O rockeiro inglês David Bowie morreu em 10 de janeiro de 2016, há quatro anos atrás. Entre todas as homenagens da grande mídia somou-se acriticamente o PSTU. A decomposição moral e ideológica do Morenismo demonstrou que esta corrente não tem limites de classe ao derramar lágrimas para um músico que cultuou Hitler e Mussolini. O artigo de uma dirigente do PSTU publicado no sítio do partido em homenagem ao rockeiro neofascista David Bowie carregou logo no título: “Herói não só por um dia”, para depois qualificar David: “Bowie é um dos artistas mais importantes do século 20 e desse início de século 21. Ele revolucionou a música – inclusive subvertendo sua própria obra –, mas não foi só isso. Foi um vanguardista do design, ator, produtor e mestre das performances” (sítio do PSTU 11/01/16). Para os mais jovens e incautos a figura de Bowie seria somente a de mais um rockeiro de longa trajetória artística no universo da “pop music”, ou em outras palavras, do lixo cultural imperialista exportado para todo o planeta. Mas o fato de sua morte ter sido tão celebrada pelos organismos mais reacionários da mídia mundial, inclusive pelo nosso esgoto tupiniquim da “Veja”, dedicando várias capas a Bowie, poderia ter chamado a atenção da “candida” dirigente Morenista. O britânico Bowie que começou sua carreira musical ainda nos anos 60, foi inegavelmente impulsionado pelo sucesso da irreverência dos Beatles, chegando posteriormente a ser parceiro de Lenon em uma composição (Fame), mas a semelhança entre a trajetória de ambos se encerrava aí. A “oposição” proferida por Bowie contra a majestade britânica tinha um caráter ainda mais reacionário do que o da monarquia: “Acho que a Grã-Bretanha pode se beneficiar de um líder fascista. Afinal de contas, o fascismo é na verdade nacionalismo… Eu acredito firmemente no fascismo, as pessoas sempre responderam com grande eficiência sob uma liderança regimental”. Para os Morenistas do PSTU o fascismo militante de Bowie tem um significado oposto: “Toda sua obra é uma defesa da liberdade de expressão e do papel de artista, corroborando a ideia de ‘toda licença em arte’.” (Luciana Candido). O Importante é registrar que nem todos os apreciadores do Rock compartem das “opiniões” do PSTU, o insuspeito movimento “Rock Against Racism”(RAM), surgido em meados dos anos 70 bateu de frente diante das posições xenófobas de certos “astros” da pop music. Em 30 de abril de 1978 mais de 80.000 pessoas marcharam em Londres, atendendo o chamado do “RAM”, de Trafalgar Square até o Vikki Park (um ponto de concentração dos fascistas londrinos) para um concerto musical ao ar livre contra o racismo latente em certos “papas” do rock. Entre os vários personagens performáticos de grande sucesso assumidos por Bowie chamou atenção o “Thin White Duke” (Fino Duque Branco), uma inequívoca referência à sua concepção racista, onde percorreu o mundo fazendo apologia do nazismo: “Adolf Hitler foi uma das primeiras estrelas do rock”. Neste mesmo período, Bowie chegou a ser detido por oficiais do Pacto de Varsóvia quando tentava atravessar a fronteira da Polônia para a URSS com materiais de propaganda nazista. Este episódio já serve para demonstrar que as ligações de Bowie com o movimento neonazista europeu não eram simplesmente de “simpatia”. Acossado por parceiros musicais que não estavam dispostos a sujar seus nomes com o movimento fascista, Bowie afirma que suas declarações elogiando Hitler eram produto do excesso de drogas: “Eu estava fora da minha mente, totalmente enlouquecido”. Porém já no final dos anos 70 quando se mudou para a então Berlim Ocidental, David revelaria em seus shows que sua convicção neonazista continuava inabalada, chegava nos eventos em uma Mercedes conversível sempre acenando para os fãs com a saudação nazista. É muito difícil imaginar que a biógrafa morenista de Bowie desconhecesse fatos públicos desta gravidade ao conceder-lhe o “título de herói”. Mas para sepultar qualquer dúvida sobre o tipo do caráter da trajetória de Bowie, vale a pena relembrar um fato que levaria o próprio Nahuel Moreno a se revirar em seu túmulo, caso pudesse ler o artigo de sua seguidora política Luciana, estamos nos referindo a sórdida campanha imperialista que o astro do rock realizou contra a Argentina na época da “Guerra das Malvinas”. Está absolutamente claro que nesta polêmica não buscamos discutir as preferências estéticas e musicais dos “jovens” morenistas, se “curtem” os dejetos que a indústria da deculturação global descarrega no mercado do entretenimento não nos parece uma grave questão de moral proletária, entretanto quando a esquerda revisionista homenageia um porta-voz musical do neonazismo contemporâneo o fato assume outra proporção ideológica.
Note-se que esta conduta correu poucos anos após a LIT
declarar apoio político integral a criminosa investida imperialista que devastou
a Líbia em 2011, que sob o pretexto de derrubar uma “ditadura sangrenta”
instaurou a barbárie social para pilhar os recursos de uma nação que não
conhecia a fome desde a ascensão do regime nacionalista do coronel Kadafi. O
PSTU também seguiu essa trilha de saldar os fundamentalistas islâmicos (EI e
afins) para fomentar a guerra civil contra o governo antissionista de Assad na
Síria. Tudo em nome da farsesca “Revolução Árabe", que cristalinamente se
revelou um movimento geopolítico do gendarme de Israel (apoiado pela CIA) para
eliminar seus adversários militares na região do Golfo e Oriente Médio. Nada
envergonhados com a condição de “quinta coluna” da OTAN, os Morenistas da LIT
festejaram entusiasticamente junto aos neonazistas da Ucrânia o retorno do
governo ultraconservador de Kiev. Essa ofensiva chega agora ao Irã com o
terrorismo de estado ianque que matou o general Qassem Soleimani. Como meros
“bowies” na boiada midiática global da correnteza de veneração ao “pop star” do
rock, os Morenistas sequer se deram muito ao trabalho de pesquisar sobre a
trajetória estética, musical e política de David. Foram logo lhe outorgando o
diploma de “herói”, título já autoconcedido pelo próprio Bowie. Talvez em
virtude da identidade na concepção artística e musical entre as mais novas
gerações morenistas e a contemporânea indústria da cultura de massas ocidental,
fez o PSTU relevar os elementos estritamente políticos da “folha corrida”
fascista de Bowie. Porém o Morenismo não é um condomínio de estetas e críticos de
arte, ainda se reivindica como uma corrente ideológica do “Trotskismo Ortodoxo”
e como tal é incompatível que homenageie a figuras que se identificavam com os
movimentos neonazistas europeus. Quatro anos após a morte de Bowie os
Morenistas da “velha guarda” não fizeram qualquer autocrítica pública do artigo
lançado em seu site em 2016. Essa conduta vergonhosa mostra que seguiras as
posições editoriais das novas “lucianas” e estão em breve prestando tributos a
outros glamourosos artistas xenófobos e fascistas, tudo em nome do
reconhecimento da poderosa mídia “murdochiana”. Como Marxistas Leninistas
afirmamos em alto e claro som, a despeito do arco da midiática corporativa,
David Bowie não era um dos nossos mortos!