05 DE DEZEMBRO DE 1911 NASCIA MARIGHELLA: SEU COMBATE VIVE
NA LUTA CONTRA O NEOFASCISMO EM NOSSOS DIAS!
Nascido em 05 de dezembro de 1911 na Bahia, Carlos
Marighella iniciou sua militância aos 18 anos, quando ingressou no PCB, em
1930, numa fase em que o partido comunista enfrentava profundas crises internas
decorrentes de sua adaptação ao stalinismo. A onda de reação que se seguiu à aventura
de 35, mais uma das fracassadas insurreições preparadas pelos agentes da III
Internacional stalinista, vários militantes foram presos e barbaramente
torturados pela polícia de Filinto Müller. Marighella foi detido em 1º de maio
de 1936 e permaneceu encarcerado por um ano durante o governo Vargas. Em 1937, o Comitê Regional Paulista divergiu
da linha preconizada pelo Comitê Central a respeito das eleições presidenciais.
A divergência se aprofundou e levou a sérias discussões e a perseguição política.
Com o apoio da Internacional Comunista, Lauro Reginaldo da Rocha (Bangu),
Secretário-Geral do Comitê Central, venceu a disputa: os divergentes de São
Paulo foram expulsos do partido sob a acusação de renegados trotskistas, a mais
infamante para um militante comunista naquele período, onde os PC´s seguiam
fielmente as ordens de Stálin. Ao travar-se a luta interna nenhum dos
divergentes do Comitê Regional paulista era trotskista e, em seguida, apenas um
deles — Hermínio Sacchetta — aderiu ao trotskismo. Nesse período Carlos
Marighella foi enviado a São Paulo pelo Comitê Central, em 1938, a fim de
fortalecer a direção regional na luta contra os “fracionistas trotskistas”.
Depois elege-se deputado federal constituinte pelo PCB baiano em 1946, mas teve
o mandato cassado em 1948, em virtude da nova proscrição do partido.
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Carlos Marighella Filho saúda a campanha da LBI em defesa da memória militante de seu pai
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Após o
golpe militar de 1964, Carlos Marighella foi baleado e preso por agentes do
DOPS no Rio de Janeiro. Libertado em 1965, começa a divergir da política do PCB
diante do regime militar. Criticando o imobilismo da direção, que ficava à
espera de espaços para a atuação política dentro das regras e dos limites
impostos pelo próprio regime ditatorial, solicitou seu desligamento da Comissão
Executiva em dezembro de 1966, anunciando sua disposição de lutar
revolucionariamente contra a ditadura. Em 1967, na Conferência Estadual de São
Paulo, as posições de Marighella são esmagadoramente vitoriosas (33 a 3) sobre
o restante do Comitê Central, mesmo tendo como opositor o próprio Luiz Carlos
Prestes. Contrariando as ordens do CC, que o ameaça de expulsão, Marighella vai
a Cuba para participar da I Conferência da Organização de Solidariedade aos
Povos da América Latina (OLAS), realizada em Havana no período de 31 de julho a
10 de agosto de 1967. O passo seguinte foi sua ruptura com o Comitê Central e,
como consequência, sua expulsão do PCB. Também participou Herbert José de Souza
(“Betinho”), representando a Ação Popular. A Conferência foi inaugurada na
noite de 31 de julho no hotel “Habana Libre”, sob a presidência de Haydée
Santamaría, com um discurso do então presidente de Cuba, Osvaldo Dorticós
Torrado. Che Guevara, nessa época já na Bolívia, foi eleito, por aclamação,
“presidente de honra da Conferência”. Também foi aclamado o “delegado de honra”
à Conferência, o líder negro Stokley Carmichael, dirigente da “luta pelos
direitos dos negros nos EUA”, conduzida pelo grupo pró-luta armada “Panteras
Negras”. O temário da Conferência foi o seguinte: - A luta revolucionária
antiimperialista na América Latina; - Posição e ação comum face à intervenção
político-militar e à penetração econômica e ideológica do imperialismo na
América Latina; - A solidariedade dos povos latino-americanos com as lutas de
libertação nacional; - Estatutos da Organização Latino-Americana de
Solidariedade (OLAS). Em 10 de agosto, foi realizada a sessão de encerramento
da Conferência, no teatro Chaplin, com a presença de 165 delegados oriundos de
27 países da América Latina, representando 53 partidos comunistas e
organizações revolucionárias. Sentaram-se à mesa que conduziu os trabalhos,
Haydée Santamaría, o presidente Dorticós Torrado, Fidel Castro e Raúl Castro.
