segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

9 ANOS APÓS O INÍCIO DA BURLESCA “REVOLUÇÃO ÁRABE” NA LÍBIA: PAÍS QUE TEVE O MAIOR IDH DO CONTINENTE AFRICANO ENCONTRA-SE DESTRUÍDO POR GUERRA CIVIL ENTRE MILÍCIAS DEFENSORAS DOS INTERESSES DAS POTÊNCIAS IMPERIALISTAS


Neste 17 de fevereiro completa-se 9 anos das primeiras “manifestações” pró-imperialistas que se iniciaram na Líbia em 2011 tendo como foco principal a cidade de Benghazi, localizada no leste do país. Depois de ter sido bombardeado pela OTAN na maior operação militar desde a II Guerra Mundial, com as tropas das metrópoles imperialistas atuando em socorro aos “rebeldes” mercenários que acabaram por assassinar o coronel Kadaffi, o território líbio foi arrasado. Estima-se que mais de 200 mil pessoas foram mortas e o país encontra-se agora divido sob o controle de grupos armados que disputam o domínio das reservas petrolíferas. O frágil governo do CNT, títere das potências capitalistas, na verdade não passou de um gerente que representa os interesses das grandes transnacionais. Esses são os resultados de uma suposta “revolução” entusiasticamente saudada pelos revisionistas do trotskismo e, de fato, patrocinada pela Casa Branca e a União Europeia. Sem dúvidas, estamos presenciando uma nova e turbulenta onda colonialista na região do norte da África, rica em recursos naturais e minerais. Desde o início, apesar da intensa campanha da mídia “murdochiana”, ficou claro que os “protestos” em Benghazi se tratam de mobilizações reacionárias patrocinadas por forças políticas pró-imperialistas, com a imprensa burguesa mundial amplificando seu peso social e super-dimensionando a repressão estatal supostamente desferida. Encerrado o capítulo da saída de Mubarak no Egito, como um rastilho de pólvora, as “oposições” saem em cena em toda a região arábica. Em países onde sócios menores do capital financeiro ianque demonstraram incapacidade social em continuar do poder, a Casa Branca orientou a transição “lenta, gradual e segura”, já que estavam ou ainda estão na lista negra do “terrorismo internacional” o “conselho” foi armar a oposição e dotá-la de todo apoio político na mídia mundial. Na Líbia, logo os apoiadores do antigo monarca Idris, apeado do governo pelos coronéis em 69, foram a ponta de lança inicial para fazer eclodir o suposto movimento de massas contra o “tirano sanguinário” Muammar Kadaffi. Os monarquistas não tiveram muito trabalho para agrupar várias oligarquias tribais, muitas das quais tinham estabelecido laços financeiros e comerciais com empresas imperialistas sediadas na cidade de Benghazi. Não demorou muito, os “rebelados” contra o caudilho nacionalista já dispunham de sofisticadas armas pesadas que passaram a apontar contra o próprio povo líbio que insistia em permanecer ao lado da “ditadura sanguinária” de Kadaffi. Os primeiros confrontos resultaram em centenas de mortes de civis logo atribuídas pela mídia imperialista ao exército regular líbio, espalham-se os boatos da fuga de Kadaffi e da contratação de mercenários africanos pagos para defender o regime de Trípoli. Surgem as primeiras dissidências e fissuras no campo do regime, “nutrindo” a reacionária oposição agora composta por generais que se venderam a OTAN, jovens yuppies funcionários das petroleiras europeias e os pioneiros monarquistas com sua bandeira do monarca Idris. Forma-se um governo provisório em Benghazi reconhecido pelo covil de bandidos conhecido como ONU, que já conta com um Banco Central e até uma empresa de exportação de petróleo, isto tudo em meio a uma guerra civil. Como sabemos muito bem, o imperialismo ianque não costuma fornecer armas a movimentos sociais e, muito menos, colocar suas tropas a serviço de nenhum agrupamento de rebeldes que lutam contra uma ditadura. A história da luta de classes nos ensinou que as armas do imperialismo servem a movimentos contrarrevolucionários, como no Vietnam, na Nicarágua, em Cuba ou Angola só para citarmos alguns exemplos mais cristalinos.

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Toda esta orquestração estava voltada a debilitar o regime de Kadaffi no lastro do “efeito do dominó” desencadeado pela suposta “revolução árabe”, tudo ao melhor estilo das manipulações midiáticas feitas contra Chávez na Venezuela quando da época do golpe de abril de 2002 desferido em nome da “democracia” e “contra o autoritarismo”. A LBI foi a primeira corrente política a denunciar o caráter pró-imperialista das reacionárias “manifestações” em Benghazi e depois desmascarar os “rebeldes” mercenários a serviço da CIA, treinados no Catar com o apoio do Mossad. No curso do conflito denunciamos a genocida ação da OTAN contra o país norte-africano e defendemos a frente única militar com o governo de Kadaffi e a vitória da resistência contra as tropas abutres invasoras. No desenrolar da guerra se deu o brutal assassinato de Kadaffi em uma operação conjunta entre os “rebeldes” mercenários e os bombardeios da OTAN, que depois de meses atacando Sirte, centro da resistência, acabaram por dominar o país, ainda que existam de forma dispersa focos de oposição ao controle da Líbia pelos títeres do CNT.

