Conhecido como “Comandante Toledo” ou o “Velho”, Joaquim
Câmara Ferreira foi um dos principais dirigentes da ALN ao lado de Carlos
Marighela. Entrou para o Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1933.
Jornalista, dirigiu diversos periódicos do partido e, em 1937, quando Getúlio
Vargas instaurou o Estado Novo, passou a atuar de forma clandestina. Esteve por
vários anos preso, tendo sido torturado pelo Departamento de Ordem Política e
Social (Dops) paulista. Foi submetido a pau de arara, palmatória, afogamentos.
Também enfiaram farpas de bambu embaixo de suas unhas, que foram
definitivamente arrancadas. Durante as décadas de 1940 e 1950 esteve à frente
da imprensa do PCB em São Paulo. Depois da anistia, em 1945, e da legalidade do
PCB, Câmara se tornou um dos principais dirigentes do partido em São Paulo. Em
1948, viajou para a União Soviética para realizar estudos sobre política. Em
1964, foi preso pelos órgãos policiais por realizar uma palestra para operários
em São Bernardo do Campo, sendo libertado pouco depois. Foi condenado pela
ditadura militar a dois anos de reclusão. Rompido com o PCB, durante a ditadura
militar, foi um dos fundadores da Ação Libertadora Nacional (ALN). Em 1967, foi
um dos principais signatários do “Manifesto do Agrupamento Comunista de São
Paulo” – que se tornou o embrião da ALN. Era considerado o número dois da ALN e
participou diretamente da captura do embaixador norte-americano Charles Burke
Elbrick, em setembro de 1969, que garantiu a libertação de 15 presos políticos.
O comandante Toledo – seu nome de guerra durante a guerrilha urbana – participou do rapto do embaixador estadunidense, que garantiu a libertação de inúmeros prisioneiros políticos. Foi preso no dia 23 de outubro de 1970, na Avenida Lavandisca, em São Paulo. Do local de sua prisão, Câmara foi levado, já sob tortura, para o sítio clandestino “31 de março”, utilizado pelo delegado fascista assassino Sérgio Fleury. No sítio, continuou sendo torturado, morrendo algumas horas após sua prisão. A presa política Maria de Lourdes Rego Melo é testemunha de que Joaquim Câmara Ferreira foi preso vivo e levado ao sítio clandestino do delegado, e que a sua morte se deu como consequência da violência das torturas. Morreu nas mãos dos seus algozes fascistas há 49 anos. Em nome da LBI prestamos nossa justa homenagem a esse herói da esquerda na luta contra a ditadura militar, seu nome entrou para a galeria de mártires do povo brasileiro e virou referência obrigatória para todos aqueles lutam até hoje contra a ditadura do capital e a dominação imperialista. Apesar de sua adesão ao stalinismo (PCB) e depois ao foquismo (ALN) com todos os equívocos derivados dessas opções política, Joaquim Câmara Ferreira é um exemplo de dedicação a causa revolucionária do proletariado mundial!
O comandante Toledo – seu nome de guerra durante a guerrilha urbana – participou do rapto do embaixador estadunidense, que garantiu a libertação de inúmeros prisioneiros políticos. Foi preso no dia 23 de outubro de 1970, na Avenida Lavandisca, em São Paulo. Do local de sua prisão, Câmara foi levado, já sob tortura, para o sítio clandestino “31 de março”, utilizado pelo delegado fascista assassino Sérgio Fleury. No sítio, continuou sendo torturado, morrendo algumas horas após sua prisão. A presa política Maria de Lourdes Rego Melo é testemunha de que Joaquim Câmara Ferreira foi preso vivo e levado ao sítio clandestino do delegado, e que a sua morte se deu como consequência da violência das torturas. Morreu nas mãos dos seus algozes fascistas há 49 anos. Em nome da LBI prestamos nossa justa homenagem a esse herói da esquerda na luta contra a ditadura militar, seu nome entrou para a galeria de mártires do povo brasileiro e virou referência obrigatória para todos aqueles lutam até hoje contra a ditadura do capital e a dominação imperialista. Apesar de sua adesão ao stalinismo (PCB) e depois ao foquismo (ALN) com todos os equívocos derivados dessas opções política, Joaquim Câmara Ferreira é um exemplo de dedicação a causa revolucionária do proletariado mundial!
