Centenas de jornalistas e trabalhadores da mídia em todo o
mundo, assinaram uma carta aberta que reclama a liberdade incondicional do
fundador da WikiLeaks, Julian Assange. O manifesto exige também o fim imediato
da campanha judicial travada contra Assange pelo “crime” de ter revelado crimes
de guerra. Dentre mais de uma centena de signatários, figuram Kristinn
Hrafnsson, redactor chefe da WikiLeaks; John Pilger, jornalista de investigação
de reputação mundial e Daniel Ellsberg, o denunciante dos "Pentagone
papers" que revelou toda a criminalidade da guerra do Vietnam. Em nome do
Blog da LBI, a carta foi assinada pelo seu editor chefe Candido Alvarez. Este
apelo político poderoso testemunha o caráter canalha e ilegal da prisão de
Assange no presídio de alta segurança de Belmarsh pela Grã-Bretanha. O
manifesto indica claramente que os jornalistas que têm princípios democráticos
assistem a tentativa da administração americana do presidente Donald Trump de
perseguir por 17 acusações principais sob a Lei de espionagem e de aprisionar
Assange pela vida toda como um ataque frontal à liberdade de imprensa e uma
ameaça grave aos seus próprios direitos. A posição tomada pelos jornalistas em
carta aberta dirigida ao ministro britânico do Interior foi ratificada por mais
de 65 médicos. A carta condena a recusa a fornecer cuidados de saúde adequados
a Assange e adverte que ele poderia morrer na prisão. Ela coincide com uma
declaração de um grupo de advogados internacionais, os quais documentam a
ilegalidade da perseguição a Assange pelos Estados Unidos e exige sua libertação imediata.
A carta dos jornalistas afirma: "Este caso está no
cerne do princípio da liberdade de expressão. Se o governo americano puder
perseguir o sr. Assange por ter publicado documentos classificados, isto pode
abrir o caminho a processos judiciais contra jornalistas por toda a parte do
mundo. Isto constituiria um precedente alarmante para a liberdade de imprensa
no mundo". A carta declara sem meias palavras: "Numa democracia, os
jornalistas podem revelar crimes de guerra e casos de tortura e de abusos sem
ter de ir para a prisão. Este é mesmo o papel da imprensa numa
democracia". Os jornalistas escreveram: "Consideramos os governos dos
Estados Unidos da América, do Reino Unido, do Equador e da Suécia responsáveis
pelas violações dos direitos do homem que o sr. Assange foi vítima".
Os trabalhadores da imprensa internacional declaram:
"Assange deu uma contribuição excepcional ao jornalismo de interesse
público, à transparência e à imputabilidade dos governos através do
mundo". Eles recordam algumas das dezenas de prémios que ele recebeu pelas
divulgações da WikiLeaks, o que refuta magistralmente a afirmação de que
Assange não é "um jornalista", repetida pelos cães amestrados pró patronato
alinhados com a administração Trump.
A carta igualmente toma posição em favor dos promotores de
denúncias que são perseguidos por terem citado atos criminosos cometidos por
governos. "As reportagens do sr. Assange sobre os abusos e os crimes são
de uma importância histórica, assim como as contribuições dos lançadores de
alerta Edward Snowden, Chelsea Manning e Reality Winner, que estão agora no
exílio ou encarcerada". Os jornalistas mencionam o combate travado pelo
romancista francês Émile Zola em favor de Alfred Dreyfus, um oficial militar
judeu vítima de uma maquinação baseada sobre falsas acusações de espionagem no
fim do século XIX. Em 1898 escreveu sua célebre carta aberta
"J'accuse!" na qual ataca nominalmente os responsáveis pela
perseguição de Dreyfus. A carta dos jornalistas diz: "A posição de Zola
entrou para os livros da história e constitui ainda hoje nosso dever de lutar
contra os erros judiciais e de exigir contas aos poderosos. Este dever é hoje
mais necessário do que nunca, no momento em Julian Assange é perseguido por
governos e confrontado com 17 acusações principais em virtude da Lei americana
sobre espionagem, que remonta a mais de um século".
A comparação é perfeitamente apropriada. Tal como no caso de
Dreyfus, são as forças mais reacionárias da sociedade que conduzem a
perseguição de Assange e a utilizam como um precedente para abolir os direitos
fundamentais de toda a população. E, tal como para a defesa de Dreyfus, nada
menos que a mobilização da classe operária e dos partidários das liberdades
civis, a começar pelos jornalistas, é necessária para assegurar a liberdade
incondicional de Assange e repelir os atentados aos direitos democráticos.
A última parte da carta merece ser citada na íntegra.
"Enquanto jornalistas e organizações de jornalistas que acreditam nos
direitos do homem, na liberdade de informação e no direito do público à
informação, pedimos a libertação imediata de Julian Assange! Exortamos nossos
colegas jornalistas a informar o público desta violação das liberdades fundamentais".
Sinal do imenso respeito mundial pela WikiLeaks e do
reconhecimento das implicações internacionais da perseguição a Assange:
jornalistas de países tão diversos como a África do Sul, Brasil, Quénia,
Namíbia, Uganda, Israel, Líbano, Chile, Sri Lanka, Ucrânia, Rússia, China, Nova
Zelândia, Austrália, Islândia, Suécia, França, Turquia, Croácia, os Estados
Unidos e uma multidão de outros assinaram a carta.
Dentre eles figuram personalidade com dezenas de anos de
experiência na indústria da mídia. Na Austrália, Kerry O'Brien, presidente da
" Walkley Foundation", assim como os jornalistas de investigação
Andrew Fowler e Quentin Dempster fazem parte. Na Alemanha, personalidades de
primeiro plano de numerosas organizações de imprensa dentre as mais importantes
do país participam da iniciativa. Entre outros Becker Sven, redactor chefe de
Der Spiegel e Bastian Obermeyer, responsável pelos inquéritos do Süddeutsche
Zeitung. Anthony Bellanger, secretário geral da Federação Internacional dos
Jornalistas (IFJ), associação mundial que reúne 187 organizações filiadas em
140 países e representando 600 mil membros, ali figura igualmente.
Esta carta é uma nova manifestação da onda de apoio da
opinião pública em favor de Assange e de que a hostilidade à sua perseguição,
que anima milhões de trabalhadores, estudantes, jovens e intelectuais por todo
o mundo, surge à superfície da vida política. Esta evolução bem vinda sublinha
a necessidade de intensificar a campanha pela sua defesa, sobretudo alçando-a o
mais amplamente possível na classe operária internacional. Esta é a força
social mais poderosa do mundo e seus interesses são indissociáveis de uma
ofensiva para proteger todos os direitos democráticos e sociais.