Na última segunda-feira (06/01) as forças do general
“rebelde” Khalifa Haftar, capturaram a importante cidade de Sirte, na Líbia,
causando um duro golpe ao chamado governo de “Acordo Nacional” (GNA) sediado
em Trípoli. Haftar foi um dos militares
líbios que foram patrocinados pela OTAN para empreender a reacionária
“insurreição” contra o regime nacionalista do coronel Kadafi. Agora o Khalifa
quer a sua parte na recompensa que destruiu um país com o maior nível de
desenvolvimento humano (IDH) na África, segundo a insuspeita ONU. Após a
derrubada do governo Kadafi, a OTAN tratou de tentar unificar todos os bandos
rebeldes mafiosos para repartir o butim do Estado, que tinha umas das maiores
reservas de ouro do planeta, além da abundante prospecção de petróleo e gás
natural. Entretanto a sede voraz da escória armada pela OTAN e CIA (chamada
pelos revisionistas de “rebeldes”) trataram de saquear, cada uma a seu modo as
riquezas da Líbia, deflagrando uma segunda “guerra civil”. No curso deste
processo predatório foram se afunilando dois campos em disputa frontal: O
“governo” do GNA bancado pelo imperialismo europeu e as forças de Haftar, que
inicialmente contaram com o apoio da Rússia e Irã. Com o avanço militar das
tropas de Haftar o “governo” do GNA não tem outra escolha a não ser pedir a
chegada imediata de reforços da Turquia, sob o comando do presidente Erdogan
que pretende expandir a presença otomana na região do Magreb. As tropas de
Haftar entraram em Sirte quase sem combate. A operação militar anunciada anteriormente
pelas forças “rebeldes” durou apenas três horas. Vários combatentes do governo do Acordo
Nacional, liderados por Fayez Al-Sarraj e reconhecidos pela ONU, foram presos e
sua equipe foi confiscada enquanto outros fugiam. As tropas de Sarraj mantêm o
controle da cidade desde 2016, quando expulsaram o califado islâmico após
vários meses de luta. A cidade estava
sob o controle da chamada "Força de Proteção de Sirte", composta
principalmente por combatentes de Misrata, 250 quilômetros a oeste de Sirte. Um
comandante militar em Sarraj denunciou a "traição" de uma milícia
jihadista, que mudou de lado quando as forças Haftar entraram na cidade. Desde
4 de abril do ano passado, Haftar tenta apreender Trípoli e deu um ultimato aos
combatentes de Misrata, que constituem a maior parte das forças do governo,
para se retirar de Trípoli e Sirte. Na sexta-feira, ele também anunciou a jihad
e uma mobilização geral contra uma intervenção militar. Agora Haftar tem o
apoio do Egito e dos Emirados Árabes Unidos, rivais regionais na Turquia e no
Catar, se distanciando assim da influência de Moscou. A UE diretamente
responsável pela derrubada contrarrevolucionária de Kadafi, juntamente com a
OTAN, colocou a Líbia e ela mesma em uma encruzilhada da qual ela não pode sair,
a “magia” parece escapar da mão dos “feiticeiros” imperialistas que agora
assistem o protagonismo de forças locais, totalmente “descontroladas” no
objetivo de repartir a Líbia em feudos reacionários. A Alemanha tenta retomar
alguma a iniciativa e no próximo sábado há uma reunião em Moscou entre Merkel e
Putin, o que mostra que o papel do imperialismo ianque na Líbia hoje é bastante
marginal. Merkel quer convocar uma
conferência internacional, que é tão “legal” quanto a ocupação estrangeira na
Líbia. Ainda precisamos esperar para saber se Putin concorda em participar
desta conferência onde possivelmente se confrontará com os interesses do
governo de Recep Erdogan. Desesperado, enquanto perdia Sirte, Sarraj mudou-se
para Argel, onde pediu ajuda ao Ministro das Relações Exteriores da
Turquia. Mas se o regime fundamentalista da Argélia
abertamente tomar partido do governo Sarraj, perderá força na conferência
internacional que a Alemanha deseja reunir, onde serão necessários países que,
antes, mantiveram uma certa aparência de neutralidade. De qualquer maneira o
pântano de destruição ao qual a extrema direita colocou a Líbia, parece neste
momento querer consumir os responsáveis internacionais pela catástrofe
econômica, social e humanitária em que colocaram o país norte-africano.