sexta-feira, 9 de julho de 2021

PSTU “MIRA” EM JONES MANOEL E NO STALINISMO... MAS ACABA RENEGANDO TROTSKY E O LEGADO TEÓRICO DA IV INTERNACIONAL

O PSTU escreveu o artigo “Jones Manoel mira em Trotsky, protege Stálin e briga com Lênin” (02.07) em que afirma “Vem se popularizando uma visão equivocada sobre isso. Há uma relativização do que é o stalinismo, com caricaturas do trotskismo e tentando igualar ambos. O principal divulgador disso hoje no Brasil é Jones Manoel do PCB, que diz que ‘não há nada mais parecido que um stalinista e um trotskista’. Nesse debate, o PSTU mira em Jones Manoel e no Stalinismo mas acaba renegando Trotsky e o legado teórico da IV Internacional que defendeu incondicionalmente a URSS apesar de Stálin e da burocratização do Estado operário soviético!

LEIA TAMBÉM: A RESPEITO DA POLÊMICA REABERTA SOBRE DOMENICO LOSURDO: TROTSKISMO NÃO PODE SER CONFUNDIDO COM STALINOFOBIA!

Antes de entrar na polêmica com o PSTU é preciso dizer que o Jones Manoel é militante do PCB com destaque nas redes sociais e na mídia "progressista". Se até 2018 o outrora “Partidão” era “apenas” um apêndice do PSOL e de seu programa socialdemocrata, quando embarcou acriticamente na candidatura presidencial de Boulos, em 2020 o partido de Jones deu um salto de qualidade em sua completa (re)integração a Frente Popular. 

Em várias cidades do país o PCB não apenas apoiou os candidatos a prefeito do PSOL em São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas, Porto Alegre, Fortaleza... como “avançou” em integrar coligações formadas além do PSOL por um arco burguês composto por PT, PCdoB, PSB, Rede e PDT, aplicando na prática a política de Frente Popular do Stalinismo!

O PCB praticamente não divulga tais “feitos” da senda de conciliação de classes no site do partido, prefere tentar surfar na fama do youtuber Jones Manuel, que tem o camaleão ex-lavajatista Caetano Veloso como garoto propaganda. Não por acaso, o PCB afirma em manchete “Nosso partido tem orgulho do trabalho de divulgação do marxismo e das ideias revolucionárias feito por esse jovem intelectual. Cada vez mais, diante do avanço da extrema direita e da derrota política dos governos de conciliação de classe, a crítica revolucionária ganhará mais espaço entre a juventude e os trabalhadores”. 

Sem os mesmos holofotes, a direção nacional do PCB que celebra o “Marxismo” em dias de festa, avança no mundo real em sua política de ser uma dócil uma sublegenda do PSOL, passando inclusive a integrar as frente eleitorais com o PT e partidos burgueses para justamente conformar governos de conciliação de classes em nome do combate ao avanço da extrema direita, reeditando em nossos dias a velha política de Frente Popular do Stalinismo.

O PCB e por tabela Jones Manoel ainda flerta com traços político-ideológicos baseados no Marxismo-Leninismo, porém sua demagogia classista e “comunista” completamente oca como a representada pelo youtuber está a serviço de encobrir na prática sua política reformista burguesa e de colaboração de classes, que se expressam nas alianças com o PSOL, PT e o seu arco burguês, que não têm um programa de ruptura revolucionária com a ordem burguesa ao contrário são reféns do circo eleitoral fraudado da democracia dos ricos.

Sobre o debate em si ele não é novo. Pululam nas redes sociais uma série de denúncias que reverberam os “crimes do Stalinismo”. Como Trotskistas não temos qualquer “simpatia” pela figura pessoal de Stálin e do papel político e histórico que jogou na liquidação da vanguarda bolchevique, organizando os Processos de Moscou contra as oposições internas e preparando pessoalmente o assassinato do fundador da IV Internacional.

Foi a política de pacto com Hitler primeiro e defesa da “paz mundial” com o imperialismo depois que abortou e traiu as revoluções no pós-guerra. Entretanto, como Marxistas Revolucionários, consideramos a burocracia stalinista um produto do isolamento e da degeneração do Estado Operário soviético, ela como casta parasitária teve um papel dual: ao mesmo tempo que solapava suas bases por sua orientação política e econômica equivocada se viu obrigada “por métodos torpes” a defender a URSS, fonte de sua própria existência social.

Os que hoje escrevem laudas e mais laudas enumerando os “crimes de Stálin” como o PSTU e não fazem qualquer menção a essa dualidade são os que se negaram a defender a URSS mesmo degenerada quando esta foi liquidada pela ação de uma ala da burocracia (Yeltsin) que se converteu em agente direta do imperialismo ianque e europeu, rompendo com o PCUS.

Esses arautos que não se cansam em denunciar Stálin por ter comandado a burocratização da URSS, não moveram um dedo para defendê-la frente a restauração capitalista e apresentar uma alternativa revolucionária desde o campo de luta da defesa das conquistas da Revolução de Outubro, como nos ensinou Trotsky. 

