segunda-feira, 10 de agosto de 2020

ABAIXO A “REVOLUÇÃO COLORIDA”! NÃO HÁ SAÍDA PROGRESSISTA PARA O LÍBANO QUE NÃO SEJA A DA FEDERAÇÃO SOCIALISTA DE TODO OS POVOS DO ORIENTE MÉDIO!

A crise do Líbano não pode ser entendida sem olhar para trás na história do país, indo desde sua configuração como estado moderno sob o mandato francês, após a derrota do império Otomano, até os dias de hoje com um desenho de país independente. O Líbano de hoje, longe de ser o resultado de um processo de construção e libertação nacional, é o filho direto do colonialismo (imperialismo) francês, tendo sido derrotadas as tentativas da revolução socialista, seja pela força militar do enclave sionista (aliado da burguesia nacional), seja pela ausência de uma direção revolucionária.

Quando a França chegou à Síria após a desintegração do Império Otomano com o Tratado de Sèvres, encontrou um povo que, sob a liderança do rei Faisal, não queria se submeter a outro império, no caso o imperialismo europeu. E foi após a batalha de Maysalun em 1920 em que as tropas francesas massacraram a revolta árabe, que Henri Gouraud após cuspir na tumba de Saladino compreendeu a importância de “dividir para conquistar” na região. É por isso que em setembro do mesmo ano ele anunciou a criação do 'Grande Líbano' como um campo de prática para a “balcanização”do resto da Síria natural.

Sob o mandato, os franceses estabeleceram uma elite rentista de cristãos principalmente maronitas.  Dedicada à comercialização, o Estado libanês continuava dependente do vizinho sírio, da mesma forma que os sírios (divididos em cantões) dependiam de Beirute como principal porta de entrada e saída de materiais da região. Manter as divisões em um quebra-cabeça étnico e religioso tão complexo quanto o da região acabou sendo a melhor estratégia para mantê-la fraca, atolada em disputas internas e, como acontece com o Líbano desde 75, em guerras fratricidas. Deste contexto surgem os problemas sociais atuais do Líbano e de sua classe dominante.  Sem uma identidade coletiva, a população há anos refugia-se em seus líderes espirituais(religiosos)chegando a dividir bairros com base em confissões, partidos e milícias. Quando o Estado não existe, cada um encontra refúgio na sua Fé, espiritual e mundana, materializada no culto étnico.Se algo tão complexo tivesse que ser simplificado, não seria errado dizer que o Líbano, em certa medida, é a simbiose entre o sistema tribal pré capitalista e o Estado burguês moderno.

Um modelo econômico capitalista volátil baseado no sistema financeiro, na especulação imobiliária e no turismo, colocado em prática em um país onde a elite burguesa branca e predatória, que sequer é identificada como “árabe”, tem devastado tudo e não consegue fornecer aos seus povo  os serviços mais básicos, como saúde ou mesmo eletricidade e água potável. Um regime que sobrevive graças a empréstimos tomados ao rentismo internacional, acumulando dívidas públicas impagáveis que as instituições estatais escondem até o real montante. Portanto, podemos resumir que o Líbano é um mosaico, fracionado por potências imperialistas, e sob a mira física de um “enorme canhão” apontado para seu povo, estamos falando é claro do gerdame de Israel. 

E para entender o contexto político em que ocorreu a explosão do porto de Beirute, devemos agregar ainda mais elementos a um coquetel já venenoso: uma crise econômica sem precedentes e a quarentena da OMS, que tem impedido milhares de trabalhar e  fez o turismo simplesmente desaparecer.Em um cenário já catastrófico, a pior das catástrofes aconteceu, com o desaparecimento do principal porto de um Líbano que importa praticamente tudo para a sobrevivência do país, com a destruição do silo que armazenava grãos por um ano inteiro, com a morte de centenas, a  dor de milhares de vítimas e com 300.000 Beirutis que perderam suas casas. 

Nestes cabo-de-guerra confessional, de guerras internas e externas, de conflitos culturais e políticos, é onde emerge o cenário histórico em que se dissolvem governos burgueses, ora mais ocidentais ou menos hostis a população árabe, um pouco mais “soberanos” em relação à Israel(como parece ser o atual)ou totalmente submissos, como o projeto que se quer instaurar agora com a “revolução colorida”. De um país criado a partir da segregação árabe e do protecionismo cristão ocidental e fracionado por comunidades religiosas, só existe uma única perspectiva progressista, a verdadeira unificação nacional sob a bandeira do socialismo revolucionário, criando pelas ação direta das massas a Federação Soviética de todos os Povos do Grande Oriente. 

O Líbano nunca foi o conto de fadas de uma “Suíça do Oriente Médio", muito menos Beirut foi a "pequena Paris". A vigência de um Líbano semicolonial e capitalista não apresentará nenhuma saída para sua crise, seja qual for a arquitetura de seu futuro regime político, ou a manutenção do antigo. A oportunidade histórica está aberta pela senda da crise capitalista, sem cair na cantilena da “revolução colorida” que mira para o passado colonial, sob os discursos do combate à “elite corrupta”, pretendem que a roda da história retroceda para a etapa da total submissão imperialista, tendo um “lobo voraz” bem ao lado para arrasar ainda mais o país. O desafio histórico socialista colocado é imenso, e só poderá ser construído com a unidade revolucionária pela base de todos os povos explorados, sejam árabes, judeus, persas, palestinos, beduínos, etc.. independente das convicções religiosas.