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A SERVIÇO DA LUTA TEÓRICA, POLÍTICA E IDEOLÓGICA EM DEFESA DA REVOLUÇÃO
PROLETÁRIA!
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A ATUALIDADE DO MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA
LEON TROTSKY (1937)
Custa acreditar que apenas dez anos nos separam do
centenário do Manifesto do Partido Comunista. Este manifesto, o mais genial
entre todos os da literatura mundial, surpreende-nos ainda hoje pela sua
atualidade. Suas partes mais importantes parecem ter sido escritas ontem. Sem
dúvida alguma, os jovens autores (Marx tinha 29 anos e Engels 27 ) souberam
antever o futuro como ninguém antes e como poucos depois deles.
No prefácio à edito de 1872, Marx e Engels afirmaram que,
mesmo tendo certos trechos secundários do Manifesto envelhecido, não tinham o
direito de modificar o texto original, visto que, no decorrer dos vinte e cinco
anos então passados ele já se transformara em um documento histórico. De lá
para cá mais sessenta e cinco anos transcorreram. Algumas partes isoladas
envelheceram ainda mais. Consequentemente, neste prefácio apresentaremos, de
forma resumida, as idéias do Manifesto que, até nossos dias conservam
integralmente sua força e aquelas que necessitam de sérias modificações ou
complementos.
1. A concepção materialista da História, formulada por Marx
pouco tempo antes da aparição do texto e que nele se encontra aplicada com
perfeita maestria, resistiu completamente à prova dos acontecimentos e aos
golpes da crítica hostil. Constitui-se, atualmente, em um dos mais preciosos
instrumentos do pensamento humano. Todas as outras interpretações do processo
histórico perderam todo significado científico. Podemos afirmar, com segurança,
que anualmente é impossível não apenas ser um militante revolucionário, mas
simplesmente um observador politicamente instruído sem assimilar a concepção
materialista da História.
2. "A História de todas as sociedades até os nossos
dias não foi senão a história elas lutas de classes." O primeiro capítulo
do Manifesto começa por esta frase.
Esta tese, que constitui a mais importante conclusão da
concepção materialista da História, em pouco tempo transformou-se em elemento
da luta de classes. A teoria que trocava o "bem estar comum", a
"unidade nacional" e as "verdades eternas da moral" pela
luta entre interesses materiais, considerados como a força motriz da História,
sofreu ataques particularmente ferozes da parte de reacionários hipócritas,
doutrinários liberais e democratas idealistas. A eles acrescentaram-se mais
tarde, desta vez a partir do próprio movimento operário, os ataques dos
chamados revisionistas, isto é, dos partidários da revisão do marxismo em favor
da colaboração e conciliação de classes. Finalmente, em nossa época, os
desprezíveis epígonos da Internacional Comunista (os stalinistas) tornaram o
mesmo caminho: a política daquilo a que se dá o nome 'frentes populares"
decorre, inteiramente, da negação das leis da luta de classes. Entretanto,
vivemos na época do imperialismo que, levando todas as contradições sociais ao
seu extremo, demonstra o triunfo teórico do Manifesto do Partido Comunista.
3. A anatomia do capitalismo, visto este como um estágio
determinado da evolução econômica da sociedade, foi destrinchada por Marx de
forma cabal em O Capital (1867). Mas, já no Manifesto as linhas fundamentais da
análise futura foram traçadas com clareza: a) a retribuição à força de trabalho
do equivalente de sua reprodução; b) a apropriação da mais-valia pelos
capitalistas; c) a concorrência como lei fundamental das relações sociais; dg a
ruína das classes médias, isto é, da pequena burguesia das cidades e do
campesinato; e) a concentração da riqueza nas mãos de um número cada vez mais
reduzido de possuidores, em um dos pólos sociais, e o crescimento numérico do
proletariado em outro; f) a preparação das condições materiais e políticas
prévias ao regime socialista
4. A tendência do capitalismo em rebaixar o nível de vida
dos operários, a torná-los cada vem meais pobres. Esta tese foi violentamente
atacada. Os padres, os professores, os ministros, os jornalistas, os teóricos
sociais-democratas e os dirigentes sindicais levantaram-se contra a assim
chamada teoria do "empobrecimento". Invariavelmente enumeravam sinais
do bem-estar crescente dos trabalhadores, tomando a aristocracia operária por
todo o proletariado, ou tomando uma tendência temporária por uma situação
perdurável. Paralelamente, a própria evolução do mais poderoso capitalismo, o
dos Estados Unidos transformou milhões de operários em párias, sustentados às
custas da caridade estatal ou privada.
