Nas duas últimas noites (quarta e quinta-feira 04/06), em
várias grandes cidades do Senegal, os jovens também foram às ruas, queimaram
pneus e bloquearam as estradas para exigir o levantamento do toque de recolher.
O estado de emergência, que foi introduzido em 23 de março sob a justificativa
da epidemia do coronavírus, impôs um verdadeiro “apartheid sanitário”,
confinando os bairros pobres com repressão policial e sem nenhum apoio social e
econômico do Estado capitalista. O “apartheid sanitário” foi acompanhado por um
toque de recolher entre às 21h e 07h e uma proibição da população se deslocar
entre regiões urbanas. Os confrontos com as forças de segurança estão
aumentando e já houve cerca de 100 prisões até o momento. Um jovem manifestante
na cidade de Kaólak está entre a vida e a morte, ele foi atropelado por uma van
da polícia. O exército nacional foi enviado para Dakar, capital do país, para
reprimir as mobilizações da juventude e do povo pobre que exigem primeiro
condições básicas de sobrevivência, como alimentos, renda e saúde universal. Em
Mbacké, um bairro nos arredores de Touba, a segunda maior cidade do país,
manifestantes atacaram a sede local da rádio RFM, que sofreu graves danos
materiais. Esta estação de rádio pertence ao grupo de imprensa privado do
cantor e ex-ministro Youssou N'Dour. Touba foi o principal foco do protestos, o
resultado foram três veículos policiais queimados e uma delegacia, além da
empresa nacional de eletricidade Senelec. O líder religioso da irmandade dos
Mourides, Serigne Mountakha , foi acionado pelo governo, intervindo na
televisão no meio da noite de 02 a 03 de junho para exigir :“Um retorno à calma
na cidade sagrada dos Mourides”. Este movimento muçulmano é considerado a
segunda maior comunidade religiosa do Senegal: “Não permitirei mais que as
pessoas violem a natureza sagrada desta cidade por qualquer motivo. Quem se atreve a ignorar esta recomendação
vai me ver a caminho”, afirmou o reacionário líder religioso, ele prometeu apoiar
o Chefe de Estado que, segundo ele:"Tem um profundo respeito pela cidade
religiosa de Touba", mas as manifestações políticas não cederam. Os
primeiros movimentos de protestos apareceram no fim de semana de 30 de maio, no
Cap-Skiring, um importante centro internacional de turismo, no extremo sul do
país, em Casamance, na fronteira com a Guiné.
Desta vez, não foi o toque de recolher que o causou, mas a falta de água
limpa e potável. Um problema recorrente na região, mas que é de fundamental
importância no momento, quando a lavagem das mãos é um dos tratamentos
profiláticos contra a pandemia. Lá, os jovens foram às ruas para exigir medidas
de emergência. A manifestação foi
dissolvida pela repressão policial, mas
os violentos confrontos deixaram duas pessoas gravemente feridas. Como já
havíamos denunciado no caso da Índia, onde a política do “isolamento social”
levou milhares de pessoas pobres a morte por falta de alimentos, confinadas com
repressão policial em favelas sem a menor assistência do Estado, tudo para que
os pobres “não espalhem o vírus em outras regiões”. O Senegal atravessa uma
situação similar, porém a juventude e a população oprimida começa o movimento
de rebelião, mostrando que os povos da África também lutam bravamente.