sábado, 31 de dezembro de 2022

HÁ CEM ANOS: O ÚLTIMO COMBATE DE LENIN QUE A ESQUERDA REVISIONISTA NUNCA ASSIMILOU

Há cem anos, em 23 de dezembro de 1922, Lenin começou a escrever um dos documentos mais significativos politicamente na história da União Soviética. Tratava-se de uma série de notas que seriam publicadas como uma carta ao Décimo Segundo Congresso do Partido Comunista da URSS. O chefe bolchevique, que não havia se recuperado totalmente do derrame cerebral que sofreu no início daquele ano, estava plenamente consciente de que seu estado de saúde poderia impedi-lo de participar do próximo congresso do Partido Bolchevique. Lenin perfeitamente consciente da complexa situação que atravessava o Estado Operário, indubitavelmente delegou a Stalin tarefas importantes, embora já apontando naquela altura seus desvios burocráticos. O grande chefe Revolucionário compreendia o papel histórico que Trotsky tinha pela frente, porém reconhecendo a imaturidade pequeno burguesa de sua liderança, que todavia não estava ainda completamente forjada na tempera da luta de classes.

Essas anotações, que ficariam conhecidas na história como o “Testamento de Lenin”, incluíam uma avaliação dos principais dirigentes do Partido, não era intenção de Lenin adotar um critério passional ou mesmo totalmente subjetivo do processo que cruzava o Bolchevismo. A relação de Lenin com o Partido Comunista era de um caráter político e historicamente tão único que ela não poderia, em nenhum caso, ser reproduzida por nenhum outro indivíduo. Ele estava, no entanto, profundamente preocupado que as tensões dentro do partido, sob condições de objetiva crise econômica e social e diferenças sobre políticas, pudessem levar a perigosos conflitos entre frações da direção central. Com a intenção de prevenir conflitos destrutivos, Lenin avaliou os pontos “fortes e fracos” dos principais membros do Comitê Central (CC).

Na nota de 24 de dezembro, Lenin escreveu: “O camarada Stalin, tendo se tornado secretário-geral, concentrou em suas mãos um enorme poder, e não tenho certeza se sempre será capaz de usar esse poder com suficiente cautela”. Essa avaliação foi seguida pela seguinte apreciação de Trotsky: “O camarada Trotsky, por outro lado, como sua luta contra o CC na questão do Comissariado do Povo das Comunicações já provou, não se distingue apenas por sua excepcional capacidade. Ele é pessoalmente talvez o homem mais capaz do atual CC, mas demonstrou uma autoconfiança excessiva e mostrou uma preocupação excessiva com o aspecto puramente administrativo do trabalho”.

Entre as questões mais críticas com as quais Lenin se ocupou ao escrever suas notas, estava a relação das repúblicas socialistas dentro do Estado soviético estabelecido em 1922. Lenin, com receio do renascimento do domínio da Grande Rússia dentro da URSS, insistiu no direito das repúblicas socialistas, como a Ucrânia e a Geórgia, de se separarem. Em notas de 30 de dezembro de 1922, Lenin expressou a preocupação de que o governo soviético pudesse não fornecer proteção suficiente contra a opressão da Grande Rússia. Nesse contexto, os comentários de Lenin sobre Stalin – especialmente ao analisar sua conduta abusiva em relação aos representantes das minorias nacionais na Geórgia – foram cada vez mais severos. Referindo-se claramente ao comportamento de Stalin, Lenin alertou contra “o chauvinista da Grande Rússia, em essência um canalha e um opressor, como é o típico burocrata russo”.

Em 9 de março de 1923, Lenin sofreu um derrame que pôs um fim à sua trajetória revolucionária. Nosso chefe morreu em 21 de janeiro de 1924. Após a morte de Lenin, uma manobra sem princípios de Stalin e seus partidários bloqueou a leitura do Testamento no Décimo Terceiro Congresso do Partido, em 1924. Ele deveria permanecer ocultado dos soviéticos por 40 anos. Em 1964, o governo soviético (11 anos após a morte de Stalin) permitiu a inclusão do Testamento de Lenin em uma nova edição de suas Obras Completas. Quando Lenin escreveu o Testamento, a extensão e o significado das divisões que estavam se desenvolvendo dentro do Partido Bolchevique ainda não eram conhecidos. O Testamento de Lenin e as notas e apontamentos que o acompanhavam eram uma antecipação do conflito que se desenrolava. Nos meses que se seguiram, Trotsky continuou e desenvolveu a crítica antecipatória de Lenin ao burocratismo e ao chauvinismo nacional.

Em outubro de 1923, 10 meses após Lenin ter escrito seu Testamento, foi fundada a Oposição de Esquerda. O surgimento do embrião do Movimento Trotskista marcou a continuação da última grande luta de Lenin, que desgraçadamente foi totalmente deformada e traída pela esquerda revisionista ao adotar a stalinofobia como seu grande eixo político. Entretanto os revisionistas que se passaram de malas e bagagens para o campo da contrarrevolução imperialista, não assimilando uma linha sequer do “Testamento de Lenin”, passaram a adotar a mesma senda programática do stalinistmo, ou seja assumiram a plataforma da colaboração de classes em todos os países onde atuaram em apoio às direções Social Democratas.