sexta-feira, 12 de junho de 2020

TODO APOIO A “CHAZ”: A PRIMEIRA COMUNA DA REBELIÃO POPULAR QUE TOMOU CONTA DOS EUA


Em 8 de junho, a polícia de Seattle teve que deixar uma área da cidade, “sobrecarregada”pelo impulso da rebelião popular desatada ainda no final de maio com o covarde assassinato de George Floyd. Os manifestantes se livraram da polícia e das autoridades, proclamando a "Zona Autônoma do Capitólio Hill”, em inglês: CHAZ! Esse perímetro é considerado uma espécie de Comuna, onde os ativistas de esquerda e anarquistas estabeleceram uma “legislação” independente do Estado Burguês. Nos folhetos e cartazes que os militantes escrevem, exigem o fechamento definitivo da delegacia de polícia e a retirada de toda a atividade de repressão: "Eles sempre serão racistas, porque o capitalismo se baseia na perpetuação da desigualdade". Na Zona autônoma se desenvolvem as atividades políticas e culturais com milhares de pessoas nas ruas o tempo todo. Organizados em assembléia, os ativistas conseguiram sustentar a produção econômica, os serviços básicos e o controle das ruas pela própria rebelião, substituindo efetivamente a atividade policial. O presidente Trump falou sobre os eventos de sua maneira reacionária usual, por Twiter: "Os anarquistas tomaram Seattle", afirmando que o “caos e a violência tomariam conta do lugar”. Um manifestante, apenas identificado como Rooks, declarou a rede CNN, que a manifestação é pacífica. “Não é nada agressivo. Nós não viemos aqui para nada disso. Tudo o que queremos é o que é certo para todo povo, trabalho, saúde e educação”. Já um morador, Christopher Derrah, relatou à CNN que “Há pessoas tendo aulas, palestras, discussões políticas”. Uma funcionária de uma cafeteria próxima, Kate Van Petten, chamou o local de zona antirracista: “Estamos preparando café grátis para os manifestantes e fazendo tudo o que podemos para apoiá-los”, disse ela. A prefeita de Seattle, a Democrata Jenny  Durkan, temendo uma avalanche ainda maior de protestos, respondeu a Trump: “A ameaça de invadir Seattle – dividir e incitar a violência em nossa cidade – não só não é bem-vinda, seria ilegal”.

A experiência das massas com a formação da Comuna Chaz é altamente significativa por varias razões políticas para todo o proletariado norte-americano. Em primeiro lugar, a profundidade da mobilização popular é muito ampla na medida que o aparato estatal de repressão é incapaz de intervir em uma área em que perdeu o controle devido à imensa simpatia social que cerca a CHAZ. A reação generalizada que implicaria a tentativa do regime ianque em retomar toda a região, poderia gerar uma situação de reaquecimento “incontrolável” da luta em todo o país. Segundo, o questionamento da autoridade do Estado Burguês chegou a um ponto muito próximo da consciência de classe socialista, e obviamente as classes dominantes querem “congelar” este processo. A dinâmica da crise do regime republicano começa a ir muito além das questões do racismo policial, para começar a questionar a própria estrutura racista da sociedade capitalista, porém não há uma direção revolucionária para centralizar programaticamente este curso da rebelião. Para sermos mais francos, não há nas manifestações nacionais nem mesmo uma direção da esquerda reformista que galvanize uma plataforma mais avançada, para além dos eixos mais básicos, como o “Black Lives Matter”, já assimilado pelo Partido Democrata. Até intelectuais honestos de esquerda, como Noam Chomsky, já se aventurou para caracterizar que a onda de protestos até agora “Tem zero articulação política - e precisa muito de uma direção estratégica, muito além da revolta óbvia contra a brutalidade policial”.

A “pequena” CHAZ ganha uma gigantesca dimensão justamente agora quando a rebelião atravessa uma fase de clara tentativa de cooptação pelo establishment imperialista, o “pomposo” funeral de Floyd é uma constatação deste velho recurso da burguesia. Em uma longa entrevista dada esta semana ao New York Times, a “sumida” liderança da esquerda reformista, Bernie Sanders, evitou qualquer menção à seu antigo slogan de campanha eleitoral de “revolução política”, suas posições políticas em plena rebelião popular são agora idênticas às de Biden. O vazio de uma direção revolucionária para as massas tende a empurrar a rebelião popular para o campo institucional, concretamente para os braços da candidatura do Democrata Joe Biden, muito alavancada pela profunda crise do trumpismo. É urgente e necessário quebrar este “ciclo de cooptação” das manifestações, retirando suas características de radicalidade e ação direta. Não por coincidência todos os setores da burguesia, até mesmo os antigos “negacionistas” como Trump, disseminam agora a chegada de uma “segunda onda da pandemia”, o que de fato não se verificou em nenhum relatório sanitário sério. As classes dominantes buscam parar o movimento de massas com todas as justificativas fraudulentas. Os Marxistas Leninista não devem se prostrar diante das manobras de cooptação da burguesia ianque dita “progressista”, intervir ativamente na rebelião, com um programa de transição socialista e uma militância aguerrida, é a tarefa crucial colocada neste momento decisivo da luta de classes.