“INAUGURAÇÃO” DA ESTAÇÃO COMANDANTE FERRAZ PELO GOVERNO
NEOFASCISTA: BOLSONARO CORTA ORÇAMENTO
DAS VERBAS PARA A PESQUISA NA ANTÁRTIDA
O uso de etanol em um gerador de energia na estação
Comandante Ferraz foi causa do incêndio que destruiu 70% das instalações da
base do programa brasileiro na Antártica, vitimando dois militares da Marinha e
deixou outro ferido em fevereiro de 2012, há quase 8 anos atrás. Prevista para
se reinaugurada em 2018, as obras somente ficaram concluídas agora. Isto porque
o governo Bolsonaro aprofundou os cortes aprovados no governo Temer, diminuindo
os recursos de 18 milhões para 12 milhões em 4 anos. Os pesquisadores e os
integrantes da Marinha (que administra a logística e a estrutura física) concordam
que o problema não foi apenas a ausência de base física, mas sim a
instabilidade de financiamento e de pesquisadores que estudam no Programa
Antártico Brasileiro (Proantar). Nesta semana, o vice-presidente Hamilton
Mourão embarcou com destino à Antártica, para participar da reinauguração como
o principal representante do governo neofascista brasileiro. Mourão viajou com
Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia. Segundo a presidente do PT,
Gleisi Hoffmann, a “inauguração” trata-se de um engodo: “Projeto e edital foram
feitos e aprovados no governo Dilma, que realizou a primeira fase das obras.
Não fosse o PT, dificilmente teria reconstrução. Sucessivos cortes no orçamento não permitiriam”. As pesquisas do Brasil na Antártica podem parar, ainda que
nesta semana o País inaugure sua nova base na ilha Rei George. O Proantar terá
suas atividades científicas comprometidas, o que pode gerar prejuízos
imensuráveis em termos da participação do Brasil no Tratado Antártico. O
alardeado orçamento de R$ 18 milhões de reais agora está em cerca de R$ 12
milhões, o que dá cerca de R$ 3 milhões por ano para apoiar 17 projetos. Ou
seja, estamos novamente em situação de penúria, na qual há o risco de
paralisação das pesquisas antárticas por falta de recursos imposta pelo governo
Bolsonaro.
O fato é que no final de 2011, como parte da campanha
midiática enganosa de vender ao mundo o etanol brasileiro como uma alternativa
em termos de combustível “sustentável” para grandes motores, o então governo
Dilma ordenou que fosse instalado ao lado dos geradores que utilizam diesel
outro movido a etanol. Testes anteriores já haviam comprovado que geradores
abastecidos com etanol rendem menos e podem explodir com mais facilidade,
porque o biocombustível brasileiro não tem condições de manter em funcionamento
estável motores de grande potência. O diesel é usado em geradores porque o
rendimento é melhor e não superaquece os motores. Apesar dessa constatação, o
governo manteve a mudança e apenas dois meses após o início de sua operação
ocorreu à tragédia. Apesar do Planalto tentar esconder a verdade, já se sabia
que o incêndio iniciou-se na chamada “praça de máquinas”, a partir do gerador
de energia movido a etanol.
Segundo a Petrobras, o motogerador movido a etanol entrou em
operação no dia 10 de janeiro de 2012. Na época o “feito” foi comemorado como a
expressão da viabilidade do uso biocombustível nacional para motores e
geradores de grande potência, cuja comercialização impulsionaria
extraordinariamente não só a indústria nacional como incrementaria em muito as
exportações de álcool para o mundo! “Com a iniciativa, o Brasil será o primeiro
país do mundo a utilizar biocombustível para produção de energia no continente.
