O PCO, antiga Organização Quarta Internacional (OQI) extinta
em 1996, é uma corrente de larga trajetória na esquerda brasileira em
particular no movimento Trotskista quando surgiu em meados de 1978 após uma
ruptura com a organização política que até hoje edita o jornal “O Trabalho”.
Esteve na fundação do PT em 1980 até ser expulsa na pugna direitista do partido
após o V Encontro Nacional (1987) quando o dirigente da tendência majoritária
“Articulação”, José Dirceu, impôs com apoio de Lula as teses do “New
PT” (programa democrático e popular) abandonado oficialmente a defesa do
socialismo e o corte classista que foi a marca da legenda nos primeiros anos de
existência. Já nas eleições gerais de 1990 (governos estaduais e deputados) e
as candidaturas ao parlamento da então OQI no interior do PT foram todas
cassadas burocraticamente pela “Articulação”, como foi o simbólico caso da
companheira fundadora da CUT, Hyrlanda Moreira, candidata a deputada federal já
inscrita no TRE, que foi obrigada a renunciar sua postulação com a campanha já
nas ruas de Fortaleza. Posteriormente a expulsão do PT o setor revisionista da
OQI liderado por Rui Pimenta, resolveu dissolver a organização revolucionária e
registrar legalmente o PCO com uma plataforma de apologia às “instituições
republicanas”, gerando a ruptura programática que deu origem a LBI. Mesmo
assumindo parcialmente a estratégia “ideológica” do PT, ou seja, a defesa do
regime da democracia burguesa (não confundir com a luta pelas liberdades
democráticas) e o abandono da revolução e ditadura do proletariado como norte
programático, o PCO se mantém como “oposição firme e intransigente” ao governo
da Frente Popular de Lula, que debutava no cenário nacional em 2003. Esta
posição “crítica” em relação aos governos centrais do PT, e para sermos justos
também adotada pelo PSTU e em parte pelo PSOL, se manteve até as eleições presidenciais
de 2010, quando logo após o PCO resolveu dar uma guinada das mais bruscas que a
história da esquerda mundial já conheceu, mas porque mesmo?
A razão de fundo para um giro tão abrupto de 360 graus na
política do PCO, que passou de uma caracterização sobre o governo Lula como um
“Presidente dos banqueiros” (2004) para o radicalmente oposto “Governo dos
trabalhadores” (2010), obviamente não está em alguma mudança substancial na
essência do governo da Frente Popular de colaboração de classes. O motivo da profunda
alteração na política do PCO reside na própria relação que passou a estabelecer
com o Estado Burguês, tendo é claro como “mediador” deste novo “relacionamento”
estabelecido com a burguesia o Partido dos Trabalhadores. Para os Marxistas as
bases materiais de sustentação de uma organização revolucionária devem ser
absolutamente independentes do Estado e da classe dominante capitalista (e seus
agentes políticos), desgraçadamente a cúpula revisionista do PCO desconsiderou
este princípio, o “ABC” de um genuíno Partido Leninista. Ao passar a considerar
a “democracia como um valor universal”, seguindo a trilha dos “teóricos” do PT,
do tipo Francisco Weffort que acabou indo ao PSDB, o PCO deu o primeiro passo
na senda de sua corrupção material e programática. A partir deste ponto de
inflexão, o PCO começa a aceitar a “generosidade” dos fundos estatais,
administrados na época pelo governo do PT, até chegar no financiamento direto
da Frente Popular, ora pela via dos apêndices sindicais como a burocracia da
CUT, ora por parlamentares com controle do caixa petista, como o deputado Paulo
Pimenta, várias vezes líder da bancada do partido na Câmara dos Deputados.
Rapidamente o governo do PT, que tinha sido acusado pelo PCO de “fazer aliança
criminosa com o imperialismo”, passou a ser um “governo nacionalista e
anti-imperialista”...como o poeta Vinicius de Moraes um dia ironizou “ O
dinheiro compra até o amor sincero”...
Mas foi mesmo na gerência estatal da petista neoliberal
Dilma Rousseff que o PCO, atolou o “pé na jaca”, no curso de sua integração ao
“lulopetismo”. Sob a ameaça do golpe parlamentar, o fragilizado governo de
Frente Popular recém reeleito, recorreu...“pedindo ajuda” do PCO ao PP, do
PCdoB até o PTB... Partindo de Rui Pimenta e chegando a Gilberto Kassab todos
se prontificaram a ajudar Dilma, cada um a seu modo e com “preços variáveis”.
Logo o PCO transformou a presidenta que iniciou a “Nova Previdência” com o
banqueiro neoliberal Levy comandando a economia do país, em “Dilma a heroína
contra o golpe!”, justamente o PT que não organizou o movimento de massas
contra a ofensiva neofascista, apostando todas as fichas no ultra corrompido
Congresso Nacional. A descaracterização do PCO como uma corrente política
Trotskista, que atuou por décadas no campo da esquerda combativa, foi
fulminante. A nova “teoria” adotada pelo Sr.Pimenta excluiu completamente a
luta de classes, agora para o PCO só existem dois campos, os golpistas da
direita e a esquerda burguesa petista, categorias programáticas como revolução
socialista, Ditadura do Proletariado, luta direta da classe operária seja
contra burguesia progressista ou reacionária, não existe mais no “manual” do
PCO. E o pior ainda é que para manter uma fachada de “tendência externa do PT”, o PCO passou a atacar violentamente as “traições da esquerda em geral”, com o
foco obsessivo no PSTU e PSOL, omitindo descaradamente que o principal partido
de esquerda no país é justamente o PT, sob a liderança máxima de Lula, o maior
responsável pelo imobilismo do movimento de massas diante da ofensiva
neoliberal imperialista contra os direitos históricos da classe trabalhadora.
Triste fim do PCO, hoje reduzido ao papel de “cabo eleitoral
“ dos burocratas mais repugnantes da Frente Popular, como a Bebel dirigente
pelega da Apeoesp, eleita deputada com o apoio do PCO, ou de Paulo Pimenta
liderança do partido nos “honrados acordos” do Congresso Nacional. Excluído das
antigas relações internacionais, nem mesmo o Partido Obrero da Argentina ou a
“Tendência Altamira” (racha do PO) querem estabelecer qualquer relação política
com o PCO, e o motivo é bem simples: não podem ser associados a um dos mais
corrompidos agrupamentos do chamado “blocão Trotskista” mundial. Para as novas
gerações de militantes revolucionários fica a tarefa de abstrair uma lição
fundamental do bolchevismo: Manter vivo o Programa de Transição na perspectiva
da reconstrução da IV Internacional, exige um alto grau de abnegação material e
ideológica, sem buscar nenhum “atalho” de cooperação política ou financeira com
o Estado Capitalista.