sexta-feira, 9 de agosto de 2024

TRAGÉDIA COM O VÔO DA VOEPASS É PRODUTO DE UMA MISTURA EXPLOSIVA INERENTE AO CAPITALISMO: AVIÃO DE BAIXO CUSTO COM LONGO HISTÓRICO DE ACIDENTES E EMPRESA AÉREA QUE SUPER-EXPLORA OS FUNCIONÁRIOS 

A Voepass Linhas Aéreas, operadora do avião ATR-72 que caiu em Vinhedo (SP) nesta sexta-feira (9) com 61 pessoas a bordo e sem sobreviventes, já foi conhecida em todo o país como Passaredo, com sede em Ribeirão Preto (SP) e considerada a quarta maior companhia aérea do país, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ela tem longo histórico de acidentes e super-exploração dos funcionários. Atualmente voava como uma espécie de "terceirizada" dos vôos regionais da Latam, ou seja, o acidente de hoje que ceifou dezenas de vidas humanas é uma mistura explosiva própria do capitalismo assassino, contando com a complacência do governo Lula e da Anac que libera tais operações comerciais temerárias!

De acordo com informações da empresa, a companhia tem uma frota de 15 aeronaves nos modelos ATR-42 e ATR-72. A operação se estende por 26 destinos em todas as regiões do Brasil. Modelo do avião que caiu em Vinhedo é semelhante ao de outros acidentes na Ásia. O avião que caiu em Vinhedo era do modelo ATR 72-500, um turboélice regional desenvolvido pela empresa franco-italiana ATR. O voo conta com apenas dois funcionários: duas comissárias de bordo e dois pilotos. Agora com o recente acidente, já foram 5 aviões ATR 72 que caíram no mundo. O primeiro incidente com a aeronave aconteceu em 2014 ao pousar no Aeroporto de Magong no condado de Penghu, en Taiwan, resultando em 48 mortos e apenas 10 sobreviventes. 

O avião da Voepass que caiu nesta sexta-feira (9/8) em Vinhedo, no interior de São Paulo, tinha 14 anos de fabricação e era de um modelo conhecido no mundo da aviação por sua capacidade de operar em aeroportos de pista curta e de difícil acesso no Brasil e em outras partes do mundo, especialmente na Ásia. Foi lá, inclusive, que houve outros acidentes envolvendo aeronaves semelhantes à da Voepass.

O avião que caiu em Vinhedo era do modelo ATR 72-500, um turboélice regional desenvolvido pela empresa franco-italiana ATR. A empresa é uma joint venture entre um braço da Airbus e a empresa italiana Leonardo, que atua no ramo de transportes aéreos e ferroviários.

Ainda de acordo com um comunicado divulgado pela companhia, a fabricação dos ATR-72-500 foi encerrada em 2012, dando lugar a uma nova família de aeronaves, os ATR-62. No mundo, um dos principais focos da ATR é o mercado asiático. Três dos seus cinco escritórios comerciais ficam na Ásia: Cingapura, China e Japão. Além disso, a empresa também mantém um escritório de suporte na Índia.

No Brasil, aeronaves como o ATR-72-500 vêm sendo utilizadas em voos comerciais mais curtos e operando em aeroportos de pequeno e médio porte, como aqueles localizados no interior do Paraná, São Paulo e Estados do Nordeste, Centro-Oeste e Norte.

De acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), além da Voepass (empresa criada a partir da compra da antiga MAP Linhas Aéreas pela Passaredo), aeronaves fabricadas pela ATR também são utilizadas por companhias como a Azul Linhas Aéreas e Total Linhas Aéreas.

Apesar de ser tido apresentado pela mídia corporativa como confiável em aeroportos de pequeno e médio portes, acidentes envolvendo aeronaves da ATR fizeram com que o governo de Taiwan chegasse a suspender, temporariamente, os voos de aviões dos modelos ATR-72 e ATR-42, uma outra família de aeronaves da fabricante europeia.

Em julho de 2014, um avião do modelo ATR-71-500 operado pela TransAsia Airways caiu ao se aproximar do aeroporto de Magong, em Taiwan. Das 58 pessoas a bordo, 48 morreram.

Sete meses depois, em fevereiro de 2015, um outro acidente, desta vez com um ATR-72-600, também abalou Taiwan. Pouco depois de decolar da capital, Taipei, o avião perdeu força e caiu sobre um viaduto antes de chegar a um rio. Das 58 pessoas à bordo, 15 sobreviveram.

Logo após esses acidentes, a Autoridade Civil Aeroespacial de Taiwan, responsável por regular a aviação civil no país, suspendeu os voos envolvendo aeronaves semelhantes.

Os relatórios sobre o primeiro caso apontaram que o acidente foi causado por uma combinação de falha humana e condições climáticas severas. No segundo caso, as causas prováveis do acidente foram uma falha no funcionamento de uma das turbinas associada a falhas na condução do problema por parte da tripulação.

Por fim é preciso registrar que anteriormente, a Voepass era conhecida como Passaredo, grupo que chegou a enfrentar anos de crise financeira com demissões e um processo de recuperação judicial. A companhia esteve sob o comando do fundador até 2002, quando José Felício passou a gestão para o filho, o comandante José Luiz Felício Filho. 

Em meio a dívidas e dispensa de funcionários, a empresa entrou com o pedido de recuperação na Justiça em outubro de 2012 para viabilizar o pagamento de passivos e manter suas atividades. O volume dos débitos estimado na época era de R$ 150 milhões, e o plano foi acatado em março de 2013 por 88% dos credores. O processo somente foi encerrado em agosto de 2017, quando a companhia então operava com sete aeronaves ATR-72, do mesmo modelo do desastre aéreo na região de Campinas (SP), com rotas para 20 cidades em nove estados, e em parcerias com grandes companhias. 

Durante essa reestruturação, a Passaredo chegou a demitir 200 funcionários e deixou de atender destinos como Dourados (MS) e Uberlândia (MG), mas rotas para outros municípios, como Araguaína (TO), Guarulhos (SP), Brasília (DF), São José do Rio Preto (SP) e Cascavel (PR), por exemplo, foram mantidas. Um mês antes, em julho daquele ano, a empresa chegou a anunciar a venda para o Grupo Itapemirim, mas desfez a negociação em setembro por descumprimento de condições precedentes estabelecidas em contrato. 

Em 2018, diante de um quadro de demissões, ex-funcionários denunciaram atraso em parte do pagamento de compromissos trabalhistas. Na época, a companhia justificou problemas de receita devido à paralisação dos caminhoneiros, mas se comprometeu em fazer as quitações pendentes, o que não ocorreu até hoje.