PRÉVIAS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2021 NO CHILE: RESULTADOS DAS PRIMÁRIAS DO CAMPO DA ESQUERDA REFORMISTA REVELARAM A DERROTA DO CANDIDATO DO PARTIDO COMUNISTA E A ASCENSÃO DE UMA ALTERNATIVA AINDA PIOR DO QUE O STALINISMO
As eleições primárias para a próxima disputa presidencial no Chile, que ocorrerão no final deste ano de 2021, deram a vitória aos candidatos menos esperados. No campo da esquerda reformista, Gabriel Boric da Frente Ampla triunfou na disputa interna contra o antigo Partido Comunista. Na eleição interna do reformismo (coalizão “Aprovo com dignidade”), o derrotado foi Daniel Jadue do velho stalinismo. Jadue recentemente triunfou nas eleições municipais da Recoleta (distrito eleitoral) e todas as pesquisas já o apontavam como candidato da "esquerda" pelo PC em aliança com a FA. Não só isso, as pesquisas o apontaram como vencedor nas eleições presidenciais finais de novembro. Enquanto Jadue do PC teve 692.862 votos, Gabriel Boric da FA triunfou com 1.058.027.
É evidente que esta eleição interna conduziu o PC a uma
acachapante derrota devido à sua longa história de colaboração com o regime
burguês. Os stalinistas controlam a CUT (Central Unica de Trabajadores) há
décadas e o fazem como mais uma burocracia sindical traidora, sua política é a
de colaborar com a burguesia chilena dita “progressista” para manter em pé o
Estado capitalista. Nas grandes lutas e greves dos trabalhadores (como as
históricas mobilizações contra a previdência privada) o PC tinha uma política aberta
de desmobilização das massas.
O PC até integrou organicamente o segundo governo neoliberal
Social-Democrata de Bachelet, entre 2014 e 2018, como parte da “Nueva Mayoría”.
O PC chileno, como a antiga “Concertación”, é a expressão mais plena do que
Margaret Thatcher expressou na época da hegemonia neoliberal sobre a “esquerda”
Social-Democrata: “O verdadeiro triunfo é que nossos adversários adotaram
minhas idéias”.
No entanto, Gabriel Boric e sua Frente Ampla estão muito
longe de serem melhores do que a política de colaboração de classes do PC.Eles
começaram a capitular muito antes de terem sua influência eleitoral “inflada”
neste momento. A trajetória política de Boric é bastante parecida com a de
Pablo Iglesias na Espanha, ou a de Guilherme Boulos no Brasil. Estas lideranças
emergiram como uma crítica mais "radicalizada" da velha
"esquerda" burguesa clássica, enquanto atacavam o programa político
da esquerda Marxista Revolucionária.
A trajetória política de Boric é consistente em um único
ponto, o de sempre fazer o jogo do grande capital para ganhar influência na
mídia corporativa. Quando o aos presos políticos da Frente Patriótica Manuel
Rodríguez (guerrilha que enfrentou o pinochetismo nos últimos anos), passaram a
reclamar publicamente sua liberdade, Gabriel declarou cinicamente que, caso
vencesse a eleição, os presos políticos não teriam direito a nenhum tipo de
perdão.
O líder da Frente Ampla agora usa o capital político obtido
criticando a política de alianças do PC, tentando estender a coalizão "Eu
Aprovo com Dignidade" aos partidos da antiga “Concertación” de Bachelet.
Com a vitória obtida Boric já “experimenta” antecipadamente a faixa
presidencial, e se olha no espelho, imaginando que seu futuro governo terá o
apoio não só da burguesia chilena, mas do próprio imperialismo ianque, por ser
o melhor representante em seu país da Nova Ordem Mundial do capital financeiro.