Enquanto se derrubam estátuas de representantes da escravidão colonial no
mundo em meio o movimento anti-racismo Black Lives Matter, ganhou amplo
destaque que um monumento homenageando Lenin foi inaugurado nesse sábado, 20.06, na Alemanha. O
ato politico ocorreu na cidade de Gelsenkirchen, oeste do país. A estátua de 2,15 metros
de altura, foi originalmente feita na República Tcheca, em 1957. Cerca de 800
pessoas compareceram à inauguração da estátua de metal na cidade situada na
região do Ruhr, local onde flutuam as bandeiras vermelhas. Saudamos a
iniciativa em homenagem ao lendário dirigente Bolchevique e aproveitamos a oportunidade para polemizar com os pseudo
trotskistas que apoiaram a derrubada das estátuas de Lenin na URSS e no Leste
Europeu durante a contrarrevolução dos anos 1989-1991, saudada por esses
grupos como verdadeiras “revoluções políticas”. Se de uma maneira simbólica a derrubada das
estátuas de escravocatas simboliza rejeitar as memórias da Europa colonial
civilizada que amputou as mãos dos negros no Congo para não desperdiçar balas,
que costumavam matar populações inteiras na Índia, que caçavam escravos na
África e depois os esmagavam trabalhando na América, os monumentos a Lenin
simbolizam o apoio a luta pelo comunismo no mundo! Reproduzimos abaixo o artigo histórico publicado em dezembro de 2013 no BLOG da LBI polemizando com os correntes
revisionistas do trotskismo (LIT, UIT, PO, PCO...) que saudaram a derrubada das
estátuas de Lenin tanto na época da restauração capitalista como em 2014 na
Ucrânia.
DERRUBADA DAS ESTÁTUAS DE LENIN NA UCRÂNIA: UMA REEDIÇÃO NO
SÉCULO XXI DA “REVOLUÇÃO POLÍTICA” SAUDADA PELOS REVISIONISTAS NA QUEDA DA URSS
E DO MURO DE BERLIM?
A estátua de Lênin derrubada em praça pública, bandeiras
vermelhas com o símbolo da foice e martelo pisoteadas por grupos fascistas e
manifestações exigindo a “unificação” com a Europa. Estas cenas em muito se
parecem com o que ocorreu em 1989 na época da derrubada do Muro de Berlim na
Alemanha Oriental (RDA) ou em 1991 com o fim da URSS, mas estão se passando
nestes exatos dias na Ucrânia, mais particularmente na capital do país, Kiev. O
estopim foi a negativa do governo ucraniano, ligado à Rússia de Putin, de se
integrar a União Europeia e seu draconiano pacote de ataque às mais elementares
conquistas sociais. Quando houve a restauração capitalista da União Soviética e
do Leste Europeu, há mais de 20 anos (89-91) ocorrendo exatamente as cenas que
hoje se passam na Ucrânia, as correntes revisionistas do trotskismo, como PSTU
e PCO, apresentaram estes acontecimentos como uma “vitória revolucionária das
massas”. Os morenistas seguem até hoje com esta caracterização e inclusive
apresentam as atuais manifestações pró-imperialistas que ocorrem na Ucrânia
como parte da “revolução” que derrotou o stalinismo no passado, já que a
ligação entre o atual presidente ucraniano Viktor Yanukovich com Putin
representaria a manutenção dos laços políticos e econômicos com a Rússia, que
ainda influencia parte das antigas repúblicas soviéticas. Já Causa Operária,
que hoje critica as posições pró-imperialistas da LIT, finge ser defensista e
contra a restauração capitalista, era uma das correntes mais fervorosas na
defesa da suposta “revolução política” na RDA e na URSS, posição
contrarrevolucionária que inclusive levou a nossa ruptura programática com esta
seita revisionista e a fundação da LBI, como iremos recordar para os mais
“esquecidos” neste artigo.
