Em meio a “escaramuças” distracionistas entre Trump, Macron
e Trudeau, com o representante ianque acusando o premiê do Canadá de “ter duas
caras” ao comentar um vídeo feito no Palácio de Buckingham, em Londres, o certo
é que a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que celebra
os 70 anos da Aliança imperialista acabou unida em sua declaração política que
condensa ampla homogeneidade na ofensiva imperialista às nações oprimidas e as
semicolônias pujantes como Rússia, China e Irã. Tanto que apesar das
divergências pontuais entre as metrópoles imperialistas e a ameaça da Turquia
de vetar qualquer decisão polêmica sobre os Curdos, os líderes das potências
capitalistas adotaram nesta quarta-feira um comunicado conjunto ameaçador por
ocasião do aniversário da chamada “Aliança Atlântica”. O pano de fundo das
“diferenças” reside na exigência de Washington para que os outros membros da
Aliança aumentem seus gastos militares. Desde 2018 Trump insiste nessa meta. O
secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, tem se esforçado nos últimos
dias para convencer Trump de que o Canadá e os aliados europeus cumprirão seu
compromisso de atingir 2% do PIB nacional em gastos militares até 2024, como
prometeram na cúpula de Gales em 2014. Na verdade, a OTAN fez 70 anos em 4 de
abril de 2019 mas a reunião comemorativa somente ocorreu agora. Ela edificou-se
como motor da guerra das potências ocidentais contra a “ameaça comunista”
oriunda da ampliação da influência soviética no planeta. Apesar da queda
contrarrevolucionária da URSS, a aliança militar não só sobrevive, mas se
expande promovendo a militarização global, ameaças e agressões. As atuais
provocações contra a Rússia, China e Irã assim como sua presença na América
Latina via a Colômbia reforma o alerta para a esquerda anti-imperialista. É
preciso ter claro, a OTAN é uma máquina de guerra imperialista. Sua atuação na
ex-Iugoslávia, com 78 dias de bombardeios em 1999, nas duradouras guerras e
ocupações do Afeganistão e do Iraque e na ofensiva contra a Líbia, em 2011, que
provocou a desintegração de um dos países africanos mais prósperos até então,
são algumas amostras. Os Marxistas Leninistas compreendem que em uma etapa de
aberta reação política e ideológica do imperialismo nossa tarefa é postar-se
incondicionalmente no campo da resistência aos agressores da OTAN e seus
mercenários. Nesta trincheira de luta, abstraindo as lições programáticas do
combate em curso, forjamos uma alternativa de direção revolucionaria para os
lutadores que se levantam para derrotar o inimigo maior dos povos, o
imperialismo!
A criação da Aliança remonta de 1949. Naquele ano, doze países
fundaram a aliança norte-atlântica, um ano após a promulgação, pelos Estados
Unidos, do Programa para a Recuperação Europeia, o Plano Marshall, que
financiaria parte dos esforços de reconstrução pós-guerra da Europa Ocidental e
promoveria o comércio entre aquela porção do continente e os EUA. A Europa
(particularmente a Alemanha) acabou por subjugar seus interesses aos dos EUA,
especialmente no contexto da chamada “Guerra Fria”. O seleto clube fundado hoje
soma 29 membros, com a mais recente integração de Montenegro. O país foi parte
da República Federativa Socialista da Iugoslávia, dissolvida em 1992; a seguir,
compôs com a Sérvia a República Federal da Iugoslávia e logo a União Estatal da
Sérvia e Montenegro, dissolvida em 2006. A integração de Montenegro à OTAN é
parte da expansão do bloco militar em direção ao leste, numa política
anacrônica e histérica de confrontação. O principal motor da expansão neste
sentido é o espantalho chamado “Rússia” criado pelas retóricas inflamadas
sobretudo dos EUA e seus parceiros locais para alegar que a Europa precisa
erguer defesas contra a sua vizinha assumindo postura ofensiva
“preventivamente”.
A aliança passou a englobar países antes parte do Pacto de
Varsóvia —ou Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua— de 1955 entre
a União Soviética e sete países da região (Albânia, Alemanha Oriental,
Bulgária, Hungria, Polônia, República Tcheca e Romênia). Entretanto, a projeção
da OTAN a leste não se dá só pela formalização da adesão destes países como
principalmente com o que ela acarreta: a disseminação de bases militares e o
destacamento de centenas de milhares de tropas, navios, tanques, submarinos e
armamentos — inclusive nucleares — além da frequente realização de manobras de
guerra na região. Segundo os parâmetros atuais do bloco, para novas adesões, o
país convidado deve estar geograficamente localizado na Europa, ser uma
“democracia” e se comprometer a contribuir com a segurança da área
norte-atlântica. Sequer é preciso questionar o que fazem ali países governados
por fascistas e reacionários autocráticos Polônia e Turquia — por sua vez
considerada parte centro-asiática, parte europeia, para propósitos convenientes
como a integração à OTAN, mas não para a integração à União Europeia — e
eventualmente a Ucrânia, que desde o golpe de 2014 está de baixo da asa do
bloco. É no segundo passo de integração à OTAN que a intrusão fica mais clara:
o país em processo de admissão deve cumprir um Plano de Ação para a Adesão, com
“consultoria” para “reformas” na área da Defesa e das Forças Armadas e em áreas
políticas e jurídicas. Mesmo assim, a adesão deverá seguir sob avaliação,
pendente da ratificação por todos os membros. E outros passos se seguem. A essa
interferência consentida pelos governos de turno nas soberanias nacionais
somou-se mais recentemente o seu compromisso disparatado de dedicar no mínimo
2% do PIB dos países ao setor militar, assumido em 2014, mas cumprido por
apenas alguns; mesmo assim, em 2018 Trump sugeriu dobrá-lo para 4% dos PIBs.
Pelo não-cumprimento dão-se as repreensões vexatórias dos EUA aos restantes
membros. Trump, durante as cúpulas e em sua carta enviada em 2018 a alguns
líderes, solta frases como “têm que pagar” ou “alguns países estão tirando
vantagem dos EUA”, num espetáculo do ridículo como ocorreu agora em Londres,
mas que apesar dessa “ópera bufa” estão todos unidos no incremento da ofensiva
imperialista contra os povos e nações oprimidas!