DO INÍCIO DA MILITÂNCIA STALINISTA À LUTA CONTRA O FASCISMO
Joaquim Câmara Ferreira nasceu em Jaboticabal no dia 5 de setembro de 1913. Seu pai, o engenheiro Joaquim Batista Ferreira Sobrinho, havia sido por três vezes prefeito dessa pacata cidade do interior paulista. A mãe, Cleonice Câmara, morreu depois de apenas vinte dias de ele ter nascido. Seguindo o caminho paterno, foi estudar na Escola Politécnica de São Paulo. Porém, no segundo ano, abandonou a engenharia e se transferiu para o curso de filosofia na Universidade de São Paulo (USP) que estava se iniciando. Também estava no início o seu engajamento político junto ao movimento comunista. Certo dia indo para a Politécnica viu alguém que atentamente lia um livro de Vladimir Ilitch Lênin. O jovem curioso se aproximou e começou uma discussão sobre o socialismo e o marxismo. O estranho era o comunista Adolfo Roitman – que já havia passado pelas prisões do novo regime de Vargas. Eles marcaram outros encontros, nos quais conheceria Noé Gertel e Caio Prado Jr. Em 1932, ao lado desses novos companheiros, organizou um núcleo do Socorro Vermelho Internacional, órgão de ajuda e solidariedade aos perseguidos políticos. No ano seguinte, estaria militando ativamente no PCB. Quem o recrutou foi Sebastião Francisco, secretário de organização do comitê estadual de São Paulo. A veterana comunista Sara Mello contou ao historiador Luiz Henrique de Castro Lima o que aconteceu: “Câmara falou o que esperava (do Partido) e esse companheiro disse: ‘Então, você pode se considerar hoje membro do Partido Comunista do Brasil’. Foi a maior sensação da vida de Câmara (...) o dia em que foi considerado membro do Partido Comunista do Brasil”.
FRENTE ÚNICA COM OS TROTSKISTAS PARA EXPULSAR OS “GALINHAS
VERDES” FASCISTAS
Aqueles eram anos de ascensão do nazi-fascismo. Em janeiro
de 1933 Hitler assumiu o poder na Alemanha. No Brasil, os integralistas
começavam a se assanhar. Reagindo a isso, em 1934, os comunistas brasileiros
criaram o “Comitê de luta contra a reação, o fascismo e as guerras
imperialistas”, que ficaria conhecido simplesmente como “Comitê antiguerreiro”.
À frente desse trabalho estava Joaquim Câmara Ferreira. Devido ao seu esforço,
ele foi cooptado para o comitê estadual. Tinha então 21 anos de idade. Como
membro da Juventude Comunista, participou da chamada Batalha da Praça da Sé,
também conhecida como A Revoada dos Galinhas Verdes, em 7 de outubro de 1934,
quando militantes antifascistas expulsaram as milícias integralistas que haviam
ocupado a praça da Sé. Trotskistas, dirigentes do Comitê Regional do PCB
paulistano e anarquistas, além de várias entidades operárias e sindicais, que
formaram uma Frente única antifascista, colocaram para correr embaixo de balas
um comício realizado pela AIB Ação Integralista Brasileira, uma instituição
totalmente nazifascista. O Integralismo, uma versão tupiniquim do nazifascismo,
tentou criar uma doutrina que pretendia "abrasileirar" o Fascismo
Italiano e o Nazismo Alemão, defendendo a implantação deste regime político no
Brasil. Nessa época desde o início dos anos 30, o fascismo estava num de seus
pontos de maior ebulição política pelo mundo, na Espanha, na Itália, na
Alemanha, na Polônia, na Hungria e em outras regiões, em maior grau nos países
atingidos após a Primeira Guerra Mundial. No Brasil, era até certo ponto fácil
encontrar publicações desse caráter de modo geral, sedes, realizações de
comícios, tentativas de demonstração de força como desfiles, aliás, desfiles
estes que eram marcados pelos uniformes verde-oliva e por estandartes do SIGMA
(símbolo Integralista). Também não podemos nos esquecermos nunca que esse
período histórico também marca o auge da LUTA ANTIFASCISTA no mundo encabeçado
pelos movimentos operários e populares, aos quais se recusavam a seguir a
orientação de paralisia vinda de Moscou e da III Internacional já sob o
controle de Stalin. Os integralistas, assim como os nazistas na Alemanha
criaram suas milícias armadas, uniformizadas e treinadas para a destruição e
aniquilação dos seus adversários de classe, evidentemente que esses inimigos
viscerais eram encabeçados pelos Trotskistas, setores da esquerda comunista e
anarquistas. Nessa época (meados dos anos 30) o Brasil atravessava a hegemonia
do regime ditatorial de Getúlio Vargas, que como seu antecessor na presidência
Arthur Bernardes (1922-1926), cassou incessantemente o movimento operário ,
criando inclusive campos de concentração como o do Oiapoque (Crevelândia) e
para lá foram enviados grande número de Comunistas e anarquistas, que ali
desgraçadamente morreram... Voltando ao memorável dia 7 de outubro de 1934...