5. Em oposição ao Manifesto, que descrevia as crises
comercial-industriais como uma série de crescentes catástrofes, os
revisionistas afirmavam que o desenvolvimento nacional e internacional dos
monopólios garantiria o controle do mercado e a abolição gradual das crises.
Não há dúvida de que a passagem do século passado ao atual caracterizou-se por
um desenvolvimento tão impetuoso do sistema que as crises pareciam interrupções
"acidentais". Mas esta época es' irremediavelmente ultrapassada Em última
análise, também com respeito a esta questão, a verdade está do lado de Marx.
6. "O governo moderno nada mais é do que um comitê para
administrar os negócios comuns de toda a classe burguesa. " Nesta fórmula
sucinta, que os dirigentes social-democratas desprezavam como um paradoxo
jornalístico, encontra-se, na verdade, a única teoria científica sobre o
Estado. A democracia idealizada pela burguesia não é, como pensavam Bernstein e
Kautsky, uma casca vazia que se pode, tranqüilamente, encher sem se importar
com o conteúdo. A democracia burguesa só pode servir à burguesia. O governo de
"Frente Popular" dirigido por Blum ou Chautemps, Caballero ou Negrin
é tão somente "um comitê para administrar os negócios comuns de toda a
classe burguesa". Quando este comitê se sai mal em seus negócios, a
burguesia expulsa-a do poder a pontapés.
7. "Toda luta de classe é uma luta política"
"A organização dos proletários em classe é, consequentemente, a sua
organização em partido político..." Os sindicalistas por um lado e os
anarco-sindicalistas, por outro, durante muito tempo, e ainda hoje, vêm
procurando fugir à compreensão dessas leis históricas. O sindicalismo
'puro" recebeu, atualmente, um golpe fulminante em seu principal refúgio:
os Estados Unidos. O anarco-sindicalismo sofreu uma derrota esmagadora em sua
última cidadela, a Espanha. Como nas outras questões também aqui o Manifesto
demonstrou estar certo.
8.0 proletariado não pode conquistar o poder por meio das
leis promulgadas pela burguesia. "Os comunistas... proclamam abertamente
que seus fins só podem ser atingidos pela derrubada violenta da ordem social
existente. " O reformismo tentou explicar esta tese do Manifesto pela
imaturidade do movimento operário da época e pelo insuficiente desenvolvimento
da democracia. A sorte das "democracias" italiana e alemã, e de
muitas outras, demonstrou que se alguma coisa não estava madura eram as
próprias idéias reformistas
9. Para a transformação socialista da sociedade é necessário
que a classe operária concentre em suas mãos o poder capaz de varrer todos os
obstáculos políticos que se anteponham em sua trajetória até a nova ordem.
"O proletariado organizado em classe dominante", eis o que é sua
ditadura. Ao mesmo tempo, trata-se da única e verdadeira democracia proletária.
Sua amplitude e profundidade dependem das condições históricas concretas.
Quanto maior for o número de Estados que se lançarem no caminho da revolução
socialista, mais livres e flexíveis serão as formas da ditadura, mais ampla e
profunda será a democracia operária.
10. O desenvolvimento internacional do capitalismo determina
o caráter internacional da revolução proletária. Uma das primeiras condições
para a emancipação da classe operária consiste em sua ação comum, pelo menos
nos países civilizados. O desenvolvimento posterior do capitalismo uniu de
forma tão estreita as diversas partes de nosso planeta, as
"civilizadas" e "não civilizadas", que o problema da
revolução socialista adquiriu, completa e definitivamente, um caráter mundial.
