“DEMOCRACIA EM VERTIGEM” CONCORRENDO AO OSCAR: “MEIAS
VERDADES” SOBRE O GOLPE CONTRA DILMA E CRETINA APOLOGIA DA DEMOCRACIA BURGUESA
O filme brasileiro “Democracia em Vertigem” de Petra Costa,
vai concorrer ao Oscar 2020. O trabalho cinematográfico que relata o golpe
institucional de 2016 operado contra o governo de colaboração de classes (Dilma
Rousseff-PT) foi anunciado na manhã desta segunda-feira (13/01) como um dos
cinco finalistas na categoria de melhor documentário de longa-metragem.
“Democracia em vertigem” estreou há um ano, no Festival de Sundance, figurou na
lista de melhores filmes do jornal norte-americano The New York Times e foi
distribuído pela Netflix, o que ajudou a produção a ter mais visibilidade no
mercado internacional. O filme já havia concorrido ao Critics’ Choice
Documentary Awards, uma espécie de prévia para o Oscar de documentário. É a
primeira vez na história que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de
Hollywood indica à premiação um documentário produzido no Brasil. Seus
concorrentes serão Indústria Americana (de Steven Bognar, Julia Reichert e Jeff
Reichert), The Cave (de Feras Fayyad, Kristine Barfod e Sigrid Dyejaer), For
Sama (de Waad Al-kateab e Edward Watts) e Honeyland (de Ljubo Stefanov, Tamara
Kotevska e Atanas Georgiev). A cerimônia de premiação será realizada em 9 de
fevereiro, no tradicional Dolby Theatre, em Los Angeles (EUA). Petra tentar se
aproximar com suas lentes democratizantes do cenário nacional golpista que
desembocou no impeachment de Dilma, neste sentido foi honesta ao apresentar sua
perspectiva política de reformas dentro do Estado capitalista, traçando um
paralelo entra a história da sua própria família (o avô é fundador da Andrade
Gutierrez e os pais fizeram parte da luta armada contra a ditadura) e a
história recente do fim do regime militar no Brasil, a cineasta demarca seu
campo de classe de forma bem explícita, como se dissesse: aqui é a visão de uma
jovem de classe média alta (ou até mesmo burguesa), de esquerda
social-democrata sobre a falência política do governo do PT diante da ofensiva
neofascista que tomou conta do país. Tanto que a narração, em off, é em
primeira pessoa recheada por imagens de arquivo pessoal em meio a uma engenhosa
montagem de registros. O documentário de Petra inicia e finaliza com as imagens
de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, momentos antes de ser preso, como
se involuntariamente passasse a limpo a trajetória de uma liderança da esquerda
cooptada pela gestão estatal de uma República corrupta decadente. A narrativa
do impeachment de Dilma é apresentado de
forma totalmente “idealista”, os fatos concretos não se encaixam no
“quebra-cabeça” montado por Petra, não há referências a passividade e até mesmo
colaboração do PT com a direita golpista, este “detalhe” histórico foi
suprimido por Petra. Há sem dúvida bons momentos no documentário por seu grande
valor histórico e capturados com precisão artística, porém o ângulo da câmara
da cineasta é o das classes dominantes “civilizadas”, tentando retocar a
exploração do regime capitalista com a maquiagem da democracia burguesa. Por
isso mesmo polarização real da sociedade, ente as classes, não existe no filme
de Petra, reduzindo a luta do povo oprimido “entre a direita e esquerda”.
Obviamente como nos documentários da vida selvagem, onde se tenta apresentar os
“mocinhos” leões contra as “bandidas” hienas, a cúpula do governo Dilma e o PT
são isentados de qualquer responsabilidade política pela gestação do golpe
parlamentar, não foi retratado em momento algum os bastidores da Frente Popular
em conluio por mais de uma década com toda a escória direitista que era íntima
de Lula. Portanto, sem nenhum tipo de sectarismo infantil, podemos concluir que
precisamos realmente de uma produção artística que retrate a “democracia após a
vertigem capitalista”, uma arte comprometida com as verdadeiras transformações
na estrutura social e não apenas na sua “maquilagem política”. Desgraçadamente
Petra não pode apresentar em sua obra um horizonte de ruptura revolucionária,
não só contra a extrema direita, mas com o conjunto das classes dominantes que
são as responsáveis pela barbárie que o Brasil está prestes a ingressar.