Para aquela data havia sido convocado um comício para demonstração de força
Integralista, nessa época era imenso o combate contra o fascismo e
integralismo, eram realizados comícios antifascistas aos quais a Liga Comunista
e o CR do PCB de São Paulo sempre se fizeram presentes ao lado de inúmeros
companheiros anarquistas que estavam dispostos a lutar militarmente contra os
camisas-verdes com a própria vida se preciso fosse... Pois bem, os
antifascistas sabendo do comício Integralista, marcaram um contra comício ou
contra manifestação para o mesmo dia e local... e esse dia ficou conhecido
historicamente como "A batalha da Praça da Sé". Os grupos
antifascistas se distribuíram nas intermediações da Praça da Sé, os principais
pontos eram o Largo João Meneses, o pátio do convento do Carmo, no início da
Avenida Rangel Pestana, o largo de são Bento e a Praça Ramos de Azevedo, os
camisa-verdes deviam ser mais de três ou quatro mil, e era grande o contingente
de integralistas que desembarcavam de trem vindos de cidades do interior como:
Bauru, Jaú, Sorocaba, Campinas, Santos e outras. A Praça da Sé contava com 400
homens dos bombeiros e da cavalaria da polícia, havia também a guarda civil
armada, logo as ruas que davam acesso à Praça da Sé estavam policiadas, quando
os integralistas acharam que as provisões policiais eram suficientes, iniciam
sua manifestação enviando moças e crianças (de propósito) uniformizadas com
bandeiras com o sigma e se destinam para as escadas da catedral, onde já se encontram
alguns integralistas. Nesse momento os antifascistas já estão a postos na
praça, assim que as moças chegam, são recebidas com gritos de
"morras" e "fora os galinhas-verdes" e outras
qualificações... Alguns integralistas buscam reagir, e começa um princípio de
tumulto com alguns tapas e safanões, logo acontecem alguns tiros sem que saiba
de onde vem. Cerca de dez minutos depois o grosso das suas formações entram na
praça ao seu hino oficial e dando "anauês"(saudação integralista
nacional tal qual Heil Hitler na Alemanha). A praça ecoava gritos contra os
integralistas e seus hinos... Na seqüência dos fatos, uma rajada de tiros é
disparada acertando em cheio a três guardas civis, há versões de que esse
disparo fora intencional ou acidental, para os antifascistas e para a população
presente que não sabiam da acidentalidade ou não dos disparos, seus autores
eram os integralistas, o ódio popular foi despertado e, daí a pouco, mostrou
como é perigoso dispertá-lo... Após 10 ou 15 minutos dessa confusão, os integralistas
refeitos do pânico dos disparos começam a lotar as escadarias da catedral, esse
foi o início da contra-manifestação, algumas breves palavras foram pronunciadas
por Fúlvio Abramo "Companheiros antifascistas, viemos a praça para não
permitir que o fascismo tome conte da rua e dos nossos destinos", logo
após esse pronunciamento começou um intenso tiroteio, por todos os lados os
fascistas e os ativistas de esquerda trocando tiros... nesse momento muitos
integralistas fugidos se retiram da praça, um último grupo de galinhas verdes
continua a lutar contra os antifascistas, mas logo saem em revoada... a maioria
dos covardes integralistas fogem à toda
a velocidade da praça para todas as direções, nos dias seguintes são recolhidas
as camisas verdes abandonadas pelos seus donos fujões que as abandonaram na
debandada que passou a ser conhecida como "A revoada dos
galinhas-verdes". Na troca de tiros dezenas tombaram feridos de ambos os
lados com alguns desses feridos sendo fatalmente atingidos... A vitoriosa Contra
Manifestação de 7 de outubro de 1934, deu um duríssimo golpe nos fascistas
fazendo com que eles refluíssem profundamente, até quase o seu total
desaparecimento político no Brasil durante décadas.
Câmara Ferreira também participou da formação da Aliança
Nacional Libertadora (ANL), que era presidida regionalmente por Caio Prado Jr.
A ANL conheceu um rápido crescimento, mas logo foi colocada na ilegalidade pelo
governo Vargas. Os comunistas reagiram organizando levantes armados, baseados
na sua influência nos quartéis, no Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do
Norte.
Os movimentos foram derrotados e iniciou-se uma dura
repressão contra a esquerda. Foram encarcerados milhares de militantes e
dirigentes comunistas, entre eles Luiz Carlos Prestes e Antonio Maciel Bonfim,
secretário-geral do PCB. Diante dessa situação, o que restou do secretariado do
Comitê Central, comandado por Lauro Reginaldo da Rocha, o Bangu, se refugiou no
Nordeste. Em 1937 esse órgão se transferiu para São Paulo.
