sexta-feira, 18 de outubro de 2019


REINA A PAZ EM QUITO: CAPITULAÇÃO DA CONAIE DEIXOU MORENO IMPUNE COM AS MÃOS SUJAS DE SANGUE...

Depois de quase duas semanas de heroicas mobilizações no Equador que deixaram o governo do entreguista Lenin Moreno literalmente suspenso no ar, a paz para a burguesia voltou a reinar em Quito. A direção da CONAIE pactuou um acordo traidor com o presidente “vende pátria”, que na ânsia de aplicar o ajuste ditado pelo FMI ordenou a morte de dezenas de lutadores. Longe de convocar a tomada do poder pelos trabalhadores e indígenas, a CONAIE apostou com o “diálogo” com o facínora traidor, sustentando o governo neoliberal até 2021 para então apresentar a candidatura de seu dirigente, Jaime Vargas ou mesmo apoiar o nome do ex-presidente Rafael Correa. Essa conduta vergonhosa é uma prova evidente da ausência de uma direção revolucionária para as massas equatorianas. Depois que Moreno anunciou a revogação do Decreto 883, o chamado “Paquetazo” que aumentou em mais de 130% os preços dos combustíveis no país, os dirigentes da CONAIE, em uma escandalosa confissão de traição à heroica luta indígena, operária e popular, afirmaram que “As mobilizações em todo o Equador são encerradas e nos comprometemos em restaurar a paz no país”. Apesar do Decreto 883 ter sido derrubado pelas massas, o governo burguês e as lideranças conciliadoras concordaram em criar um novo decreto mediado pelo ONU, que também é uma imposição do FMI para que novas reformas econômicas neoliberais sejam feitas. Nesse sentido continuou a redução de salários e terceirização do trabalho, enfim, preservou-se o governo assassino e parcialmente seus ataques, quando seria possível impor um governo das organizações operárias, populares e indígenas por fora da democracia dos ricos e sem respeitar o circo eleitoral de 2021.


Note-se que os explorados lutavam pela derrubada do governo do “traíra” Lenin Moreno, mas as lideranças (principalmente as indígenas) deixaram de impulsionar a luta para tomada do poder quando o governo concordou em cancelar o fim do subsídio aos combustíveis, o que significou uma séria derrota diante do potencial revolucionário das manifestações. Tanto que a repressão continuou muito forte, com membros dos movimentos sociais e partidários de oposição de esquerda partidária sendo presos, mais de mil manifestantes detidos e feridos, depois de um saldo de dezenas de assassinados pelas forças policiais e militares. O mais incrível diante do “desmonte” da mobilização revolucionária do povo equatoriano, é que setores da esquerda reformista vieram a “comemorar a grande vitória”, o que significa na prática celebrar a manutenção de um governo neoliberal em pleno colapso político, e sem a menor condição de se manter estável no poder sem a vergonhosa “trégua” estabelecida pelas direções burocráticas. Esse desfecho reacionário é todo o oposto do que apregoam os grupos reformistas ou revisionistas do Trotskismo, como o Resistência (PSOL), que afirma “A primeira vitória da mobilização indígena e popular contra o governo de Lenin Moreno, com a revogação do aumento dos combustíveis, pode ser útil para o debate de qual deve ser a estratégia da esquerda brasileira diante de Bolsonaro. No próximo fim de semana acontecerão as eleições presidenciais na Argentina, e Macri será, provavelmente, derrotado. Os ativistas de todos os movimentos, partidos e correntes devem estudar e refletir sobre as lições destas duas experiências” (Esquerda On Line, 15.10). Note-se que a suposta “vitória da mobilização no Equador” foi ter empurrado a crise revolucionária para dentro do terreno eleitoral, tanto que se iguala esse falso “avanço” a certo derrota eleitoral de Macri na Argentina nos próximos dias, ou seja, para esses filisteus tudo deve ser resolvido no terreno do respeito ao calendário eleitoral e das instituições do regime.

Agora que a estabilidade política vem retornando ao Equador, as direções políticas e sindicais traidoras apontam a necessidade de esperar até as eleições presidenciais de 2021 para colocar no lugar do moribundo Lenin outro gerente “comprometido com a luta popular”. No curso da luta e agora depois da derrota imposta ao movimento de massas alertamos que apostar em novas eleições como uma saída política para a grave crise que atravessa o Equador é uma traição da luta dos oprimidos. O movimento de massas, tendo concretamente a frente das gigantescas mobilizações organizações como a CONAIE e a FUT, deveria ter tomado em suas mãos a resolução propositiva da crise revolucionária, derrubado o “cadáver” Moreno e instaurando um governo operário, indígena e popular no Equador, baseado em organismos de poder totalmente independentes das instituições apodrecidas do Estado Burguês. Entretanto essas direções fizeram justamente o contrário, pactuado com o governo uma saída burguesa para a crise. Esse cenário foi possível pela ausência de Partido Operário Revolucionário que fosse a verdadeira direção da transição socialista no Equador!

Registre-se que no auge da crise, o imperialismo ianque vendo a situação de Moreno degringolar completamente, acionou o escritório da ONU no Equador para “mediar negociações de um acordo”. Rafael Correa exilado há dois anos na Bélgica por conta de uma perseguição judicial, à semelhança da “Operação Lava Jato” brasileira, então defendeu uma “trégua” do movimento em troca da antecipação das eleições presidenciais e então se lançou candidato, “pelo menos a vice” tentando copiar a manobra de Cristina Kirchner na Argentina. Como a CONAIE pactuou com Lenin um acordo para sustentar o governo até 2021, apontando que vai lançar um “candidato do movimento Pachakutik” sequer foi necessário acionar imediatamente o “Plano B” da burguesia, tanto que Correa segue fora do país. O balanço a ser feito do desfecho da luta no Equador é que o movimento de massas sofreu uma derrota diante das possibilidades revolucionárias que se abriu no país, o que torna uma necessidade histórica e imediata a construção de uma alternativa de direção comunista para os explorados equatorianos!