A posição pró-imperialista da LIT sobre o Leste Europeu e a
URSS data do final da década de 80, quando da queda do Muro de Berlim e da
URSS. Já em 91, a LIT saudava a vitória do bêbado restauracionista Yelstin
sobre o bando dos oito generais, ligados à linha dura do stalinismo, como a
“revolução de agosto na URSS”. Entusiasta defensora da onda restauracionista
que se abateu nos Estados operários burocratizados do Leste, a LIT esteve na
mesma trincheira do imperialismo ao defender as inexistentes “revoluções
políticas”, que deram início à liquidação completa das conquistas sociais de
Outubro na URSS e no conjunto da Europa do leste, em nome da implantação da
“democracia e das liberdades civis”. Quando o imperialismo, em 89, através de
um acordo entre Bush pai, Helmut Kohl e Gorbachev acertou as bases para a
pilhagem da Alemanha Oriental (RDA), através de sua anexação à Alemanha
capitalista, a LIT levantava a consigna, em êxtase, que a revolução em curso na
Alemanha demonstrava categoricamente que “agora é a vez do trotskismo”. Sem
nenhum regozijo, a história provou que tendo como referencial o marxismo
revolucionário, o justo era afirmar “agora é a vez do capitalismo”. Já em 2005,
ou seja, quase quinze anos após o início da contrarrevolução social aberta
nestes países, que os reduziram à condição de semicolônias dos imperialismos
europeu e ianque, a ofensiva da Casa Branca para pôr fim à influência da Rússia
burguesa, através de regimes alinhados a Moscou sobre essas repúblicas
satélites (Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, etc.) foi saudada como uma nova
“revolução” pela LIT, uma “situação avançada de ascenso das massas”. Tamanha
capitulação à propaganda pró-imperialista, vinda de uma corrente que ainda tem
o cinismo de se reivindicar “trotskista”, deve ser combatida política e
teoricamente pelos revolucionários, porque macula o legado do velho bolchevique
e educa no pântano do revisionismo mais vulgar as novas gerações que não
vivenciaram o fim da URSS, mas têm conhecimento da barbárie que se tornou a
vida da população da Rússia e dessas repúblicas após a restauração. O que
estava (e está) em curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a
países capitalistas atrasados, é a segunda etapa da restauração capitalista.
Nessa fase, os EUA e o imperialismo europeu desejam impor títeres nos países
que ainda estão sob a influência do Kremlin e mantêm relações políticas e
econômicas privilegiadas com a Rússia. Foram manifestações como as “revoluções
das rosas” na Geórgia ou a “revolução laranja” da Ucrânia, designações,
inclusive batizadas por Condoleezza Rice, na época Secretária de Estado dos EUA
e copiadas nada originalmente pela LIT, que buscam dar um verniz popular a esse
processo de mudança de regime político em favor dos EUA e das potências
capitalistas europeias. A LIT defendeu, e continua a fazê-lo, em nome do
combate ao pretenso resquício do “totalitarismo stalinista” nas antigas
repúblicas soviéticas, a política de reação democrática da Casa Branca. Foi
esse mesmo “norte programático”, as famosas “Teses de 90”, que guiou a LIT para
ser ventríloquo do imperialismo, quando esse em nome das “liberdades
democráticas” patrocinava “manifestações populares” para pôr fim aos Estados
operários burocratizados, “revoluções” inexistentes que impuseram o “gosto
amargo” para as massas da restauração capitalista e seus trágicos efeitos
(fome, miséria, prostituição, desemprego) e tornaram as economias desses países
completamente controladas pelos monopólios. O conceito de “revolução” que a LIT
aplica na Ucrânia, Geórgia e Quirguistão, como adotou no passado na Rússia e
RDA no final dos 80 e início dos 90, não passa de uma prostituição da defesa
que Trotsky faz da revolução política contra o stalinismo nos Estados operários
burocratizados. O dirigente Bolchevique defendia uma revolução conduzida por um
partido operário que eliminasse o regime político parasitário da burocracia
stalinista preservando as bases sociais do Estado operário, um processo
impossível de ocorrer atualmente nesses países, já que são capitalistas e
dirigidos por governos burgueses, até então alinhados ao governo burguês de
Putin na Rússia. Nesses países, a tarefa das massas é a de lutar por uma
revolução social proletária, a expropriação dos meios de produção e pela
ditadura do proletariado.