STALINISTA, CÂMARA FERREIRA COMBATEU O “TROTSKISMO” NAS
FILEIRAS DO PCB
No mesmo ano da "Batalha da Praça da Sé", o PCB
viveu uma cisão de vulto. O mote foram as opções colocadas diante das eleições
presidenciais. O Comitê Regional de São Paulo, liderado por Hermínio Sachetta,
defendia o apoio à candidatura do paulista Armando Salles de Oliveira, mas na
condição de que ele aceitasse um programa democrático assentado na anistia,
aplicação da Constituição de 1934 e combate ao integralismo. Além do
atendimento de algumas reivindicações populares, como o combate à carestia e
pelo aumento dos salários. Ao contrário, o secretariado do Comitê Central
definiu-se pela candidatura do nordestino José Américo de Almeida. Isso não
deveria estar vinculado a nenhuma condição preliminar, a não ser à oposição ao
integralismo em ascensão e à garantia da própria eleição. Aos poucos essa tese
foi conseguindo a adesão da maioria dos comitês partidários.
Contudo, o que mais contribuiu para isso foi a posição
assumida pela Internacional Comunista stalinizada a seu favor. Os que
discordavam passaram a ser acusados como trotskistas, coisa que efetivamente
não eram e acabaram expulsos do Partido. Câmara Ferreira, desde o primeiro
momento, tomou posição ao lado da maioria do Comitê Central, combatendo o grupo
de Hermínio Sachetta. Com a cisão as acusações se multiplicavam de lado a lado.
Sachetta descreve assim esse episódio no livro 'O Caldeirão das Bruxas e Outros
Escritos Políticos': “Após a derrota do levante de novembro de 1935, o
jornalista Sacchetta (nome de guerra Paulo) dirigia o Comitê Regional de São
Paulo e foi cooptado para o Birô Político do Comitê Central do PCB. Mais jovem,
Câmara Ferreira (nome de guerra Alberto) trocou o curso de engenharia pela
profissão de revolucionário. Em 1937, o Comitê Regional Paulista divergiu da
linha preconizada pelo Comitê Central a respeito das eleições presidenciais. A
divergência se aprofundou e levou a discussões agressivas e intransigentes. Com
o apoio da Internacional Comunista, Lauro Reginaldo da Rocha (Bangu),
secretário-geral do Comitê Central, venceu a disputa: os divergentes de São
Paulo foram expulsos do partido sob a acusação de renegados trotskistas, a mais
infamante para um militante comunista. Acontece que, ao travar-se a luta
interna — conforme relata Heitor Ferreira Lima —, nenhum dos divergentes do
Comitê Regional paulista era trotskista e, em seguida, apenas um deles —
Sacchetta, precisamente — aderiu ao trotskismo. Tendo tomado posição ao lado do
Comitê Central, Câmara Ferreira não podia mais continuar amigo de Sacchetta,
com o qual se iniciara na vida partidária. A amizade se transformou em
rancorosa inimizade. Da qual compartilhou Carlos Marighella, enviado a São
Paulo pelo Comitê Central, em 1938, a fim de fortalecer a direção regional na
luta contra os ‘fracionistas trotskistas’”. Joaquim Câmara Ferreira e Hermínio
Sacchetta voltariam a se encontrar anos depois no combate à ditadura militar
imposta em 1964.
ENFRENTOU O A DITADURA DO “ESTADO NOVO” DE VARGAS
Em 1939 Câmara Ferreira foi convocado para dar assistência
ao Partido em diversos estados nordestinos. Algo muito perigoso tendo em vista
a ofensiva policial desencadeada contra o PC do Brasil. Na volta, em março de
1940, foi preso no Rio de Janeiro. Todos os dirigentes nacionais estavam nas
mãos da repressão e Partido ficara acéfalo. Segundo Gertel: “Câmara Ferreira
foi torturado barbaramente com palmatória, afogamento, pau-de-arara e estiletes
de madeira enfiados nas unhas”.
Apesar do suplício, ele não deu nenhuma informação que
pudesse prejudicar o Partido. Um dia quebrou uma janela da delegacia – cortando
os pulsos – e gritou: “estão me torturando! Viva Prestes!”. Por seus
ferimentos, que impediam de usar uma das mãos, teve que ser operado ainda na
prisão. Aquela seria uma experiência dolorosa que o marcaria por toda a sua
vida. Ele foi condenado a sete anos de prisão pelo Tribunal de Segurança
Nacional e por dois anos e meio permaneceu incomunicável na Casa de Detenção.
Antes de ser preso havia conhecido Leonora Cardieri e tornaram-se namorados. O
casamento seria feito na prisão de Ilha Grande em 1944. Solto um mês antes da
anistia foi trabalhar no Diário de São Paulo. Entre 1946 e 1948 nasceram seus
dois filhos: Roberto e Denise.
