domingo, 7 de junho de 2020

O BOLSONARISTA PADRE MANZOTTI E O “PROGRESSISTA” PAPA FRANCISCO: DUAS FACES DA MESMA IGREJA CATÓLICA... CADA UM, A SEU MODO, SUSTENTAM O CAPITALISMO USANDO A RELIGIÃO COMO “ÓPIO DO POVO”


Ganhou grande destaque a denúncia de que o reacionário Padre Reginaldo Manzotti e setores “conservadores” da Igreja Católica ofereceram apoio ao neofascista Bolsonaro em troca de verbas estatais. Padres e leigos direitistas que controlam parte significativa do sistema de emissoras católicas de rádio e TV ofereceram “mídia positiva” para ações do presidente. Em contrapartida, pediram publicidade estatal e coutorgas para expandir sua rede de alienação de massa via a religião como “ópio do povo”. A proposta foi feita em 21 de maio, durante videoconferência com a participação de Bolsonaro, sacerdotes, parlamentares e representantes de alguns dos maiores grupos católicos de comunicação. Entre os participantes estavam o padre bolsonarista Reginaldo Manzotti e o empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida.  Eles pediram acesso ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, à Anatel e principalmente à Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que controla vergas. O encontro virtual foi intermediado pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), com a Frente Parlamentar Católica. Eles são ligados à ala que diverge politicamente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) dentro da Igreja, entidade considerada “progressista” que segue a linha do Papa Francisco. “Nós somos uma potência, queremos estar nos lares e ajudar a construir esse Brasil. E, mais do que nunca, o senhor sabe o peso que isso tem, quando se tem uma mídia negativa. E nós queremos estar juntos”, observou Manzotti, dirigindo-se ao presidente. Logo a esquerda reformista sai a ressaltar as diferenças entre Manzotti e o Bergoglio, o papa Francisco, tido como “progressista”. Não restam dúvidas da justeza de denunciar o reacionário Manzotti, mas sem cair na apologia ao atual papa como “rezam” os reformistas. Como Revolucionários, estamos com Marx quando na Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, pontua que “A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo”... Essa reflexão marxista sintetiza as duas faces da religião, tão personificada em Manzotti e Bergoglio! Lenin já nos ensinava que a luta ideológica da classe operária para romper com o garrote da religião é parte do seu combate para libertar o proletariado da escravidão capitalista. Os revolucionários bolcheviques continuam essa batalha, denunciando não só a cruzada reacionária representada pelos papados conservadores, mas delimitando-se também com o chamado “clero progressista”, que trafica, por outra via, um programa socialdemocrata que representa um obstáculo à libertação dos trabalhadores através da revolução proletária.

Muito se tem falado do papel “progressista” e até mesmo “revolucionário” que assumiu o Papa Francisco desde que foi entronado no comando do Vaticano. Considerado inicialmente como um conservador que teria colaborado inclusive com a ditadura militar argentina, o pontífice foi aos poucos ganhando espaço e simpatia de setores da “esquerda” domesticada que volta e meia, como é o caso em questão, saem a saudar com entusiasmo seu mandato “renovador” e até mesmo “subversivo” na Igreja Católica. Bergoglio deseja construir uma corrente política internacional de “esquerda” socialdemocrata em defesa da velha teoria do capitalismo com “rosto humano” e, em sua peregrinação, combate arduamente o Marxismo e o Leninismo, ao melhor estilo Carthago delenda est.

