quarta-feira, 2 de outubro de 2019

AUTOGOLPE NO PERU: NENHUM APOIO AO NEOLIBERAL DE DIREITA VIZCARRA E TAMPOUCO AO PARLAMENTO FUJIMORISTA. FORJAR NESTA CRISE DO REGIME BURGUÊS UMA ALTERNATIVA INDEPENDENTE DOS TRABALHADORES!


O presidente peruano, Martín Vizcarra, promoveu um verdadeiro autogolpe, dissolvendo o Congresso e convocando novas eleições para janeiro de 2020. Vizcarra utilizou como justificativa para sua manobra golpista uma iniciativa dos deputados herdeiros do reacionário ex-presidente Alberto Fujimori, maioria do parlamento peruano, que tencionavam substituir os juízes do Tribunal Constitucional (a mais alta Corte do Peru) por magistrados fujimoristas e, assim liberar Keiko Fujimori de sua condenação à prisão domiciliar que cumpre desde 31 de outubro de 2018, em meio ao escândalo de lavagem de dinheiro entregue à sua campanha  presidencial pelo esquema da construtora Odebrecht. Os parlamentares fujimoristas (86 das 130 cadeiras) desafiaram Vizcarra declarando vaga a Presidência e indicando a vice-presidente, a congressista Mercedes Aráoz, para o cargo de chefe de Estado. Logo após a contra manobra do parlamento, foi emitido um comunicado presidencial informando que o “Chefe do CCFFAA do Peru e os comandantes gerais do Exército, Marinha, Força Aérea e Polícia Nacional reafirmam, desde o Palácio do Governo, seu pleno respaldo à ordem constitucional e ao presidente Martín Vizcarra, como Chefe Supremo das Forças Armadas e da Polícia Nacional do Peru”. 


O neoliberal de direita Vizcarra demonstrou que conta com o apoio político de todo o aparelho repressivo do regime de exceção peruano, que desde o golpe militar dado por Alberto Fujimori na década de 90, é responsável pela morte e prisão de milhares de ativistas sociais e de esquerda. No Peru o parlamento é unicameral, ou seja, não tem Senado, então “tecnicamente” o país teria agora dois presidentes e nenhum Congresso. Mas depois de assumir a presidência paralela Mercedes Araoz, logo renunciou sob pressão direta das Forças Armadas e da embaixada norte-americana em Lima. Os episódios “confusos” e conflituosos desta semana no Peru são apenas o estopim de uma crise que começou em 2018, quando o presidente eleito, Pedro Pablo Kuczynski, renunciou ao cargo e lançou o país num cenário de instabilidade política e institucional. A congressista Verónika Mendoza, eleita pela coalizão Frente Ampla e representante de todo o arco da esquerda reformista, que encabeçou a marcha em Lima, se posicionou em apoio ao golpe de Vizcarra: “Estamos aqui celebrando essa vitória que nos custou muita luta. É o primeiro passo para que o povo peruano seja atendido”. Os dirigentes da burocracia sindical peruana também seguiram a posição da Frente Ampla, em seu comunicado, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) informa que convocou os trabalhadores e a população em conjunto com a Assembleia Nacional dos Povos (ANP) e a Coordenação Nacional de Direitos Humanos, entre outros coletivos, a se concentrarem na Praça San Martín, em Lima e em todo o país. Para a CGTP, é fundamental “apoiar a dissolução do Congresso”.


A profunda crise do regime burguês, que se baseia no pilar de repressão das Forças Armadas, desde o período fugimorista (início dos anos 90), quando foi acionada para “eliminar” a guerrilha do Sendero Luminoso, se arrasta de governo em governo. Alan García, que governou o país duas vezes (1985-1990) e (2006-2011), cometeu suicídio. Os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) respondem judicialmente a processos decorrentes das investigações da famigerada “Lava Jato” peruana. Uma das principais líderes da oposição, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, também foi acusada de receber irregularmente dinheiro da Odebrecht para suas campanhas políticas e foi presa. Também o líder do Sendero Luminoso, Abimael Guzman, continua preso há mais de vinte anos, apesar de pregar a “conciliação nacional” desde o cárcere da base militar de Callao.

A instabilidade política do regime aparentemente contrasta com os “bons” índices econômicos do país, no ano passado, a economia do país cresceu 4%, segundo o Banco Central local. Já a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) prevê um crescimento de 3,6% neste “conturbado” ano, de qualquer forma, o índice é muito acima do 1,3% previsto para toda a região latino-americana. Porém o aparente “sucesso” econômico do Peru é baseado em um modelo neoliberal de agressivas exportações minerais, principalmente o ouro (que no último período atingiu cotações recordes internacionais) degradante para o meio ambiente e solapando uma das principais riquezas naturais do país. Este “modelo” de pilhagem do país por mineradoras imperialistas, vem atiçando a disputa intestinal da burguesia pelo botim do Estado capitalista. Razão das violentas disputas fratricidas no seio de uma classe dominante que só enxerga a venda do seu próprio país para o mercado imperialista.

A “chave” para a superação política da intensa crise crônica em que se arrasta o regime bonapartista no Peru, reside na possibilidade da construção de uma alternativa independente e revolucionária dos trabalhadores. Tanto a esquerda foquista (Sendero e MRTA), como os reformistas do PCP fracassaram na sua tentativa de levar adiante uma política de colaboração de classes, visando estabelecer um governo do tipo de Frente Popular, como foi o de Lula no Brasil. As massas populares e campesinas já mostram total desconfiança em relação a direita fugimorista e sua “alma gêmea” a reação neoliberal de Vizcarra, vergonhosamente apoiada pelos reformistas. O único caminho que o combativo proletariado peruano, que protagonizou heróicas lutas nacionais, tem a a trilhar é o da revolução socialista!