Ao contrário da maioria dos presos políticos – como
Marighella –, Câmara Ferreira defendia a necessidade da Conferência da
Mantiqueira, ocorrida em 1943, e o processo de reorganização do Partido que
vinha sendo realizado por homens como Diógenes Arruda Câmara, Amarílio
Vasconcelos, Maurício Grabois, Pedro Pomar, João Amazonas e Mário Alves.
Depois da anistia, em 18 de abril de 1945, e da legalidade
do PCB, Câmara se tornou um dos principais dirigentes do partido em São Paulo.
Foi um dos responsáveis pela criação de diretor-redator do jornal paulista
Hoje. A publicação era diária e, entre 1945 e 1947, chegou a disputar a venda
com grandes jornais como O Estado de S. Paulo. Em janeiro de 1947, os
stalinistas tiveram uma grande vitória elegendo 11 deputados estaduais e dois
federais, além de ajudarem a eleger Adhemar de Barros para o governo de São
Paulo. Essa foi uma vitória de Pirro que refletia bem a política do stalinismo,
pois logo ele se voltaria contra o Partido apoiando a sua cassação (1947) e de
seus deputados (1948). A partir daí a repressão do Departamento de Ordem
Política e Social (DOPS) paulista seria ainda mais dura com seu ex-aliado.
Um dos momentos mais dramáticos desses enfrentamentos foi a
invasão da redação e oficinas do Hoje, ocorrida em 2 de janeiro de 1948. De
madrugada, um delegado e dezenas de policiais compareceram à porta do jornal,
comunicando que aquela edição seria apreendida. Câmara Ferreira exigiu um
mandado judicial, que eles não tinham. Diante disso, tomou a decisão de resistir
nem que fosse à bala. Dentro das oficinas havia mais de 40 empregados e o
deputado comunista Estocel de Moraes. Em seguida, estourou um tiroteio que
durou várias horas. O conflito terminou próximo ao amanhecer quando, já sem
munição e num ambiente saturado de gás lacrimogêneo, os resistentes tiveram que
se render. À exceção de Estocel, que tinha imunidade parlamentar, todos os
demais foram conduzidos ao DOPS. Num primeiro julgamento Câmara foi condenado a
um ano de prisão.
Quando saiu da cadeia ele reassumiu a direção do Partido em
São Paulo e do Notícias de Hoje – novo nome adotado pelo jornal que havia sido
proibido pela polícia. Este se transformaria no porta-voz dos operários durante
a greve geral que sacudiu São Paulo em 1953. Nos dias da paralisação as vendas
subiram de quatro mil para 25 mil exemplares por dia. Por trás disso estava o
valente Câmara Ferreira. Entre 1948 e 1953, a linha do Partido foi marcada pelo
esquerdismo e por uma retórica radicalizada contra os governos Dutra e Vargas. E
isso acarretaria aos editores dos jornais comunistas – como Câmara Ferreira –
muitos processos e breves detenções.
NA CRISE DO STALINISMO MUNDIAL COM A REVELAÇÃO DO “RELATÓRIO
KRUSCHEV” EM 1956, MANTEVE-SE NO PCB APOIANDO A POLÍTICA DE
MOSCOU
Em meados da década de 1950, ninguém imaginava que o
movimento comunista estava às portas de uma grande crise. Tudo começou em 1956
quando, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS),
Kruschev denunciou parcialmente os crimes cometidos por Stalin apesar de manter
sua política de coexistência pacífica com o imperialismo a nível mundial. A
notícia transmitida inicialmente pela imprensa burguesa ocasionou um choque
profundo e uma fratura ideológica que teria inúmeras consequências.
Momentaneamente, no Brasil, houve o fortalecimento de uma corrente kruchoviana.
Seu principal expoente foi Agildo Barata – um dos heróis do Levante de 1935.
Alguns anos depois foi fundado o PCdoB de João Amazonas mas Câmara Ferreira
manteve-se fiel ao PCB alinhado com o PCUS. Depois a direção nacional aprovou a
Declaração de Março que representava uma adaptação da linha do partido
brasileiro as orientações de Moscou e do PCUS. Pelas teses o regime de
"democracia popular" (capitalista de transição ao 'socialismo')
deveria ser conquistado gradualmente através de sucessivas reformas e de
diversos governos de caráter democrático e nacionalista – sem a necessidade de
uma ruptura revolucionária. Tal posição não obteve o consenso entre os
stalinistas brasileiros e gerou grande polêmica.
