segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

“DEMOCRACIA EM VERTIGEM” CONCORRENDO AO OSCAR: “MEIAS VERDADES” SOBRE O GOLPE CONTRA DILMA E CRETINA APOLOGIA DA DEMOCRACIA BURGUESA


O filme brasileiro “Democracia em Vertigem” de Petra Costa, vai concorrer ao Oscar 2020. O trabalho cinematográfico que relata o golpe institucional de 2016 operado contra o governo de colaboração de classes (Dilma Rousseff-PT) foi anunciado na manhã desta segunda-feira (13/01) como um dos cinco finalistas na categoria de melhor documentário de longa-metragem. “Democracia em vertigem” estreou há um ano, no Festival de Sundance, figurou na lista de melhores filmes do jornal norte-americano The New York Times e foi distribuído pela Netflix, o que ajudou a produção a ter mais visibilidade no mercado internacional. O filme já havia concorrido ao Critics’ Choice Documentary Awards, uma espécie de prévia para o Oscar de documentário. É a primeira vez na história que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood indica à premiação um documentário produzido no Brasil. Seus concorrentes serão Indústria Americana (de Steven Bognar, Julia Reichert e Jeff Reichert), The Cave (de Feras Fayyad, Kristine Barfod e Sigrid Dyejaer), For Sama (de Waad Al-kateab e Edward Watts) e Honeyland (de Ljubo Stefanov, Tamara Kotevska e Atanas Georgiev). A cerimônia de premiação será realizada em 9 de fevereiro, no tradicional Dolby Theatre, em Los Angeles (EUA). Petra tentar se aproximar com suas lentes democratizantes do cenário nacional golpista que desembocou no impeachment de Dilma, neste sentido foi honesta ao apresentar sua perspectiva política de reformas dentro do Estado capitalista, traçando um paralelo entra a história da sua própria família (o avô é fundador da Andrade Gutierrez e os pais fizeram parte da luta armada contra a ditadura) e a história recente do fim do regime militar no Brasil, a cineasta demarca seu campo de classe de forma bem explícita, como se dissesse: aqui é a visão de uma jovem de classe média alta (ou até mesmo burguesa), de esquerda social-democrata sobre a falência política do governo do PT diante da ofensiva neofascista que tomou conta do país. Tanto que a narração, em off, é em primeira pessoa recheada por imagens de arquivo pessoal em meio a uma engenhosa montagem de registros. O documentário de Petra inicia e finaliza com as imagens de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, momentos antes de ser preso, como se involuntariamente passasse a limpo a trajetória de uma liderança da esquerda cooptada pela gestão estatal de uma República corrupta decadente. A narrativa do impeachment de Dilma é  apresentado de forma totalmente “idealista”, os fatos concretos não se encaixam no “quebra-cabeça” montado por Petra, não há referências a passividade e até mesmo colaboração do PT com a direita golpista, este “detalhe” histórico foi suprimido por Petra. Há sem dúvida bons momentos no documentário por seu grande valor histórico e capturados com precisão artística, porém o ângulo da câmara da cineasta é o das classes dominantes “civilizadas”, tentando retocar a exploração do regime capitalista com a maquiagem da democracia burguesa. Por isso mesmo polarização real da sociedade, ente as classes, não existe no filme de Petra, reduzindo a luta do povo oprimido “entre a direita e esquerda”. Obviamente como nos documentários da vida selvagem, onde se tenta apresentar os “mocinhos” leões contra as “bandidas” hienas, a cúpula do governo Dilma e o PT são isentados de qualquer responsabilidade política pela gestação do golpe parlamentar, não foi retratado em momento algum os bastidores da Frente Popular em conluio por mais de uma década com toda a escória direitista que era íntima de Lula. Portanto, sem nenhum tipo de sectarismo infantil, podemos concluir que precisamos realmente de uma produção artística que retrate a “democracia após a vertigem capitalista”, uma arte comprometida com as verdadeiras transformações na estrutura social e não apenas na sua “maquilagem política”. Desgraçadamente Petra não pode apresentar em sua obra um horizonte de ruptura revolucionária, não só contra a extrema direita, mas com o conjunto das classes dominantes que são as responsáveis pela barbárie que o Brasil está prestes a ingressar.