A burocracia soviética tentou liquidar o Manifesto nessa questão fundamental,
mas a degeneração bonapartista do Estado soviético é a mortal ilustração do
engodo que significa a teoria do "socialismo em um só país".
11. "A partir do momento em que, mo curso do
desenvolvimento, as diferenças de classe tenham desaparecido e que toda a
produção este)a concentrada rias mãos de indivíduos associados, o poder público
perde seu caráter político. " Em outras palavras, o Estado extingue-se.
Resta a sociedade liberta de sua camisa-de-força. E é exatamente isso o
socialismo. O teorema inverso: o monstruoso crescimento da imposição e
violência estatais na URSS demonstra que a sociedade soviética se afasta do
socialismo.
12. "Os operários não têm pátria." Esta frase do
Manifesto foi freqüentemente considerada pelos filisteus como uma simples
fórmula de agitação. Na verdade, ela oferece ao proletariado a única diretriz
justa a respeito da "pátria" capitalista. A supressão deste princípio
pela II Internacional conduziu não apenas à destruição da Europa durante quatro
anos mas também à atual estagnação da cultura mundial. Diante da nova guerra
que se aproxima, cujo caminho foi aberto pela III Internacional, o Manifesto
permanece, ainda hoje, o mais seguro conselheiro sobre a questão da
'pátria" capitalista.
Vemos, portanto, que esta pequena obra dos dois jovens
autores continua a fornecer indicações indispensáveis a respeito das questões
mais fundamentais e candentes da luta pela emancipação. Que outro livro
poderia, mesmo que de longe, estar à altura do Manifesto do Partido Comunista.
Entretanto, isto não significa, absolutamente, que, após noventa anos de
desenvolvimento sem parar das forças produtivas e de grandiosas lutas sociais,
o Manifesto não tenha necessidade de retificações e complementos. O pensamento
revolucionário nada tem em comum com a idolatria. Os programas e os
prognósticos verificam-se e corrigem-se à luz da experiência, que é para o
pensamento humano a suprema instância O Manifesto requer correções e
complementos. Entretanto, mesmo correções e complementos não podem ser
aplicados com sucesso senão nos servimos do mesmo método que se encontra à base
do Manifesto, como, além disso, o prova a própria experiência histórica.
Mostraremos isso servindo-nos dos exemplos mais importantes.
1. Marx ensina que nenhuma ordem social deixa a cena antes
de ter esgotado suas possibilidades criadoras. O Manifesto ataca o capitalismo
porque ele bloqueia o desenvolvimento das forças produtivas. Contudo, na sua
época e mesmo durante várias décadas seguintes, este entrave possuía apenas um
caráter relativo. Se, na segunda metade do Século XIX tivesse sido possível à
economia se organizar sobre fundamentos socialistas, o ritmo de seu crescimento
teria sido incomparavelmente mais rápido. Esta tese, teoricamente incontestável,
não modifica o fato de que as forças produtivas continuaram a crescer em escala
mundial, e sem interrupção, até a Primeira Guerra Mundial. Foi unicamente nos
últimos vinte anos que, malgrado as mais modernas conquistas científicas e
técnicas, se abriu a época da estagnação completa e da própria decadência da
economia mundial. A humanidade começa a viver do capital acumulado e a próxima
guerra ameaça destruir por longo tempo as próprias bases da civilização. Os
autores do Manifesto pensavam que o capital seria liquidado muito antes de
passar de ser um regime relativamente reacionário para a sua fase absolutamente
reacionária. Esta transformação, porém, só se consumou aos olhos da atual
geração, fazendo de nossa época a época de guerras, revoluções e do fascismo.