As consequências da crise aberta entre 1956 e 1957 com o
"Relatório Kruchev" foram avassaladoras: a União da Juventude
Comunista (UJC) entrou em colapso e a maioria dos jornais regionais sofriam com
a deserção ou afastamento de seus jornalistas abalados com as denúncias contra
Stalin. O Notícias de Hoje também deixou de existir. O semanário Voz Operária –
órgão oficioso do PCB – se transformou em Novos Rumos e Câmara Ferreira assumiu
a chefia de sua sucursal paulista. Ele, num primeiro momento, se alinhou à nova
política partidária. Por isso, segundo Gorender, esteve entre aqueles que
ajudaram na elaboração das teses do V Congresso do PCB, que seguia no mesmo
rumo da Declaração de Março de 1958. Depois de sua publicação, a discussão,
através da Tribuna de Debates, foi muito acesa e radicalizada. Colocaram-se em
trincheiras opostas antigos camaradas. De um lado, Prestes, Marighella,
Gorender, Câmara Ferreira, Mário Alves; de outro, Amazonas, Grabois, Pomar,
Lincoln Oest e Carlos Danielli. O resultado do confronto político e ideológico
foi que a linha ligada ao PCUS saiu vitoriosa. Arruda, Amazonas e Grabois
perderam seus lugares no Comitê Central e anos depois fundaram o PCdoB. Joaquim
Câmara, alinhado à maioria, passou a compor o órgão dirigente nacional.
ROMPE COM O PCB, ADERE A LUTA ARMADA E FUNDA A ALN AO LADO
DE MARIGHELLA
No interior do PCB gradualmente foram surgindo diferenças de
opiniões. Dirigentes que haviam apoiado as teses do congresso agora
demonstravam algumas dúvidas e propunham uma linha política um pouco mais à
esquerda. Essas diferenças ainda pouco percebidas pela militância se tornariam
explosivas com o golpe militar. A incapacidade de prever o que estava
acontecendo e a inexistência de um movimento mais amplo de resistência popular aos
golpistas geraram descontentamentos nas fileiras do PCB. Muitos começaram a
procurar outras alternativas. Após a implantação da ditadura, o Comitê Central
se dividiu. Em maio daquele ano a Comissão Executiva aprovou o documento
Esquema para discussão. Ele trazia uma crítica às posições conciliadoras
adotadas pelo PCB durante o governo Goulart e as responsabilizava pela derrota
ocorrida quase sem luta. Essa resolução conseguiu ser aprovada porque os
dirigentes que estavam disponíveis no Rio de Janeiro eram ligados à esquerda
partidária, como Gorender, Mário Alves e Câmara Ferreira. Quando Prestes e
outros membros da direção vinculados a ele – que eram a maioria – tomaram pé da
situação procuraram reverter a decisão anterior.
O embate direto entre as duas linhas ocorreu durante a
primeira reunião do Comitê Central e venceu aquela capitaneada por Prestes. O
Esquema seria duramente criticado e impedido de circular, acusado de
esquerdista. Seus defensores foram derrotados e perderam o espaço que tinham na
direção nacional. O mesmo não aconteceu nos principais comitês partidários,
especialmente nos estados de São Paulo e Guanabara. Ali a esquerda aumentou o
seu prestígio e se preparou para o combate.
Às vésperas do VI Congresso do PCB o debate tomou nova
dimensão e se radicalizou. A situação na direção nacional não era nem um pouco
tranquila. Na Conferência de São Paulo, por exemplo, mesmo com a presença de
Prestes, as teses oficiais foram derrotadas – conseguindo apenas 4 votos entre
os 37 delegados presentes. Foi uma vitória consagradora para Marighella e
Câmara Ferreira. Diante desse resultado desfavorável, o Comitê Central
simplesmente interveio e impôs outra direção regional. O Congresso se
realizaria em dezembro de 1967, mas sem a participação dos delegados da
oposição. Uns haviam sido expulsos antes e outros não haviam recebido os pontos
corretos que os levariam ao conclave. Esses métodos foram usados por aqueles
que se diziam críticos do stalinismo.
Naquele processo conturbado surgiu a chamada “corrente revolucionária”
que, num primeiro momento, congregava todos os descontentes com a linha
reformista predominante. O que os unificava era a proposta de luta armada como
forma privilegiada de pôr fim ao regime militar. Em breve, esse grupo
explodiria e a partir dele se formariam diversas organizações clandestinas,
como Ação Libertadora Nacional (ALN), o Partido Comunista Brasileiro
Revolucionário (PCBR) e as Dissidências da Guanabara e São Paulo (DIs).
ENFRENTANDO A DITADURA DE ARMAS NAS MÃOS: NO COMANDO DO RAPTO
DO EMBAIXADOR IANQUE
Marighella e Câmara Ferreira criariam o Agrupamento
Comunista de São Paulo que logo daria origem à Ação Libertadora Nacional (ALN).
Câmara foi o grande organizador tanto do “agrupamento” como da ALN, enquanto
Marighella era o agitador e aquele que tinha maior expressão pública. Vários de
seus camaradas afirmaram que Câmara Ferreira, ao contrário de Marighella, se
mostrou inicialmente reticente em relação às teses militaristas e foquistas
desenvolvidas por Régis Debray. Mas mesmo assim – seguindo a corrente – acabou
mergulhando de corpo e alma na luta armada.
