O PT completa 40 anos de existência política quase ao mesmo
tempo em que sua principal liderança política, Lula, foi solto da prisão da
Lava Jato, a gênese de todo o processo golpista que desembocou no atual governo
neofascista de Bolsonaro. Os Marxistas Revolucionários analisaram as causas
dessa realidade, que agrega uma brutal ofensiva burguesa contra as conquistas
sociais e democráticas do proletariado brasileiro. Este governo “improvável” da
extrema direita não aconteceu simplesmente de um “acidente eleitoral”, foi
sendo gestado ao longo de uma década atrás, justamente o período histórico da
vigência dos governos petistas (4) de conciliação de classes. As seguidas
gestões da Frente Popular à cabeça do governo nacional amorteceram a luta de
classes ao ponto de abrir o caminho para a atual ofensiva fascista em curso no
país. Mesmo o PT gerenciando o Estado burguês por 13 anos em favor das grandes
corporações capitalistas foi alvo de um golpe parlamentar em 2016 e não
conseguiu ser admitido no promíscuo clube dos partidos tradicionais da ordem
institucional. Seus dirigentes mais destacados foram “caçados” como “marginais
e bandidos perigosos”, apresentados cinicamente pela grande mídia corporativa
como os responsáveis pelo “maior escândalo de corrupção da história do país”.
Práticas absolutamente ordinárias e seculares na relação entre partidos
burgueses e grandes empresas, as comissões ou chamadas de “propinas” pelos
midiotas, que foram também corriqueiras nos governos de colaboração de classes
do PT, foram vendidas como o “maior delito nacional da história republicana”,
deixando o partido na completa defensividade política! Pouco adiantou Lula
repetir a exaustão que é um liberal e nunca foi socialista, que seu governo
beneficiou “pobres e ricos”, de votar em vários golpistas nas eleições de 2018,
fazer aliança com esses mesmos canalhas recentemente no Parlamento... a direita
burguesa não lhe deu ouvido, encarcerou o maior líder do PT e entronou no
Planalto o fascista Bolsonaro, tendo o Juiz que ordenou a prisão de Lula,
Sérgio Moro, como o verdadeiro “fiador”, o homem forte da nova gerência estatal
burguesa junto ao imperialismo. Esse paradoxo que perpassa a “crise
existencial” do PT é um produto acumulado de suas próprias dubiedades ao longo
de sua vida política, um partido que estampa no nome a independência de classe
e ao mesmo tempo desde sua origem rejeita categoricamente os desafios
programáticos do proletariado, como o marxismo e o socialismo revolucionário.
Logo nos primeiros debutes eleitorais de 1982,1985 e 1988 os
dirigentes do PT descartaram as alianças políticas com outros partidos
burgueses, para em seguida governarem municípios favorecendo grandes empresas,
principalmente no ramo do transporte urbano. Depois vieram os governos
estaduais em 90, 94 e 98, o "véu" da independência de classe caiu por
completo com as gestões voltadas para o capital em detrimento das demandas
populares. Já não poderia haver a menor sombra de dúvida que a vitória
presidencial de 2002 marcaria o início de um governo central capitalista,
lastreado na política de colaboração de classes. A Frente Popular no comando do
Estado Burguês, favorecida pela conjuntura econômica internacional impulsionou
grandes negócios e créditos para a burguesia tupiniquim, o PT entrou definitivamente
no rol dos partidos que empreendiam campanhas eleitorais milionárias (talvez
bilionárias até), mas passado o ciclo temporal do binômio
"crédito/consumo" se vê agora rejeitado como um partido burguês
bastardo e ironicamente responsabilizado por parte das elites dominantes pela
"formação do caráter corrupto dos maus brasileiros". Sem ainda
entender bem o motivo de tanta "traição e ódio" da parte dos que
tanto se beneficiaram com seus governos, o PT promove seminários e simpósios
nestes 40 anos de vida inutilmente buscando uma explicação "moral"
para sua "rejeição parental", quando na verdade a questão remonta a
própria luta de classes!
Para que possamos compreender a crise e o atual impasse dos
rumos do PT, é necessário resgatar um enunciado básico do marxismo
completamente "esquecido" pelos agentes políticos da Frente Popular:
Conquistar eleitoralmente a gerência do Estado burguês não significa o mesmo
que obter o poder político do Estado capitalista. Este poder estatal nunca
esteve nas mãos dos presidentes eleitos pelo PT (Lula e Dilma). Com o golpe
parlamentar seguido da prisão de Lula é completamente cristalino até para
qualquer leigo, o poder de Estado se deslocou para coagir e reprimir os quadros
dirigentes do PT. Governo, regime político e judiciário são instâncias
institucionais que mantém certo grau de autonomia entre si, porém o Estado
subordina as demais instituições estando sob controle direto da classe
dominante e não da presidência da república. Ao desconsiderar esta lógica de
ferro da luta de classes o PT foi vítima de sua própria política social
democrata, pensando que teria a eterna "gratidão" da burguesia
independentemente de seus interesses de classe. Findo o ciclo econômico
"neodesenvolvimentista" a burguesia "convidou" os gerentes
petistas a desocuparem o governo, como se recusaram a sair em 2014 a tarefa foi
tirá-los "à força". A "caçada "institucional a Lula e
outros dirigentes históricos do partido ocorreu em pleno regime democrático e o
que é pior sob a presidência da república ocupada por uma petista. Confiando na
PF, elogiando inicialmente o Juiz Moro e a Operação Lava Jato enquanto
adormecia o movimento de massas, Dilma acabou abrindo caminho para a ofensiva
reacionária atual que pariu a “besta” neofascista Bolsonaro! O “ovo de serpente”
foi alimentado anos a fio pelo PT que agora é também vítima direta de sua
política de colaboração de classes que desarmou os trabalhadores.
