terça-feira, 9 de junho de 2020

07 ANOS DAS “JORNADAS DE JUNHO” EM TEMPOS DE PROTESTOS ANTIFASCISTAS: UM BALANÇO MARXISTA DAS MANIFESTAÇÕES QUE QUESTIONARAM A FRENTE POPULAR, ABRINDO CAMINHO PARA O GOLPE PARLAMENTAR QUE APEOU O PT DA GERÊNCIA DO ESTADO BURGUÊS


O BLOG da LBI publica nesse mês artigos dedicados as “Jornadas de Junho” que completam 07 anos em 2020. Elaborados em pleno desenvolvimento dos protestos nacionais de junho de 2013, esses textos produzidos pela LBI no calor dos acontecimentos tem o mérito de ser a primeira elaboração na esquerda a caracterizar a dinâmica contraditória e difusa das manifestações, que começaram com a justa luta juvenil contra o aumento das passagens de ônibus dirigida pelo MPL e apoiada pela militância LBI com um claro corte de esquerda, mas acabaram sendo controladas pela direita “verde-amarela” que impôs junto com a bandeira do “apartidarismo” uma pauta reacionária que foi sequestrada pela Rede Globo, abrindo caminho para uma “onda conservadora” que tem seus efeitos nefastos evidente nos dias de hoje. Pode-se fazer até um paralelo com a greve dos caminhoneiros que seguiu um curso inverso, acabando por se chocar diretamente com o governo neoliberal de Temer ao canalizar o justo ódio popular contra o ajuste neoliberal, apesar de inicialmente suas reivindicações terem sido apoiadas por empresas de transporte de cargas. Nos seis textos que publicamos sobre as “Jornadas de Junho” polemizamos tanto com a chamada “oposição de esquerda” (PSTU, PSOL) que apresentava as “jornadas” como a antevéspera da revolução como também com a Frente Popular que apregoava que os protestos eram orquestrados somente pela direita e o PSDB. O pleno acerto teórico do prognóstico realizado pela LBI, a despeito de todas as caracterizações impressionistas da esquerda revisionista nesta ocasião, nos impediu de cair no erro gravíssimo que marcou todos os balanços históricos da esquerda sobre as multitudinárias mobilizações de junho de 2013, dando-lhes um apoio acrítico que produziram sérios equívocos programáticos de como enfrentar a atual conjuntura nacional marcada por um golpe parlamentar em 2016 e da emergência do neobonapartismo no país, representado pela famigerada “Operação Lava Jato” patrocinada pela Casa Branca. Hoje publicaremos o primeiro artigo da série sobre as “Jornadas de junho”, um texto elaborado logo no início dos protestos então dirigidos pelo MPL, que questionavam o aumento das passagens de ônibus com famoso eixo “não é só pelos 20 centavos”, manifestações apoiadas pela LBI por seu caráter progressivo, tanto que foram duramente reprimidas pelos governos do PT e PSDB! Esse debate ainda se faz mais necessário quando estão em curso agora as manifestações puxadas pelas “Antifas”.          

ARTIGOS HISTÓRICOS

1 - Todo apoio aos “vândalos e baderneiros” do MPL! Solidariedade aos presos políticos dos governos Alckmin/Haddad!
(12.06.2013)

2 - Protestos da juventude sem um eixo programático e uma direção classista podem ser canalizados pelo “PIG” para um viés reacionário
(18.06.2013)

3 - Marchas nacionais de protesto no Brasil: Que rumo seguir?
(19.06.2013)

4 - Falsa simetria entre “Diretas Já”, o “Fora Collor” e as atuais mobilizações pode levar a esquerda a cometer gravíssimos equívocos
(21.06.2013)

5 - Os Marxistas revolucionários devem apoiar a campanha pelo “Fora Dilma” no curso dos atuais protestos nacionais?
(23.06.2013)

6 - Para o Brasil não girar à direita, o movimento operário deve ser o protagonista do cenário nacional
(Editorial do Jornal Luta Operária Nº 260, Junho/2013)

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TODO APOIO AOS “VÂNDALOS E BADERNEIROS” DO MPL! SOLIDARIEDADE AOS PRESOS POLÍTICOS DOS GOVERNOS ALCKMIN/HADDAD!
(12 DE JUNHO DE 2013)