2. O erro de Marx e Engels a respeito dos prazos históricos
decorria, de um lado, da subestimação das possibilidades posteriores inerentes
ao capitalismo e, de outro, da superestimação da maturidade revolucionária do
proletariado. A revolução de 1848 não se transformou em revolução socialista,
como o Manifesto havia previsto, mas criou, para a Alemanha, a possibilidade de
um formidável desenvolvimento capitalista. A Comuna de Paris demonstrou que o
proletariado não pode arrancar o poder à burguesia sem ter à sua frente um
partido revolucionário experiente. Ora, o longo período de desenvolvimento
capitalista que se seguiu à Comuna conduziu não à educação de uma vanguarda
revolucionária, mas, ao contrário, à degeneração burguesa da burocracia
operária que se tornou, por sua vez; o principal obstáculo à vitória da
revolução proletária. Esta "dialética "os autores do Manifesto não
podiam prever.
3. Para o Manifesto, o capitalismo é o reino da livre
concorrência. Referindo-se à crescente concentração do capital, o texto não
tira deste fato a necessária conclusão a respeito dos monopólios, que se
transformaram na força dominante do capitalismo em nossa época, premissa mais
importante da economia socialista. Foi apenas mais tarde, em O Capital que Marx
constatou a tendência para a transformação da livre concorrência em monopólio.
A caracterização científica do capitalismo monopolista foi dada por Lênin em
seu livro Imperialismo, Estágio Superior do Capitalismo.
4. Tomando como base sobretudo o exemplo da "Revolução
Industrial" inglesa, os autores viam de maneira muito unilateral o
processo de liquidação das classes médias com a proletarização completa do
artesanato, do pequeno comércio e do campesinato. Na verdade, as forças
elementares da concorrência ainda não finalizaram esta obra, ao mesmo tempo
progressista e bárbara. O capital arruinou a pequena burguesia bem mais
rapidamente do que a proletarizou. Por outro lado, a política consciente do
Estado burguês, há muito tempo, visa conservar artificialmente as camadas
pequeno-burguesas. No pólo oposto, o crescimento da técnica e a racionalização
da grande produção, ao mesmo tempo em que engendram um desemprego orgânico,
freiam a proletarização da pequena burguesia. Houve um extraordinário adormento
do exército de técnicos, administradores, empregados de comércio, em uma
palavra, daquilo que é chamado de "novas classes médias". O resultado
de tudo isso é que as classes médias cujo desaparecimento o Manifesto previa de
modo tão categórico, constituem, mesmo em um país altamente industrializado
como a Alemanha, quase a metade da população. Mas a conservação artificial das
camadas pequeno-burguesas, desde há muito caducas, em nada atenua as
contradições sociais; torna-as, pelo contrário, particularmente, mórbidas.
Somando-se ao exército permanente de desempregados, ela é a expressão mais
nociva do apodrecimento capitalista
5. O Manifesto, escrito para uma época revolucionária,
contém, no final do segundo capítulo, dez reivindicações que respondem ao
período da imediata transição do capitalismo ao socialismo. No prefácio de
1872, Marx e Engels mostraram que essas reivindicações se encontravam
parcialmente superadas e que, de qualquer modo, não tinham mais que um
significado secundário. Os reformistas se apoderaram desta avaliação para
interpretá-la no sentido que, para eles, as palavras-de-ordem revolucionárias
transitórias davam definitivamente lugar ao "programa mínimo" da
social-democracia que, como sabemos não ultrapassava os limites da democracia
burguesa.
Na verdade, os autores do Manifesto indicaram de modo
preciso a principal correção a ser feita em seu programa transitório: "Não
basta que a classe operária se utilize da máquina estatal para colocá-la a
serviço de seus próprios fins. "A correção era contra o fetichismo a
respeito da democracia burguesa. Ao Estado burguês, Marx opôs, mais tarde, o
Estado do tipo da Comuna. Este "tipo" tomou, em seguida, a forma
muito mais precisa de sovietes. Em nossos dias não pode haver programa
revolucionário sem soviets e sem poder operário. Quanto ao mais isto é, às dez
reivindicações do Manifesto que na época da pacífica atividade parlamentar,
pareceram "caducar", é preciso que se diga que recobraram, hoje, todo
seu verdadeiro significado. O que caducou inapelavelmente foi o "programa
mínimo" social-democrata.
