segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

PCO “DELETA” SUA PRÓPRIA HISTÓRIA E ADERE AO LULISMO: O QUE LEVOU A BRUSCA MUDANÇA DE CHAMAR “GOVERNO DOS BANQUEIROS” A HOJE DEFENDER “LULA PRESIDENTE”?


O PCO, antiga Organização Quarta Internacional (OQI) extinta em 1996, é uma corrente de larga trajetória na esquerda brasileira em particular no movimento Trotskista quando surgiu em meados de 1978 após uma ruptura com a organização política que até hoje edita o jornal “O Trabalho”. Esteve na fundação do PT em 1980 até ser expulsa na pugna direitista do partido após o V Encontro Nacional (1987) quando o dirigente da tendência majoritária “Articulação”, José Dirceu, impôs com apoio de Lula as teses do “New PT” (programa democrático e popular) abandonado oficialmente a defesa do socialismo e o corte classista que foi a marca da legenda nos primeiros anos de existência. Já nas eleições gerais de 1990 (governos estaduais e deputados) e as candidaturas ao parlamento da então OQI no interior do PT foram todas cassadas burocraticamente pela “Articulação”, como foi o simbólico caso da companheira fundadora da CUT, Hyrlanda Moreira, candidata a deputada federal já inscrita no TRE, que foi obrigada a renunciar sua postulação com a campanha já nas ruas de Fortaleza. Posteriormente a expulsão do PT o setor revisionista da OQI liderado por Rui Pimenta, resolveu dissolver a organização revolucionária e registrar legalmente o PCO com uma plataforma de apologia às “instituições republicanas”, gerando a ruptura programática que deu origem a LBI. Mesmo assumindo parcialmente a estratégia “ideológica” do PT, ou seja, a defesa do regime da democracia burguesa (não confundir com a luta pelas liberdades democráticas) e o abandono da revolução e ditadura do proletariado como norte programático, o PCO se mantém como “oposição firme e intransigente” ao governo da Frente Popular de Lula, que debutava no cenário nacional em 2003. Esta posição “crítica” em relação aos governos centrais do PT, e para sermos justos também adotada pelo PSTU e em parte pelo PSOL, se manteve até as eleições presidenciais de 2010, quando logo após o PCO resolveu dar uma guinada das mais bruscas que a história da esquerda mundial já conheceu, mas porque mesmo?


A razão de fundo para um giro tão abrupto de 360 graus na política do PCO, que passou de uma caracterização sobre o governo Lula como um “Presidente dos banqueiros” (2004) para o radicalmente oposto “Governo dos trabalhadores” (2010), obviamente não está em alguma mudança substancial na essência do governo da Frente Popular de colaboração de classes. O motivo da profunda alteração na política do PCO reside na própria relação que passou a estabelecer com o Estado Burguês, tendo é claro como “mediador” deste novo “relacionamento” estabelecido com a burguesia o Partido dos Trabalhadores. Para os Marxistas as bases materiais de sustentação de uma organização revolucionária devem ser absolutamente independentes do Estado e da classe dominante capitalista (e seus agentes políticos), desgraçadamente a cúpula revisionista do PCO desconsiderou este princípio, o “ABC” de um genuíno Partido Leninista. Ao passar a considerar a “democracia como um valor universal”, seguindo a trilha dos “teóricos” do PT, do tipo Francisco Weffort que acabou indo ao PSDB, o PCO deu o primeiro passo na senda de sua corrupção material e programática. A partir deste ponto de inflexão, o PCO começa a aceitar a “generosidade” dos fundos estatais, administrados na época pelo governo do PT, até chegar no financiamento direto da Frente Popular, ora pela via dos apêndices sindicais como a burocracia da CUT, ora por parlamentares com controle do caixa petista, como o deputado Paulo Pimenta, várias vezes líder da bancada do partido na Câmara dos Deputados. Rapidamente o governo do PT, que tinha sido acusado pelo PCO de “fazer aliança criminosa com o imperialismo”, passou a ser um “governo nacionalista e anti-imperialista”...como o poeta Vinicius de Moraes um dia ironizou “ O dinheiro compra até o amor sincero”...



Mas foi mesmo na gerência estatal da petista neoliberal Dilma Rousseff que o PCO, atolou o “pé na jaca”, no curso de sua integração ao “lulopetismo”. Sob a ameaça do golpe parlamentar, o fragilizado governo de Frente Popular recém reeleito, recorreu...“pedindo ajuda” do PCO ao PP, do PCdoB até o PTB... Partindo de Rui Pimenta e chegando a Gilberto Kassab todos se prontificaram a ajudar Dilma, cada um a seu modo e com “preços variáveis”. Logo o PCO transformou a presidenta que iniciou a “Nova Previdência” com o banqueiro neoliberal Levy comandando a economia do país, em “Dilma a heroína contra o golpe!”, justamente o PT que não organizou o movimento de massas contra a ofensiva neofascista, apostando todas as fichas no ultra corrompido Congresso Nacional. A descaracterização do PCO como uma corrente política Trotskista, que atuou por décadas no campo da esquerda combativa, foi fulminante. A nova “teoria” adotada pelo Sr.Pimenta excluiu completamente a luta de classes, agora para o PCO só existem dois campos, os golpistas da direita e a esquerda burguesa petista, categorias programáticas como revolução socialista, Ditadura do Proletariado, luta direta da classe operária seja contra burguesia progressista ou reacionária, não existe mais no “manual” do PCO. E o pior ainda é que para manter uma fachada de “tendência externa do PT”, o PCO passou a atacar violentamente as “traições da esquerda em geral”, com o foco obsessivo no PSTU e PSOL, omitindo descaradamente que o principal partido de esquerda no país é justamente o PT, sob a liderança máxima de Lula, o maior responsável pelo imobilismo do movimento de massas diante da ofensiva neoliberal imperialista contra os direitos históricos da classe trabalhadora.

Triste fim do PCO, hoje reduzido ao papel de “cabo eleitoral “ dos burocratas mais repugnantes da Frente Popular, como a Bebel dirigente pelega da Apeoesp, eleita deputada com o apoio do PCO, ou de Paulo Pimenta liderança do partido nos “honrados acordos” do Congresso Nacional. Excluído das antigas relações internacionais, nem mesmo o Partido Obrero da Argentina ou a “Tendência Altamira” (racha do PO) querem estabelecer qualquer relação política com o PCO, e o motivo é bem simples: não podem ser associados a um dos mais corrompidos agrupamentos do chamado “blocão Trotskista” mundial. Para as novas gerações de militantes revolucionários fica a tarefa de abstrair uma lição fundamental do bolchevismo: Manter vivo o Programa de Transição na perspectiva da reconstrução da IV Internacional, exige um alto grau de abnegação material e ideológica, sem buscar nenhum “atalho” de cooperação política ou financeira com o Estado Capitalista.