Neste 17 de fevereiro completa-se 9 anos das primeiras
“manifestações” pró-imperialistas que se iniciaram na Líbia em 2011 tendo como
foco principal a cidade de Benghazi, localizada no leste do país. Depois de ter
sido bombardeado pela OTAN na maior operação militar desde a II Guerra Mundial,
com as tropas das metrópoles imperialistas atuando em socorro aos “rebeldes”
mercenários que acabaram por assassinar o coronel Kadaffi, o território líbio
foi arrasado. Estima-se que mais de 200 mil pessoas foram mortas e o país
encontra-se agora divido sob o controle de grupos armados que disputam o
domínio das reservas petrolíferas. O frágil governo do CNT, títere das
potências capitalistas, na verdade não passou de um gerente que representa os
interesses das grandes transnacionais. Esses são os resultados de uma suposta
“revolução” entusiasticamente saudada pelos revisionistas do trotskismo e, de
fato, patrocinada pela Casa Branca e a União Europeia. Sem dúvidas, estamos
presenciando uma nova e turbulenta onda colonialista na região do norte da
África, rica em recursos naturais e minerais. Desde o início, apesar da intensa
campanha da mídia “murdochiana”, ficou claro que os “protestos” em Benghazi se
tratam de mobilizações reacionárias patrocinadas por forças políticas
pró-imperialistas, com a imprensa burguesa mundial amplificando seu peso social
e super-dimensionando a repressão estatal supostamente desferida. Encerrado o
capítulo da saída de Mubarak no Egito, como um rastilho de pólvora, as
“oposições” saem em cena em toda a região arábica. Em países onde sócios
menores do capital financeiro ianque demonstraram incapacidade social em
continuar do poder, a Casa Branca orientou a transição “lenta, gradual e
segura”, já que estavam ou ainda estão na lista negra do “terrorismo
internacional” o “conselho” foi armar a oposição e dotá-la de todo apoio
político na mídia mundial. Na Líbia, logo os apoiadores do antigo monarca
Idris, apeado do governo pelos coronéis em 69, foram a ponta de lança inicial
para fazer eclodir o suposto movimento de massas contra o “tirano sanguinário”
Muammar Kadaffi. Os monarquistas não tiveram muito trabalho para agrupar várias
oligarquias tribais, muitas das quais tinham estabelecido laços financeiros e
comerciais com empresas imperialistas sediadas na cidade de Benghazi. Não
demorou muito, os “rebelados” contra o caudilho nacionalista já dispunham de
sofisticadas armas pesadas que passaram a apontar contra o próprio povo líbio
que insistia em permanecer ao lado da “ditadura sanguinária” de Kadaffi. Os
primeiros confrontos resultaram em centenas de mortes de civis logo atribuídas
pela mídia imperialista ao exército regular líbio, espalham-se os boatos da
fuga de Kadaffi e da contratação de mercenários africanos pagos para defender o
regime de Trípoli. Surgem as primeiras dissidências e fissuras no campo do
regime, “nutrindo” a reacionária oposição agora composta por generais que se
venderam a OTAN, jovens yuppies funcionários das petroleiras europeias e os
pioneiros monarquistas com sua bandeira do monarca Idris. Forma-se um governo
provisório em Benghazi reconhecido pelo covil de bandidos conhecido como ONU,
que já conta com um Banco Central e até uma empresa de exportação de petróleo,
isto tudo em meio a uma guerra civil. Como sabemos muito bem, o imperialismo
ianque não costuma fornecer armas a movimentos sociais e, muito menos, colocar
suas tropas a serviço de nenhum agrupamento de rebeldes que lutam contra uma
ditadura. A história da luta de classes nos ensinou que as armas do
imperialismo servem a movimentos contrarrevolucionários, como no Vietnam, na
Nicarágua, em Cuba ou Angola só para citarmos alguns exemplos mais cristalinos.
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Toda esta orquestração estava voltada a debilitar o regime
de Kadaffi no lastro do “efeito do dominó” desencadeado pela suposta “revolução
árabe”, tudo ao melhor estilo das manipulações midiáticas feitas contra Chávez
na Venezuela quando da época do golpe de abril de 2002 desferido em nome da
“democracia” e “contra o autoritarismo”. A LBI foi a primeira corrente política
a denunciar o caráter pró-imperialista das reacionárias “manifestações” em
Benghazi e depois desmascarar os “rebeldes” mercenários a serviço da CIA,
treinados no Catar com o apoio do Mossad. No curso do conflito denunciamos a
genocida ação da OTAN contra o país norte-africano e defendemos a frente única
militar com o governo de Kadaffi e a vitória da resistência contra as tropas
abutres invasoras. No desenrolar da guerra se deu o brutal assassinato de
Kadaffi em uma operação conjunta entre os “rebeldes” mercenários e os
bombardeios da OTAN, que depois de meses atacando Sirte, centro da resistência,
acabaram por dominar o país, ainda que existam de forma dispersa focos de
oposição ao controle da Líbia pelos títeres do CNT.
