segunda-feira, 14 de outubro de 2019

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA BOLÍVIA: VOTAR NULO PARA CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA REVOLUCIONÁRIA!


As eleições presidenciais na Bolívia, ocorrerão no próximo 20 de outubro deste ano. As pesquisas eleitorais revelam que Evo Morales está em primeiro lugar e o candidato da “Comunidad Ciudadana” (CC) e ex-presidente da república Carlos Mesa, segue em segunda posição. O cenário político, pode ser resumido em que há dois campos opostos: governo e oposição, mas na realidade não é tão simples assim. Quando Evo Morales chegou ao governo no começo de 2006, uma característica básica da oposição burguesa era ser frontalmente "anti-Evo", mas não por causa do próprio programa de Evo, mas porque os camponeses, indígenas, trabalhadores e bases populares se sentiram representados e com intensa capacidade  de mobilização e ação direta radical consciente. Evo Morales foi o “bombeiro” que permitiu à burguesia nativa, oligarquia, banqueiros, empresários e transnacionais imperialistas manter seu poder econômico de classe dominante;  enquanto realiza algumas reformas superficiais. Na prática, Evo não tocou no poder das elites capitalistas, que demonstravam um desprezo étnico pelo que era diferente dela. Quando Evo Morales e seu governo estabeleceram um pacto com o NCPE com a oligarquia e a direita, a Bolívia se abriu para outra etapa, a da colaboração de classes. A direita passou a fazer parte do governo de Evo Morales, porque entendeu que dava segurança à manutenção de propriedade privada e garantia seus interesses de classe, estabilizando o regime apesar da radicalidade da base social de Evo Morales. 


A reação local entendeu que tinha que deixar aquele "índio" governar (como chamavam Morales) e realmente ver o que ele os oferecia com a gerência do Estado. Ao mesmo tempo, foi um fator de contenção social que garantiu como nunca antes na história política do país: a estabilidade política do regime burguês. De fato, a direita boliviana se tornou parte do governo de Morales, e alguns parlamentares do bloco reacionário fizeram vários acordos institucionais com o MAS. Nestas eleições não há oponente que não tenha passado pelo governo de Morales. Hoje, Carlos Mesa e a “Comunidad Ciudadana” se apresentam como o "grande oponente" de Morales. Na realidade, nem uma coisa nem outra, embora as pesquisas dêem a Mesa uma intenção de voto opositora. Mesa é apenas um "oponente" eleitoral e cíclico na disputa de poder central, com sérias oscilações ao pacto e negociação política com o partido do governo. Não houve uma ruptura temporal da burguesia com Evo, assim como aconteceu com Lula e o PT no Brasil. Primeiro, porque na Bolívia não existe uma burguesia altamente fracionada e em sérias disputas intestinas, segundo porque essa mesma burguesia ainda confia em Evo Morales e terceiro, porque o imperialismo literalmente apóia politicamente a reeleição de Morales. A Repsol espanhola, explora os hidrocarbonetos, o imperialismo japonês Sumitomo possui 100% do pacote acionário da mina mais frutífera do país(San Cristobal), a Alemanha acaba de formar uma empresa  para explorar a maior reserva de lítio do mundo, e incluindo Trump no final, que enviou Almagro para “santificar” a candidatura de Morales. Algo que soou como “abandono” em alguns setores mais direitistas da classe dominante boliviana. Atacar Evo Morales é levar o país a uma crise política e de regime social, e pelo menos por enquanto o imperialismo não aposta nesta via. Mesa, leva o conservador Pedraza como vice-presidente em sua chapa, um registro importante que indica até onde ele está disposto a ir. Pedraza está ligada aos setores da oligarquia de Santa Cruz e aos setores secundários da burguesia imperialista ianque.  É claro um sintoma que indica qual será a natureza social de um possível governo de Mesa. Como já apontamos, a mesma oligarquia e seu chefe Trump protegem com seu apoio político a candidatura de Evo Morales. A fragilidade na candidatura de Carlos Mesa e a possível instabilidade política em um governo da CC apontam para uma nítida opção da burguesia nacional para o MAS. Enquanto os proprietários de terras e fazendeiros, também sufragam Morales, sublinhando: "Não matem a galinha dos ovos de ouro". Quem pensa que Mesa é a “carta da vez” para tirar Evo Morales do governo está equivocado de “ponta a ponta”. Morales já se vendeu de corpo e alma ao imperialismo, entregando o ativista Cesare Battisti ao fascismo italiano e deixando de participar do recente “Fórum de San Pablo” em Caracas na Venezuela. No dia 4 de julho, no dia da independência dos EUA, Evo enviou uma calorosa mensagem para fortalecer as relações com o reacionário Trump e a criminosa burguesia imperialista ianque. Um Morales mais orientado para o FMI e Trump, e um Carlos Mesa disposto a se ajustar às receitas do FMI (que já demonstrou que está disposto a reprimir o povo como fazia quando participava do governo Goni), é a falsa polarização apresentada pela elite boliviana para as massas. Os trabalhadores, setores indígenas e populares não têm uma alternativa de classe nesta dicotomia burguesa. A classe trabalhadora e os setores populares devem superar Morales e todo o circo eleitoral da burguesia, lutando para forjar sua própria alternativa de poder, lutando por construir um Congresso de Trabalhadores do campo e da cidade, com delegados democraticamente eleitos pela base. Portanto, nestas eleições a única opção revolucionária e independente é votar nulo! Votar em Evo Morales serve apenas para iludir o proletariado, apontando uma perspectiva reformista para a crise do capitalismo, no mesmo “modelo econômico” das políticas compensatórias tão publicitadas pelos governos da Centro Esquerda burguesa em nosso continente.