6. Para justificar a esperança de que "a revolução
burguesa alemã... será o prelúdio da revolução proletária", o Mania esta
cita que as condições gerais da civilização européia de então, assim como do
proletariado, eram bem mais desenvolvidas do que na Inglaterra do Século XVII
ou na França do Século XVIII. O erro deste prognóstico não está apenas na
questão do prazo, Alguns meses mais tarde, a Revolução de 1848 mostrou,
precisamente, que, em presença de condições mais avançadas, nenhuma das classes
burguesas é capaz de levar a revolução até o fim: a grande e a média burguesia
estão muito ligadas aos proprietários fundiários e muito unidas pelo medo das
massas; a pequena burguesia muito dispersa e seus dirigentes muito dependentes
da grande burguesia. Como demonstrou a posterior evolução dos acontecimentos na
Europa e na Ásia, a revolução burguesa, em si mesma, não mais pode realizar-se.
A purificação da sociedade dos males feudais só é possível se o proletariado, liberto
das influências dos partidos burgueses for capaz de se colocar à frente do
campesinato e estabelecer sua ditadura revolucionária. Em função disso, a
revolução burguesa mescla-se com a primeira fase da revolução socialista para,
nesta, dissolver-se em seguida. A revolução nacional torna-se, assim, apenas um
elo da revolução proletária internacional. A transformação dos fundamentos
econômicos e de todas as relações sociais adquirem um caráter permanente.
Para os partidos revolucionários dos países atrasados da
Ásia, América Latina e África, a compreensão clara da relação orgânica entre a
revolução democrática e a revolução socialista internacional é uma questão de
vida ou morte.
7. Mostrando como o capitalismo arrebanha em seu turbilhão
os países atrasados e bárbaros, o Manifesto nada diz a respeito da luta dos
povos coloniais e semi-coloniais pela sua independência. À medida que Marx e
Engels pensavam que a vitória da revolução socialista, "nos países
civilizados pelo menos", era uma questão a ser resolvida nos anos
seguintes, o problema das colônias resolver-se-ia igualmente não como o
resultado de um movimento autônomo dos povos oprimidos, mas, simplesmente, como
a conseqüência da vitória do proletariado nas metrópoles capitalistas. Esta é a
razão pela qual as questões da estratégia revolucionária nos países coloniais e
semi-coloniais nem mesmo estão esboçadas no Manifesto. Mas elas exigem soluções
particulares. Dessa forma, é evidente que se a "pátria nacional" se
tornou o pior obstáculo à revolução proletária nos países capitalistas
avançados mantém-se ainda como um fator relativamente progressista nos países
atrasados que são obrigados a lucrar por sua existência nacional independente.
"Os comunistas, declara o Manifesto, apoiam, em todos os países, qualquer
movimento revolucionário contra a ordem social e política existente. " O
movimento das raças de cor contra os opressores imperialistas é um dos mais
poderosos e importantes movimentos contra a ordem social existente e é esta a
razão pela qual necessita do total apoio, indiscutível e sem reticências, do
proletariado de raça branca. O mérito de haver desenvolvido a estratégia
revolucionária dos povos oprimidos é, sobretudo, de Lênin.
8. O trecho que mais envelheceu no Manifesto - não quanto a
seu método, mas quanto a seus objetivos - é a crítica da literatura
"socialista" da primeira metade do Século XIX (Capítulo 3) e a
definição da posição dos comunistas em relação aos diversos partidos de
oposição <Capítulo 4g. As tendências e os partidos enumerados pelo texto
foram varridos tão radicalmente pela revolução de 1848, ou pela
contra-revolução que se seguiu, que a História já não os menciona sequer.
Entretanto, mesmo com respeito a este trecho, o Manifesto encontra-se mais
próximo de nós do que o estava em relação à geração anterior. Na época de
prosperidade da II internacional, quando o marxismo parecia reinar
absolutamente no movimento operário, as idéias do socialismo anteriores a Marx
podiam ser consideradas como definitivamente ultrapassadas. Hoje isso já não é
mais verdade. A decadência da social-democracia e da Internacional Comunista
provoca, a cada passo, monstruosas recaídas ideológicas. O pensamento senil
recai, por assim dizer, na infância. À procura de fórmulas salvadoras, os
profetas da época de declínio geral do capitalismo redescobrem doutrinas há
muito enterradas pelo socialismo científico.
