sexta-feira, 14 de junho de 2019

UM PRIMEIRO BALANÇO DO 14J: A GREVE GERAL FICA AQUÉM DE 2017, BUROCRACIA DA CUT “PUXA O FREIO” APÓS O ACORDO DOS GOVERNOS PETISTAS COM O CENTRÃO, LIMITANDO A PARALISAÇÃO PARCIAL DE TRANSPORTES E EDUCAÇÃO


A adesão à Greve Geral deste “14J” ficou bem aquém da última paralisação nacional ocorrida em abril de 2017. Embora os atos de rua desta sexta-feira tenham tido grande participação popular, atendendo o chamado político para derrotar a malfadada (contra)reforma da Previdência do atual governo neofascista, os principais ramos da produção industrial do país passaram bem ao largo da greve geral. Também nos setores estratégicos de serviços, como bancos e comércio, a greve foi quase inexistente na grande maioria das cidades brasileiras. Novamente a vanguarda do processo de luta contra as reformas neoliberais ficou a cargo da área de educação e da juventude, que saiu corajosamente as ruas neste 14J. É evidente que todas as condições políticas estavam postas para que a greve geral de hoje superasse as manifestações do 15 e 30M, incluindo ultrapassando a greve geral de 2017, porém sejamos sinceros, não foi isto que ocorreu. A razão fundamental da clara limitação da amplitude social deste 14J, foi em primeiro lugar do “freio puxado” pelas burocracias sindicais após terem celebrado um “Acordão” espúrio entre os governadores de esquerda(PT, PDT, PSB e PCdoB) e o chamado “Centrão” para “atenuar” a proposta de reforma da Previdência enviada pelo atual governo neofascista ao Congresso Nacional. Mesmo com a crise econômica capitalista atingindo um perigoso grau de recessão e desemprego para as massas, e o isolamento político de Bolsonaro provocado pelos últimos fatos revelados pelo site “The Intercept Brasil”, a Frente Popular e seus acólitos (PSOL e PCdoB) resolveu por buscar a trilha da “negociação”, limitando o chamado da greve geral para no máximo “um dia de folga em casa”, sem nenhuma organização consequente nas bases das categorias operárias. Neste cenário de sabotagem das burocracias que pregam a colaboração de classes, uma pequena minoria de direções sindicais convocou efetivamente a paralisação ativa dos trabalhadores, que se somaram a indignação da juventude com o drástico corte de verbas para a educação pública.


O ativismo classista que interveio neste 14J percebeu claramente que a “Greve Geral” de hoje ficou aquém das expectativas. Nas principais capitais os transportes paralisaram parcialmente, como no Rio, SP, BH, Fortaleza, Curitiba e Brasília... mas os serviços, bancos e a produção industrial funcionou normalmente. Segundo boletim das centrais sindicais e de movimentos populares, dezenas de cidades amanheceram com o transporte público total ou parcialmente parado – como São Paulo, Maringá (PR), Aracaju (SE), Florianópolis (SC), Brasília (DF), Volta Redonda (RJ), Sorocaba (SP), Feira de Santana (BA), Piracicaba (SP), Campo Grande (MS), Curitiba (PR) e Salvador (BA). Das 27 capitais, 19 tiveram o sistema de ônibus afetado pela mobilização. Outras oito não tiveram interrupção no transporte coletivo por ônibus, mas registraram bloqueios de ruas ou estradas por manifestantes, ou tiveram paralisação parcial no metrô. Na cidade de São Paulo, ocorreram bloqueios na avenida 23 de Maio, no elevado João Goulart, na USP e em Sapopemba, entre outros pontos. No estado foram registrados atos em São Bernardo, Diadema, Campinas, Bauru, Itapeva, Sorocaba, Vinhedo, Taubaté e Presidente Prudente. No Rio de Janeiro, o dia foi marcado por passeatas e mobilizações em todo o estado. Pela manhã ocorreram alguns incidentes como o atropelamento de cinco pessoas em Niterói, na Região Metropolitana e um confronto de manifestantes e PMs, no Centro do Rio. Por volta das 17h, a praça em frente a Igreja da Candelária começava a ser ocupada por estudantes, professores e trabalhadores. Em Brasília os transportes deixaram a capital da república vazia, já em Fortaleza, os ônibus rodaram normalmente, em uma traição vergonhosa do grupo Resistência (PSOL) que controla o Sindicato dos Rodoviário (SINTRO).


Esse recuo, onde os atos políticos foram até mesmo menores do que os de 15 e 30 de Maio refletem o freio imposto pela burocracia sindical controlada pela CUT e o PT. Na véspera da paralisação de hoje, oposição burguesa e o governo Bolsonaro fecharam um acordo para aprovar a reforma neoliberal da previdência com pequenas alterações que contemplaram PT, PDT, PSB e PCdoB. Desta forma, as direções colaboracionistas trataram de fazer da “Greve Geral” apenas um dia de pressão sob o parlamento para que as mudanças acordas sejam cumpridas, na medida que Guedes e os rentistas reclamaram das “concessões” feitas ao “Centrão” e aos governadores do Nordeste. Como Lula já havia descartado como eixo das manifestações o “Fora Bolsonaro”, restou a CUT e demais centrais sindicais, auxiliadas pela UNE e MST protagonizarem nas capitais atos domesticados e pacíficos, com poucas mobilizações do sem-teto que foram mais radicalizadas como em São Paulo ou duramente reprimidas como no Rio de Janeiro.


Como alertamos, a política de colaboração de classes da Frente Popular impede que o movimento operário, popular e estudantil atue por fora das normas da democracia burguesa, acabando por respeitar as “regras do jogo”, que estão voltadas a negociar no parlamento pequenos ajustes na reforma neoliberal de Bolsonaro. Perdemos uma grande oportunidade de aprofundar a crise do governo Bolsonaro. A vanguarda classista necessita organizar na base uma verdadeira Greve Geral para derrotar Bolsonaro e o acordão com a oposição burguesa, não nutrindo qualquer ilusão na política do PT de negociar migalhas com a corja neoliberal de Bolsonaro/Moro/Guedes.