Neste 24 de agosto completa-se 65 anos do suicídio de
Getúlio Vargas. Episódio marcante da história política brasileira, a morte de
Vargas ocorreu em meio a uma profunda crise que refletia as contradições do
projeto nacional desenvolvimentista de seu governo. Em 1953, a continuidade da
política de estímulo à industrialização, uma das principais características do
varguismo, começou a sofrer limitações, exigindo a ampliação de investimentos e
o aumento das importações de equipamentos e máquinas, o que provocava déficit
na balança comercial do país. O mesmo ocorria com a balança de pagamentos,
devido à sangria das riquezas nacionais, promovida pelo crescimento das
remessas ilegais de lucros pelas empresas estrangeiras que atuavam no país.
Esse quadro tornava-se ainda mais grave com a queda dos preços do café no mercado mundial (principal commoditie para exportação no período), contribuindo para o declínio da receita externa, o que reacendeu a disputa feroz entre as diferentes frações da burguesia nacional pelas divisas em dólar e pelo controle do Estado burguês a fim de preservar seus interesses comerciais. Foi esse o “pano de fundo” fundamental da crise política que abalou profundamente o país nos anos 50 e levou ao “suicídio” induzido do “caudilho nacionalista” em agosto de 1954, sob a pressão direta do imperialismo ianque ávido pela “troca” do chefe de estado brasileiro. A principal força de oposição a Vargas era a União Democrática Nacional (UDN), que expressava os interesses das oligarquias agroexportadoras descontentes com as restrições às importações e à política de controle e confisco cambial, mecanismos que transferiam recurso do setor agrário-exportador para o setor industrial. A UDN também agrupava os estratos superiores da classe média, que temiam a esquerdização e o comunismo. O capital imperialista, que desejava utilizar as divisas do país para a conversão e a emissão de lucros para o exterior, era o aliado mais importante desse partido. O governo Vargas, por sua vez, tinha como base de sustentação o chamado pacto populista, uma espécie de aliança entre a burguesia industrial e as massas trabalhadoras das cidades, incluindo também as facções das oligarquias regionais atreladas ao Estado desde 1930 e setores nacionalistas das Forças Armadas, todos unidos em torno de uma ideologia nacionalista que apresentava o desenvolvimento industrial capitalista como meio de realização de interesses comuns da burguesia e do proletariado. Do velho nacionalismo burguês de Vargas não restou muita coisa, apenas um herdeiro oportunista , o PDT sem o menor perfil ideológico, povoado por máfias sindicais e oligarquias regionais sem a menor história política, como é o caso do “coronel” Ciro Gomes. Para os “nacionalistas” e “varguistas” que juram fidelidade ao trabalhismo de Getúlio fica a patética tarefa de hoje aceitar passivamente os novos “companheiros” representantes das reacionárias oligarquias dos Ferreira Gomes, inimigos históricos dos trabalhadores, de qualquer traço de soberania nacional.
Esse quadro tornava-se ainda mais grave com a queda dos preços do café no mercado mundial (principal commoditie para exportação no período), contribuindo para o declínio da receita externa, o que reacendeu a disputa feroz entre as diferentes frações da burguesia nacional pelas divisas em dólar e pelo controle do Estado burguês a fim de preservar seus interesses comerciais. Foi esse o “pano de fundo” fundamental da crise política que abalou profundamente o país nos anos 50 e levou ao “suicídio” induzido do “caudilho nacionalista” em agosto de 1954, sob a pressão direta do imperialismo ianque ávido pela “troca” do chefe de estado brasileiro. A principal força de oposição a Vargas era a União Democrática Nacional (UDN), que expressava os interesses das oligarquias agroexportadoras descontentes com as restrições às importações e à política de controle e confisco cambial, mecanismos que transferiam recurso do setor agrário-exportador para o setor industrial. A UDN também agrupava os estratos superiores da classe média, que temiam a esquerdização e o comunismo. O capital imperialista, que desejava utilizar as divisas do país para a conversão e a emissão de lucros para o exterior, era o aliado mais importante desse partido. O governo Vargas, por sua vez, tinha como base de sustentação o chamado pacto populista, uma espécie de aliança entre a burguesia industrial e as massas trabalhadoras das cidades, incluindo também as facções das oligarquias regionais atreladas ao Estado desde 1930 e setores nacionalistas das Forças Armadas, todos unidos em torno de uma ideologia nacionalista que apresentava o desenvolvimento industrial capitalista como meio de realização de interesses comuns da burguesia e do proletariado. Do velho nacionalismo burguês de Vargas não restou muita coisa, apenas um herdeiro oportunista , o PDT sem o menor perfil ideológico, povoado por máfias sindicais e oligarquias regionais sem a menor história política, como é o caso do “coronel” Ciro Gomes. Para os “nacionalistas” e “varguistas” que juram fidelidade ao trabalhismo de Getúlio fica a patética tarefa de hoje aceitar passivamente os novos “companheiros” representantes das reacionárias oligarquias dos Ferreira Gomes, inimigos históricos dos trabalhadores, de qualquer traço de soberania nacional.
A burguesia industrial, embora fosse a fração da classe
dominante mais diretamente subvencionada pelo Estado, não tinha uma estratégia
claramente definida do processo de industrialização. Apesar do significativo
crescimento da indústria, que no início da década de 50 já representava 22% da
produção nacional, sua expansão dependia da importação de bens de capital.