O apoio à restauração
capitalista na URSS foi levado a cabo não só pela LIT, mas pela esmagadora
maioria das correntes pseudotrotskistas no Brasil, como o PCO, TPOR e O
Trabalho (PT). Esta onda arrastou o conjunto da esquerda que, ao condenar as
“ditaduras totalitárias stalinistas”, aliava-se com a nascente burguesia
restauracionista “em defesa da democracia”. Romperam, desta forma,
completamente com o critério de Trotsky que defendeu até os últimos dias de sua
vida a URSS, mesmo stalinizada, da ofensiva imperialista interna e externa,
chamando a vanguarda proletária a preparar as bases da revolução política
contra a burocracia parasitária enquanto defendia incondicionalmente o Estado
operário e suas conquistas, apesar de Stálin. No curso dessa tarefa, na mesma
trincheira de classe de defesa da URSS, os revolucionários lutam pela
construção de um genuíno partido revolucionário para se postar como alternativa
de direção das massas no combate decisivo pela democracia soviética. A posição
acima foi defendida pelo núcleo de militantes que rompeu com Causa Operária em
1995 e deu origem a LBI. Na época denunciamos que o apoio integral dado por
Causa Operária, seguindo a mesma linha do seu então progenitor, o Partido Obrero
da Argentina, à reunificação capitalista da Alemanha (anexação imperialista do
Estado operário burocratizado da RDA), assim como a frente única que
estabeleceram com Yeltsin no contragolpe que destruiu a União Soviética em
1991, significaram a passagem de CO para o outro lado do rubicão de classe,
neste caso concreto, para o lado do imperialismo, que festejou a destruição dos
Estados operários deformados, como o “fim da história”, desencadeando a maior
ofensiva militar, econômica, política e ideológica contra os povos do planeta,
no limiar deste final de século. Como polícia suprema do planeta, o
imperialismo ianque hoje tem as mãos livres para invadir e bombardear países,
recolonizar economicamente continentes inteiros, impondo seus planos de
“ajuste”, que tanto causam fome, desemprego e miséria em nossa América Latina e
na África, além de usurpar conquistas operárias históricas, inclusive no seio
de países imperialistas.
Vejamos o que dizia o
PCO na época, nas palavras de Rui Pimenta, ironizando a defesa que o próprio
Trotsky fez da URSS e atacando a posição defensista da LBI (os grifos e os sic
são do próprio Rui Pimenta): “Segundo os farsantes, contudo, esta seria a
posição do próprio Trotsky: ‘Como Trotski nos ensinou ‘Stalin derrotado pelos
trabalhadores será um passo adiante para o socialismo, Stalin aplastado (sic,
os sábios quizeram dizer ‘esmagado’) pelos imperialistas significa a
contra-revolução (sic) triunfante. Este é o sentido preciso da nossa defesa da
União Soviética em escala Mundial.’ (‘Uma vez mais a URSS e sua defesa’, L.
Trotsky). Já na época dos padres da Igreja e do escolasticismo foi verificado
este grave problema com citações, ou seja, que tomadas abstratamente dão lugar
a todo o tipo de sandices. Então Trotski era a favor de que os trabalhadores, e
não o imperialismo, derrubassem Stalin: extraordinário!... (sic) O único
problema é que as coisas não ocorreram desta forma. O muro de Berlim não foi
derrubado pelas tropas norte-americanas estacionadas em Berlim Ocidental, mas
por um levante popular que sacudiu toda a Alemanha Oriental... Mas os
impostores não conseguiram distinguir a revolução política no panorama do Leste
europeu...” (livreto “Um grupo de impostores políticos”, Rui C. Pimenta,
pp.58-59). Ainda segundo as próprias palavras de Rui Pimenta “... para
construir um partido revolucionário no Leste europeu (em Cuba, na China etc.)
seria, e é, necessário impulsionar o movimento antiburocrático das massas e
disputar no seu interior a sua direção com todas as forças direitistas e
reacionárias que apresentassem suas candidaturas à direção deste movimento...”