Enganou-se toda a matilha pró-imperialista que pensou que a morte de Kadaffi foi o ponto final da resistência nacional às tropas da OTAN, sem sombra de dúvida o tombamento em plena luta do coronel Kadaffi foi uma grande derrota de todos os povos do mundo que enfrentam a ofensiva imperialista, mas a guerra de libertação continua até hoje como reconhece inclusive o alto comando do Pentágono. A situação política atual da Líbia está marcada por uma guerra civil fratricida, só que desta vez com características bem mais complexas e totalmente fragmentadas. As milícias “rebeldes” iniciaram uma luta intestina pelo saque do país, disputando a “preferência” da intermediação dos negócios com as metrópoles imperialistas. Nem mesmo a cidade de Benghazi escapou da disputa “fratricida” dos rebeldes, a própria sede do governo do CNT foi invadida várias vezes por manifestantes que exigiam o cumprimento das inúmeras “promessas” feitas durante a empreitada para destruir as conquistas da revolução democrática que derrubou a monarquia corrupta. Por sua vez, houve o ataque, em setembro de 2012, à representação diplomática dos EUA na cidade de Benghazi, cidade até então considerada segura pela OTAN, que resultou na morte do embaixador na Líbia Christopher Stevens. O embaixador ianque teve um papel decisivo na operação militar que derrubou o regime nacionalista do coronel Kadaffi no ano passado. Stevens coordenou desde Benghazi a oposição pró-imperialista que durante o regime dos coronéis já estabelecia profundos vínculos com empresas transnacionais de petróleo sediadas no litoral do Magreb. O ataque à representação ianque em Benghazi surpreendeu a equipe de segurança da CIA, realizada com morteiros e lança foguetes de alta precisão, fornecidos pela OTAN aos “rebeldes” anti-Kadaffi durante a guerra civil que destruiu o país, ou seja, foi obra de seus próprios aliados, as milícias fundamentalistas islâmicas que combateram junto a OTAN para depor o legítimo regime da revolução popular que destituiu a monarquia entreguista. Por ironia da história, as armas que assassinaram o embaixador ianque foram fornecidas pelos próprios abutres imperialistas que hoje saqueiam as riquezas do país.

Neste quadro de crise da ocupação imperialista, que tenta inutilmente dar uma fachada democrática ao novo regime, a tendência das massas é de luta contra o embuste que prometia “liberdade”, mas acabou trazendo a fome e o desemprego para o proletariado líbio, destruindo suas conquistas sociais históricas que o colocavam no mesmo patamar de países europeus, segundo a própria ONU. O desemprego a falta de habitação e a fome castigam severamente as massas, destituídas de todas as suas conquistas sociais históricas após a ascensão do governo do CNT. Os amos imperiais dos bandos “rebeldes” só cobram a “fatura” da guerra e pouco se importam com a miséria do povo. O país que apresentava, até o início de 2011, o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da África, um PIB per capta superior ao brasileiro e uma taxa de crescimento de 10,64%, segundo dados do próprio FMI, encontra-se agora às voltas com uma infraestrutura liquidada, principalmente pelos “bombardeios humanitários”. Está em curso a divisão do país por grupos tribais ligados ao imperialismo ianque, francês e britânico. Longe dos salões luxuosos dos “Amigos da Líbia”, as ruas das principais cidades do país são ocupadas agora por milícias armadas, onde tiroteios, sequestros e torturas tornaram-se lugares comuns. As vítimas preferenciais desses grupos formados pelos ex-rebeldes são os simpatizantes do antigo regime e africanos subsaarianos. Registre-se que essas ocorrências são todas pós-queda de Kadaffi e, obviamente, não têm causado sequer suspiros de indignação em nome dos “direitos humanos”. Dois anos depois do suposto início da “revolução” na Líbia está claro que a vitória da OTAN, que teve o apoio de grande parte da esquerda revisionista do trotskismo sob o pretexto de combater uma suposta “ditadura sanguinária”, significa o recrudescimento da ofensiva imperialista contra os povos e nações oprimidas que se incrementa desde a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS. Os alvos imediatos desta arquirreacionária cruzada moderna são particularmente no Oriente Médio o Irã e a Síria. Agora que as potências capitalistas fizeram do território líbio uma verdadeira base militar, se sentem mais livres para impor seus interesses na região.