Enganou-se toda a matilha pró-imperialista que pensou que a
morte de Kadaffi foi o ponto final da resistência nacional às tropas da OTAN,
sem sombra de dúvida o tombamento em plena luta do coronel Kadaffi foi uma
grande derrota de todos os povos do mundo que enfrentam a ofensiva imperialista,
mas a guerra de libertação continua até hoje como reconhece inclusive o alto
comando do Pentágono. A situação política atual da Líbia está marcada por uma
guerra civil fratricida, só que desta vez com características bem mais
complexas e totalmente fragmentadas. As milícias “rebeldes” iniciaram uma luta
intestina pelo saque do país, disputando a “preferência” da intermediação dos
negócios com as metrópoles imperialistas. Nem mesmo a cidade de Benghazi
escapou da disputa “fratricida” dos rebeldes, a própria sede do governo do CNT
foi invadida várias vezes por manifestantes que exigiam o cumprimento das
inúmeras “promessas” feitas durante a empreitada para destruir as conquistas da
revolução democrática que derrubou a monarquia corrupta. Por sua vez, houve o ataque,
em setembro de 2012, à representação diplomática dos EUA na cidade de Benghazi,
cidade até então considerada segura pela OTAN, que resultou na morte do
embaixador na Líbia Christopher Stevens. O embaixador ianque teve um papel
decisivo na operação militar que derrubou o regime nacionalista do coronel
Kadaffi no ano passado. Stevens coordenou desde Benghazi a oposição
pró-imperialista que durante o regime dos coronéis já estabelecia profundos
vínculos com empresas transnacionais de petróleo sediadas no litoral do Magreb.
O ataque à representação ianque em Benghazi surpreendeu a equipe de segurança
da CIA, realizada com morteiros e lança foguetes de alta precisão, fornecidos
pela OTAN aos “rebeldes” anti-Kadaffi durante a guerra civil que destruiu o país,
ou seja, foi obra de seus próprios aliados, as milícias fundamentalistas
islâmicas que combateram junto a OTAN para depor o legítimo regime da revolução
popular que destituiu a monarquia entreguista. Por ironia da história, as armas
que assassinaram o embaixador ianque foram fornecidas pelos próprios abutres
imperialistas que hoje saqueiam as riquezas do país.
Neste quadro de crise da ocupação imperialista, que tenta
inutilmente dar uma fachada democrática ao novo regime, a tendência das massas
é de luta contra o embuste que prometia “liberdade”, mas acabou trazendo a fome
e o desemprego para o proletariado líbio, destruindo suas conquistas sociais
históricas que o colocavam no mesmo patamar de países europeus, segundo a
própria ONU. O desemprego a falta de habitação e a fome castigam severamente as
massas, destituídas de todas as suas conquistas sociais históricas após a
ascensão do governo do CNT. Os amos imperiais dos bandos “rebeldes” só cobram a
“fatura” da guerra e pouco se importam com a miséria do povo. O país que
apresentava, até o início de 2011, o maior IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) da África, um PIB per capta superior ao brasileiro e uma taxa de
crescimento de 10,64%, segundo dados do próprio FMI, encontra-se agora às
voltas com uma infraestrutura liquidada, principalmente pelos “bombardeios
humanitários”. Está em curso a divisão do país por grupos tribais ligados ao
imperialismo ianque, francês e britânico. Longe dos salões luxuosos dos “Amigos
da Líbia”, as ruas das principais cidades do país são ocupadas agora por
milícias armadas, onde tiroteios, sequestros e torturas tornaram-se lugares
comuns. As vítimas preferenciais desses grupos formados pelos ex-rebeldes são
os simpatizantes do antigo regime e africanos subsaarianos. Registre-se que
essas ocorrências são todas pós-queda de Kadaffi e, obviamente, não têm causado
sequer suspiros de indignação em nome dos “direitos humanos”. Dois anos depois
do suposto início da “revolução” na Líbia está claro que a vitória da OTAN, que
teve o apoio de grande parte da esquerda revisionista do trotskismo sob o
pretexto de combater uma suposta “ditadura sanguinária”, significa o
recrudescimento da ofensiva imperialista contra os povos e nações oprimidas que
se incrementa desde a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS. Os alvos
imediatos desta arquirreacionária cruzada moderna são particularmente no
Oriente Médio o Irã e a Síria. Agora que as potências capitalistas fizeram do
território líbio uma verdadeira base militar, se sentem mais livres para impor
seus interesses na região.
O genuíno trotskismo se postou ao lado da resistência
nacional líbia em combate aos trânsfugas que, como a LIT, se colocam a serviço
da Casa Branca em nome da defesa da fantasiosa “revolução árabe”, clamando para
que a mesma sanha neocolonialista seja vitoriosa na Síria e no Irã. Neste
contexto político, após 9 anos da falsa “Revolução Árabe” onde todas as ilusões
acerca das imensas “vantagens” de se livrar da “ditadura Kadaffi” já caíram por
terra, a canalha revisionista e seus satélites começam a reconhecer que a
barbárie se impôs na Líbia. Somente correntes de “esquerda” muito degeneradas
moral e ideologicamente podem admitir estabelecer uma frente única militar com
a Casa Branca para derrotar um regime nacionalista burguês, como era o de
Kadaffi, por maior que fossem as divergências de classe com um caudilho deste
calibre. Não contente, fazem o mesmo na Síria!
