MOVIMENTO “SARDINHAS” NA ITÁLIA: MILHARES VÃO AS RUAS CONTRA A EXTREMA-DIREITA.... “FISGADOS” PELO APARTIDARISMO, ESPONTANEÍSMO E A VELHA ILUSÃO REFORMISTA DE DEMOCRATIZAR O CAPITALISMO
Um movimento espontâneo e apartidário, o “Sardinhas”, vem
assumindo grandes proporções na Itália. Trata-se da versão italiana dos “Indignados”
espanhóis que eclodiu em 2011, ou seja, é uma expressão do retrocesso político
e ideológico do movimento de massas e da esquerda em geral, cujos velhos eixos “inovadores”
são o horizontalismo e o espontanéismo, diante da completa integração da
esquerda tradicional ao regime político. Neste sábado (14), uma multidão de
cerca de 100 mil pessoas tomou as ruas do centro de Roma para protestar contra
a ascensão da extrema-direita no país e seu principal líder, o ex-ministro
Matteo Salvini. Segundo seus organizadores “Sem bandeira, sem partido, sem
insultos. Criem a vossa própria sardinha e participem na primeira revolução
piscícola da História. Trata-se de fazer emergir uma nova energia através de
uma forma bem mais livre e espontânea do que um partido”. Nos encontros,
leem-se trechos da Constituição. Na lista de exigências, defende-se que a
violência verbal merece o mesmo lugar da violência física na legislação penal e
que deve ser excluída do tom dos discursos políticos. Pede-se que “os ministros
se comuniquem unicamente pelos meios oficiais e que deve ser transparente “o
uso que a política faz das redes sociais”. O movimento ganhou esse nome em
referência ao grande número de manifestantes livres como “Sardinhas”, conta com
bandeiras voltadas a democratizar o capitalismo, pró-imigração e com palavras
de ordem antifascistas. Sua pauta é “identitarista”, os organizadores pediram
que os participantes não levassem bandeiras de partidos, apenas cartazes
representando sardinhas. As mobilizações foram iniciadas na cidade de Bolonha
em novembro, com protestos contra a Liga, o partido de Salvini, que está com
popularidade em alta na região de Emilia-Romanha, onde acontecerá em janeiro
uma eleição cuja a vitória é considerada estratégica para a extrema-direita
italiana. A clássica canção de resistência antifascista italiana, Bella Ciao,
se tornou a música oficial do ato deste sábado. A principal palavra de ordem
era “Roma não se liga”, em referência ao Liga, partido de Salvini. Trata-se de
um típico “movimento de novas vanguardas” para amortecer a luta de classes
enquanto a direita e a extrema-direita crescem eleitoralmente na Europa,
organizam milícias neo-nazistas contra negros, imigrantes e mulçumanos,
produzindo atentados terroristas. Seguindo essa lógica, a tarefa das “Sardinhas”
não seria mais derrotar pela via da ação direta os planos de ajuste do
imperialismo e do FMI e organizar-se para derrubar os governos burgueses de
plantão, sejam eles “socialistas” ou “conservadores”, através da luta
revolucionária sob a direção de um Partido Comunista, abrindo desta forma
caminho para a construção de uma alternativa própria de poder do proletariado e
do campesinato, mas simplesmente reafirmar alegoricamente que são homens e
mulheres a favor de uma “cidadania planetária”, de “referendos vinculantes” e
da “paz mundial”. Isso significa ir a fundo na lógica do aperfeiçoamento do
próprio regime democrático-burguês, substituindo o enfrentamento entre as
classes sociais pela “pressão das praças sem sindicatos e partidos” para que os
governos capitalistas sejam sucedidos por gestores supostamente éticos e não
corrompidos “que cumpram o que prometeram”. Como Marxistas Revolucionários não
vemos no movimento dos “Sardinhas” nenhuma expressão revolucionária da luta
direta da classe trabalhadora italiana contra os ataques as suas conquistas. Como
o próprio nome “Sardinhas” diz, inexistem para estes trabalhadores com
interesses de classe antagônicos aos da burguesia, mas sim cidadãos “livres” do
mundo com interesses sociais comuns básicos, como saúde, educação, habitação.
Seria então necessário aplicar um programa de inclusão social, mantendo de fato
o modo de produção capitalista intocável, recorrendo a políticas compensatórias
e adotar uma forma com aparência democrática para gerir o Estado burguês para
rumar na resolução de todos os problemas sociais da população do planeta. A
partir desse programa, na prática, impõe-se aos explorados a lógica de aceitar
o ônus da crise capitalista, amenizá-la a partir de ações assistencialistas e “humanitárias”,
opondo-se assim a defender que a única estratégia capaz de gerar um mundo
livre, sem explorados e exploradores, é a luta pela revolução proletária
mundial e pela construção do socialismo em todo planeta a partir da luta
insurrecional dos explorados da cidade e do campo.