quinta-feira, 17 de outubro de 2019

AS VÉSPERAS DA ELEIÇÃO ARGENTINA: FIT SE CONGRATULA COM MACRI E PEDE A ALBERTO FERNÁNDEZ QUE “CHORE” PELOS MORTOS DO EQUADOR


As eleições presidenciais da Argentina ocorrerão no próximo dia 27 de outubro, apenas uma semana após as bolivianas. Nos dois casos já se desenha um quadro de vitória da centro esquerda burguesa, consolidado um longo período de gestão do Estado capitalista na Bolívia e na Argentina de retorno à gerência estatal após um governo neoliberal da extrema direita. Porém se não há grandes surpresa no prognóstico eleitoral argentino, precedido de uma acachapante derrota de Mauricio Macri nas primárias obrigatórias (PASO), produto direto da profunda crise econômica porque passa o país, o “fato novo” surgiu mesmo da vergonhosa postura política da Frente de Esquerda dos Trabalhadores (FIT em espanhol). A FIT é uma espécie de condomínio eleitoral de toda a esquerda revisionista, que “aposta todas suas fichas” no cretinismo parlamentar, mas que até então tentava se apresentar como uma “alternativa de independência de classe” nas eleições, embora assumisse claramente sua vertente não revolucionária no que tange ao programa de tomada de poder pela via de uma violenta ruptura com o Estado Burguês. Porém com um resultado “magro” obtido nas PASO, o que ameaça a manutenção de sua pequena bancada parlamentar, a FIT resolveu “escancarar” toda sua natureza programática reformista. 


Na véspera das eleições, em um debate televisivo nacional com a presença de todos os candidatos à presidência da república, Nicolas Del Cano o cabeça de chapa da FIT, fez um apelo aos seus “colegas” candidatos para que prestassem “um minuto de silêncio” pelos mortos (quase uma dezena) do governo facínora do Equador. Ao invés de denunciar a cumplicidade política de todos os seus “colegas” candidatos com a brutal repressão desferida por Lenin Moreno contra a rebelião popular, cumplicidade com o FMI comartida tanto pela direita neoliberal como pela esquerda frente populista, Del Cano pediu solidariedade às vítimas do Equador justamente dos verdugos mais asquerosos como Macri, Lavagna, ou a Alberto Fernández que apoiou integralmente todos os atos repressivos do governo Kirchner. Ao final do debate, Del Cano não se furtou de estender um “caloroso aperto de mão” ao criminoso presidente Macri, responsável por prisões e  assassinatos de várias lideranças populares na Argentina. Não se tratou de um “equívoco” ou um ato de inciativa pessoal de Nicolas, mas sim de toda uma estratégia montada pela FIT para aparecer no debate transmitido em rede nacional como uma “esquerda responsável”, o dirigente do PTS não mencionou em suas intervenções uma única palavra sobre a revolução socialista ou mesmo a tomada de poder pelo proletariado, que passa muito longe do universo eleitoral da esquerda reformista. 


O papel ridículo que Del Cano passou no debate, ao presenciar as “risadinhas” de seus colegas presidenciáveis, enquanto cinicamente fingiam se “condoer em silêncio” pelos ativistas assassinados, só revelou até que ponto o revisionismo está disposto a ir para não perder seu “lugarzinho” no parlamento da burguesia. Os sócios majoritários da FIT (PTS e PO) há muito já perderam qualquer referência no Marxismo Revolucionário, adotando a estratégia da democracia como valor universal. Por conta de um desbragado eleitoralismo sem princípios, o Partido Obrero (PO) chegou a expulsar de suas fileiras o fundador da corrente e principal dirigente, Jorge Altamira. Porém a “mira” política de Jorge e seu novo grupo está muito rebaixada, ao ponto de suas críticas pontuais ao PO não conseguirem enxergar o cerne programático da capitulação do seu antigo partido. A batizada tendência de Altamira se queixa do “foco” da FIT estar completamente direcionada a eleição de deputados, uma elementar constatação óbvia, entretanto continua aferrada ao revisionismo “Lambertista” (referência ao falecido dirigente francês Pierre Lambert), cujo principal erro programático consistia em apoiar qualquer iniciativa “democrática” do imperialismo contra o stalinismo e seus Estados Operários burocratizados. Não é por coincidência que o “debut” internacional da tendência de Altamira foi justamente apoiando as manifestações reacionárias de Hong Kong, manipuladas politicamente desde a Casa Branca em Washington. O “PO tendência” permanece convocando o voto na FIT, apesar das lamúrias, exatamente porque comunga da mesma estratégia de classe, negando a violência revolucionária do proletariado como a única alternativa da classe operária ao “default” do regime capitalista.