sexta-feira, 4 de outubro de 2019

HÁ 10 ANOS NOS DEIXAVA MERCEDES SOSA: “LA NEGRA” COMUNISTA QUE CANTOU AS DORES, PAIXÕES E LUTAS DOS EXPLORADOS E OPRIMIDOS LATINO-AMERICANOS!


Em 04 de outubro de 2009, há exatos 10 anos, nos deixava a genial cantora e compositora argentina Mercedes Sosa. “La Negra” foi uma das principais representantes da música latino-americana pelo mundo, a voz dos que não tinham voz, a comunista que subia aos palcos para cantar as agruras, lutas e paixões dos trabalhadores, do povo explorado e oprimido. Nascida em 9 de julho de 1935, dia e mês em que se comemora a independência de seu país, a cantora argentina popularizou ritmos latinos e foi considerada a maior intérprete do folclore argentino. Veio ao mundo em Tucumán, província do norte argentino, descendente dos índios diaguitas e de franceses, como ficou claramente marcada em seu corpo e face. Cresceu num lar humilde e aprendeu a amar as expressões artísticas populares. Na adolescência dançava, cantava e chegou a ser professora de danças nativas. Era, claramente, uma cantora com posição política, filiada ao Partido Comunista da Argentina e militante da resistência popular desde muito jovem. Ela começou a carreira em 1950, aos 15 anos. Ao lado de um grupo de amigas, participou de uma competição na rádio local, apresentando-se sob o pseudônimo de Gladys Osorio. Sua voz, que no começo da carreira possuía um registro quase soprano, evoluiu para um domínio total dos tons mais graves e profundos, com perfeita entonação e grande ternura. Seu primeiro álbum foi lançado em 1959 e até 2009, quando faleceu em Buenos Aires no dia 04 de outubro de 2009, lançou mais de 30 discos. Interpretou canções de nomes como Violeta Parra, Charly Garcia, Milton Nascimento, Chico Buarque entre outros grandes mestres. Nos anos 60 muda-se para Mendoza onde se ampliam seus horizontes, grava seus primeiros discos A voz da safra (1962) e Canções com fundamento (1965) que na época passam despercebidos. Nesse mesmo ano tudo muda, consegue se consagrar quando tem a oportunidade de cantar no Festival de Cosquín, o mais importante da Argentina. Em 1967 realiza uma exitosa turnê pelo EUA e Europa. Nos anos subsequentes continua gravando e ampliando seu repertório para todas as expressões populares autênticas dos compositores latino-americanos. 


Entre os clássicos estão as músicas “Solo le pido a Dios” e “Gracias a la vida”. Em 1971 encarnou a heroína alto-peruana Juana Azurduy no filme Güemes, a terra em armas. Nessa época as letras de suas canções, suas homenagens a personalidades como Violeta Parra, Víctor Jara, sua postura de apoio às causas populares, provocaram o ódio de classe entre os militares que governavam a Argentina, chegando a ser censurada nas rádios oficiais. “La Negra” se destacou desde cedo por sua voz potente e sua postura à esquerda, com canções repletas de mensagens sociais e interpretações inesquecíveis de combate. As canções de Mercedes Sosa são parte da vida e dos sonhos dos explorados e oprimidos latinos americanos que se veem representados em sua voz rebelde e potente, cheia de força e energia.



Registremos que por volta da década de 1970, ela foi reconhecida como uma das cantoras que impulsionou o Movimento do Novo Cancioneiro, que tinha inspiração social e incorporava nas músicas críticas aos governos ditatoriais da América Latina. O Manifesto do Novo Cancioneiro tinha como proposta a renovação da música folclórica argentina, com canções de protestos. Depois de um curto e culturalmente fértil período de relativa abertura política, em 1976 a ditadura militar assume sua face mais sanguinária. Mercedes continuou em seu país, ainda que seus discos fossem proibidos e sofresse ameaças de grupos paramilitares. Até que em 1979, quando se apresentava ante um público estudantil na cidade universitária de La Plata, em Buenos Aires, ela e os espectadores foram presos. Sua conduta militante atraiu a atenção e a censura do governo militar argentino. Sosa foi presa juntamente com um público de aproximadamente 200 estudantes durante a apresentação. Ela foi libertada 18 horas depois devido à pressão internacional, mas foi obrigada a deixar a Argentina. Seguiu para o exílio forçoso. Primeiro foi a Paris e em 1980 instala-se em Madri, onde ficou até meados de 1982. Sua atividade artística foi intensa nesses anos. O auge da popularidade de Mercedes Sosa no Brasil aconteceu nos anos 1970 e 1980, quando se tornou amiga de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Fagner, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Elis Regina e Beth Carvalho. Sua música e sua opção política de esquerda chamaram a atenção para a importância e a beleza contundente de seu canto. Em 1980, Mercedes gravou o álbum Ao Vivo no Brasil e em 1982 lançou outro disco para o mercado brasileiro, Gente Humilde, puxado pela faixa-título de Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Garoto. Aqui cabe um registro histórico. A comunista Mercedes Sosa havia sido presa ao desembarcar no aeroporto do Galeão, vinda da Itália, em plena ditadura militar brasileira no ano de 1981. Fagner e um grupo de artistas intercederam junto a Rede Globo para que o governo do General Figueiredo libertasse Sosa para a realização de um show que já estava marcado. O resultado foi a realização deste incrível “dueto mágico”, onde cantaram "Calma Violência" em uma clara alusão a prisão de Mercedes. Desgraçadamente, hoje Fagner está do outro lado do rubicão, com seus amigos neofascistas como o famigerado Moro e Bolsonaro.

Com o início da transição pactuada pela burguesia da ditadura militar para o falso regime democratizante na Argentina no bojo da derrota da Guerra das Malvinas para o imperialismo britânico, em 1982, Mercedes retorna ao seu país. Realiza uma série de 13 concertos históricos no teatro Opera, onde é gravado o LP Mercedes Sosa en Argentina. Logo depois lota, em dois espetáculos seguidos, o estádio de futebol Ferrocarril Oeste somando 60 mil espectadores. Exige que se julguem os militares assassinos e todos aqueles que os apoiaram e se beneficiaram com o regime gorila. Nessa época da chamada “redemocratização” ela manteve-se fiel, na vida e na música, à política de colaboração de classes do PC argentino de buscar alianças políticas com a chamada “burguesia progressista”. Mercedes seguiu até sua morte, em 2009, ecoando por todos os lados da América Latina e do Mundo o canto da resistência do povo explorado e oprimido, apesar de no final da vida ter dado um giro mais à direita, aceitado cantar em Israel ou mesmo se aproximando de políticos conservadores, uma enorme concessão que ganhou peso no meio artístico no mundo pós-soviético, com o fim da URSS e do Muro de Berlim, acontecimentos históricos reacionários que exacerbaram o retrocesso cultural e ideológico da humanidade e obviamente também dos próprios cantores e compositores. Mesmo com essas contradições humanas e políticas, não resta dúvidas que Mercedes Sosa nos legou uma obra magistral vasta e de forte temática social, após uma vida de resistência política militante misturada ao romantismo punjante. Para os trotskistas revolucionários da LBI, “La Negra” comunista Mercedes Sosa é a que estará eternamente viva e latente em nossa memória, coração e “alma”. Ela estará sempre presente, na luta dos trabalhadores e na música de combate por um novo mundo sem explorados e exploradores! Até a Vitória!