CERCO DA BIG PHARMA AS VACINAS CUBANAS: EM DEFESA DO ESTADO OPERÁRIO CONTRA O BLOQUEIO IMPERIALISTA E DA OMS!
Em 1869, aos 15 anos, José Martí e seus jovens amigos
publicaram em Cuba uma revista chamada La Patria Libre (A Pátria Livre), que
adotava uma posição firme contra o imperialismo espanhol. O primeiro e único
número da revista trazia o poema de Martí, “Abdala”, o nome da vacina cubana anunciada com 92% de eficácia no combate a Covid-19 e que vem sofrendo um cerco da Big Pharma e da OMS. As falas de Martí sobre a “bravura bélica” que serve de “escudo” ao país estão na base do nome da nova vacina cubana. A vacina, a quinta produzida em Cuba, foi desenvolvida pelo Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB ) de Havana. Nesta semana, a Venezuela se tornou o segundo país das Américas – depois de Cuba – a começar a usar a Abdala que ainda não foi aprovada pela OMS, controlada pela Big Pharma. O governo Maduro recebeu de Havana a vacina e passou a administrar em áreas da capital o primeiro carregamento da Abdala, oficialmente a Venezuela vai receber cerca de 12 milhões de doses. Essa compra foi violentamente atacada pela oposição golpista financiada pela Casa Branca.
O poema é sobre um jovem, Abdala, que parte para lutar contra todas as adversidades para libertar sua terra natal, que Martí chama de Núbia. “Nem louros nem coroas são necessários para quem respira coragem”, escreveu Martí. "Vamos correr para a luta ... para a guerra, valentes." E no discurso empolgante de Abdala, vêm estas palavras líricas: “Deixe o valor guerreiro de nossas almas... Servir você, minha pátria, como um escudo.” Martí foi preso e condenado a seis anos de trabalhos forçados. Por fim, o governo imperial espanhol mandou o jovem cubano para o exílio em 1871. Ele passou esse tempo - grande parte dele em Nova York - escrevendo poemas patrióticos, produzindo ensaios e comentários políticos e organizando a resistência ao imperialismo espanhol. Ele voltou para casa em 1895, apenas para ser morto logo depois em uma escaramuça, seu legado cimentado na guerra contra os espanhóis em 1898 e na Revolução Cubana que começou em 1959.
Ao anunciar os resultados de seus testes, a BioCubaFarma, a
principal instituição farmacêutica e de biotecnologia do país, observou
que tinha uma taxa de eficácia de 92,28 por cento. A vacina é administrada em três doses, cada uma
administrada com um intervalo de duas semanas.
As autoridades cubanas planejam vacinar três quartos da
população até setembro. Já, mais de 2,23 milhões de vacinas foram administradas
aos 11 milhões de cubanos na ilha, 1,346 milhão de pessoas foram vacinadas com
pelo menos uma dose, 770.390 com a segunda dose e 148.738 com a terceira dose.
Cuba já planejou exportar suas vacinas para países ao redor
do mundo e já produziu cinco vacinas candidatas, incluindo Soberana 02 e a
vacina intranasal sem agulha, Mambisa. Esta último, que é uma grande
promessa para a administração de vacinas
em países com poucos recursos, tem o nome de soldados guerrilheiros que lutaram
na Guerra dos Dez Anos (1868-1878) pela independência da Espanha.
Cada uma dessas vacinas foi desenvolvida sob condições de
coação impostas pelo bloqueio ilegal dos Estados Unidos. Desde 1992, a
Assembleia Geral da ONU vota anualmente contra o bloqueio dos EUA, exceto em
2020, quando, devido à pandemia, não houve votação.
Em 23 de junho, 184 Estados membros das Nações Unidas
votaram novamente pelo fim desse bloqueio. No contexto da pandemia do coronavírus,
o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, disse :
“Como o vírus, o bloqueio asfixia e mata. Deve parar.”
VENTILADORES E SERINGAS
Uma das vítimas do bloqueio foi a impossibilidade de Cuba de
comprar ventiladores para tratar pacientes gravemente enfermos, já que as duas
empresas suíças (IMT Medical AG e Acutronic) que os fabricaram foram adquiridas
por uma empresa norte-americana (Vyaire Medical, Inc.) em abril. 2020. Cuba já
desenvolveu seu próprio ventilador em resposta.
Ao mesmo tempo, Cuba sofre com a falta de seringas. Os
fabricantes de seringas estão envolvidos de uma forma ou de outra com a
indústria farmacêutica dos Estados Unidos. A Terumo (Japão) e a Nipro (Japão)
têm operações nos Estados Unidos, enquanto a B. Braun Melsungen AG (Alemanha) é
parceira da Concordance Healthcare Solutions (EUA). Uma empresa indiana de
seringas, Hindustan Syringes & Medical Devices Ltd., está ligada à Envigo
(EUA), que leva o governo dos EUA até a empresa indiana. Em um ato de solidariedade
concreta, está em andamento uma campanha para arrecadar fundos para a compra de
seringas para Cuba.
Cuba vive 3 apartheids incluem alimentos, dinheiro e
remédios. Qual é a causa desses três apartheids? O controle que um punhado de
empresas exerce sobre a economia global, impulsionado por cinco tipos de
monopólios (o monopólio da ciência e tecnologia, monopólio dos sistemas
financeiros, o monopólio sobre o acesso aos recursos, monopólio do armamento, monopólio
das comunicações). No centro da discussão sobre o apartheid da vacina estão
pelo menos dois desses monopólios: o monopólio das finanças e o monopólio da
ciência e tecnologia. A falta de finanças atrai muitos dos estados do mundo ao
Fundo Monetário Internacional (FMI), a vários investidores públicos (o Clube de
Paris) ou ao capital comercial (o Clube de Londres). Esses financiadores seguem
o exemplo do FMI, que exigiu que os países reduzissem várias áreas cruciais da
vida humana - educação e saúde, por exemplo.
Cortar fundos para educação esgota o potencial dos países de
desenvolver um número suficiente de cientistas, bem como o temperamento
científico necessário para criar tecnologias essenciais, como vacinas
candidatas. Cortar fundos para sistemas de saúde e adotar regras de propriedade
intelectual que bloqueiam a transferência de tecnologia deixa os países
desarmados de serem capazes de lidar adequadamente com a pandemia.
A falta de fundos levou muitos estados a renunciar à
possibilidade de melhorar o bem-estar de suas populações (em abril de 2020, 64
países gastavam mais para pagar o serviço da dívida do que com saúde). Não
basta exigir a transferência de tecnologia aos estados em meio a uma pandemia
para que eles possam fazer a vacina. A tecnologia é a ciência de ontem; a
ciência é a tecnologia de amanhã.
Usar a riqueza social de uma população, ensinar ciências e estabelecer uma norma básica de alfabetização científica são lições essenciais da pandemia. Essas são lições bem aprendidas pelos cubanos. É por isso que Cuba, contra todas as probabilidades, desenvolveu cinco vacinas diferentes, servem de escudo contra a Covid-19. Essas vacinas surgem da produtividade social do Estado operário que apesar de burocratizado não se rendeu ao cerco dos cinco monopólios.