Nos últimos dias a capital paulista está sendo palco de massivos protestos populares contra o aumento da passagem de ônibus. À frente das marchas estão em sua maioria estudantes e ativistas ligados ao Movimento pelo Passe Livre (MPL). A PM do governador Alckmin e a Guarda Municipal do prefeito Haddad estão reprimindo duramente as manifestações, que já contabilizam mais de vinte presos políticos. A justiça burguesa impôs uma fiança de 20 mil reais para uma parte dos companheiros detidos por se manifestar contra mais este ataque às condições de vida dos trabalhadores e do povo pobre, outros dez companheiros sequer tem este “direito”! Em uníssono, a burguesia, seus meios de alienação de massa tendo como ponta de lança a Rede Globo e os governos burgueses do PT e PSDB, vem acusando os manifestantes de “vândalos e baderneiros” porque para se defenderem dos ataques do aparato de repressão (que disparam centenas de bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha, além de dar bordoadas com cassetetes) fazem barricadas com lixo, fecham ruas e reagem como podem à repressão policial! Desde a LBI e da Juventude Bolchevique publicamente prestamos todo nosso apoio incondicional aos “vândalos e baderneiros” do MPL e afirmamos claramente que a luta contra o aumento das passagens no transporte coletivo deve se radicalizar ainda mais e se unificar nacionalmente com os companheiros do Rio de Janeiro, Goiânia e Natal para vencer os empresários e seus governos de “direita” e “esquerda”. Neste momento, o conjunto do movimento popular, sindical e estudantil que não está cooptado pelas verbas estatais deve se unificar em solidariedade aos presos políticos dos governos Alckmin/Haddad acusados de danos ao patrimônio e formação de quadrilha, organizando um ato nacional em defesa dos companheiros encarcerados e pelo passe livre já!

A cada dia que as manifestações crescem, ganhando a simpatia da população extorquida com o aumento, a mídia venal e os governos burgueses atacam os lutadores, para isolá-los e derrotá-los. O fascitoide Alckmin (PSDB), membro da Opus Dei e que vai galgando rapidamente o posto de homem forte da direita nacional no Brasil, declarou ser “intolerável a ação dos baderneiros e vândalos destruindo o patrimônio público, eles devem pagar por isso” (G1, 12/06). Mas não só o tucanalha destilou seu ódio de classe contra os manifestantes. O prefeito Haddad (PT) logo reforçou sua cantilena reacionária dizendo: “Eu disse e repito que não vou dialogar em uma situação de violência, falei várias vezes. A renúncia à violência é pressuposto ao diálogo” (Idem). As declarações foram dadas após a apresentação em Paris, na França, da candidatura de São Paulo para sediar a Expo 2020, onde ambos estão unidos para “vender” o país para as transnacionais imperialistas e aprofundar as chamadas Parcerias Público-Privadas (PPPs). Em São Paulo, a prefeita em exercício da capital, Nádia Campeão, do PCdoB, mesmo partido que dirige a UNE e a UBES também atacou os estudantes que protestam contra o aumento: “Acho que, depois dos acontecimentos nessas três manifestações, a vontade dos manifestantes não é dialogar. Os métodos utilizados afastam o diálogo, não aproximam. Não podemos aceitar que o objetivo seja criar transtorno. O diálogo nessas condições não é possível” (Ibdem). Como se vê, todo espectro político burguês se unificou contra as manifestações justamente porque defendem os interesses dos empresários dos transportes, suas campanhas eleitorais milionárias no circo da democracia dos ricos foram bancadas pelos consórcios capitalistas. Agora, Alckmin, Haddad e Nádia, não fazem mais de devolver o “investimento” destes tubarões, que auferem lucros astronômicos enquanto o povo pobre se locomove em ônibus lotados e sucateados, além de impor arrocho salarial a motoristas e cobradores!

O que estamos vendo nas ruas de São Paulo e em outras capitais do país é a luta direta contra os ataques às condições de vida do povo pobre e da juventude explorada. Por isto, as barricadas, queimas de ônibus, pichações e ateamento de fogo no lixo nas ruas para impedir o avanço policial é um método legítimo de autodefesa dos oprimidos e lutadores. A lenga-lenga sobre a “destruição do patrimônio público” vindo da boca dos governos do PSDB e PT só pode ser uma piada de mau gosto. Seus gerentes no município, estado e em nível federal são responsáveis de entregar várias estatais e empresas públicas (Vale, Telebrás, CSN...), estradas, portos, aeroportos e o petróleo para as transacionais e os grupos privados a preço de banana ou ainda com o subsídio de bancos públicos como a Nossa Caixa (hoje “Agência Desenvolve SP”), BB e BNDES. O que está em jogo é luta pela sobrevivência dos trabalhadores e do povo pobre! Nesse sentido, os lutadores devem usar os métodos mais radicalizados possíveis para que possam de defender da repressão e avançar no combate nas ruas, já que historicamente são as barricadas e o uso da violência revolucionária que impõem a vitória dos explorados sobre o poder burguês, que usa sua “democracia” dos cassetetes e balas de borracha para impor a “ordem”... tão bem zelada pelos seus gerentes de plantão.

