O ato “tresloucado” do ex-governador e atual senador Cid
Gomes (cujo clã governa o estado do Ceará e a prefeitura de Sobral há 20 anos) de
arremeter uma retroescavadeira contra o portão do quartel de policiais
militares encapuzados e amotinados em sua cidade natal vem conferindo a ele nas
bases da esquerda o “título” de “El Cid, o herói antifascista”. Antes de entrar
na polêmica do caso propriamente em questão, queremos ratificar uma posição
como Marxistas: Contra as bestas do fascismo todas as armas são justas e
legítimas, sejam balas, porretes, pedras ou até mesmo tratores. Porém
descontextualizar o fato da ação de Cid, a um ato de “bravura pessoal contra o
fascismo” é no mínimo uma tola ingenuidade que está servindo muito aos Ferreira
Gomes em seu projeto político de construção de uma “centro-esquerda” moderada e palatável ao
neoliberalismo rentista. Mas vamos logo lá no cerne dos acontecimentos:
1) O movimento “grevista” dos policiais começou a ser
“alimentado” pela própria bancada parlamentar dos Gomes, que sinalizaram com
uma reposição salarial exclusiva aos policiais, obviamente de olho nas eleições
municipais, principalmente Fortaleza e Sobral onde a “oposição” lidera as
pesquisas. Enquanto o governador Camilo&Gomes arrocha os salários dos
servidores públicos, com ZERO de reposição salarial há vários anos, política
que vem sendo seguida desde 1987 na aliança Tasso&Ciro, a PM em particular
vem recebendo aumentos consecutivos que em muitos casos superaram a inflação do
período. Neste começo de ano, o governo petista “camomes” (Camilo&Gomes)
aplicou a severa (contra)reforma previdenciária contra o funcionalismo,
novamente não reajustou os salários do funcionalismo, mas “generosamente”
ofereceu outro aumento salarial para os policiais pensando que resolveria a
demanda do aparelho de repressão.
2) Deflagrado o motim parcial com a recusa do
aumento proposto pelo governo, o movimento dos policiais encapuzados se
concentrou com mais “agressividade” justamente na cidade de Sobral, onde o atual
prefeito é Ivo Gomes (primeiro mandato), o número 03 da oligarquia dos Ferreira,
o qual enfrentará a eleição mais “dura” para o projeto de poder do seu grupo
político atualmente alojado no PDT.
3) Cid, absurdamente licenciado do Senado
para coordenar a campanha eleitoral do clã nos municípios cearenses, toma
conhecimento na manhã de quarta-feira que os milicianos encapuzados estavam
“barbarizando” o centro comercial de Sobral, seu irmão o prefeito estava
descansando em São Paulo após a “folia” do pré carnaval no final de semana passado.
Cid conclama desde Fortaleza em um vídeo uma marcha até o quartel amotinado,
comunica sua intenção ao governador e Secretário de Segurança que lhe
“emprestam” uma “guarda pessoal particular” para a sua “heróica aventura”. Em
nenhum momento Cid convocou as organizações dos movimentos sociais, sindicatos
, entidades estudantis e camponesas para lhe darem apoio contra os milicianos
amotinados, ao contrário se cercou de sua própria “milícia” de capangas, como
já é o costume dos Ferreira Gomes no estado do Ceará. Mas não poderia ser
diferente pela própria natureza de classe da oligarquia Gomes, que sempre
incentivaram os esquadrões assassinos da polícia na repressão contra a luta do
movimento de massas. A PM cearense, sob o comando dos governadores “gomistas”,
há mais de duas décadas vem praticando as maiores atrocidades contra o povo
pobre e a juventude negra das periferias urbanas, sempre com o aplauso do clã
reacionário que hoje quer se arvorar da luta antifascista.