O equipamento tem capacidade para suprir toda a energia necessária às operações
e aos programas científicos realizados na estação”, frisou a estatal em
comunicado. O então ministro da Defesa, Celso Amorim, apresentado pela esquerda
“chapa-branca” como um “nacionalista”, foi quem deu partida na operação durante
visita à estação na Antártica. Segundo o ministro, a iniciativa brasileira
colocava o país em destaque no cenário tecnológico mundial: “A utilização
pioneira deste tipo de equipamento em uma região estratégica no mundo do ponto
de vista ambiental amplia as perspectivas do biocombustível brasileiro no
mercado internacional. Por ter um ponto de congelamento extremamente baixo, o
etanol é mais apropriado que a gasolina ou o óleo diesel para operar nas baixas
temperaturas observadas na Antártica”. Tratava-se de mais uma falácia do
governo da frente popular para vender gato por lebre em seu sonho de “Brasil
potência”. A Petrobras usou no equipamento da estação Comandante Ferraz etanol
idêntico ao utilizado nos veículos nacionais, que utilizam motores leves e não
superaquecem, porém exigem alto consumo. No caso dos geradores, além do
alto-consumo há o superaquecimento, em um quadro literalmente explosivo onde o
etanol é mais inflamável do que o diesel. O uso do etanol na Antártica foi
claramente uma fatal propaganda enganosa que colocava em risco a própria
estação que ficou totalmente destruída, pois como o álcool é muito volátil,
ocorreu um vazamento de vapores na praça de máquinas, o vapor se misturou com o
ar e uma faísca provocou a explosão.
A iniciativa da implantação do gerador “experimental” foi
motivada por uma parceria entre a Petrobras, o BNDES e a Vale Soluções em
Energia (VSE), empresa ligada a companhia Vale do Rio Doce. Esta negociata
tinha o claro objetivo de fazer propaganda do suposto desenvolvimento de uma
tecnologia totalmente nacional que geraria energia limpa, o conto do “etanol
brasileiro” como um “supercombustível” que acabou fazendo a estação brasileira
na Antártica literalmente ir pelos ares. Longe de representar uma fonte de
“energia limpa” ou mesmo uma oportunidade para o Brasil encabeçar uma nova
“OPEP do etanol” como demagógica e falsamente propagandeava o governo do PT, o
uso dos biocombustíveis visa atenuar a dependência das grandes potências
capitalistas em relação ao petróleo, com base no aprofundamento ainda maior do
papel das semicolônias latino-americanas como produtoras de matéria-prima por
grupos multinacionais, dentro da divisão internacional do trabalho e do
processo de recolonização imperialista. Por outro lado, o fato do combustível
produzido a partir de vegetais ser tão ou mais poluente que os derivados do
petróleo por liberar para a atmosfera gás carbônico (CO2), além de ser
responsável pelo desmatamento de grandes florestas para plantio, problemas que
a grande maioria dos cientistas e representantes políticos já foram obrigadas a
reconhecer.
Enquanto servia aos interesses comerciais privados sob a
fachada de um falso nacionalismo, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar)
era alvo de cortes orçamentários, tanto que o governo Dilma não liberou parte
dos recursos para o programa em 2011, justamente para atingir a meta do
superávit primário. Em 2012 houve redução de recursos para o Proantar, o menor
montante dos últimos sete anos. A expressão desse quadro foi que o Navio de
Apoio Oceanográfico Ary Rongel – essencial às operações no continente gelado –
estava quebrado há quase dois meses no porto de Punta Arenas (Chile), uma barca
cheia de combustível afundou perto da base em dezembro sendo o acidente escondido
pela Marinha e a estação estava superlotada no momento da explosão, como 60
pessoas quando sua capacidade é de 40.
A farsa do “desenvolvimento nacional” pela via da produção
de biocombustíveis, que se mostrou de uso restrito a motores leves e com grande
impacto destrutivo ambiental, é a cara metade do conto do pré-sal, de difícil
viabilidade econômica de extração devido ao seu alto custo de prospecção em
águas profundas. Embora fosse prática do governo da frente popular propagandear
a anedota de que o Brasil se transformaria numa potência graças à produção do
etanol, o desastre na Antártica mostrou que esta farsa fez ir pelos ares a
estação Comandante Ferraz, justamente porque nosso país continua de fato como
uma semicolônia sem capacidade tecnológica e que se valeu de engodos
nacionalistas de Lula e Dilma para encobrir que todos os “esforços” do governo
do PT estão a serviço das oligarquias, das grandes empresas como a Vale do Rio
Doce e dos monopólios imperialistas, utilizando as pesquisas do programa
antártico brasileiro e suas instalações na tentativa desesperada de incrementar
os lucros das companhias privadas, o mesmo que vem fazendo o neofascista Bolsonaro.