É preciso em particular denunciar firmemente o PT e o PCdoB que nas eleições se dizem contra o “avanço da direita”, mas que ao assumirem os governos não fazem mais do que aplicar seus planos “neoliberais”. A UNE e a UBES, controlada por estes partidos e que cinicamente acaba de publicar uma nota em que “condena aumento das passagens em SP e violência contra manifestantes”, não diz uma palavra sobre o papel abertamente patronal de seus dirigentes partidários a frente da prefeitura de São Paulo. Por isto, no fundo, criticam os “exageros” das manifestações e acaba por indiretamente se somar ao discurso reacionário contra os “vândalos e baderneiros” proferido por Alckmin, este sim o chefe da quadrilha tucana encastelada no Palácio dos Bandeirantes! Lembremos que os manifestantes são acusados dos crimes de dano ao patrimônio e formação de quadrilha, “delitos” que superam os quatro anos de pena! Dos vinte manifestantes presos na noite desta terça-feira, dez companheiros vão responder por dano ao patrimônio e formação de quadrilha, que não prevê sequer fiança, enquanto a justiça arbitrou o valor astronômico de 20 mil reais para os demais ativistas. Eles devem ser transferidos nesta manhã do 78º Distrito Policial, nos Jardins, para o 2º DP, no Bom Retiro, onde aguardarão transferência para um Centro de Detenção Provisória (CDP). O Ministério Público de São Paulo, controlado pelo PSDB, o mesmo que pediu a prisão dos estudantes que ocuparam a reitoria da USP, informou que “irá instaurar inquérito civil público contra os responsáveis pelo quebra-quebra na capital durante os protestos. A Promotoria pretende identificar e responsabilizar legalmente os manifestantes que depredaram patrimônios públicos e privados e causaram congestionamentos” em mais um ataque aberto aos lutadores.

O MPL já programou um novo protesto para esta quinta-feira, 13 de junho, com concentração em frente ao Teatro Municipal na Praça Ramos. Desde a LBI e a Juventude Bolchevique chamamos o conjunto dos sindicatos classistas, o MST, MTST e as entidades populares comprometidas com a luta dos trabalhadores e do povo pobre a se somarem ao protesto, tomando as ruas da capital paulista. Prestamos publicamente todo nosso apoio incondicional aos “vândalos e baderneiros” do MPL e defendemos claramente que a luta contra o aumento das passagens no transporte coletivo deve se radicalizar ainda mais e se unificar nacionalmente com os companheiros do Rio de Janeiro, Goiânia e Natal para vencer os empresários e seus governos de “direita” e “esquerda”. Neste momento, o conjunto do movimento popular, sindical e estudantil que não está cooptado pelas generosas verbas estatais deve se unificar em solidariedade aos presos políticos dos governos Alckmin/Haddad acusados cinicamente de danos ao patrimônio e formação de quadrilha, organizando um ato nacional em defesa dos companheiros e pelo passe livre já, como um passo concreto para realizar um encontro nacional dos lutadores contra o aumento das passagens em ônibus, trem, metrôs e vans, para organizar e centralizar o combate aos governos estaduais, municipais e os grandes tubarões do transporte privado. Caso contrário, por falta de perspectivas, a combatividade latente das massas pode dispersar-se e perder o ímpeto. Defendemos, portanto, que se fortaleça a luta contra o aumento, já em vigor, impulsionando novas mobilizações com um eixo claro de combate: redução das tarifas, passe-livre já e estatização de todo o sistema de transporte coletivo sob controle dos trabalhadores. Só assim as lutas dos explorados não serão em vão, na medida em que tomem em suas mãos o gerenciamento e organização dos transportes. O passe-livre e um transporte público de qualidade para o povo trabalhador só será conquistado através da sua luta tenaz com o objetivo de estatizar sob seu controle direto todo o sistema de transporte, assim como os serviços públicos, para extinguir sua tarifa e tornar melhor suas condições de uso. Enquanto suas concessões estiverem reservadas a empresários em conluio com agentes da administração estatal, o caos e os péssimos serviços nos transportes tenderão a se agravar. É preciso impor a imediata redução da tarifa, até a conquista do passe-livre, assim como exigir a imediata libertação de todos os presos políticos lutadores contra o aumento das passagens, o que coloca na ordem do dia a paralisação das escolas e universidades, o fortalecimento das marchas nos centro das grandes cidades e nas periferias.