Como dissemos anteriormente, Sachetta e Câmara Ferreira que
estavam rompidos desde a perseguição ao núcleo trotskista no PCB se uniriam
pontualmente de novo contra outra ditadura: a militar. Assim descreve Sachetta:
“Por que, então, Hermínio Sacchetta aceitou o convite que lhe trouxe Câmara
Ferreira de colaborar com a ALN? Justamente com a ALN, cuja orientação
estratégica (nacional-libertadora) e tática (luta armada imediatíssima) era tão
oposta àquela que vinha expondo insistentemente no Bandeira Vermelha? Imagino que, como tantos naquela época,
Sacchetta queria realizar algo bem concreto contra a ditadura militar. Não se
satisfazia com a doutrinação e a propaganda em pequenos círculos. Pôs de lado
discordâncias teóricas, afastou velhos agravos e passou a ter encontros
regulares com o antigo companheiro, durante muitos anos separado pela inimizade
política. Esteve também com Marighella e selou o pacto da reconciliação e da
luta comum. Apesar de sexagenário já abalado por um infarto, resolveu correr
riscos que, por experiência, não ignorava. No final de janeiro de 1969, a
direção da VPR teve urgente necessidade de tirar as armas expropriadas da Loja
Diana do depósito secreto em que se encontravam. O depósito era conhecido de
Hermes Camargo Batista, preso no episódio da pintura do caminhão em Itapecerica
da Serra. A direção da VPR pediu a ajuda da ALN e Câmara Ferreira recorreu a
Sacchetta. Este arrumou às pressas um lugar seguro. Em três viagens do Fusca guiado
por Renato Caldas, foi posto a salvo o arsenal de carabinas, revólveres 38 e
caixas de munição. Às oito e meia da manhã de 15 de agosto de 1969, um
destacamento de doze guerrilheiros da ALN invadiu a estação transmissora da
Rádio Nacional em Piraporinha, perto de Diadema (Grande São Paulo). Dominados
os funcionários, um dos invasores interrompeu a ligação com o estúdio e ligou
ao transmissor de ondas curtas uma gravação. Com o fundo musical do Hino da
Internacional Comunista e do Hino Nacional, a gravação anunciou o nome de
Carlos Marighella e reproduziu o manifesto lido por ele. Na meia hora em que a
estação esteve sob controle da ALN, deu tempo para repetir a gravação. No mesmo
dia 15, o jornal paulistano Diário da Noite lançou uma segunda edição com o
texto integral do manifesto de Marighella captado pelo setor de radioescuta. A
decisão de publicar o manifesto partiu do diretor de redação Hermínio
Sacchetta. Os demais jornais se limitaram a noticiar o episódio da invasão da
Rádio Nacional de São Paulo, pertencente à Rede Globo. Pegada de surpresa, a
Polícia não pôde recolher das bancas senão pequena parte da segunda edição do
Diário da Noite. Tão grave infração da censura não podia ser tolerada. A
Polícia Federal prendeu o diretor de redação e o indiciou em inquérito
criminal. Apesar da ficha de antecedentes nada recomendáveis do indiciado, o
inquérito deu em nada e o suspeito de conivência subversiva foi solto após
algumas semanas. Mas perdeu o emprego. Até hoje, corre a versão da casualidade
da participação de Sacchetta no episódio. Agora, deve-se esclarecer em
definitivo que não houve casualidade. Sacchetta recebeu previamente cópia do
manifesto de Marighella das mãos de Câmara Ferreira, avisado do que ia ocorrer
e da participação que a ALN esperava dele. Como não era iniciante inexperiente,
Sacchetta tomou as precauções de cobertura, na previsão de que podia vir a
enfrentar pesadas complicações. Orientou o setor de radioescuta do seu jornal
para captar a transmissão da Rádio Nacional e, tão ‘surpreso’ quanto os
colegas, decidiu desafiar a censura: furo de reportagem é dever profissional de
jornalistas”
Câmara Ferreira esteve à frente da mais espetacular ação dos
grupos guerrilheiros urbanos: o rapto do embaixador ianque Charles Burke
Elbrick. A ideia da captura havia partido da Dissidência da Guanabara (DI-GB),
mas ela não tinha quadros experientes para executar essa tarefa. Por isso,
pediu a ajuda da ALN de São Paulo. O apoio foi acertado diretamente com Câmara
Ferreira, sem que a ALN do Rio e mesmo Marighella soubessem de nada. A essa
ação foram incorporados Virgílio Gomes da Silva (Jonas) e o próprio Câmara
Ferreira (Toledo), ambos dirigentes da ALN. O primeiro seria o comandante
militar e o segundo comporia o comando político, que ajudaria a elaborar o
manifesto público e a lista de militantes presos que seriam trocados pelo
embaixador, além de definir os delicados passos das negociações com a ditadura.
