ELN DENUNCIA: PETRO ACUSA A GUERRILHA DE SER UM GRUPO
CRIMINOSO E ORDENOU ATAQUES MILITARES CONTRA SUAS COLUNAS NA SELVA COLOMBIANA
A notícia tirou os representantes do ELN do sério na mesa de negociações em Havana, Cuba. Um dos dirigentes acabava de ler com espanto as declarações de Gustavo Petro coletadas ontem no jornal El Espectador e advertiu os demais. O presidente, lê-se na informação, duvidava que os representantes sentados à mesa de negociações com o governo realmente mandassem na guerrilha armada e assegurou que a sua verdadeira razão de ser nestes tempos era a economia ilegal, ou seja, o narcotráfico e extorsão. Os delegados guerrilheiros não podiam acreditar que o chefe de Estado, às vezes tão retórico, de repente os apunhalou pelas costas. Para garantir, eles passaram a seguir a conta do Twitter direto da Presidência pelo celular, que transmitiu um evento em que o Petro se dirigia apaixonadamente e sem qualquer pudor aos almirantes e generais das forças militares.
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O assunto colocou em crise as conversações de paz entre o governo da Colômbia e o ELN, que estão ocorrendo nestes dias em Cuba. Vinte e quatro horas antes, os guerrilheiros haviam emitido um comunicado no qual diziam que tudo estava indo maravilhosamente bem, que a mesa avançava "rigorosamente" para alcançar o cessar-fogo que tanto obceca o presidente depois da vergonhosa rendição das FARC.
Foi uma miragem. As palavras enérgicas de Petro diante dos fardados, típicas de quem gosta de repetir que é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, explodiram toda aquela harmonia. "Eles se sentam à mesa e conversam, mas eles mandam?", perguntou Petro. “Lá, cada um de nós tem muitas perguntas. Eles realmente comandam?
Ele se referia a lideranças históricas da guerrilha, como Gabino, que pertence ao ELN desde criança. Agora ele está velho, disse o presidente, e sentou para negociar, mas será que dirige o grupo?. Petro deu a entender que não. As frentes são autônomas, são federais, continuou Petro, afirmação mantida por alguns especialistas em segurança.
Esta tese sustenta que os guerrilheiros escondidos nos acampamentos no meio da selva não respondem necessariamente à direção, que é quem está sentado à mesa de negociações. “Todos giram em torno da economia ilícita, pouco têm a ver com o padre Camilo Torres (um dos fundadores, seguidor da Teologia da Libertação). Eles têm a mesma bandeira, sim, mas a razão de ser deles é a economia ilícita”, continuou cinicamente Petro, repetindo os ataques da mídia corporativa e do imperialismo ianque contra o ELN, assim como faziam as FARC antes de sua vergonhosa rendição.
Todo esse caso inflamou os negociadores do ELN, que se sentem insultados. A delegação pediu a Petro que esclareça o quanto antes se considera que esta negociação está sendo feita com uma organização política ou com uma quadrilha, como ele insinuou.
O que o presidente disse, segundo o comunicado da guerrilha, é desrespeitoso e estigmatizante e viola o acordo no México, onde ambas as partes concordaram com a necessidade de superar o conflito armado e avançar "para a reconciliação nacional".
Os guerrilheiros consideram que este é um questionamento também da delegação do governo, dos países garantidores, das organizações acompanhantes (ONU e Conferência Episcopal Colombiana) e dos países acompanhantes, entre os quais a Espanha.
Petro tem pressa para chegar a um cessar-fogo, por exemplo. Ele tentou apressá-lo no ano novo, inventando que um acordo havia sido alcançado para implementá-lo. O ELN sentiu-se envolvido em algo que não havia sido consultado e negou que tal trégua existisse. Os guerrilheiros negaram publicamente o presidente. Meses depois, Petro disse algo mais ou menos parecido com o que disse desta vez, que a guerrilha passou de uma luta socialmente comprometida para o negócio do narcotráfico e do crime.
Em sessão plenária em Havana, os negociadores do ELN pediram esclarecimentos, e quanto antes melhor. Parece muito improvável que isso comprometa o diálogo, mas pode acontecer que esta crise leve as duas delegações a consultas, como em outras situações graves deste longo processo iniciado durante o mandato de Juan Manuel Santos.
Os do governo iriam a Bogotá e os da guerrilha aos acampamentos para avaliar a situação. O que é certo é que Petro voltou a apertar com suas palavras a negociação com a guerrilha. Ele quer um acordo e quer agora, e não vai calar a boca até chegar lá. Isso testará a resistência do ELN, que em nossa opinião deve romper as negociações de paz e continuar a luta contra o regime burguês e o governo Petro.