A esquerda revisionista que acompanhou organicamente boa
parte da história do PT, ou mesmo a que agora retorna ao partido por outras
vias como é o caso do PCO, sempre apontou que a "primeira etapa" da
vida política petista teria sido "altamente progressista", esta
análise sem conteúdo de classe significa um gravíssimo equívoco! O PT não se degenerou quando veio a ocupar o
Planalto, apenas exerceu seu "direito", conquistado nas urnas, de
operar os negócios do Estado burguês, "direito" este que agora a
elite dominante lhe quitou com muito "ódio". Como uma organização que
jamais foi operária ou revolucionária, a evolução política do PT ocorreu pela
via programática de um partido originalmente pequeno burguês até se consolidar
como mais uma legenda da classe dominante, com a peculiaridade de não ter em
seus quadros nomes representativos da burguesia nacional. Nesta trajetória de
"transição", o PT conseguiu deletar a referência classista dos
primeiros anos de vida para abraçar o discurso da " cidadania plena",
o que obviamente para sua liderança partidária representava o "direito de
consumo" antes de mais nada. Por isso mesmo o grande mote político do
partido na atualidade foi de ter levado "30 milhões de brasileiros para
obter acesso ao mercado de consumo". A estruturação de um movimento de
massas que viesse a romper os limites de um "capitalismo com uma face democrática"
nunca nem passou "pelos pesadelos ou sonhos" de Lula, sua tarefa e de
seu partido era radicalmente oposta: "Fornecer sustentabilidade ao
capital". Com uma plataforma de governo onde não existia sequer a execução
de uma única reforma progressista, as variações do mercado impuseram a pauta do
"modelo de gestão petista", a chegada da recessão mundial
desgraçadamente esvaziou o "saco de bondades" do PT. Agora, com o
tripé, Bolsonaro-Moro-Guedes volta à pauta da classe dominante uma agenda
ultra-neoliberal que o PT não pôde cumprir plenamente com Lula e Dilma.
Entretanto nem mesmo todos os fatores mencionados
anteriormente não dão conta de explicar a ferocidade e violência destinada ao
PT por parte de "novos aliados e antigos adversários". Só poderá mesmo
haver uma única razão para o "ódio concentrado" das elites, ainda
inconfessável até por comentaristas bastantes críticos ao PT. Por ironia da
história, o PT que teve no mínimo duas vitórias roubadas (89 e 94) pela fraude
oficial do TSE, teria utilizado este mesmo instrumento estatal para evitar a
eleição do tucano Aécio Neves em 2014. Este elemento combinado ao esgotamento
total do "milagre econômico lulista" potenciou uma enorme pressão
demolidora gerada a partir das classes dominantes, desde o primeiro dia do
segundo mandato da presidenta Dilma. Como prognosticou o velho Marx em seu
magnífico livro" O dezoito brumário de Luís Bonaparte": "O herói
nacional pode virar bandido da noite para o dia, tudo dependerá dos fatores da
luta de classes". Paradoxalmente ao comemorar 40 anos de existência
política, ostentando um "invejável currículo" de quatro vitórias
consecutivas para as corridas presidenciais pós regime militar, o PT e sua
principal liderança de massas foram convertidos em os "piores
bandidos" que nossa "honrada" pátria já conheceu em toda sua
história republicana, pelo simples e banal motivo de reproduzirem a mesma
metodologia utilizada por todos os partidos burgueses deste país: Comerciar os
negócios do Estado Capitalista! Esta prática secular e usual, em tempos de
estagnação e crise pode transformar-se no pior dos "pecados
políticos" para uma elite decadente, portanto após a sentença final o PT
foi crucificado!
Abstrair as lições que marcam os 40 anos de vida do PT é um
passo programático fundamental para a vanguarda classista brasileira superar a
política de pacto com a burguesia que a Frente Popular até hoje desenvolve,
agora no campo da oposição “propositiva” ao governo Bolsonaro e a nível de suas
gestões burguesas regionais que reproduzem a mesma pauta neoliberal ditada
pelos rentistas. Toda a estratégia reformista do PT se resume em apostar no
desgaste “natural” de Bolsonaro, para em 2022 “pacificamente” voltar ao
Planalto, uma perspectiva que a classe dominante já descartou de antemão, apesar
do PT em sua “maturidade” não se casar em apresentar-se ainda como uma opção
plenamente confiável para a burguesia nacional. Não há dúvida que a Social
Democracia petista é incapaz de compreender seus graves erros históricos, em
função de sua própria natureza de classe, a vanguarda classista do proletariado
deve assumir a gigantesca tarefa de reconstruir o projeto de um partido
representativo da classe operária, a começar pelo resgate do programa
revolucionário que aponte para o genuíno socialismo.