A operação, realizada na semana da pátria, foi um sucesso.
Quinze revolucionários foram libertados e o manifesto saiu nos principais meios
de comunicação. O texto divulgado concluía assim: “Finalmente, queremos
advertir aqueles que torturam, espancam e matam nossos companheiros: não vamos
aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem
prosseguir torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é
olho por olho, dente por dente.”
A ditadura saiu desmoralizada. Contudo, a resposta dos
militares seria dura e desarticularia a ALN, eliminando seus principais dirigentes.
Isso, de certo modo, já havia sido previsto por Marighella, que não soubera
antecipadamente da ação e por isso mesmo havia se desentendido com Toledo. O
ato espetacular havia jogado demasiada luz sobre uma organização que ainda não
estava suficientemente preparada para se defender da ofensiva que seria
desencadeada pelos órgãos de repressão.
Poucos dias depois, em 29 de setembro de 1969, Virgílio
Gomes da Silva (o comandante Jonas) foi preso, brutalmente torturado e
assassinado nas dependências da Operação Bandeirante (OBAN). Quase todos os
envolvidos no rapto do embaixador foram presos. Em outubro, o comandante
Toledo, como era conhecido, foi obrigado a sair do país até que as coisas se
acalmassem. Mas elas não se acalmaram, pelo contrário se agravaram. Na França,
recebeu a trágica notícia do assassinato de Carlos Marighella, ocorrido em 4 de
novembro em plena Alameda Casa Branca na cidade de São Paulo. Isso o chocou
profundamente. Em seguida, viajou a Cuba e teve uma audiência com Fidel Castro,
o que reforçou sua autoridade frente ao movimento revolucionário brasileiro.
Aos 56 anos faria um curso militar no Estado operário burocratizado cubano.
Sabendo o que se passava pela cabeça de Câmara Ferreira,
vários amigos o aconselharam a permanecer no exterior. Diziam que se ele
voltasse ao país seria como estar assinando a própria sentença de morte. Mas
Câmara Ferreira estava decidido a assumir o seu posto de combate no Brasil.
Pesava-lhe nos ombros o fato de que jovens continuavam lutando e morrendo num
confronto cada vez mais desigual com a ditadura. E em dezembro de 1969 – dois
meses depois de partir – Câmara Ferreira estava de volta e começava a
empreender uma desesperada “fuga para frente”. Agora como principal dirigente
da ALN, centralizou a organização e manteve a ofensiva militar, contra todas as
possibilidades de vitória. Buscou constituir uma “frente armada”, envolvendo a
ALN, o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e a Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR). Procurou também congregar o MR-8 e o PCBR, sem grande
sucesso. O seu grande objetivo era criar as condições para dar início à ação
guerrilheira no campo. Num dos seus últimos textos escreveu: “A vanguarda foi
se definindo, não sob a forma de uma única organização, mas de numerosas. Entretanto
havia um denominador comum a todas elas: a compreensão de que a revolução
brasileira se desenvolveria fundamentalmente no campo, que teríamos que travar
uma guerra prolongada e que deveríamos concentrar nossos melhores esforços na
preparação do desencadeamento da guerrilha rural”. Carlos Lamarca (então na
VPR) e Joaquim Câmara Ferreira passaram a ser os principais expoentes da
guerrilha urbana que não conseguiu se deslocar para o campo e, por isso mesmo,
eles passaram a ser os alvos privilegiados da repressão.
TORTURADO PELA DITADURA MILITAR, TOMBA O “COMANDANTE TOLEDO”
SEM DAR NENHUMA INFORMAÇÃO AOS FASCISTAS DE SEUS CAMARADAS DE LUTA
REVOLUCIONÁRIA
Vítima de uma traição, no dia 23 de outubro de 1970, há
exatos 49 anos, Câmara Ferreira foi preso por agentes do DOPS num encontro que
teria no bairro de Moema em São Paulo. O velho camarada resistiu o quanto pôde
à prisão. Entrou em luta corporal com os policiais que, com muito esforço, o
enfiaram na viatura. Depois foi conduzido a um sítio – na verdade um centro
clandestino de tortura – mantido pelo famigerado delegado Sérgio Paranhos
Fleury. Torturado durante toda a viagem, como era praxe, sofreu um enfarte.
Chegou bastante mal no local onde deveria ser interrogado, morrendo pouco tempo
depois. Seus algozes não puderam extrair dele nenhuma informação, mas os
revolucionários da LBI fazem até hoje uma justa homenagem a esse mártir da
causa comunista no Brasil.