governos do MAS e da Frente Ampla sigam a
cartilha do neoliberalismo, descarregando nas massas proletárias de seus
respectivos países a velha cartilha do FMI. Por sinal ao falar de FMI, seria
bom ressaltar que na Argentina o recente acordo escorchante celebrado entre o
governo Macri e o órgão financeiro do imperialismo, foi também apoiado pela
coalizão eleitoral do “Peronismo de esquerda”, cuja chapa eleitoral é
encabeçada por Alberto Fernández e Cristina Kirchner como vice. O PCO, recém
“convidado” ao FSP, espertamente não faz uma única referência a estes fatos da
luta de classes, apesar de tecer comentários genéricos sobre a “impotência do nacionalismo
burguês”, enquanto descaradamente chama a votar em Evo Morales na Bolívia e
Alberto Fernández na Argentina.
Para o PCO o único critério que poderia demarcar sua posição
contrária a centro esquerda burguesa integrante do FSP, seria apoiar ou não o
“Lula Livre”. Como a chapa do Kirchnerismo diz apoiar a libertação de Lula,
inclusive com a presença de Alberto Fernández visitando a prisão do
ex-presidente brasileiro em Curitiba, o PCO é a primeira organização
revisionista internacional a não apoiar eleitoralmente a FIT-U (Frente de
Esquerda dos trabalhadores, Unidade), rompendo desta forma com sua própria
história ligada ao Partido Obrero. Não seria o primeiro caso de dissolução
programática de uma organização revisionista no “caldo” do nacionalismo
burguês, mas o que chama atenção no exemplo do PCO foi sua rápida cooptação
material pela Frente Popular, utilizando o grupo de Rui Pimenta como segunda
via de “colaboração financeira” de
empresas capitalistas que anteriormente financiavam as campanhas do Lulismo,
posto que o PT já está muito visado para este tipo de “operação”. Como nos
ensinou Trotsky a degeneração programática de uma organização que anteriormente
se reivindicava revolucionária, também tem suas bases materiais, e este é o
ponto central da própria origem histórica da política de colaboração de classes
do stalinismo, que hoje é seguida não só pelo PCO mas por toda a “grande
família” revisionista.