Os que pensam ser grandes “intelectuais” espalhando praticamente cópias de panfletos da Casa Branca sobre Stalin, “o sanguinário assassino”, sequer conhecem as posições do “velho” sobre o caráter dual do stalinismo, seu papel na contrarrevolução que sedimentou as bases para a burocratização da URSS, destruiu a III Internacional fundada por Lenin, porém estabeleceu ao mesmo tempo um limite de contenção para a expansão imperialista em todo o mundo.

PSTU, CST, O Trabalho, PCO, Esquerda Marxista, MES, Esquerda Diário (MRT) e toda uma cepa de “intelectuais progressistas” ... se aliaram as forças políticas e sociais (Yeltsin e os restauracionistas) que em nome do combate ao Stalinismo e da “defesa da democracia” se aliaram a Casa Branca e as potências capitalistas para liquidar a URSS, que por mais degenerada estivesse, ainda era um Estado Operário a ser defendido para se avançar em uma revolução política.

A burocracia stalinista atuou como uma casta que defendeu “até a morte” seus próprios privilégios materiais (que só podem sobreviver sobre as bases sociais do Estado operário). Esse foi um dos ensinamentos preciosos de Trotsky completamente desprezados por esses senhores que não se cansam em usar o “trotskismo” como passaporte de “bom trânsito” com a intelectualidade pequeno-burguesa defensora da democracia como valor universal e avessa ao “autoritarismo” personificado por Stálin.

A tentativa de apresentar a figura de Stalin como o “grande demônio”, muito pior do que qualquer ditador fascista ou imperialista não é propriamente uma “novidade”. O próprio Trotsky no final dos anos 30 teve que combater esta posição liquidacionista no seio da seção norte-americana da IV Internacional, o SWP, representada pela fração antidefensista de Shachtman e Burnham. 

Para este setor do “velho” SWP que deu origem ao revisionismo atual, Stalin era igual a Hitler, um “ditador sanguinário”, esta caracterização impediria, portanto, a possibilidade de se estabelecer qualquer política de frente única com o Stalinismo na defesa das bases sociais do Estado operário soviético.

No seu livro “Em defesa do Marxismo”, Trotsky elaborou um artigo, “De um simples arranhão ao perigo de uma gangrena”, onde desconstrói na gênese a stalinofobia, tanto praticada pelos revisionistas da atualidade. Para Trotsky: “Stalin derrubado pelos trabalhadores significava a revolução, mas Stalin derrubado pelos imperialistas representava a contrarrevolução”. Não por coincidência, os dirigentes revisionistas do SWP acabaram seus dias de vida como colaboradores diretos do imperialismo norte-americano, inclusive a serviço das suas intervenções militares para “salvar a democracia”.

A “peste teórica” da stalinofobia professada pelo PSTU vem servindo há várias décadas como instrumento aberto da contrarrevolução, sendo utilizada pelo imperialismo ianque para atacar não só os Estados Operários, mas também o conjunto de conquistas sociais históricas do proletariado em todas as partes do planeta. 

As duas principais vertentes que hoje debatem o chamado “legado” de Stalin, ou seja, os stalinofóbicos e os stalinofílicos como Jones Manoel, não servem como instrumento para a revolução socialista e nada tem a ver com a gigantesca herança teórica deixada por Leon Trotsky.

Estes “senhores intelectuais”, em conjunto com uma gama de correntes revisionistas do Programa de Transição, não podem se diferenciar das vulgares calúnias imperialistas lançadas contra Stalin, simplesmente porque são correia de transmissão dos EUA no movimento operário mundial, com o “presidente cowboy” Ronald Reagan saudaram a destruição reacionária da URSS como sendo uma verdadeira “Revolução Democrática” e seguindo a mesma trilha política ajudaram a OTAN a derrubar “outro ditador sanguinário” na Líbia, levando na bagagem desta “ação revolucionária” a devastação inteira de um país e seu povo, que hoje vive a “barbárie democrática”.

Os revisionistas contemporâneos não em poucas oportunidades se perfilaram no campo do imperialismo em nome da “luta contra o autoritarismo Stalinista”. O processo contrarrevolucionário que destruiu as conquistas sociais do Estado operário soviético, e na sequência de todo Leste europeu, contou com o apoio frenético de organizações revisionistas. Para estes canalhas que enlameiam a referência do genuíno trotsquismo, a defesa das “liberdades  democráticas” formais estava acima da luta para conservar as bases da economia socializada da URSS. Não por acaso, estes revisionistas stalinofóbicos tem seguido o mesmo caminho político de seus “mestres” Shachtman e Burhnam, colaborando com as ações militares da OTAN contra as “ditaduras sanguinárias” da Líbia e Síria, também apoiando as "revoluções coloridas" patrocinadas pela CIA na Ucrânia e agora na Bielorússia.