segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

MOVIMENTO “SARDINHAS” NA ITÁLIA: MILHARES VÃO AS RUAS CONTRA A EXTREMA-DIREITA.... “FISGADOS” PELO APARTIDARISMO, ESPONTANEÍSMO E A VELHA ILUSÃO REFORMISTA DE DEMOCRATIZAR O CAPITALISMO


Um movimento espontâneo e apartidário, o “Sardinhas”, vem assumindo grandes proporções na Itália. Trata-se da versão italiana dos “Indignados” espanhóis que eclodiu em 2011, ou seja, é uma expressão do retrocesso político e ideológico do movimento de massas e da esquerda em geral, cujos velhos eixos “inovadores” são o horizontalismo e o espontanéismo, diante da completa integração da esquerda tradicional ao regime político. Neste sábado (14), uma multidão de cerca de 100 mil pessoas tomou as ruas do centro de Roma para protestar contra a ascensão da extrema-direita no país e seu principal líder, o ex-ministro Matteo Salvini. Segundo seus organizadores “Sem bandeira, sem partido, sem insultos. Criem a vossa própria sardinha e participem na primeira revolução piscícola da História. Trata-se de fazer emergir uma nova energia através de uma forma bem mais livre e espontânea do que um partido”. Nos encontros, leem-se trechos da Constituição. Na lista de exigências, defende-se que a violência verbal merece o mesmo lugar da violência física na legislação penal e que deve ser excluída do tom dos discursos políticos. Pede-se que “os ministros se comuniquem unicamente pelos meios oficiais e que deve ser transparente “o uso que a política faz das redes sociais”. O movimento ganhou esse nome em referência ao grande número de manifestantes livres como “Sardinhas”, conta com bandeiras voltadas a democratizar o capitalismo, pró-imigração e com palavras de ordem antifascistas. Sua pauta é “identitarista”, os organizadores pediram que os participantes não levassem bandeiras de partidos, apenas cartazes representando sardinhas. As mobilizações foram iniciadas na cidade de Bolonha em novembro, com protestos contra a Liga, o partido de Salvini, que está com popularidade em alta na região de Emilia-Romanha, onde acontecerá em janeiro uma eleição cuja a vitória é considerada estratégica para a extrema-direita italiana. A clássica canção de resistência antifascista italiana, Bella Ciao, se tornou a música oficial do ato deste sábado. A principal palavra de ordem era “Roma não se liga”, em referência ao Liga, partido de Salvini. Trata-se de um típico “movimento de novas vanguardas” para amortecer a luta de classes enquanto a direita e a extrema-direita crescem eleitoralmente na Europa, organizam milícias neo-nazistas contra negros, imigrantes e mulçumanos, produzindo atentados terroristas. Seguindo essa lógica, a tarefa das “Sardinhas” não seria mais derrotar pela via da ação direta os planos de ajuste do imperialismo e do FMI e organizar-se para derrubar os governos burgueses de plantão, sejam eles “socialistas” ou “conservadores”, através da luta revolucionária sob a direção de um Partido Comunista, abrindo desta forma caminho para a construção de uma alternativa própria de poder do proletariado e do campesinato, mas simplesmente reafirmar alegoricamente que são homens e mulheres a favor de uma “cidadania planetária”, de “referendos vinculantes” e da “paz mundial”. Isso significa ir a fundo na lógica do aperfeiçoamento do próprio regime democrático-burguês, substituindo o enfrentamento entre as classes sociais pela “pressão das praças sem sindicatos e partidos” para que os governos capitalistas sejam sucedidos por gestores supostamente éticos e não corrompidos “que cumpram o que prometeram”. Como Marxistas Revolucionários não vemos no movimento dos “Sardinhas” nenhuma expressão revolucionária da luta direta da classe trabalhadora italiana contra os ataques as suas conquistas. Como o próprio nome “Sardinhas” diz, inexistem para estes trabalhadores com interesses de classe antagônicos aos da burguesia, mas sim cidadãos “livres” do mundo com interesses sociais comuns básicos, como saúde, educação, habitação. Seria então necessário aplicar um programa de inclusão social, mantendo de fato o modo de produção capitalista intocável, recorrendo a políticas compensatórias e adotar uma forma com aparência democrática para gerir o Estado burguês para rumar na resolução de todos os problemas sociais da população do planeta. A partir desse programa, na prática, impõe-se aos explorados a lógica de aceitar o ônus da crise capitalista, amenizá-la a partir de ações assistencialistas e “humanitárias”, opondo-se assim a defender que a única estratégia capaz de gerar um mundo livre, sem explorados e exploradores, é a luta pela revolução proletária mundial e pela construção do socialismo em todo planeta a partir da luta insurrecional dos explorados da cidade e do campo.