Atualmente, as forças do general “rebelde” Khalifa Haftar,
capturaram a importante cidade de Sirte, na Líbia, causando um duro golpe ao
chamado governo de “Acordo Nacional” (GNA) sediado em Trípoli. Haftar foi um
dos militares líbios que foram patrocinados pela OTAN para empreender a
reacionária “insurreição” contra o regime nacionalista do coronel Kadafi. Agora
o Khalifa quer a sua parte na recompensa que destruiu um país com o maior nível
de desenvolvimento humano (IDH) na África, segundo a insuspeita ONU. Após a
derrubada do governo Kadafi, a OTAN tratou de tentar unificar todos os bandos
rebeldes mafiosos para repartir o butim do Estado, que tinha umas das maiores
reservas de ouro do planeta, além da abundante prospecção de petróleo e gás
natural. Entretanto a sede voraz da escória armada pela OTAN e CIA (chamada
pelos revisionistas de “rebeldes”) trataram de saquear, cada uma a seu modo as
riquezas da Líbia, deflagrando uma segunda “guerra civil”. No curso deste
processo predatório foram se afunilando dois campos em disputa frontal: O
“governo” do GNA bancado pelo imperialismo europeu e as forças de Haftar, que
inicialmente contaram com o apoio da Rússia e Irã. Com o avanço militar das
tropas de Haftar o “governo” do GNA não tem outra escolha a não ser pedir a
chegada imediata de reforços da Turquia, sob o comando do presidente Erdogan
que pretende expandir a presença otomana na região do Magreb. As tropas de
Haftar entraram em Sirte quase sem combate. A operação militar anunciada
anteriormente pelas forças “rebeldes” durou apenas três horas. Vários
combatentes do governo do Acordo Nacional, liderados por Fayez Al-Sarraj e
reconhecidos pela ONU, foram presos e sua equipe foi confiscada enquanto outros
fugiam. As tropas de Sarraj mantêm o controle da cidade desde 2016, quando
expulsaram o califado islâmico após vários meses de luta. A cidade estava sob o controle da chamada
"Força de Proteção de Sirte", composta principalmente por combatentes
de Misrata, 250 quilômetros a oeste de Sirte. Um comandante militar em Sarraj
denunciou a "traição" de uma milícia jihadista, que mudou de lado
quando as forças Haftar entraram na cidade.
Desde 4 de abril do ano passado, Haftar tenta apreender
Trípoli e deu um ultimato aos combatentes de Misrata, que constituem a maior
parte das forças do governo, para se retirar de Trípoli e Sirte. Eele também
anunciou a jihad e uma mobilização geral contra uma intervenção militar. Agora
Haftar tem o apoio do Egito e dos Emirados Árabes Unidos, rivais regionais na
Turquia e no Catar, se distanciando assim da influência de Moscou. A UE
diretamente responsável pela derrubada contrarrevolucionária de Kadafi,
juntamente com a OTAN, colocou a Líbia e ela mesma em uma encruzilhada da qual
ela não pode sair, a “magia” parece escapar da mão dos “feiticeiros”
imperialistas que agora assistem o protagonismo de forças locais, totalmente
“descontroladas” no objetivo de repartir a Líbia em feudos reacionários. A
Alemanha tenta retomar alguma a iniciativa e no próximo sábado há uma reunião
em Moscou entre Merkel e Putin, o que mostra que o papel do imperialismo ianque
na Líbia hoje é bastante marginal.
Merkel quer convocar uma conferência internacional, que é tão “legal”
quanto a ocupação estrangeira na Líbia. Ainda precisamos esperar para saber se
Putin concorda em participar desta conferência onde possivelmente se
confrontará com os interesses do governo de Recep Erdogan. Desesperado,
enquanto perdia Sirte, Sarraj mudou-se para Argel, onde pediu ajuda ao Ministro
das Relações Exteriores da Turquia. Mas
se o regime fundamentalista da Argélia abertamente tomar partido do governo
Sarraj, perderá força na conferência internacional que a Alemanha deseja
reunir, onde serão necessários países que, antes, mantiveram uma certa
aparência de neutralidade. De qualquer maneira o pântano de destruição ao qual
a extrema direita colocou a Líbia, parece neste momento querer consumir os
responsáveis internacionais pela catástrofe econômica, social e humanitária em
que colocaram o país norte-africano. O genuíno Trotskismo não foi enlameado
pela conduta criminosa destes revisionistas a serviço de Washington, colocou-se
nestes anos de luta incondicionalmente no campo militar da resistência nacional
líbia para expulsar os invasores ianques e abrir caminho para a luta
revolucionária contra o imperialismo e as servis burguesias árabes!