domingo, 15 de dezembro de 2019

JORNALISTAS DO MUNDO INTEIRO ASSINAM CARTA ABERTA EXIGINDO A LIBERTAÇÃO DE ASSANGE


Centenas de jornalistas e trabalhadores da mídia em todo o mundo, assinaram uma carta aberta que reclama a liberdade incondicional do fundador da WikiLeaks, Julian Assange. O manifesto exige também o fim imediato da campanha judicial travada contra Assange pelo “crime” de ter revelado crimes de guerra. Dentre mais de uma centena de signatários, figuram Kristinn Hrafnsson, redactor chefe da WikiLeaks; John Pilger, jornalista de investigação de reputação mundial e Daniel Ellsberg, o denunciante dos "Pentagone papers" que revelou toda a criminalidade da guerra do Vietnam. Em nome do Blog da LBI, a carta foi assinada pelo seu editor chefe Candido Alvarez. Este apelo político poderoso testemunha o caráter canalha e ilegal da prisão de Assange no presídio de alta segurança de Belmarsh pela Grã-Bretanha. O manifesto indica claramente que os jornalistas que têm princípios democráticos assistem a tentativa da administração americana do presidente Donald Trump de perseguir por 17 acusações principais sob a Lei de espionagem e de aprisionar Assange pela vida toda como um ataque frontal à liberdade de imprensa e uma ameaça grave aos seus próprios direitos. A posição tomada pelos jornalistas em carta aberta dirigida ao ministro britânico do Interior foi ratificada por mais de 65 médicos. A carta condena a recusa a fornecer cuidados de saúde adequados a Assange e adverte que ele poderia morrer na prisão. Ela coincide com uma declaração de um grupo de advogados internacionais, os quais documentam a ilegalidade da perseguição a Assange pelos Estados Unidos e exige  sua libertação imediata.


A carta dos jornalistas afirma: "Este caso está no cerne do princípio da liberdade de expressão. Se o governo americano puder perseguir o sr. Assange por ter publicado documentos classificados, isto pode abrir o caminho a processos judiciais contra jornalistas por toda a parte do mundo. Isto constituiria um precedente alarmante para a liberdade de imprensa no mundo". A carta declara sem meias palavras: "Numa democracia, os jornalistas podem revelar crimes de guerra e casos de tortura e de abusos sem ter de ir para a prisão. Este é mesmo o papel da imprensa numa democracia". Os jornalistas escreveram: "Consideramos os governos dos Estados Unidos da América, do Reino Unido, do Equador e da Suécia responsáveis pelas violações dos direitos do homem que o sr. Assange foi vítima".

Os trabalhadores da imprensa internacional declaram: "Assange deu uma contribuição excepcional ao jornalismo de interesse público, à transparência e à imputabilidade dos governos através do mundo". Eles recordam algumas das dezenas de prémios que ele recebeu pelas divulgações da WikiLeaks, o que refuta magistralmente a afirmação de que Assange não é "um jornalista", repetida pelos cães amestrados pró patronato alinhados com a administração Trump.

A carta igualmente toma posição em favor dos promotores de denúncias que são perseguidos por terem citado atos criminosos cometidos por governos. "As reportagens do sr. Assange sobre os abusos e os crimes são de uma importância histórica, assim como as contribuições dos lançadores de alerta Edward Snowden, Chelsea Manning e Reality Winner, que estão agora no exílio ou encarcerada". Os jornalistas mencionam o combate travado pelo romancista francês Émile Zola em favor de Alfred Dreyfus, um oficial militar judeu vítima de uma maquinação baseada sobre falsas acusações de espionagem no fim do século XIX. Em 1898 escreveu sua célebre carta aberta "J'accuse!" na qual ataca nominalmente os responsáveis pela perseguição de Dreyfus. A carta dos jornalistas diz: "A posição de Zola entrou para os livros da história e constitui ainda hoje nosso dever de lutar contra os erros judiciais e de exigir contas aos poderosos. Este dever é hoje mais necessário do que nunca, no momento em Julian Assange é perseguido por governos e confrontado com 17 acusações principais em virtude da Lei americana sobre espionagem, que remonta a mais de um século".

A comparação é perfeitamente apropriada. Tal como no caso de Dreyfus, são as forças mais reacionárias da sociedade que conduzem a perseguição de Assange e a utilizam como um precedente para abolir os direitos fundamentais de toda a população. E, tal como para a defesa de Dreyfus, nada menos que a mobilização da classe operária e dos partidários das liberdades civis, a começar pelos jornalistas, é necessária para assegurar a liberdade incondicional de Assange e repelir os atentados aos direitos democráticos.

A última parte da carta merece ser citada na íntegra. "Enquanto jornalistas e organizações de jornalistas que acreditam nos direitos do homem, na liberdade de informação e no direito do público à informação, pedimos a libertação imediata de Julian Assange! Exortamos nossos colegas jornalistas a informar o público desta violação das liberdades fundamentais".

Sinal do imenso respeito mundial pela WikiLeaks e do reconhecimento das implicações internacionais da perseguição a Assange: jornalistas de países tão diversos como a África do Sul, Brasil, Quénia, Namíbia, Uganda, Israel, Líbano, Chile, Sri Lanka, Ucrânia, Rússia, China, Nova Zelândia, Austrália, Islândia, Suécia, França, Turquia, Croácia, os Estados Unidos e uma multidão de outros assinaram a carta.

Dentre eles figuram personalidade com dezenas de anos de experiência na indústria da mídia. Na Austrália, Kerry O'Brien, presidente da " Walkley Foundation", assim como os jornalistas de investigação Andrew Fowler e Quentin Dempster fazem parte. Na Alemanha, personalidades de primeiro plano de numerosas organizações de imprensa dentre as mais importantes do país participam da iniciativa. Entre outros Becker Sven, redactor chefe de Der Spiegel e Bastian Obermeyer, responsável pelos inquéritos do Süddeutsche Zeitung. Anthony Bellanger, secretário geral da Federação Internacional dos Jornalistas (IFJ), associação mundial que reúne 187 organizações filiadas em 140 países e representando 600 mil membros, ali figura igualmente.

Esta carta é uma nova manifestação da onda de apoio da opinião pública em favor de Assange e de que a hostilidade à sua perseguição, que anima milhões de trabalhadores, estudantes, jovens e intelectuais por todo o mundo, surge à superfície da vida política. Esta evolução bem vinda sublinha a necessidade de intensificar a campanha pela sua defesa, sobretudo alçando-a o mais amplamente possível na classe operária internacional. Esta é a força social mais poderosa do mundo e seus interesses são indissociáveis de uma ofensiva para proteger todos os direitos democráticos e sociais.