terça-feira, 10 de dezembro de 2019

CENTRO-ESQUERDA BURGUESA DE VOLTA A CASA ROSADA: ALBERTO FERNÁNDEZ E CRISTINA KIRCHNER ASSUMEM O GOVERNO DA ARGENTINA EM BUSCA DE ESTABELECER UM “PACTO SOCIAL” ONDE QUEM PAGA A CONTA DA CRISE CAPITALISTA SÃO OS TRABALHADORES


Alberto Fernández, um neoliberal ortodoxo que tinha rompido com o Kirchnerismo há cerca dez anos atrás para se agrupar com a direita Peronista, assumiu hoje (10.12) a presidência da Argentina. Cristina Kirchner, a vice-presidente, abriu mão de encabeçar a fórmula eleitoral de sua agremiação (FPV-Frente Para a Vitória) justamente para conseguir que a burguesia e imperialismo chancelassem um nome mais à direita, condição que de fato garantiu a vitória em segundo turno de Fernández sobre o Macri. Para a burguesia nacional ficou claro a necessidade de mudar de “gerente” estatal, diante de uma profunda crise capitalista que paralisa os vetores econômicos jogando o país em grave recessão mercantil. O delicado momento de uma economia totalmente dependente e estagnada aponta para as classes dominantes a reedição do “pacto social”, exigindo ainda mais sacrifícios do proletariado, mas com a roupagem da conciliação de classes da Frente Popular kirchnerista. Se o “ajuste” ultra neoliberal foi útil para recompor as finanças públicas, sob a ótica do rentismo é claro, em uma etapa mundial onde a “bolha de crédito” não mais pairava sobre os céus do Mercosul, agora já está na hora de recompor a posição do “pacto social” tão familiar da história peronista. Alberto&Cristina assumem hoje com a tarefa de evitar uma explosão social, à semelhança do que ocorre hoje no Chile, mantendo a continuidade da política neoliberal com “retoques sociais” e clamando por uma trégua ao movimento operário. Para se ter uma pequena dimensão do tamanho da crise econômica que assola o país basta lembrar que a Argentina está sob emergência alimentar desde setembro, quando o Congresso aprovou um projeto de lei que permite alocação de mais recursos aos programas sociais do governo. A moeda argentina desvalorizou 70% desde janeiro de 2018. Neste quadro não foi à toa que durante a campanha e já com a vitória assegurada em segundo turno, Fernández propôs uma “trégua social” de 180 dias para sindicatos operários e movimentos sociais para tentar “descolar a indústria e assim o país retomar o crescimento econômico”, uma ficção neoliberal tomada de empréstimo do macrismo.

A tática eleitoral política adotada pelo Kirchnerismo foi obviamente copiada da Frente Popular brasileira, quando o PT governou com um enorme arco de partidos corruptos de direita por mais de dez anos, até ser golpeado pelos mesmos oligarcas burgueses que antes o apoiavam. Na Argentina Cristina Kirchner cedeu logo de cara para a direita neoliberal a presidência da república em uma ampla aliança que conquistou o governo central argentino. Alberto Fernández comandou o gabinete da presidência de Nestor e Cristina Kirchner até 2008, quando rompeu com a centro-esquerda burguesa e acabou por chefiar a campanha eleitoral do conservador Sergio Massa, derrotado por Macri em 2015. Fernández é hoje um nome de confiança do rentismo argentino e do próprio mercado financeiro internacional, sua indicação foi saudada por toda reacionária mídia corporativa, da qual Alberto foi até sócio do tradicional jornal “Clarín”. A similaridade entre as “táticas” do Kirchnerismo e do Lulismo é enorme, no Brasil o PT também articula uma “Frente Ampla” para a disputa eleitoral de 2020 e 2022, com grande parte dos mesmos partidos “traidores” que promoveram o golpe institucional de 2016. A crise econômica c
apitalista na Argentina é enorme, o governo ultraneoliberal de Mauricio Macri arrastou o país para uma recessão profunda e ainda se fez refém do FMI e do Banco Mundial.

O movimento de massas argentino protagoniza inúmeras mobilizações e greves, mas carece de uma direção revolucionária consequente. A esquerda revisionista, que sofreu uma profunda derrota eleitoral com a FIT (PO, PTS, IS, MST), não consegue ultrapassar o horizonte das eleições burguesas, fincou seus esforços militantes exclusivamente na obtenção de poucos parlamentares, o que sequer conseguiu na disputa ocorrida em outubro, perdendo os postos legislativos que tinha. Com a posse de Alberto Fernández a classe operária argentina será chamada pelo Kirchenerismo a estabelecer um “pacto social para tirar a Argentina da crise”, uma política de conciliação de classes que jogo todo o ônus da barbárie capitalista nas costas dos explorados. É preciso seguir em uma senda oposta, construindo sua própria alternativa de poder revolucionário, o que passa necessariamente por superar a política de cretinismo parlamentar (sem votos!) da FIT.