CENTRO-ESQUERDA BURGUESA DE VOLTA A CASA ROSADA: ALBERTO
FERNÁNDEZ E CRISTINA KIRCHNER ASSUMEM O GOVERNO DA ARGENTINA EM BUSCA DE
ESTABELECER UM “PACTO SOCIAL” ONDE QUEM PAGA A CONTA DA CRISE CAPITALISTA SÃO
OS TRABALHADORES
Alberto Fernández, um neoliberal ortodoxo que tinha rompido
com o Kirchnerismo há cerca dez anos atrás para se agrupar com a direita
Peronista, assumiu hoje (10.12) a presidência da Argentina. Cristina Kirchner, a
vice-presidente, abriu mão de encabeçar a fórmula eleitoral de sua agremiação
(FPV-Frente Para a Vitória) justamente para conseguir que a burguesia e
imperialismo chancelassem um nome mais à direita, condição que de fato garantiu
a vitória em segundo turno de Fernández sobre o Macri. Para a burguesia
nacional ficou claro a necessidade de mudar de “gerente” estatal, diante de uma
profunda crise capitalista que paralisa os vetores econômicos jogando o país em
grave recessão mercantil. O delicado momento de uma economia totalmente
dependente e estagnada aponta para as classes dominantes a reedição do “pacto
social”, exigindo ainda mais sacrifícios do proletariado, mas com a roupagem da
conciliação de classes da Frente Popular kirchnerista. Se o “ajuste” ultra
neoliberal foi útil para recompor as finanças públicas, sob a ótica do rentismo
é claro, em uma etapa mundial onde a “bolha de crédito” não mais pairava sobre
os céus do Mercosul, agora já está na hora de recompor a posição do “pacto
social” tão familiar da história peronista. Alberto&Cristina assumem hoje
com a tarefa de evitar uma explosão social, à semelhança do que ocorre hoje no
Chile, mantendo a continuidade da política neoliberal com “retoques sociais” e
clamando por uma trégua ao movimento operário. Para se ter uma pequena dimensão
do tamanho da crise econômica que assola o país basta lembrar que a Argentina
está sob emergência alimentar desde setembro, quando o Congresso aprovou um
projeto de lei que permite alocação de mais recursos aos programas sociais do
governo. A moeda argentina desvalorizou 70% desde janeiro de 2018. Neste quadro
não foi à toa que durante a campanha e já com a vitória assegurada em segundo
turno, Fernández propôs uma “trégua social” de 180 dias para sindicatos
operários e movimentos sociais para tentar “descolar a indústria e assim o país
retomar o crescimento econômico”, uma ficção neoliberal tomada de empréstimo do
macrismo.
A tática eleitoral política adotada pelo Kirchnerismo foi
obviamente copiada da Frente Popular brasileira, quando o PT governou com um
enorme arco de partidos corruptos de direita por mais de dez anos, até ser
golpeado pelos mesmos oligarcas burgueses que antes o apoiavam. Na Argentina
Cristina Kirchner cedeu logo de cara para a direita neoliberal a presidência da
república em uma ampla aliança que conquistou o governo central argentino.
Alberto Fernández comandou o gabinete da presidência de Nestor e Cristina
Kirchner até 2008, quando rompeu com a centro-esquerda burguesa e acabou por
chefiar a campanha eleitoral do conservador Sergio Massa, derrotado por Macri
em 2015. Fernández é hoje um nome de confiança do rentismo argentino e do
próprio mercado financeiro internacional, sua indicação foi saudada por toda
reacionária mídia corporativa, da qual Alberto foi até sócio do tradicional
jornal “Clarín”. A similaridade entre as “táticas” do Kirchnerismo e do Lulismo
é enorme, no Brasil o PT também articula uma “Frente Ampla” para a disputa
eleitoral de 2020 e 2022, com grande parte dos mesmos partidos “traidores” que
promoveram o golpe institucional de 2016. A crise econômica c
apitalista na
Argentina é enorme, o governo ultraneoliberal de Mauricio Macri arrastou o país
para uma recessão profunda e ainda se fez refém do FMI e do Banco Mundial.
O movimento de massas argentino protagoniza inúmeras
mobilizações e greves, mas carece de uma direção revolucionária consequente. A
esquerda revisionista, que sofreu uma profunda derrota eleitoral com a FIT (PO,
PTS, IS, MST), não consegue ultrapassar o horizonte das eleições
burguesas, fincou seus esforços militantes exclusivamente na obtenção de poucos
parlamentares, o que sequer conseguiu na disputa ocorrida em outubro, perdendo
os postos legislativos que tinha. Com a posse de Alberto Fernández a classe
operária argentina será chamada pelo Kirchenerismo a estabelecer um “pacto
social para tirar a Argentina da crise”, uma política de conciliação de classes
que jogo todo o ônus da barbárie capitalista nas costas dos explorados. É
preciso seguir em uma senda oposta, construindo sua própria alternativa de
poder revolucionário, o que passa necessariamente por superar a política de
cretinismo parlamentar (sem votos!) da FIT.