Na verdade, não há nada de novo no que defende o Papa Francisco contra a ala coservadora representada por Manzotti, trata-se da surrada cantilena da “justiça social” como uma forma de convencer aos explorados de que é possível dentro do capitalismo conviver harmonicamente as classes sociais desde que haja a “distribuição da riqueza” e não a destruição revolucionária da burguesia e seu Estado, uma crença equivalente a ilusão na existência do “paraíso” no reino dos céus! O Papa Francisco não pretende alimentar nenhum movimento contestador e “progressista” no interior da Igreja como foram de fato as comunidades eclesiais de base no final da década de 60 (inspiradas nas mudanças implementadas pelo Papa João XXIII) e que se chocavam abertamente com o poder do latifúndio, as ditaduras militares, a reação burguesa e a chamada “ala conservadora” do clero, muito de seus seguidores na Igreja Católica inclusive pagando com a vida pela “opção preferencial pelos pobres”. Longe disto, Bergoglio pretende impulsionar um agrupamento político que utilizando esta demagogia social lhes abra espaço no interior das instituições parlamentares de poder da burguesia, demarcando pela direita claramente com o comunismo, a revolução e até mesmo com os governos da centro-esquerda burguesa. Segundo as palavras do Papa, “Terra, teto e trabalho. É estranho, mas se eu falo disso, o Papa é um comunista. Não se compreende que o amor pelos pobres é o centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho, aquilo para o qual vocês lutam, são direitos sagrados. Exigir tais coisas, de fato, não é algo estranho, é a doutrina social da Igreja”. Como podemos observar, trata-se da velha teoria do capitalismo com “rosto humano” em contraposição a revolução proletária e a expropriação da burguesia enquanto classe pela via da violência revolucionária.

Os conceitos básicos do marxismo demonstram que as grandes conquistas operárias e sociais dos países capitalistas centrais (terra, teto, trabalho) jamais podem ser implementadas nos periféricos não pela ausência de “justiça social” mas porque estes pertencem a uma cadeia mundial de divisão das forças produtivas onde seu papel econômico é alimentar as metrópoles imperiais, com a rapinagem de suas riquezas naturais e também com a mais-valia do seu proletariado urbano e rural!

A Igreja Católica e seu papado historicamente se colocaram em defesa da classe dominante contra os explorados. Desde o declínio do império romano e a transição para a Idade Média, em 313 d.C (Édito de Tolerância, de Constantino), quando o cristianismo passa a ser reconhecido como religião do império, a Igreja começa a crescer a partir das benesses do senhorio feudal (Cruzadas como acumulação de terras, corrupção eclesial etc.) e, posteriormente, no capitalismo (acumulação primitiva de capital), sob a frondosa guarita da burguesia e a exploração do proletariado. Assim, “as enormes riquezas acumuladas pela Igreja, sem qualquer esforço da sua parte, vêm da exploração e da pobreza do povo trabalhador. A riqueza dos arcebispos e bispos, dos conventos e paróquias, a riqueza dos donos das fábricas, e dos comerciantes e dos proprietários de terras, é comprada ao preço de esforços desumanos dos trabalhadores da cidade e do campo. Qual é a única origem das dádivas e dos legados que os ricos senhores fazem à Igreja? Obviamente que não é o trabalho das suas mãos e o suor dos seus rostos, mas a exploração dos trabalhadores que trabalham sem descanso para eles; servos ontem, assalariados hoje...” (Rosa Luxemburgo, O Socialismo e as Igrejas). A Igreja Católica concentra o que há de mais retrógrado e reacionário no capitalismo em sua expressão anticomunista e obscurantista. A perseguição a teólogos “progressistas” é apenas a ponta do iceberg. Na verdade, a mola propulsora da Igreja nos últimos 100 anos tem sido o combate implacável ao socialismo e os Estados operários surgidos após a Revolução de Outubro. Este último elemento é o sustentáculo desta instituição multinacional contrarrevolucionária serviçal do imperialismo.

A disputa pelo controle de um aparato estatal decadente, nas entranhas do Vaticano, levaram a uma situação de ingovernabilidade do Papa Bento16, forçando-o a uma renúncia quase que inédita na instituição, já que a anterior ocorreu a cerca de 600 anos atrás. O minúsculo Vaticano tem o status e soberania internacional de um país, apesar de não possuir nenhum cidadão natural do pequeno enclave incrustado na cidade de Roma (não existe sequer uma maternidade no Vaticano). Este anacrônico status, chancelado pela ONU, permite a Igreja Católica manejar suas “santas” e abundantes finanças sem a intromissão e fiscalização de nenhum organismo monetário (italiano ou europeu), concedendo a seu banco estatal (fundado em 1942 em plena II Guerra Mundial) a condição do maior paraíso fiscal do planeta. A mídia tem relatado casos de lavagem de dinheiro da Máfia italiana e da maçonaria pelo banco do Vaticano, mas estas denúncias são apenas a “ponta do iceberg”. A verdade é que as grandes transnacionais e corporações financeiras internacionais tem no Banco do Vaticano um “porto” bem mais seguro do que a Suíça ou os paraísos fiscais do Caribe. Comenta-se nos bastidores da chancelaria que até o poderoso FED norte-americano tem volumosos depósitos no Vaticano, lastreando em ouro físico seus bem cotados títulos financeiros.