Nessa sessão foi aprovada por aclamação a concessão do título de “Cidadão da
América Latina” a Che Guevara, morto dois meses depois, na Bolívia. Na
Resolução Final foi confirmada “a necessidade do estabelecimento de um comando
unificado político e militar, para a condução da luta armada, na estratégia de
libertação nacional contra o imperialismo ianque”. Ao retornar ao Brasil,
Marighella funda a Ação Libertadora Nacional (ALN) e inicia as ações armadas
contra a ditadura militar. Desgraçadamente, uma característica fundamental da
ANL foi a negação da teoria leninista sobre o papel do partido da vanguarda do
proletariado no processo revolucionário. Sob a influência do guevarismo e da
experiência da revolução cubana, adotou como lema “a ação faz a vanguarda”,
partindo para a luta armada.
A cisão de Carlos Marighella com o PCB não significou sua
renúncia ao stalinismo. O norte estratégico da ALN, não por acaso quase o mesmo
nome da organização de caráter frente populista criada em 1934, era a
restauração da democracia burguesa e a criação de um governo que realizasse
algumas reformas sociais, como a reforma agrária, e assumisse uma posição de
independência frente ao imperialismo. Apesar de todas essas limitações, o
incontestável heroísmo na luta contra a ditadura militar, fazem de Marighella
um herói dos trabalhadores brasileiros e de sua vanguarda comunista. Ao
contrário do “senso comum” amplamente difundido pela mídia capitalista e em
parte legitimado pela esquerda palatável, Marighella e nossos combatentes não
foram mortos “lutando pelo restabelecimento da democracia”, tombaram no
confronto direto com as forças da repressão pela causa da revolução socialista,
mais além dos desvios políticos das direções reformistas e etapistas que
hegemonizavam o momento. A concepção da “democracia como valor universal” não
permeava as mentes de nenhum dos nossos heróis que deram suas vidas no combate
revolucionário contra a ditadura militar. Neste ponto reside a contradição
fundamental entre o regime de “exceção” imposto ao país pelas classes
dominantes e o conjunto da militância socialista naquela etapa da luta de
classes. Salvo alguns setores do “Partidão” que já flertavam com uma
“flexibilização” do leninismo em direção à social democracia, o que anos depois
daria origem ao chamado “eurocomunismo”, as organizações de esquerda (como a
ALN de Marighella) que se levantaram em armas contra os facínoras adotavam a
estratégia da defesa da ditadura do proletariado versus ditadura capitalista,
sob a forma concreta assumida em 64 de um regime político militar. Apesar de
todas essas limitações e de sua trajetória política, ligada ao Stalinismo (PCB)
e ao Foquismo (ALN), o incontestável heroísmo na luta contra a ditadura militar,
fazem de Marighella um herói dos trabalhadores brasileiros e de sua vanguarda
comunista. A LBI, que se mantém firme no combate por desmascarar a democracia
dos ricos como uma face da ditadura do capital e dedica o melhor de suas forças
à construção do partido revolucionário, espelha-se no exemplo inquebrantável de
Marighella que, apesar dos erros programáticos, não traiu a causa que defendia,
morreu em combate e pagou com a sua própria vida na luta contra os gorilas
genocidas! O exemplo de Marighella se faz ainda mais importante no momento em
que enfrentamos os tempos sombrios de um novo regime de exceção orquestrado por
pelo justiceiro Moro e o fascista Bolsonaro!