PERU NO IMPASSE: PARLAMENTO ELEGE NO "APAGAR DAS LUZES" JUÍZES DIREITISTAS DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL PARA DISCIPLINAR FUTURO GOVERNO CASTILLO
O congresso peruano desacatou uma decisão judicial e prosseguiu com a questionada eleição de novos juízes para o Tribunal Constitucional, aumentando a tensão no país, que espera há mais de um mês para saber quem será seu novo presidente.
O parlamento é dominado por uma dezena de bancadas populistas cujo mandato expira em três semanas. O Congresso atual selecionou 15 candidatos em um processo questionado por ter sido feito de última hora e pelo método de escolha dos candidatos.
A polêmica vem à tona
enquanto o Peru aguarda as autoridades eleitorais proclamarem o novo presidente
do país, mais de um mês após o segundo turno, disputado entre o esquerdista
Pedro Castillo e a direitista Keiko Fujimori.
O Congresso começou a votar hoje para escolher os juízes,
mas suspendeu a sessão depois que os três primeiros candidatos não alcançaram
os 87 votos necessários. Do lado de fora do prédio, dezenas de partidários de
Castillo se manifestavam contra a designação dos novos magistrados, e apoiadores
de Keiko, a favor da nomeação.
Cabe ao tribunal resolver os conflitos entre os poderes do
Estado, que tem sido frequentes desde 2016. Seis dos seus sete membros já
cumpriram seu mandato de seis anos. A juíza constitucional de Lima Soledad
Blácido havia ordenado ontem "a suspensão provisória da eleição",
alegando que "o processo estaria viciado por falta de transparência".
A presidente do Judiciário, Elvia Barrios, ressaltou no Twitter que "toda
pessoa ou autoridade é obrigada a acatar as decisões judiciais", embora
possa recorrer das mesmas.
No início da sessão, o plenário do Congresso
aprovou continuar com a eleição dos magistrados do TC e não cumprir a resolução
do Poder Judiciário, que ordenou ao Parlamento que ordenasse a suspensão provisória
da eleição.
Assim, a representação nacional com 87 votos a favor, 36 contra e 2 abstenções ratificou a resolução aprovada na véspera pelo Conselho de Porta-vozes.
A presidente do Congresso, Mirtha Vásquez, dirigiu-se a sua cadeira para apoiar sua posição a favor do cumprimento da resolução do Poder Judiciário, lembrando que o Poder Legislativo não está isento de controle. Nesse sentido, foi ratificado em sua defesa da jurisdição parlamentar, mas em estrito cumprimento das leis.
Representantes do Partido Roxo e da Frente Ampla não participaram da eleição por considerá-la "ilegal". O legislador Rocío Silva-Santisteban respondeu às críticas de seus colegas que lhe pediram para sair da sala. Em sua defesa, a parlamentar argumentou que acataria as disposições do Judiciário.
Em setembro de 2019, o processo de eleição de juízes do tribunal gerou uma crise que levou o então presidente, Martín Vizcarra, a dissolver o Congresso e convocar novas eleições parlamentares. Tanto naquela época quanto agora houve denúncias de que os candidatos à corte tinham ligação com os líderes parlamentares o que levou a um golpe constitucional contra Vizcarra, o mesmo pode ocorrer futuramente com Castillo.