Sentindo-se impotente frente ao capital imperialista, esse setor estava de fato
mais interessado em auferir lucros imediatos que na consolidação de uma
infra-estrutura econômica capaz de viabilizar um desenvolvimento capitalista
independente. O apoio da burguesia industrial ao nacionalismo varguista,
portando, estava condicionado à capacidade do governo de manter os incentivos
ao crescimento da indústria e o controle político e ideológico sobre as massas
trabalhadoras urbanas.
Sob forte pressão da oposição burguesa, Vargas tentou, em
primeiro lugar, amenizar a crise política atendendo as exigências de todas as
facções burguesas em disputa. Liberou as importações, a entrada e saída de
capital e, ao mesmo tempo, aumentou o crédito para a indústria com módicas
taxas de juros. Essas medidas, entretanto, além de não saciarem a fome dos
bandos capitalistas por consumir os recursos estatais, provocaram o crescimento
da inflação, que em 1952 já chegara a 20%, elevando o custo de vida das massas
trabalhadoras. Como resposta, e contra a vontade das direções sindicais, em
março de 1953, cerca 300 mil operários entraram em greve, em São Paulo,
ameaçando ruir as bases do pacto populista sobre o qual se sustentava o
governo. Diante da ascensão das massas como novo elemento da crise e após a
tentativa de Getúlio de recuperar suas bases eleitorais junto ao proletariado
com a concessão do aumento de 100% do salário mínimo, a burguesia industrial retirou
o seu já hesitante apoio ao governo, unindo-se à tradicional oposição udenista
e ao imperialismo na preparação de uma saída golpista. Isolado de todas as
facções da classe dominante a que tanto havia servido durante anos, o velho
caudilho percebia enfim que seu projeto de um capitalismo autônomo não passava
de uma utopia, uma ilusão com a qual até as massas trabalhadoras, com as quais
não tinha nenhuma identidade de classe, logo romperiam se continuassem
avançando em suas lutas. Em 1954, não havia nenhum interesse do governo Vargas
em romper com domínio do imperialismo que, passada a II Guerra Mundial,
procurava intensificar sua exploração sobre os países semicoloniais. Para as
frações da burguesia nacional, incluindo a burguesia industrial, o nacionalismo
varguista era importante apenas enquanto instrumento de controle político e
ideológico do proletariado. Na verdade, o próprio Vargas fazia da política
nacionalista (controle da remessas de lucros da empresas estrangeiras,
monopólio da estatal do petróleo e das fontes de energia elétrica, etc.) e
utilizava o apoio das massas trabalhadoras como instrumentos de barganha com o
imperialismo. Prova disso, foi a última ação de Getúlio que, ao cometer
suicídio, provocou uma reação popular que adiou por dez anos o golpe
patrocinado pelo imperialismo para aprofundar seu domínio na economia nacional.
A grave crise política que culminou no suicídio de Getúlio
Vargas, evidenciou claramente a inviabilidade história para um desenvolvimento
capitalista autônomo do imperialismo nas semicolônias e que a única saída
realmente independente do proletariado para quebrar a dominação do capital
financeiro é a alternativa da revolução socialista. Hoje, porém, diante da
investida neocolonialista do imperialismo na América Latina como parte de sua
ofensiva neoliberal reacionária em todo o mundo, iniciada após a queda dos
Estados operários do Leste europeu e da URSS, o engodo do neodesenvolvimentismo
burguês volta a ser apresentado como uma saída política para os trabalhadores. Nesta
questão programática podemos afirmar que tanto o PT como o PDT (que reivindica
o legado de Vargas) fazem o mesmo discurso distracionista da centro-esquerda
burguesa em nosso continente latino-americano. Na atual etapa histórica de
reação ideológica e ausência de referência marxista, mesmo entre os setores
mais combativos da classe operária, a tarefa da vanguarda consciente é combater
essa política nefasta, cuja única finalidade, como já demonstrou o populismo
varguista, é embotar a consciência de classe do proletariado e impedir que as
massas exploradas encontrem o caminho da revolução proletária e o socialismo.
Muitos dos apoiadores de Lula o comparam a Getúlio Vargas e
veem similitudes entre as circunstâncias políticas e históricas que cercaram o
impeachment da “gerentona” petista com as que levaram ao suicídio de Getúlio
Vargas e ao fim de seu governo em 1954. O que liga esses dois fatos históricos
além da ofensiva golpista da direita é a impotência política das direções
nacionalistas burguesas e frente populistas. O que uniu Dilma e Getúlio em
decadência foi a ausência de qualquer enfrentamento com o imperialismo e a
busca de um acordo através de concessões atrás de concessões, política que
acabou pavimentando a derrota de ambos. Hoje, 65 anos depois do suicídio de
Vargas e há dois anos do golpe institucional contra Dilma, é o povo brasileiro
que está pagando em vida e com grande sacrifício o arrocho salarial, demissões,
privatizações e corte de direitos históricos e os ataques covardes do governo
neofascista de Bolsonaro contra conquistas sociais e trabalhistas que
sobreviveram desde o chamado varguismo, como a CLT. Nossa tarefa é resistir
pela via da ação direta da classe operária sem ilusões nas direções
nacionalistas burguesas e frente populistas, construindo pacientemente , ainda
que de forma germinal, o partido da revolução proletária.