domingo, 12 de janeiro de 2020

SÚBITA REVIRAVOLTA NO CASO DA QUEDA DO BOEING EM TEERÃ: ADMISSIBILIDADE DA RESPONSABILIDADE DO DESASTRE AÉREO PELAS FORÇAS IRANIANAS REVELA FISSURA DO REGIME E PODERÁ ATÉ LEVAR A DERRUBADA DE KHAMENEI


“Aiatolá Khamenei renuncie, renuncie”, assim gritavam centenas de pessoas contra o líder supremo do regime dos aiatolás, Ali Khamenei, depois que o governo do Irã afirmou que suas Forças Armadas derrubaram por engano um Boeing da aviação privada ucraniana. A agência de notícias iraniana Fars, em um raro relato sobre protestos contra o regime admitiu que manifestantes cantaram frases contra as autoridades do país em Teerã neste sábado. O radical ponto de inflexão na conjuntura iraniana começa com a mudança abrupta da versão da queda do Boeing, na sequência da exemplar resposta militar infringida pelo regime dos aiatolás as bases ianques de ocupação no Iraque. O voo PS752 da companhia Ukraine Airlines International (UAI) decolou de Teerã rumo a Kiev e caiu dois minutos depois, todas as 176 pessoas que estavam a bordo morreram no desastre. A possibilidade do Boeing em pleno voo ascendente, em uma área espacial do aeroporto internacional de Teerã, ter sido confundido com um míssil de ataque a capital iraniana era praticamente nula. Durante vários dias após a tragédia aérea o governo iraniano sustentou a seguinte versão: "Podemos dizer que o avião, considerando o tipo de acidente e os esforços do piloto para devolvê-lo ao aeroporto Imam Khomeini, não explodiu no ar. Portanto, a alegação de que foi atingido por mísseis é totalmente descartada”. A narrativa oficial das autoridades iranianas logo foi corroborada pelo governo russo, um especialista militar em questões de acidentes aéreos e até então um grande aliado do regime dos aiatolás. Sergei Ryabkov, vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, declarou que: "Não há fundamento para afirmar que o Irã é responsável pela queda do avião ucraniano nos arredores de Teerã”.  Mais importante do que as “versões” técnicas iniciais, iraniana e russa (que poderiam ser contestadas por questões políticas), foi a própria investigação preliminar ucraniana. De acordo com o chanceler da Ucrânia, Vadym Prystaiko, “Ninguém quer estabelecer conclusões imediatas sobre a causa do acidente. Ele afirmou que tiveram acesso inicial às caixas-pretas, e que os governos ucraniano e do Irã decidirão para onde o equipamento será enviado, caso necessário”. Prystaiko revelou ainda “que equipes ucranianas já tiveram acesso a destroços da aeronave e que verificações no local da queda  indicaram não haver vestígios de destroços de mísseis”. Cerca de 50 especialistas ucranianos chegaram rapidamente no Irã participando da investigação que descartou a possibilidade de um míssil ter atingido o Boeing. Porém uma súbita mudança do governo iraniano, reconhecendo um “erro humano no lançamento de um míssil”, alterou radicalmente a conjuntura, levando o regime dos aiatolás a uma profunda desmoralização política e militar em escala local e também em nível mundial. Não podemos saber o que levou o governo iraniano a admitir um fato gravíssimo tão improvável, quanto “inverossímil” do ponto de vista da defesa militar do país. O certo mesmo é que a admissibilidade da responsabilidade pela tragédia poderá levar até mesmo ao fim da hegemonia do aiatolá Khamenei sobre o regime vigente no Irã. A princípio o fato de terem cedido às pressões do imperialismo para assumir a culpa pelas mortes do Boeing, como “tática” para aliviar os novos embargos anunciados por Trump, poderá resultar em um “tiro no pé” dos aiatolás. Assim como fez Evo Morales na Bolívia, recuando para atender a chantagem da OEA, o “passo absurdo” dos Aiatolás na direção de um possível acordo com os EUA, poderá significar a abertura de uma fissura que poderá engolir o conjunto do regime. As multitudinárias manifestações em repúdio ao covarde assassinato do general Soleimani, ocorridas em Teerã em apoio ao ataque as bases militares ianques no Iraque, rapidamente podem virar-se contra Khamenei e a cúpula da Guarda Revolucionária, após o reconhecimento de tamanho amadorismo e irresponsabilidade na defesa do país. O reconhecimento inexplicável do “erro” que abateu o Boeing se configurou como a maior derrota do regime dos Aiatolás no cenário interno e mundial desde que tomaram o poder na revolução de 1979. A Casa Branca ciente da fragilidade política em que meteu-se o governo iraniano não perdeu tempo, Donald Trump já deu apoio aos manifestantes, escrevendo em persa no Twitter: “o governo do Irã deve permitir que grupos de direitos humanos monitorem e denunciem fatos do terreno sobre os protestos em andamento do povo iraniano. Não pode haver outro massacre de manifestantes pacíficos, nem um desligamento da Internet. O mundo está assistindo”. Os Marxistas Leninistas não irão alterar sua posição programática em defesa do regime dos Aiatolás contra o imperialismo ianque, mesmo que seja comprovado a responsabilidade do Irã no incidente da que derrubou o Boeing ou que esta “mea-culpa” esteja ligada a tentativa de um acordo com os EUA. Não apoiaremos nenhuma manifestação pela “democracia no Irã”, no curso de uma “revolta popular” (induzida pela CIA), contra uma possível “lambança” promovida pelos Aiatolás neste episódio.