4) Finalmente Cid e
sua pequena anturragem chegam com a retroescavadeira na porta do quartel,
anunciando que exigia em “cinco minutos” a rendição dos amotinados. De tão
desproporcional o ultimato dado aos encapuzados, devido ao fato de Cid estar
somente acompanhado de meia dúzia de “meganhas” e comissionados da prefeitura,
o senador leva logo um tapa e com o “couro quente” resolve “engatar a primeira
marcha”... foi logo parado por pedradas,
tiros de borracha e de chumbo, e sinceramente não sabemos quais destes
projéteis lhe atingiram realmente.
5) Na
sequência dos “quase trágicos” acontecimentos, “El Cid”, o mesmo que defendeu a
prisão de Lula chamando os petistas de “babacas” é proclamado o “Bolívar que
teria libertado os cearenses da ameaça do fascismo”, pura ilusão... os
policiais amotinados que desocuparam o quartel no “frisson” da litigância, logo
voltaram a invadir a principal unidade militar em Sobral, e desta vez de elite:
o “Comando Raio”. Por outro lado o motim ganhou força estadual com a
repercussão dos fatos em Sobral. Revelando a essência reacionária política do
grupo governante no Ceará, Camilo&Gomes solicitou ao presidente neofascista
Bolsonaro que deslocasse a Força Nacional de Segurança para o estado, e não
contente com o atendimento imediato do pedido, exigiu que o Planalto decretasse
um “GLO” para trazer a tropa do exército para o Ceará, no mesmo modelo da
intervenção federal feita no Rio de Janeiro causando dezenas de mortes para a
população pobre.
6) Os Ferreira Gomes estão muito longe de representar, mesmo que simbolicamente, o combate antifascista. O ato de Cid, que até então se considerava o “dono” da cidade, corresponde a uma “manobra espetaculosa” para tentar manter sob o controle do clã a prefeitura de Sobral, sem nenhum efeito mais profundo para barrar a marcha da ofensiva neofascista contra as conquistas do povo trabalhador brasileiro. Porém para os objetivos eleitorais da própria oligarquia, a atitude do agora “corajoso Cid” foi plenamente exitosa, conseguindo reverter temporariamente o desgaste de suas seguidas administrações no setor mais sensível, o nicho da esquerda.
Os Bolcheviques Leninistas não podem ser solidários com uma
casta dominante que por décadas reprimiram violentamente com o aparato estatal
todas as lutas da classe operária, dos camponeses e da juventude, com os mesmos
métodos (ou piores porque não tinham visibilidade) violentos que agora foram
alvos. Os Marxistas é certo podem até apoiar “atos tresloucados” de heroísmo
pessoal contra a reação da extrema-direita protagonizados pelos oprimidos, no
sentido que possam representar algum tipo de simbolismo contra os fascistas.
Trotsky cita o exemplo de um jovem judeu francês que isoladamente coloca uma
bomba na embaixada da Alemanha na França: "Toda nossa solidariedade está com
Grynszpan, embora ele tenha sido incapaz de descobrir o caminho correto”. É um
gravíssimo erro de consequências políticas nefastas para a luta real
antifascista transformar Cid Gomes em um “bravo combatente” da esquerda.
Colocar a oligarquia Gomes em um patamar
onde nunca estiveram, só reforça neste momento a política da “Frente Ampla”, ou
seja, a articulação de uma pseudo “oposição” ao bolsonarismo com todas as forças
burguesas neoliberais e de direita, incluindo os Tucanos FHC e Dória, Demistas
Rodrigo Maia e ACM Neto, Luciano Hulk da famiglia Marinho, os próprios Ferreira
Governo Gomes, chegando até o governador Flávio Dino, que ironicamente pertence
ao PCdoB. Sedimentada uma Frente Ampla com esta composição “sortida” e
impotente, estará livre o caminho para o neofascismo se prolongar por um período
muito mais longo no país. E o mais importante para a classe trabalhadora, a
troupe do rentismo neoliberal conseguirá
um amplo consenso (Frente Ampla de oposição e Governo Bolsonaro) para acabar de
liquidar as conquistas históricas do povo e encerrar o ciclo do “desmonte”do
Estado brasileiro.