(Idem, pág. 60). Para Causa Operária que agora se diz defensora de Cuba e
critica o PSTU-LIT, os trotskistas teriam que estabelecer uma frente única
(movimento antiburocrático) com os “gusanos” e a própria “CIA” norte-americana
em Cuba, por exemplo, caso contrário, estaríamos agindo “...como alguém que
tivesse sofrido lobotomia, apoiando a ditadura da burocracia contra as massas”
(ibdem, pág. 60). Segundo Causa Operária, o próprio Trotsky seria um destes
“lobotomizados” quando defendia, no Programa de Transição, exatamente o
contrário: “Assim, não é possível negar antecipadamente a possibilidade, em
casos estritamente determinados, de uma frente única com a parte termidoriana da
burocracia contra a ofensiva da contrarrevolução capitalista.” (Programa de
Transição).
A destruição contrarrevolucionária dos Estados operários, e
mais particularmente da URSS e da RDA foi apresentada como uma “revolução
política” pelo PCO, que criticou a LBI por não “conseguir distinguir” um
movimento progressivo de um contrarrevolucionário! Ao contrário do que dizia o
PCO, a anexação imperialista da Alemanha Oriental, até então controlada pelo
stalinismo, trouxe consigo desemprego para o proletariado alemão oriental,
perda de suas conquistas históricas, maior presença militar ianque na região
etc., em resumo: uma derrota histórica do proletariado mundial. O Muro de
Berlim significava militarmente a divisão entre as tropas imperialistas da OTAN
(que hoje ameaçam impunemente as ex-repúblicas soviéticas como a Ucrânia) e as
tropas do Pacto de Varsóvia, na época representante militar dos Estados
operários burocráticos. Simbolicamente, era expressão da fronteira de dois
modos antagônicos de produção existentes até então. De um lado, o “livre”
comércio, o mercado “soberano”, a exploração da força de trabalho, o
desemprego, a fome e a prostituição; do outro, o pleno emprego, o monopólio do
comércio exterior, o direito à saúde e educação estatizadas, em síntese, a
socialização da economia, apesar do planejamento autoritário imposto pela
burocracia stalinista. Como nos ensinou Trotsky, os revolucionários não
poderiam hesitar, sob hipótese alguma, de que lado lutariam no confronto entre
o imperialismo e o Estado operário soviético. Apesar do stalinismo, uma
corrente contrarrevolucionária até a medula, estariam na linha de frente
defendendo as conquistas sociais do Estado operário contra o imperialismo e,
neste lado da trincheira, preparando as condições para a derrubada
revolucionária da casta stalinista que, com seus métodos burocráticos de defesa
do Estado operário não faria outra coisa senão preparar, em última instância, a
própria vitória do imperialismo. Um Estado operário, mesmo que degenerado sob a
direção da casta parasitária stalinista, engendra conquistas sociais para o
proletariado, advindas da expropriação da burguesia e da instauração de uma
economia socializada, ou seja, planificada não em função da geração do lucro e
da acumulação privada do capital. Trotsky, nestes países, apontava a
necessidade da realização de uma revolução política para livrar a classe
operária da planificação burocrática da economia, assim como do domínio
político do stalinismo, uma correia de transmissão do imperialismo no interior
do próprio Estado operário. Por isto mesmo, Trotsky procurava estabelecer o
conteúdo de classe das “movimentações antiburocráticas”, para determinar se
eram progressivas, ou seja, rumo à revolução política, ou reacionárias, em
direção à restauração capitalista, mesmo que inconscientemente. Ele próprio a
frente do Exército Vermelho teve que reprimir um levante dos operários
marinheiros de Kronstadt, que naquele momento, apesar dos reclamos
“antiburocráticos”, jogavam objetivamente no campo do enfraquecimento do Estado
operário soviético. Apoiar incondicionalmente qualquer mobilização, levante, ou
panaceias que tenham slogans “antiburocráticos” contra a existência das bases
sociais de um Estado operário significa jogar objetivamente no campo da
contrarrevolução imperialista. Ao vestirem a camisa do time “antiburocrático”
de Yeltsin e CIA, os Altamira, Pimenta, Lambert, Moreno, Lora etc. foram
cúmplices e corresponsáveis políticos na arena mundial pela tragédia social
(restauração capitalista mafiosa) que ocorre hoje nos antigos Estados operários
do Leste europeu.
