“Aiatolá Khamenei renuncie, renuncie”, assim gritavam
centenas de pessoas contra o líder supremo do regime dos aiatolás, Ali
Khamenei, depois que o governo do Irã afirmou que suas Forças Armadas
derrubaram por engano um Boeing da aviação privada ucraniana. A agência de
notícias iraniana Fars, em um raro relato sobre protestos contra o regime
admitiu que manifestantes cantaram frases contra as autoridades do país em
Teerã neste sábado. O radical ponto de inflexão na conjuntura iraniana começa
com a mudança abrupta da versão da queda do Boeing, na sequência da exemplar
resposta militar infringida pelo regime dos aiatolás as bases ianques de
ocupação no Iraque. O voo PS752 da companhia Ukraine Airlines International
(UAI) decolou de Teerã rumo a Kiev e caiu dois minutos depois, todas as 176
pessoas que estavam a bordo morreram no desastre. A possibilidade do Boeing em
pleno voo ascendente, em uma área espacial do aeroporto internacional de Teerã,
ter sido confundido com um míssil de ataque a capital iraniana era praticamente
nula. Durante vários dias após a tragédia aérea o governo iraniano sustentou a
seguinte versão: "Podemos dizer que o avião, considerando o tipo de acidente e
os esforços do piloto para devolvê-lo ao aeroporto Imam Khomeini, não explodiu
no ar. Portanto, a alegação de que foi atingido por mísseis é totalmente
descartada”. A narrativa oficial das autoridades iranianas logo foi corroborada
pelo governo russo, um especialista militar em questões de acidentes aéreos e
até então um grande aliado do regime dos aiatolás. Sergei Ryabkov,
vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, declarou que: "Não há
fundamento para afirmar que o Irã é responsável pela queda do avião ucraniano
nos arredores de Teerã”. Mais importante
do que as “versões” técnicas iniciais, iraniana e russa (que poderiam ser
contestadas por questões políticas), foi a própria investigação preliminar
ucraniana. De acordo com o chanceler da Ucrânia, Vadym Prystaiko, “Ninguém quer
estabelecer conclusões imediatas sobre a causa do acidente. Ele afirmou que
tiveram acesso inicial às caixas-pretas, e que os governos ucraniano e do Irã
decidirão para onde o equipamento será enviado, caso necessário”. Prystaiko
revelou ainda “que equipes ucranianas já tiveram acesso a destroços da aeronave
e que verificações no local da queda
indicaram não haver vestígios de destroços de mísseis”. Cerca de 50
especialistas ucranianos chegaram rapidamente no Irã participando da
investigação que descartou a possibilidade de um míssil ter atingido o Boeing.
Porém uma súbita mudança do governo iraniano, reconhecendo um “erro humano no
lançamento de um míssil”, alterou radicalmente a conjuntura, levando o regime
dos aiatolás a uma profunda desmoralização política e militar em escala local e
também em nível mundial. Não podemos saber o que levou o governo iraniano a
admitir um fato gravíssimo tão improvável, quanto “inverossímil” do ponto de
vista da defesa militar do país. O certo mesmo é que a admissibilidade da
responsabilidade pela tragédia poderá levar até mesmo ao fim da hegemonia do
aiatolá Khamenei sobre o regime vigente no Irã. A princípio o fato de terem
cedido às pressões do imperialismo para assumir a culpa pelas mortes do Boeing,
como “tática” para aliviar os novos embargos anunciados por Trump, poderá resultar
em um “tiro no pé” dos aiatolás. Assim como fez Evo Morales na Bolívia,
recuando para atender a chantagem da OEA, o “passo absurdo” dos Aiatolás na
direção de um possível acordo com os EUA, poderá significar a abertura de uma
fissura que poderá engolir o conjunto do regime. As multitudinárias
manifestações em repúdio ao covarde assassinato do general Soleimani, ocorridas
em Teerã em apoio ao ataque as bases militares ianques no Iraque, rapidamente
podem virar-se contra Khamenei e a cúpula da Guarda Revolucionária, após o
reconhecimento de tamanho amadorismo e irresponsabilidade na defesa do país. O
reconhecimento inexplicável do “erro” que abateu o Boeing se configurou como a
maior derrota do regime dos Aiatolás no cenário interno e mundial desde que tomaram
o poder na revolução de 1979. A Casa Branca ciente da fragilidade política em
que meteu-se o governo iraniano não perdeu tempo, Donald Trump já deu apoio aos
manifestantes, escrevendo em persa no Twitter: “o governo do Irã deve permitir
que grupos de direitos humanos monitorem e denunciem fatos do terreno sobre os
protestos em andamento do povo iraniano. Não pode haver outro massacre de
manifestantes pacíficos, nem um desligamento da Internet. O mundo está
assistindo”. Os Marxistas Leninistas não irão alterar sua posição programática
em defesa do regime dos Aiatolás contra o imperialismo ianque, mesmo que seja
comprovado a responsabilidade do Irã no incidente da que derrubou o Boeing ou
que esta “mea-culpa” esteja ligada a tentativa de um acordo com os EUA. Não
apoiaremos nenhuma manifestação pela “democracia no Irã”, no curso de uma
“revolta popular” (induzida pela CIA), contra uma possível “lambança” promovida
pelos Aiatolás neste episódio.