O argentino Bergoglio, primeiro papa sul-americano foi eleito como parte de um plano estratégico na busca de pôr fim à crise ética e moral na Igreja Católica, mergulhada nos inúmeros crimes de pedofilia cometidos, além de escandalosos casos de corrupção e de lutas fratricidas no interior do Vaticano. Para isso, foi orquestrado o embuste de um papa com imagem vinculada a valores franciscanos, sobretudo fazendo apologia à humildade e a dedicação à pobreza. A criação deste personagem que simboliza a simplicidade em oposição à ostentação típica do “modus vivendi” do chefe máximo da Igreja Católica (tipo Ratizger) e de seus asseclas como Manzotti, faz parte do arsenal de maquinações engendradas pelas máfias que constituem o conselho de cardeais do Vaticano. Manobra teatral idêntica, embora pontual, foi realizada pelo papa Alexandre VI, da família Borgia, no século XV, quando durante a rendição de Roma à invasão francesa e a possibilidade de sua deposição, recebeu em audiência o Rei Carlos VIII, devidamente fantasiado de “franciscano”, para dissimular humildade e com isso conquistar a empatia do monarca francês.

Através de uma megacampanha midiática, a classe dominante tenta a todo o custo concretizar no imaginário do conjunto dos explorados a figura de Bergoglio como “o papa dos pobres”, um líder religioso probo e de confiança. Quanto mais real esse quadro se tornar, mais se fortalecerá o Vaticano, mesmo sem qualquer mudança em seu programa ultraconservador. Da mesma forma, mais credenciará o Papa Francisco para cumprir o papel de representante dos interesses ideológico-políticos do imperialismo e da contrarrevolução. Na verdade, não há nada de novo no que defende o Pontífice, trata-se da surrada cantilena da “justiça social” como uma forma de convencer aos explorados de que é possível dentro do capitalismo conviver harmonicamente as classes sociais desde que haja a “distribuição da riqueza” e não a destruição revolucionária da burguesia e seu Estado, uma crença equivalente à ilusão na existência do “paraíso” no reino dos céus! 

Como Marxistas Leninistas (ateus e materialistas) caracterizamos a Igreja Católica como um instrumento secular e contemporâneo da dominação imperialista. Denunciamos o papel contrarrevolucionário da instituição na chamada “Guerra fria”, tendo dado uma “contribuição” decisiva no crescimento do sindicato “Solidariedade”, fabricando a liderança sindical “amarela” do polonês Lech Walesa. Na eliminação das conquistas operárias dos Estados do Leste Europeu, o então Papa Karol Wojityla atuou como um verdadeiro “ponta de lança” ideológico do sinistro governo Reagan. Os princípios do “livre mercado”, na Igreja, são bem mais profundos e arraigados do que os da “fraternidade” e “igualdade” que diz reivindicar o cristianismo. Na atual ofensiva imperialista contra povos e nações, sendo o nacionalismo burguês o adversário político e militar da “hora”, produto da derrota histórica já sofrida pela maioria dos regimes stalinistas, o Papa Bergoglio, mascarado de Francisco I, é uma peça fundamental e exatamente por isso foi “ungido” à condição de interlocutor de “Deus” na barbárie humana do capitalismo.

Para os Marxistas Revolucionários, apesar do enorme retrocesso histórico na consciência das massas, não resta a menor vacilação ideológica em manter firme a denúncia vigorosa da instituição “paraestatal” (o Vaticano só é considerado um Estado para benefício das máfias eclesiais que detém imunidade internacional diplomática) mais reacionária do planeta, assim como de seu chefe maior: o Papa! Nesse combate, denunciamos com vigor revolucionária todas as facetas da Igreja Católica, como o reaça Manzotti, ambos a seu modo utilizam a religião como “ópio do povo” para sustentar o capitalista.