PSTU, Causa Operária e uma ampla franja dos revisionistas do
trotskismo cometeram uma traição histórica ao perfilar-se ao lado de Yeltsin e
seus asseclas, para liquidar as bases sociais do Estado operário soviético.
Hoje, os efeitos da restauração capitalista na ex-URSS e em todo o Leste europeu
são catastróficos para todos os povos do mundo e, em particular, para os da
antiga pátria soviética e as ex-repúblicas da URSS, como a Ucrânia. A Rússia
teve sua economia arrasada (anteriormente, a segunda economia mundial),
transformando-se em mais uma colônia empobrecida do imperialismo. A fome, o
desemprego, a prostituição infantil, o genocídio dos velhos que perderam até
suas aposentadorias são efeitos da restauração contrarrevolucionária do
capitalismo, ou seja, da vitória do “livre mercado” e da “democracia”! A fração
burguesa dominante comandada a época por Yeltsin e parida das próprias
entranhas da burocracia stalinista, comandou a acumulação primitiva de capital,
através da rapinagem mafiosa das antigas empresas estatais. Mas a restauração capitalista,
para Causa Operária, o PSTU e seus satélites, não passava de uma “revolução
antiburocrática das massas”, o importante mesmo era liquidar o stalinismo,
sendo apenas um “detalhe” de menor importância se, junto com o stalinismo,
caísse também o Estado operário, afinal, a classe operária teria mais
“liberdade” para lutar, sobre os escombros do Estado operário, pelo verdadeiro
socialismo.
Estamos agora, com o avanço da contrarrevolução na Ucrânia,
fazendo nosso “acerto de contas” com o conjunto do revisionismo que hoje
balbucia sobre os efeitos nefastos da restauração capitalista ainda que apoie a
“revolução” na Ucrânia como faz o PSTU ou mesmo se finja cinicamente de
defensista, como o PCO. Trotsky elaborou o “Programa de Transição” e
posteriormente “Em defesa do marxismo” à época em que a URSS sofria a ameaça
real da invasão militar nazista, o que acabou por configurar-se pouco depois.
Mas apesar da ameaça militar externa, Trotsky nunca abordava a questão da
“defesa da URSS” exclusivamente sob esta ótica. Se o PSTU e o PCO se
dispusessem a pelo menos ler com atenção o Programa de Transição, poderia
observar que Trotsky alerta sobre o perigo da “‘Fração Butenko’ entrar em luta
pela conquista do poder”. A “Fração Butenko” nada mais é do que um setor da própria
burocracia stalinista, em contato direto com o imperialismo, que acaba por
romper com seu próprio núcleo original, o stalinismo, para alçar-se como fração
burguesa dominante, mediante a destruição contrarrevolucionária das bases
sociais do Estado operário, ou seja, a socialização dos meios de produção. Como
assinalou Trotsky em seu livro “A Revolução Traída”, não poucos funcionários do
aparelho stalinista serão recrutados pela fração burocrática restauracionista
na empreitada pela destruição do Estado operário soviético e a sua conversão em
um estado capitalista. Para o Partido Obrero, na época guia teórico de CO, o
contragolpe de Yeltsin, que não conseguiu reunir mais de 10 mil funcionários
medianos, deslumbrados com a perestroika, na Praça Vermelha – significou um
verdadeiro levante revolucionário de massas: “As massas abriram caminho da
revolução política e agora abertamente social” (En Defensa del Marxismo, nº 1,
outubro de 1991). E como não houve o “cenário clássico” de uma intervenção
militar imperialista, que segundo estes revisionistas seria a única
possibilidade de defenderem a URSS, acabaram por apoiar entusiasticamente o
bando restauracionista de Yeltsin, justificando-se com o argumento de que
estariam seguindo as “massas”, pouco se importando sob que direção política se
orientavam, ou mesmo por qual setor social eram guiadas.
