quinta-feira, 8 de julho de 2021

JACOB ZUMA É DETIDO NA ÁFRICA DO SUL: DIVISÃO NO GOVERNO DE COLABORAÇÃO DE CLASES DO CNA ABRIU CAMINHO PARA SUA PRISÃO 

O ex-presidente da África do Sul, Jacob Zuma, foi preso nesta quarta-feira (7) para cumprir uma sentença de 15 meses de detenção por desacato à Justiça: ele se negou a comparecer a um interrogatório no final de junho. A prisão ocorre mais de três anos após Zuma renunciar ao mandato em meio a acusações de corrupção. Zuma era tido como um veterano da luta contra o regime de apartheid. No entanto, desde que ele saiu da presidência, em 2018, foi citado em escândalos. O ex-presidente é acusado de corrupção antes e durante sua gestão. Ele presidiu a África do Sul entre 2009 e 2018. Na presidência, é suspeito de ter permitido que três empresários recebessem dinheiro de forma ilegal do Estado. Ele só renunciou após ser forçado pelo seu partido, o Congresso Nacional Africano o mesmo de Nelson Mandela. 

O CNA é uma frente popular composta a partir da aliança tripartite entre o partido burguês homônimo e duas organizações tradicionais da classe operária sul-africana, a COSATU, central sindical sul africana, e o Partido Comunista. A aliança governa desde 1994 e as massas que se sentiram traídas pelo último presidente, Thabo Mbeki que agravou enormemente a miséria do país, agora viram Zuma ser preso acusado de corrupção.

Zuma vinha se apoiando na COSATU e no PC, chegou a afirmar-se como socialista e a defender a redistribuição das riquezas do país mas acabou pactuando um governo de conciliação de classes agora descartado pelo imperialismo e uma ala do CNA. Para se manter no governo ele vinha tratando de tranqüilizar os capitalistas e especuladores internacionais, reforçando desesperadamente a aliança policlassita que controla o país, o que não surtiu efeito, como comprova com vergonhosa renúncia.A condenação de 15 meses de prisão por desacato à Justiça foi decidida após Zuma negar a comparecer a uma comissão anticorrupção no final de junho. O caso do ex-presidente está sob responsabilidade do Tribunal Constitucional, máximo órgão judicial da África do Sul.

O ex-líder pediu que a pena seja anulada por ser excessiva e também por expô-lo aos riscos de uma infecção pelo coronavírus. Para ele, a pena é uma declaração política. Ele diz ainda que é vítima de uma caça às bruxas e que a promotoria é enviesada.

Na África do Sul, o desenvolvimento desigual e combinado da luta de classes fez com que o retardo do fim da ditadura do apartheid desembocasse na primeira experiência de governo de frente popular como opção preferencial do imperialismo. Após 30 anos da ditadura branca do apartheid, o imperialismo tratou de operacionalizar uma distensão democrática, retardada em quase duas décadas, tardia em relação às ditaduras europeias (franquismo e salazarismo) e em uma década em relação às ditaduras militares de suas semicolônias latino-americanas. O CNA negociou entre 1990 e 1994 os acordos de garantias às corporações multinacionais mineiras e a burguesia em geral, impulsionando uma burguesia negra que, no governo, após as eleições de 1994, adotou a estratégia neoliberal de “Crescimento com Igualdade e Redistribuição” (GEAR) que teve a sua maior expressão no governo Mbeki.

Se durante o apartheid o imposto estatal cobrado às grandes companhias chegava a 48% dos lucros, o governo do CNA reduziu estes impostos para 28%. Com a frente popular negra, a burguesia imperialista racista logrou um ambiente politicamente bem mais estável para fazer seus negócios por quase metade do preço que tinha que pagar antes ao governo branco. Agora esse pacto social começa a ruir sob o sangue dos operários negros e a divisão da Frente Popular!

 

Com a prisão de Zuma por pressão do imperialismo em acordo com uma ala do CNA é preciso construir um partido trotskista revolucionário do proletariado negro da África do Sul para derrotar a frente popular e a direita, superando as ilusões no CNA, no PC e na COSATU através da luta revolucionária pela expropriação do imperialismo e de seus sócios burgueses, brancos ou negros. Só por esta via a maioria da população explorada e milenarmente oprimida poderá emancipar o continente africano do capitalismo racista e desenvolver as forças produtivas rumo ao socialismo, pondo fim definitivamente aos massacres para impor a espoliação do país pelas transnacionais.