O genuíno trotskismo se postou ao lado da resistência nacional líbia em combate aos trânsfugas que, como a LIT, se colocam a serviço da Casa Branca em nome da defesa da fantasiosa “revolução árabe”, clamando para que a mesma sanha neocolonialista seja vitoriosa na Síria e no Irã. Neste contexto político, após 9 anos da falsa “Revolução Árabe” onde todas as ilusões acerca das imensas “vantagens” de se livrar da “ditadura Kadaffi” já caíram por terra, a canalha revisionista e seus satélites começam a reconhecer que a barbárie se impôs na Líbia. Somente correntes de “esquerda” muito degeneradas moral e ideologicamente podem admitir estabelecer uma frente única militar com a Casa Branca para derrotar um regime nacionalista burguês, como era o de Kadaffi, por maior que fossem as divergências de classe com um caudilho deste calibre. Não contente, fazem o mesmo na Síria!

Atualmente, as forças do general “rebelde” Khalifa Haftar, capturaram a importante cidade de Sirte, na Líbia, causando um duro golpe ao chamado governo de “Acordo Nacional” (GNA) sediado em Trípoli. Haftar foi um dos militares líbios que foram patrocinados pela OTAN para empreender a reacionária “insurreição” contra o regime nacionalista do coronel Kadafi. Agora o Khalifa quer a sua parte na recompensa que destruiu um país com o maior nível de desenvolvimento humano (IDH) na África, segundo a insuspeita ONU. Após a derrubada do governo Kadafi, a OTAN tratou de tentar unificar todos os bandos rebeldes mafiosos para repartir o butim do Estado, que tinha umas das maiores reservas de ouro do planeta, além da abundante prospecção de petróleo e gás natural. Entretanto a sede voraz da escória armada pela OTAN e CIA (chamada pelos revisionistas de “rebeldes”) trataram de saquear, cada uma a seu modo as riquezas da Líbia, deflagrando uma segunda “guerra civil”. No curso deste processo predatório foram se afunilando dois campos em disputa frontal: O “governo” do GNA bancado pelo imperialismo europeu e as forças de Haftar, que inicialmente contaram com o apoio da Rússia e Irã. Com o avanço militar das tropas de Haftar o “governo” do GNA não tem outra escolha a não ser pedir a chegada imediata de reforços da Turquia, sob o comando do presidente Erdogan que pretende expandir a presença otomana na região do Magreb. As tropas de Haftar entraram em Sirte quase sem combate. A operação militar anunciada anteriormente pelas forças “rebeldes” durou apenas três horas. Vários combatentes do governo do Acordo Nacional, liderados por Fayez Al-Sarraj e reconhecidos pela ONU, foram presos e sua equipe foi confiscada enquanto outros fugiam. As tropas de Sarraj mantêm o controle da cidade desde 2016, quando expulsaram o califado islâmico após vários meses de luta.  A cidade estava sob o controle da chamada "Força de Proteção de Sirte", composta principalmente por combatentes de Misrata, 250 quilômetros a oeste de Sirte. Um comandante militar em Sarraj denunciou a "traição" de uma milícia jihadista, que mudou de lado quando as forças Haftar entraram na cidade.

Desde 4 de abril do ano passado, Haftar tenta apreender Trípoli e deu um ultimato aos combatentes de Misrata, que constituem a maior parte das forças do governo, para se retirar de Trípoli e Sirte. Eele também anunciou a jihad e uma mobilização geral contra uma intervenção militar. Agora Haftar tem o apoio do Egito e dos Emirados Árabes Unidos, rivais regionais na Turquia e no Catar, se distanciando assim da influência de Moscou. A UE diretamente responsável pela derrubada contrarrevolucionária de Kadafi, juntamente com a OTAN, colocou a Líbia e ela mesma em uma encruzilhada da qual ela não pode sair, a “magia” parece escapar da mão dos “feiticeiros” imperialistas que agora assistem o protagonismo de forças locais, totalmente “descontroladas” no objetivo de repartir a Líbia em feudos reacionários. A Alemanha tenta retomar alguma a iniciativa e no próximo sábado há uma reunião em Moscou entre Merkel e Putin, o que mostra que o papel do imperialismo ianque na Líbia hoje é bastante marginal.  Merkel quer convocar uma conferência internacional, que é tão “legal” quanto a ocupação estrangeira na Líbia. Ainda precisamos esperar para saber se Putin concorda em participar desta conferência onde possivelmente se confrontará com os interesses do governo de Recep Erdogan. Desesperado, enquanto perdia Sirte, Sarraj mudou-se para Argel, onde pediu ajuda ao Ministro das Relações Exteriores da Turquia.  Mas se o regime fundamentalista da Argélia abertamente tomar partido do governo Sarraj, perderá força na conferência internacional que a Alemanha deseja reunir, onde serão necessários países que, antes, mantiveram uma certa aparência de neutralidade. De qualquer maneira o pântano de destruição ao qual a extrema direita colocou a Líbia, parece neste momento querer consumir os responsáveis internacionais pela catástrofe econômica, social e humanitária em que colocaram o país norte-africano. O genuíno Trotskismo não foi enlameado pela conduta criminosa destes revisionistas a serviço de Washington, colocou-se nestes anos de luta incondicionalmente no campo militar da resistência nacional líbia para expulsar os invasores ianques e abrir caminho para a luta revolucionária contra o imperialismo e as servis burguesias árabes!