No que diz respeito ao problema dos partidos de oposição, as
décadas que nos separam do Manifesto provocaram as mais profundas mudanças: não
apenas os velhos partidos foram há muito substituídos por novos, como também o
próprio caráter dos partidos e de suas mútuas relações modificou-se
radicalmente. Sob as condições da época imperialista, o Manifesto, portanto,
deve ser complementado pelos documentos dos quatro primeiros congressos da
Internacional Comunista, pela literatura fundamental do bolchevismo e pelas
decisões das conferências do movimento pela IV Internacional.
Lembramos acima que, segundo Marx, nenhuma ordem social
deixa a cena da História antes de haver esgotado todas n.- suas possibilidades.
Entretanto, uma ordem social, mesmo já tendo caducado, não cede seu lugar sem
opor resistência a uma nova ordem. A sucessão dos regimes sociais supõe a mais
nêspera luta de classes, isto é a revolução. Se o proletariado, por uma razão
ou outra, se mostra incapaz de derrubar a ordem burguesa que sobrevive, não
resta ao capital financeiro, em luta para manter seu domínio abalado, senão
transformar a pequena burguesia, por ele. levada ao desespero e à desmoralização,
no exército de terror do fascismo. A degeneração burguesa da social-democracia
e a degeneração fascista da pequena burguesia estão entrelaçadas como causa e
efeito.
Em nossos dias, a IV Internacional Comunista leva a cabo, em
todos os países, com uma obscenidade ainda maior, a obra de engodo e
desmoralização dos trabalhadores. Massacrando a vanguarda do proletariado
espanhol, os mercenários sem escrúpulos de Moscou não apenas abrem caminho,
para o fascismo, como também realizam uma boa parte de seu trabalho. A longa
crise da revolução internacional, que cada vez mais se transforma em crise da
cultura humana, reduz-se, no fundo, à crise da direção revolucionária do
proletariado.
Como herdeira da grande tradição para a qual o Manifesto do
Partido Comunista é o mais precioso elo, a IV Internacional educa novos quadros
para resolver antigas tarefas. A teoria nada mais é do que a realidade
generalizada. Em uma atitude honesta com respeito à teoria revolucionária se
expressa a apaixonada vontade de refundir a realidade social. O fato de que ao
sul do continente negro nossos camaradas de idéias traduziram pela primeira vez
o Manifesto é uma evidente confirmação de que, em nossos dias, o pensamento
marxista só está vivo sob a bandeira da IV Internacional. O futuro
pertence-lhe. Quando se comemorar o centenário do Manifesto do Partido
Comunista, a IV Internacional será a força revolucionária determinante em nosso
planeta.
172 ANOS DO MANIFESTO COMUNISTA! NOSSO GUIA PARA AÇÃO
REVOLUCIONÁRIA SEMPRE ATUAL PARA A LUTA DO PROLETARIADO MUNDIAL!