Uma política justa e revolucionária para aqueles decisivos
dias em que se encontrava a RDA no final de 1989, passava essencialmente por
desmascarar a mitificação que envolvia parte considerável da população do
“paraíso capitalista alemão ocidental”. Um partido revolucionário deveria
engatinhar sua formação no paciente trabalho de propaganda entre a classe
operária, que permaneceu inerte e confusa, diante das mobilizações populares
que exigiam a queda do Muro e a unificação a qualquer custo das duas Alemanhas,
desmistificando politicamente a noção de que os partidos imperialistas da
Alemanha capitalista poderiam garantir melhores condições de vida para o
proletariado oriental, do que a que já tinham conquistado, apesar da opressão
política stalinista. Os autênticos trotskistas deveriam estar na linha de
frente da vigorosa denúncia do controle burocrático da economia e da vida
social do país, que exercia a casta parasitária de Honnecker, mas alertando aos
operários que a unificação com o vizinho imperialista significaria um tipo
ainda pior de opressão, a opressão e exploração imperialista. A luta pela
defesa das conquistas operárias e, portanto, a manutenção das bases sociais do
Estado operário, de forma nenhuma é contraditória com a defesa da liquidação
revolucionária da burocracia stalinista (revolução política). Abdicar desta
batalha, em nome do etapismo contrarrevolucionário dos revisionistas, ou seja,
primeiro as “liberdades democráticas”, para depois lutar pela revolução
socialista, já no marco da restauração capitalista, é sinônimo da pior traição
de classe, que qualquer corrente que se reivindica revolucionária e trotskista
pode cometer. Como se observa, o conjunto dos revisionistas esteve na linha de
frente desta traição histórica ao proletariado mundial.
Hoje, está colocado para o proletariado mundial e,
particularmente, para os trabalhadores das ex-repúblicas soviéticas rechaçarem
as investidas da UE, da OTAN, dos EUA e de seus agentes da Ucrânia. Apesar de
não depositarmos qualquer confiança no governo burguês ucraniano de Viktor
Yanukovych e do ex-burocrata Putin-Medvedev, cuja conduta está voltada a
defender os interesses da nascente burguesia russa, as fricções com a Casa
Branca objetivamente representam um obstáculo à expansão guerreirista da OTAN
na região. Nesse sentido, os revolucionários devem denunciar as manifestações
dos grupos pró-imperialistas e seu caráter contrarrevolucionário, voltado a
fazer na Ucrânia e na própria Rússia uma “transição democrática” conservadora
aos moldes da que vem sendo operada no Oriente Médio. Opomos-nos pelo vértice à
política dos grupos revisionistas, que depois de saudarem a farsesca “revolução
árabe” agora apoiam as manifestações da direita assim como festejaram no
passado as “revoluções das cores” na Ucrânia, Geórgia, Quirguistão. Tais
“revoluções” nada mais eram que a segunda etapa da restauração capitalista em
curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas
atrasados semicoloniais, quando o imperialismo ianque e europeu impuseram
títeres nos governos que ainda estavam sob a influência do Kremlin e mantinham
relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia. Agora, a Ucrânia é
novamente a bola da vez da reacionária ofensiva do imperialismo, que tomou
grande impulso com a derrubada do regime Kadaffi pela OTAN, tendo Yanukovych
como o “adversário” indesejado a ser removido do governo, mas no fundo tendo
como alvo o próprio Putin no Kremlin! Somente genuínos trotskistas que não se
deixaram levar pelo canto de sereia “humanitário” imperialista, que se mantêm
firmes na luta para que os povos oprimidos assumam o controle dos recursos
energéticos do planeta, pela expulsão dos abutres multinacionais e expropriação
do conjunto das burguesias mafiosas, terão autoridade suficiente perante as
massas ucranianas, georgianas, ossetas e russas para conduzir a luta
estratégica por uma Federação de repúblicas socialistas e soviéticas livres,
fundadas por novas revoluções bolcheviques.