A Ford encerra, nesta quarta-feira (30.10), depois de 52
anos, a produção de veículos na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC
paulista. A decisão foi anunciada 8 meses antes. A unidade do ABC era uma das
fábricas de veículos mais antigas do Brasil. Ela empregava 2.350 funcionários
no começo do ano. Essa derrota imposta pela patronal teve a cumplicidade direta
da burocracia sindical da CUT e da direção lulista do PT que em nenhum momento
convocou a greve com ocupação de fábrica e, muito menos, mobilizou por uma paralisação de toda a categoria da região para impor o controle da unidade
pelos trabalhadores, exigindo a estatização da empresa. Na última assembleia da
Ford realizada ontem a direção do sindicato usou o carro de som apenas para a
avisar que “os trabalhadores fiquem atentos ao chamado do sindicato caso ocorra
algum avanço das negociações com a CAOA” que é dona de metade da operação da
chinesa Chery no Brasil e responsável por produzir e comercializar alguns
carros da Hyundai no país. Nesse sentido, o sindicato vergonhosamente afirmou
que só restava “pressionar o BNDES” para financiar um empréstimo milionário para
a CAOA. Lembremos que em fevereiro de 2019, a política de traição da diretoria
do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, controlada pela burocracia lulista,
mandou os operários para casa diante do anúncio do fechamento da Ford de São
Bernardo. Depois, longe de deflagrar a greve geral contra ocupação da fábrica
aprovaram a ida de uma comitiva de burocratas aos EUA para “dialogar” com os
patrões da multinacional ianque. O objetivo seria apresentar propostas contra o
fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, tudo não passou de uma
encenação para facilitar a vida da multinacional, voltada a não convocar a luta
direta dos operários, que exigiria a mobilização de toda a categoria
metalúrgica e a ocupação imediata da empresa, exigindo a sua estatização sob o
controle dos trabalhadores. O balanço a fazer é que política da CUT e do PT foi
na contramão das necessidades dos trabalhadores, optaram sempre por tentar
pactuar com a patronal em detrimento aos interesses operários, alimentando
ilusões distracionistas entre os explorados. Chegaram a apresentar o prefeito
de São Bernardo, o tucano Orlando Morando e até mesmo o playboy neoliberal,
governador João Dória, como aliados na luta contra o fechamento da Ford, como
escandalosamente afirmou a nota da CUT nacional “Vamos à matriz discutir com a
direção mundial, conversamos com prefeito da cidade. Não vamos desistir de
manter uma empresa com essa importância em nossa região. Esperamos ainda que a
empresa reveja sua decisão e que os governos estaduais, municipais e federal
cumpram com suas obrigações, atuando para negociar com a companhia e impedir a
demissão imediata de 3.200 trabalhadores” (Rede Brasil Atual, 21.02). A
política de enrolação da diretoria sindical pelega foi tamanha que no início de
fevereiro, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o
Wagnão, entregou ao vice-presidente de Bolsoanaro, o general Hamilton Mourão,
documento em defesa do setor industrial, reivindicando do Palácio do Planalto
uma política para o setor “que contribua efetivamente com o desenvolvimento do
país, articulada com as necessidades de superação dos gargalos econômicos e
sociais, de modo a distribuir seus ganhos entre toda a sociedade e posicionando
o Brasil entre as principais economias industriais do planeta” (Brasil de Fato,
26.02). Em resumo nossos algozes, parceiros da Ford contra os operários,
passaram a ser apresentados como possíveis aliados contra o fechamento da
planta de SBC! Como podemos observar, passados 8 meses do anúncio do fechamento
e diante da ausência de luta direta, a multinacional ianque, provocando a
demissão de 2.350 trabalhadores, que vão amargar miséria em quadro de profunda
recessão que atravessa nosso país. O mais vergonhoso é que correntes como o
PCO, corrompidas até a medula, ainda aplaudiram as manobras traiçoeiras da
burocracia lulista, apresentando-as como “importantes medidas de luta”. Como
alertamos no último período, é preciso dotar as lutas de uma estratégia
revolucionária, para isso faz-se necessário superar a política de colaboração
de classes da CUT e do PT, caso contrário, novas derrotas como o fechamento da
fábrica da Ford e a imposição da Reforma neoliberal da previdência vão se
repetir em breve!