Nina Simone, nasceu em 21 de fevereiro de 1933, no estado da
Carolina do Norte, estado do sudoeste dos EUA e fronteira com alguns dos pontos
nevrálgicos dos conflitos raciais. Eunice Waymon, nome de nascimento da
artista, sofreu desde pequena os males do racismo. Contudo, desde os primeiros
contatos com as teclas de um piano, colocou na cabeça que seria a primeira
pianista clássica negra dos Estados Unidos e foi à procura do sonho. O tempo
passou e já respondendo pelo nome de Nina Simone, a jovem conquistou o público
com um estilo que unia jazz, blues, música clássica e gospel. Em função de
canções como ‘I Loves You Porgy’, Nina, mulher e negra, era disputada por
importantes casas de espetáculos conhecidas pela predominância branca, como o
Town Hall em Nova Iorque. Negra e de origem pobre, se destacou pelo seu talento
com a música. O sucesso da cantora crescia em compasso com os conflitos
raciais. Muitos foram os rastilhos para a fúria dos negros, sendo o massacre de
1963 um dos mais marcantes, quando quatro crianças negras foram mortas num
atentado racista numa igreja batista na cidade de Birmingham, no Alabama, logo
após o assassinato do ativista Medgar Ever no Mississippi. Os fatos despertaram
um sentimento novo em Simone, que percebeu o significado de ser negra nos
Estados Unidos. Um momento crucial para a carreia da cantora, que resolveu
transformar a sua arte em política, tornando-se num símbolo de expressão dos
direitos civis e da luta do movimento negro.Suas canções destacavam uma
mensagem de luta de todo o povo negro diante da dura vida como a que teve nos
EUA, com descriminação e perseguição política. Em 1964 fez uma homenagem a
Medgar Evers, ativista da luta pela igualdade que foi assassinado no Mississipe
por um membro da Ku Klux Klan. A canção se chama Mississippi Goddamn (Maldito Mississipe). O
primeiro e duro recado da artista para as injustiças do país veio com
‘Mississippi Goddam’ (Mississippi puta que o pariu na tradução livre), que
expressa toda a sua raiva e indignação acerca da situação dos homens e mulheres
negros dos EUA. A faixa era um hino político e as suas letras cheias de raiva e
desespero contrastavam com o conhecido repertório da artista e deixavam claro o
objetivo de Simone de usar a sua música como mais um instrumento a favor dos
direitos civis.
Determinada, Simone continuou mergulhada num momento
considerado decisivo para a comunidade negra e continuou a dedicar toda a sua
produção musical ao assunto. Em 1968, o movimento dos direitos civis sofreu
outro duro golpe, a morte de um dos seus principais líderes, Martin Luther
King, morto aos tiros em 4 de abril de 1968. O facto mexeu muito com Sinome que
mais uma vez recorreu ao talento musical para expressar os seus sentimentos e
escreveu a canção ‘Why? The King of Love is Dead’ (‘Porquê? O Rei do amor está
morto’ na tradução livre), cantada por ela três dias depois numa performance
emocionante no enterro de Doctor King. No ano seguinte Simone, grande amiga da
escritora Lorraine Hansberry, gravou um dos hinos dos direitos civis, ‘To Young
Gifted and Black’, homenagem ao trabalho da amiga, conhecida por usar a arte
como ativismo em prol dos negros e também por despertar a consciência política
de Nina. No entanto, a guinada política de Nina não trouxe apenas benefícios
para a cantora, que passou a ser negligenciada e evitada pelas casas de músicas,
gravadoras e parte do público, que evitavam envolver-se diretamente com a
causa. Esgotada com a violência dos conflitos e com a rejeição imposta por uma
cultura ainda racista, Nina Simone resolveu afastar-se dos holofotes e deixou
os Estados Unidos em 1970. Morou em Barbados, e em seguida passou um longo
período na Libéria, depois Suíça, Holanda e França, onde acabou por fixar
residência.
O movimento dos direitos civis deixou feridas profundas na
sociedade norte-americana ao mesmo tempo que inspirou e inspira jovens
dispostos até hoje a mudar a realidade de homens e mulheres negros. Tal como
antes, as artes e especialmente a música tem vindo a exercer um papel
fundamental nas mudanças. Nomes como Erykah Badu, Lauryn Hill e muitos outros
beberam na fonte e seguiram os corajosos passos de Nina Simone na procura por
uma sociedade que precisa de aprender de uma vez por todas a conviver com as
diferenças. Nina Simone faleceu em 21 de abril de 2003 na França deixando um
legado ímpar para o mundo da arte e emblemático para a luta pelos direitos
civis e igualdade racial. Uma mulher com
uma competência artística indiscutível e uma sensibilidade rara para tratar das
desigualdades sociais, apontando a necessidade da luta pela sua superação
revolucionária. O BLOG da LBI presta com esse artigo nossa homenagem a esta
talentosa cantora, musicista e militante da luta contra o racismo e o
capitalismo!