segunda-feira, 28 de outubro de 2019

BOLÍVIA TAMBÉM “ARDE”: MANIFESTAÇÕES DE RUA E GREVE GERAL CONVOCADA PELA DIREITA PARA IMPEDIR O NOVO MANDATO DE EVO MORALES


Após a conturbada eleição geral do dia 20 de outubro, onde o atual presidente da Bolívia, Evo Morales, buscou seu quarto mandato consecutivo, o Tribunal Supremo Eleitoral declarou após quase cinco dias de atraso, vitorioso o candidato oficialista do MAS, por uma pequena diferença de 0,5% para evitar a realização de um segundo turno com o segundo colocado, Carlos Mesa. Estas eleições foram as mais complexas e difíceis para o líder indígena e seu projeto de conciliação de classes, devido a uma combinação de situações internas e externas, como a correlação de forças na América Latina, particularmente na região sul-americana. Com o resultado final proclamado o país entrou em uma espécie de convulsão social, com a convocação de uma greve nacional e uma marcha para cercar La Paz, iniciativa dos governadores departamentais da oposição de direita (Santa Cruz e outros), com o apoio de Carlos Mesa. Evo logo denunciou, que o candidato da chapa da Comunidade Cidadã (CC): “Alimenta o ódio contra os indígenas e os mais humildes, ao não admitir sua derrota nas eleições gerais de domingo passado, manda incendiar tribunais departamentais e tocar fogo em cédulas eleitorais”. Grandes protestos de rua contra o resultado eleitoral entraram na segunda semana consecutiva e nesta segunda-feira (28/10) grupos de bairros das cidades La Paz e de Cochabamba inviabilizaram todo o comércio e serviços da região. O prefeito de La Paz, integrante do campo opositor, Luis Revilla (aliado político de Carlos Mesa), afirmou à imprensa que o movimento popular é pacífico, porém não dará trégua até a revisão da sentença eleitoral do TSE. Nas cidades de Santa Cruz e Potosí, onde operam grandes mineradoras, houve paralisação total das atividades. Evo Morales, cedendo à pressão da OEA e da embaixada norte-americana, se mostrou aberto à realização de um segundo turno com Carlos Mesa, caso uma auditoria internacional apresente provas de fraude na eleição de 20 de outubro. Por outro lado a Casa Branca, não deslegitimou por completo a reeleição de Evo, evitando demonstrar apoio político logístico a grupos “radicais” da oposição que comandam os violentos protestos de rua, Trump se inclina a um “convencimento menos traumático” para que o MAS e o Comunidade Cidadã cheguem a um acordo para a realização de um segundo turno. Logo de cara, chama atenção a postura “diplomática” de Washington, contrastando com a posição belicosa que assumiram na Venezuela, onde insuflaram uma guerra civil para desestabilizar o governo Maduro. Durante os 14 anos do governo da Frente Popular na Bolívia, Morales sempre procurou uma aproximação comercial com os EUA, firmando acordos que beneficiavam os trustes imperialistas de mineração, em troca de pequenas “vantagens” para poder implantar projetos de compensação social. Mas com o aguçamento da crise capitalista, a “pequena gordura” acumulada pelo governo do MAS logo se derreteu, gerando um enorme descontentamento nacional com a política de colaboração de classes de Evo, resultando na eleição presidencial mais “acirrada” dos últimos quinze anos. O intricado tabuleiro político da América do Sul, revela nestes momentos situações aparentemente “contraditórias”, ofensiva da direita no Brasil, Bolívia e Uruguai, derrota nas urnas da reação ultra neoliberal na Argentina, e levante de massas no Equador e Chile. O elo comum a todos estes processos é a ausência de uma direção revolucionária da classe operária, que faz o pêndulo da luta de classes girar em um ciclo permanente entre a Social Democracia e o Fascismo, sem que se irrompa o Socialismo pela via da revolução proletária. Hoje à Bolívia caminha para o que já vivemos no Brasil com a reeleição de Dilma em 2014, enquanto a burguesia argentina “despacha” eleitoralmente Macri, para iniciar um novo pacto social tentando evitar o que ocorreu no Equador e Chile... e assim por diante em um círculo viciado entre alternativas no marco da burguesia e seu regime capitalista. Mais do que nunca está vigente o Programa de Transição da IV Internacional: “A crise da humanidade se resume a crise de sua direção revolucionária”.